sexta-feira, abril 30, 2004

Sociedade Hipocondríaca, Sociedade Hipócrita (actualizado)

Vivemos numa sociedade hipocondríaca.

Durante um zapping pelas "nossas" rádios e pelos "nossos" noticiários televisivos com facilidade só econtramos notícias de doenças com muitos "coitadinhos" a contar as suas histórias. Passamos das caridadezinhas para os pobres para as noticiazinhas dos doentes.

Vivemos numa sociedade hipócrita.

Simultaneamente, e por vezes intervalando essas notícias assistimos aos apelos desmesurados ao álcool, ao tabaco, ao sedentarismo, à velocidade, à violência, ao desperdício, ao supérfluo, etc.

Prevenção?
Ensino?
Esclarecimento?
Preocupação?

Sim, quando isto der muito lucro!

E assim fiquei deprimido: desde o despertar, enquanto ensonado me barbeava, enquanto me "duchava", enquanto ingeria as primeiras calorias, enquanto conduzia o coche (influência de tantos colegas e enfermeiros espanhóis) até ao hospital, por mais que mudasse as estações de rádio a temática era a mesma.

Durante a viagem lembrei-me da nova Santa portuguesa: pedi um milagre - que quando chegasse ao hospital tivesse todos os doentes curados - e a Santinha de Balazar ouviu-me: quando cheguei estava tudo curado, dei alta a todos, enfermaria vazia.
Por um dia não vou ouvir falar mais de doenças! Desde que permaneça dentro da enfermaria vazia (pois, telefonarei à Telepizza, fumarei um charuto - se o FJV não se esquecer!, beberei umas cervejas, sentar-me-ei numa cama vazia e não verei televisão).

domingo, abril 25, 2004

Não Podemos. Nem Queremos. Mas Por Vezes Temos Que Sorrir.

Temos que sorrir com os enganos dos nossos doentes, é a tal iliteracia cultural.

Acabou de afirmar o doente: "Fiz um Tac e tenho uma hérnia fiscal na coluna".

A Manipulação da Comunicação Social: Não Estou Sozinho na Percepção do Mau Cheiro!

Quando numa noite de insónias iniciei este blog, pensava que podia lutar sozinho contra a manipulação dos media em relação a um grupo vasto de profissionais, que prestam um serviço público, quer em serviços do Estado, quer em serviços privados, mas sempre um serviço público. E um serviço para o grande público. Um serviço que o 25 de Abril massificou e democratizou.

Também pretendia "esclarecer quem me procurasse" e alguns jornalistas procuraram.

Por isso, lá por haver um Luís que é Salgado (entre outras epítetos) e Matos (Matos por parte do MRPP ou similar) que dá aulas de jornalismo, não critico todos os jornalistas.

Mas aprendi a protestar no silêncio, pois, (e desculpem-me os puristas da língua, esta minha brejeirice) sempre que um médico dava um peido, nos jornais podia ler-se "Os médicos peidaram-se" e logo um rol de conclusões precipitadas, todas relacionadas com o cheiro do dito.

Mas, nem todos os médicos expelem ventosidades pelo ânus, ruidosas ou não, como consequência de um problema (não é uma doença!) mais vasto e com vários nomes técnicos: aerofagia, aerocolia, meteorismo, flatulência, como resultado d' "A digestão de alguns alimentos pelas bactérias do intestino leva a maior produção de gás do que outros. A fermentação no intestino e que leva à produção de gás, pode ser a partir da lactose (contida no leite e derivados), da frutose (contida nas frutas), de certas fibras vegetais e de carboidratos contidos no trigo, aveia, milho e batatas. Geralmente o gás derivado da fermentação de vegetais tende a ser sem cheiro, enquanto aquele resultante da digestão de carnes, mal cheiroso." (Aqui a ligação da propriedade intelectual.)

E todo este tratado para me juntar à indignação do Aviz e do Miguel Sousa Tavares no Público sobre a manipulação dos media (para não generalizar aos profissionais, os jornalistas).

Podem ler pela pena do FJV com o título: "MAS A MANIPULAÇÃO, SENHORES":

"Mas a manipulação não é apenas privilégio da "imprensa desportiva". Para quem ouve os noticiários da rádio (com a montagem de peças cortadas à vontade de cada editor, ou a recolha de depoimentos de várias "personalidades" que estão todas do mesmo lado) ou vê os rodapés das televisões (com adjectivos multiplicados ao sabor de cada hora), por exemplo, a conclusão não é muito diferente. Mas preparem-se. Vem aí mais. É o triunfo do common-sense e das "verdades".

MST escreve na sua crónica "Apito Entalado"*:

"Consciente disso, ao terceiro dia de "Apito Dourado", a imprensa atirou-se, sôfrega, a uma nova pista lateral: Pinto da Costa. Já anteontem, auscultando o que se passava em algumas redacções de Lisboa, eu percebi a pergunta/desejo que andava no ar e em todas as cabeças: "Será desta que chegam ao Pinto da Costa? É que, se não chegam, nada disto tem verdadeiramente interesse." Ao terceiro dia, então, ultrapassando a questão central, todavia menor, da disputa entre o Gondomar e os Dragões Sandinenses, a imprensa lisboeta lá achou que já tinha terreno para explorar a "pista Pinto da Costa". Atente-se nas manchetes de ontem do PÚBLICO e do "Diário de Notícias"." e
"Mas não é só o envolvimento a ferros do nome de Pinto da Costa neste processo que caracteriza a cegueira da imprensa responsável. Levados por um entusiasmo que tem raízes patológicas na clubite desportiva que a todos toca".
___
* ligação não permanente.

sexta-feira, abril 23, 2004

Senhores Jornalistas: O Médico Explica

Bastava consultarem um dicionário (e há tantos on-line) para não cometerem os dislates de ontem e foram tantos os jornais que lhes perdi a conta.

Segundo as notícias, a Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos quer que o Sr Ministro se demita por causa da educação infantil e do estudo dos solos.

Confuso.

Trocaram o O pelo E. Pensaram assim: não se escreve com o, senão seria . Portanto a ciência que estuda o pé tem que ser Pedologia, com e de .

O sr luís salgado matos insultou-vos ontem, por menos chamou-vos rústicos.
Eu não insulto. Eu explico.

Esclarecendo:

PEDOLOGIA - ciência que estuda os solos e os seus processos de formação. A pedologia estuda o solo nos aspectos físico, químico e biológico, procedendo à sua caracterização e classificação.

PEDOLOGIA - estudo da educação infantil; ciência do primeiro ensino; (De pedo-+-logia)

PODOLOGIA - tratado acerca do pé; (Do gr. poús, podós, "pé" +lógos, "tratado" +-ia)

(dos dicionários)

quinta-feira, abril 22, 2004

Agradecimentos a Intelectuais do Médico Explica Medicina

- ao Blasfémias (ex-Mata-Mouros, Cataláxia, Cidadão Livre) pela sua apreciação positiva a este despretensioso lado da blogosfera, na rubrica Blasferas (III ed.);

- ao gs e ra pelos ** (talvez tenham razão!);

- ao FJV pelas suas ofertas com dedicatória e com as desculpas pelo não agradecimento na altura devida, mas a ansiedade profissional foi mais forte. (E eu ainda à espera dos charutos prometidos! - apesar de ex-fumador, tenho amigos que os fumarão.);*

- à Mariamar pelo seu post sobre o meu "o meu 25 de Abril";

- ao beijinho que deslizou pela Estrado do Coco (e que retribuo pela mesma via);

Respostas a Intelectuais do Médico Explica Medicina

- para Ana da vida dos meus dias que escreve: "Ora diga-me lá, Sr. Doutor, os estabelecimentos públicos de saúde não são assim tão maus como nós os pintamos, pois não?". Não. Eu nunca os pintei. Têm deficiências, insuficiências e virtudes, muitas;

- para o Alex do Blog do Alex que pergunta "O que pensa disto [Depois que a enfermeira costurou o corte com uma agulha comum e uma linha de costura de algodão, mãe e filho foram transferidos e tratados por Valle e sua equipe no hospital mais próximo] o Bisturi e o Médico explicador?". É a verdadeira Medicina Rural**, meu caro amigo!

- Para o Miguel Sousa, aqui vai a ligação.

______________________
* Posso enviar por e-mail a minha morada.
** Medicina Rural faz parte do léxico usado na medicina geral e familiar e pretende caracterizar a prática do médico de família em meio rural, longe, muito longe das urbes hospitalizadas.

segunda-feira, abril 19, 2004

"... a condenação do Dr. F. na pena de censura ..."

"1. No dia 16.12.03 o Conselho Disciplinar Regional do Sul da Ordem dos Médicos proferiu despacho de acusação contra o médico Dr. F, nele se dizendo o seguinte – e passamos a transcrever:
2. No dia 18.01.01 a participante, Senhora D. M., levou a sua filha C. à consulta de pediatria, do Centro de Saúde S.
3. A criança tinha ido previamente à consulta de clínica geral, tendo sido encaminhada para a consulta de pediatria por "aparente sinéquia dos pequenos lábios".
4. Na consulta de pediatria foi atendida pelo arguido que considerou tal sinéquia como indiciando negligência nos cuidados de higiene e falta de atenção da mãe, opinião essa que, em tom ríspido, ele comunicou à participante.
5. Tal opinião, nas circunstâncias em que foi emitida, era claramente abusiva, visto o arguido estar a condenar sumariamente a participante, sem atender a outras causas possíveis (...).
6. Para além disso o arguido optou pelo desbridamento físico da sinéquia da criança, provocando-lhe bastante dor e desconforto, quando é certo que o tratamento mais adequado e menos doloroso para a criança teria consistido na aplicação de creme com estrogénios durante uma semana (...).
7. Acresce que o arguido, talvez por se ter incompatibilizado com a participante logo no início da consulta, não perdeu grande tempo a explicar à queixosa o que se propunha fazer, não tendo, por conseguinte, obtido o seu consentimento informado.
8. Com base nos factos acabados de expor, o Colégio da Especialidade de Pediatria, no seu parecer de 17.08.01, considerou o seguinte – e passamos a transcrever:
a) «As aderências dos pequenos lábios são frequentes em crianças com menos de 6 anos e resultam de inflamação local associada ao estado hipo-estrogénico da pré-puberdade. A situação resolve-se geralmente de forma espontânea com a acidificação do pH vaginal, na puberdade. O tratamento de escolha consiste na aplicação de creme com estrogénios durante 1 semana. A separação mecânica das aderências só está recomendada se esta parecer fácil e não causar trauma significativo».
b) Não há informação clara sobre a necessidade de optar pelo desbridamento físico da sinéquia, e parece ter havido algum desconforto para a criança e para a mãe.
c) Não parece ter sido explicado à mãe a natureza do problema antes do tratamento realizado, nem colocadas as alternativas terapêuticas ou solicitado o seu consentimento explícito, ainda que verbal, para o tratamento.
d) Foi feito o diagnóstico, aparentemente sumário, de negligência de cuidados de higiene, numa situação em que havia outras causas possíveis (défice relativo de estrogénios, por exemplo).
e) Pelos motivos expostos considera-se que o Dr. F. praticou um acto terapêutico tecnicamente aceitável, embora não tenha considerado, outras opções porventura menos desconfortáveis para a criança não explicou previamente à mãe o procedimento nem obteve o seu consentimento informado, e formulou um juízo etiológico não fundamentado. Assim, parece algo questionável o comportamento do clínico no contexto descrito.
(vide parecer do Colégio de Pediatria folhas 4 a 6 dos presentes autos).
9. Atendendo ao exposto, violou o arguido os artigos do Código Deontológico que passamos a enumerar:
a) Artigo 26 do Código Deontológico, porque não prestou à doente os melhores cuidados ao seu alcance;
b) Artigo 27 do Código Deontológico, porque no exame clínico da criança não tomou em consideração a sua idade e sexo;
c) Artigo 43 do Código Deontológico, porque deveria ter usado de particular solicitude com a criança (…)
d) Artigo 38 do Código Deontológico, porque não esclareceu convenientemente a mãe da criança, acerca do problema da criança e do tratamento que pretendia realizar, não tendo posto à consideração da participante as alternativas terapêuticas existentes, nem solicitado o seu consentimento explícito.
(estivemos a transcrever trechos do despacho de acusação)
10. Apesar de regularmente notificado da acusação, através de carta registada com aviso de recepção, o arguido não apresentou qualquer defesa, sendo de presumir que nada tinha a acrescentar aos esclarecimentos já por si prestados.
11. Assim sendo, não apresentou o arguido qualquer facto ou argumento novo que fizesse a relatora do presente processo mudar a sua opinião já expressa no despacho de acusação.
12. Atendendo ao exposto, propomos ao Conselho Disciplinar Regional do Sul a condenação do Dr. F. na pena de censura, nos termos do artigo 16 do Estatuto Disciplinar dos Médicos.

Lisboa, 10 de Fevereiro de 2004"

Processo Disciplinar n.º 12102 RELATÓRIO FINAL, in Revista ORDEM DOS MÉDICOS, Março 2004.

O Luís Salgado Matos Está Mesmo Doente, Nem Os Jornalistas Escapam

Compreende-se porquê.
Trata-se de um auxiliar de investigação português.
É a prova de que o 25 de Abril está vivo. Há liberdade de expressão!

Já há cerca de um ano tinha insultado todos os médicos generalistas, apelidando-os de corticeiros em alfabetização.
Hoje na Secção Psiquiátrica do jornal Público publica uma crónica da má-língua onde insulta todos os jornalistas que não trabalhem nos grandes jornais da capital, apelidando-os de rústicos. Uns corticeiros, outros rústicos. Terá algum trauma contra o Mundo Rural?

E problema sexual? Terá?
Uma das suas preocupações é sobre a vida sexual dos médicos. E dos médicos holandeses, onde como se sabe, a posição social em relação ao sexo deverá estar nas antípodas da do sr Luís, que deverá ser parceiro daquele casto deputado.

Mas a má-fé do sr Salgado, está no ódio que destila contra os médicos.
Como mistura sexo dos médicos e ódio aos médicos, será que algum médico o assediou? Ou consumou mesmo algo? (Refere ele que cerca de 5% dos médicos holandeses já transaram com os seus doentes.) Estaria ele na Holanda na altura do inquérito?

Mas o que me revolta nos escritos deste senhor é a sua manipulação. Intitula a sua crónica assim: "O Caso dos Médicos", isto é, um título que generaliza o que vai dizer a todos os médicos do país. Lá pelo meio vai dizendo que nem todos os médicos são iguais. Diz que ainda há médicos João Semana.
Pois muito bem: O sr Matos parou no tempo. O médico João Semana pertence a uma topologia (como ele gosta de palavras caras!) que já não existe. Assim como já não há existe a prensa de tipos móveis de Guttemberg....

Mas muitas outras afirmações são imprecisas, falsas, manipuladoras, desonestas, vagas, indeterminadas, ambíguas, confusas, incertas, inexactas, adulteradas, enganadoras, indignas, desonrosas, indecentes e desprezíveis. E tudo isto apenas em 472 palavras. Tantas quantas o Público lhe encomendou.

Mas a prova que lhe dou, de que os médicos (já por mais de uma vez disse que não passo cheques em branco a todos os médicos, assim como não passo a outras profissionais.) também se julgam uns aos outros está na mensagem seguinte...............

domingo, abril 18, 2004

O Besugo Está Doente....

Mas a vida é assim.

A felicidade para uns, a tristeza para outros.

Com Paixões pelo meio.

Por causa de Paixões também eu já sofri muito! Quem não sofre com uma Paixão assim!

A angústia profunda está no "Brahms e quero que morram".

sábado, abril 17, 2004

Numa Semana Confusa, Uma (Esquecida) Conclusão Relevante

A nossa comunicação social esta semana esteve em grande: teve notícias e notícias sobre negligências, mortes, anestesias, erros, vírus, perigos, contágios, etc.

Entrevistou vítimas, ex-vítimas, futuras vítimas, primos das vítimas, amigos dos primos das vítimas.
Foi uma vitimização constante. Alarmou-se qb.

Dizer que estão trinta crianças internadas com suspeita de pneumonia adenovírica, é uma bomba jornalística. Quantas não estarão na hora seguinte? Interrogar-se-á o leitor, ouvinte ou telespectador. Assim ficamos reféns dos media.

Por outro lado.

Coincidência ou um forte e produtivo lobie a trabalhar, foram vários os órgãos da comunicação social que fizeram diversas reportagens sobre os bruxos modernos (e as suas clínicas, pois então!) apelidados pela querida comunicação social como, praticantes de medicinas alternativas.

Mas o que nos interessa a todos, apenas vi publicado num jornal médico generalista: Tempo Medicina

"A esperança de vida nos últimos 80 anos aumentou ao ritmo de 12 horas por dia, em 80 anos aumentou 40 anos"

"A ideia sobre quem são os indivíduos que devem ser considerados dentro da área [idosos] tem mudado e não se sabe se devemos adoptar o critério dos 75 anos, do séc. XIX, impor os limites dos 55 anos, e parece-nos que a linha dos 65 anos já não faz hoje muito sentido, quando a nossa esperança de vida ultrapassa os 80 anos"

Pois é, se não fossem os médicos (e outros técnicos), a medicina (e outras áreas do conhecimento científico) e até a própria comunicação social divulgando novos conceitos de saúde, higiene, prevenção, etc talvez ainda morressemos aos 30 e 40 anos.

Pois é, se não fossem os anestesistas, os hospitais e centros de saúde e quem lá trabalha, os aerossóis (embora em Portugal haja um abuso da sua utilização!) e outros sóis, talvez ainda se morresse por muitas patologias que arrasaram populações séculos atrás.

Pois é, mas tudo isto baseado nos conhecimentos científicos e não no empirismo das levadas ao colo alternativas à medicina.

quinta-feira, abril 15, 2004

Pontos Cardeais de Excelência

- Sulparati - "tudo é tão pouco"

- Sulanorte - "Como um oásis branco era o meu dia. Nele secretamente eu navegava. Unicamente o vento me seguia".

segunda-feira, abril 12, 2004

"Quero Matar O Médico!"

"Quero Matar O Médico!", foi assim que se apresentou um doente numa consulta de urgência alguns dias atrás.
A enfermeira, solícita e branca como a cal, bate à porta e diz com voz trémula:
- "Sr dr, está ali um doente que diz que o quer matar!"
- "Quer-me matar?"
- "Sim, até já mostrou a arma!"
- "Está agitado ou calmo?"
- "Aparentemente está calmo."
- "Então mantenha você a calma, telefone para a PSP, leve-o para a sua sala e vá-o observando"
Minutos depois, chega a sua vez da consulta e entra pacatamente para o consultório.
Senta-se, tira a arma e coloca-a em cima da mesa, começando a discorrer com um discurso desconexo e irrealista. Percebia-se logo que se tratava de um doente psiquiátrico descompensado.

Quase logo de seguida, bate novamente à porta a enfermeira e diz:
- "Sr dr estão aqui dois senhores da propaganda médica que lhe desejam falar."
- "Está bem." Respondi. Acrescentando em direcção ao doente:
- "Se o senhor deixar?"
- "Eu deixo. Podem entrar."

Segundos depois, já o doente estava desarmado. Tratava-se de dois agentes da PSP à paisana e que depois de o imobilizarem, constataram que se tratava de uma pistola de alarme, inócua.

É lógico que isto não chegou para ser notícia nos media. Se o médico morresse, talvez fosse notícia da primeira página, com esta legenda:

"Mais Um Caso de Negligência Médica: Doente Psiquiátrico Mal Tratado, Abate Médico."

Nota: história rigorosamente verdadeira.

Uma Opinião Sensata No Meio De Tantos Lagos de Água

No Diário de Notícias de 09 de Abril de 2004, algumas afirmações sensatas de um médico, Luciano Ormonde, presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia.


"não é possível em tão pouco tempo arranjar uma causa para explicar as mortes ocorridas em Lagos e que tudo tem de ser investigado, em vez de haver tentativas para arranjar rapidamente um culpado. Vivemos um período na saúde em que os genéricos são usados como balas políticas. Além disso, não se pode dizer que um produto é mau, quando foi aprovado pelo Infarmed e não há provas contundentes que levem a que seja retirado do mercado», acrescenta.

O médico de Santa Maria sublinha ainda que a anestesia «não é inócua para os pacientes e comporta riscos». São factos «escritos e reportados a nível mundial» e que dependem de diversos factores. O propofol, «tal como todos os medicamentos usados na anestesia, tem riscos». E diz ainda que os oito genéricos introduzidos recentemente com esta substância não são mais nem menos perigosos. «Há médicos que têm referido que apresentam características diferentes quanto à durabilidade das doses, mas são apenas impressões que não têm valor de prova».

sábado, abril 10, 2004

Pomada de Cu de Bebés

O final de uma consulta é sempre uma verdadeira caixinha de surpresas.
É quando se fazem os vários pedidos, que muitas vezes são o real motivo da consulta.

Já me tinha despedido da doente, jovem dos subúrbios da capital, quando ouço este pedido:

-"Senhor doutor, podia-me passar uma receita com a pomada de cu de bebés".

Sei que se referia ao eritema das fraldas, agora a que pomada se referiria, não sei. Antifúngica? Creme gordo? Cicatrizante? Emuliente? Óleo de amêndoas doces?

Ela sabia que era para o cú dos bebés....

sexta-feira, abril 09, 2004

Alerta (Antigo) do Infarmed Sobre O Propofol...

Alerta de Segurança

Propofol-Lipuro 1%® (propofol):
rabdomiólise, acidose metabólica, insuficiência cardíaca

O Propofol-Lipuro 1%® (propofol) é um anestésico geral intravenoso de curta duração indicado na:
- indução e manutenção de anestesia geral;
- sedação de doentes ventilados nas unidades de cuidado intensivos;
- sedação para diagnóstico e procedimentos cirúrgicos, usado isoladamente ou em combinação com anestesia local ou regional.

O Grupo Europeu de Farmacovigilância, do Comité de Especialidades Farmacêuticas da Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos, tem vindo a avaliar a ocorrência de rabdomiólise, acidose metabólica, insuficiência cardíaca e outros efeitos indesejáveis, bem como a posologia e a utilização em crianças para os medicamentos contendo propofol, tendo concluído ser necessário actualizar a informação de segurança para estes medicamentos.

Embora não tenha sido estabelecida uma relação causal entre os efeitos indesejáveis graves na sedação (basal) em doentes com idade inferior a 16 anos (incluindo casos fatais) a sua ocorrência tem vindo a ser notificada no decurso do emprego do fármaco fora das indicações aprovadas. Estes efeitos consistem na ocorrência de acidose metabólica, hiperlipidémia, rabdomiólise e/ou insuficiência cardíaca. Estes efeitos foram mais frequentemente observados em crianças com infecções do tracto respiratório, a quem foram administradas doses que excediam as doses recomendadas para os adultos internados em Unidades de Cuidados Intensivos.

Também foram notificados casos similares, muito raros, de ocorrência de acidose metabólica, rabdomiólise, hipercaliémia e/ou insuficiência cardíaca de progressão rápida, (fatal em alguns casos), em adultos tratados durante mais de 58 horas com doses superiores a 5 mg/kg/h.
Estas doses excederam a dose máxima aconselhada de 4 mg/kg/h normalmente indicada para a sedação do doente internado numa Unidade de Cuidados Intensivos. Nestes casos a insuficiência cardíaca, geralmente, não respondeu ao tratamento de suporte com fármacos inotrópicos.

Na sequência desta informação o titular de A.I.M., B.Braun Medical, submeteu uma Medida Urgente de Segurança, por forma a actualizar a informação no Resumo das Características do Medicamento com um carácter de urgência e divulgar aos profissionais de saúde envolvidos uma carta sobre este assunto.

Neste contexto, o INFARMED deseja chamar a atenção dos profissionais de saúde, para os seguintes aspectos:

Não deverá ser excedida a dose máxima recomendada de 4 mg/kg/h de propofol, dose normalmente suficiente para assegurar a sedação de doentes ventilados mecanicamente quando internados numa Unidade de Cuidados Intensivos (duração do tratamento que exceda um dia).
Existe a possibilidade de surgirem os efeitos indesejáveis anteriormente referidos (acidose metabólica, hiperlipidémia, rabdomiólise e/ou insuficiência cardíaca), pelo que se recomenda, logo que surjam os primeiros sinais, a diminuição da dose administrada, ou a alteração para um outro fármaco com acção sedativa.
Propofol está contra-indicado em doentes com idade igual ou inferior a 16 anos, na sedação em Unidades de Cuidados Intensivos.

Qualquer esclarecimento adicional poderá ser solicitado através dos contactos:

Centro de Informação de Medicamentos e Produtos de Saúde:
Telef.: 21 7987373
e-mail: cimi@infarmed.pt

Direcção Operacional de Farmacovigilância e Segurança de Medicamentos e Produtos de Saúde:
Telef.: 21 7987140
e-mail: infarmed.cnf@infarmed.pt

INFARMED, 20 de Fevereiro de 2003.

A Direcção Operacional de Farmacovigilância e Segurança de Medicamentos e Produtos de Saúde.

(Negrito do médico explica medicina)

Onde É Que Eu Estava no 25 de Abril? Com o Rouvière.

Estudava Anatomia, num quarto alugado em Lisboa, na rua onde se localiza o Colégio Moderno e reside o dr Mário Soares. Estava no 2º ano da faculdade e preparava o exame de Anatomia Descritiva ainda do primeiro. Horas e horas debruçado sobre o grande tratado em quatro volumes: Anatomie Humaine, de Rouvière, analisando minuciosamente as suas gravuras com os ossos e todas as suas características (não havia dinheiro para comprar esqueletos ou atlas mais pormenorizados) e decorando as suas legendas e textos em francês.

Depois de horas e horas de estudo, já noite, relaxei-me a ouvir o programa Limite enquanto lia o livro O Julgamento dos Padres de Macuti que tinha comprado dias antes na Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa (era um livro proibido). Ouvi as senhas e ouvi a primeira mensagem. Aqui posto de comando das Forças Armadas, ensonado, voltei a adormecer. Acordei novamente, já o movimento se desenrolava, os Padres do Macuti no chão, o Rouvière continuava à minha espera, ouço novamente as notícias: o fascismo caía. Na rádio continuava a ouvir-se o Posto de Comando e a pedia-se à população para permanecer em casa.

Neste dia, 25 de Abril, tomei talvez a única decisão de que me arrependo em toda a minha vida: obedeci àquela voz da rádio e fiquei em casa.

Não estudei Anatomia, não li os padres de Macuti, não festejei o primeiro 25 de Abril como depois vi festejar pela TV, não mandei SMS, nem e-mails a ninguém, não telefonei aos amigos (não havia telemóveis e o telefone da casa, fechado a cadeado, só recebia chamadas), restou-me então, seguir a Revolução pela televisão, a anos-luz da CNN.

Como tudo seria diferente se se repetisse o 25 de Abril hoje…

quinta-feira, abril 08, 2004

Está À Minha Frente E Diz:

"Fiz análises a tudo, a tudo mesmo, mesmo a tudo e estava tudo bem."

"Tenho uma comichão pelo corpo todo. Já fui a dois médicos e disseram-me que era dos nervos! Mas eu sei que não!"

Uma pausa.

"Sabe eu ando muito stressada. Tenho muitos problemas na minha vida."

Sorri. Mediquei-a e não pude fazer mais nada.

Apenas me lembrei de uma reportagem recente no Correio da Manhã, sobre a primeira das mortes de Lagos, onde um elemento do povo, fotografado com um barrete na cabeça, idade marota, afirmava peremptoriamente e com convicção de quem percebe de tudo:

"Eu vi logo que foi um grande erro!"

O Caso de Lagos: E Se O Anestésico Genérico É mesmo o Responsável?

O erro médico em geral não é sistemático, embora possa acontecer e haja casos na literatura.

Repito: E se a origem do problema está no medicamento usado?

terça-feira, abril 06, 2004

Body Piercing - Já Foi Algum Piercingador Julgado E Condenado?

Como podia? Se até as (os) jornalistas usam piercings! (E médicos também!)

Hoje contou-me um colega que trabalhou numa unidade de emergência movimentada, com uma jovem enfermeira, de bata aberta, umbigo maroto a espreitar e a sorrir e um belo piercing apelativo.
Como pode um médico trabalhar assim?


"Antibiotic prophylaxis, and infective endocarditis


Infective endocarditis (IE) is associated with a high degree of morbidity and mortality and generally presents in patients with altered and abnormal heart architecture combined with exposure to bacteria through trauma and other potentially high-risk activities, including body piercing.

Modern social behaviour has resulted in increased popularity of the practice of body piercing, particularly amongst the adolescent population and there has been a marked rise of cases of IE directly attributable to this practice.

In this article we wish to examine the aetiology of such cases reported in the literature, with particular emphasis on causal organism, as well as to discuss the role of antibiotic prophylaxis and awareness in such at-risk patients within the primary care community."


in Journal of Antimicrobial Chemotherapy, Advance Access published December 19, 2003.

"Morte de doentes no Hospital de Lagos leva a processos disciplinares"

Distribuida pela Lusa, esta notícia é muito grave.

Erro ou negligência, repetidas em 48 horas pelo mesmo médico, levanta muitas dúvidas sobre a vigilância que uma instituição deve exercer sobre os seus membros.

Ressalvo: a confirmarem-se as conclusões preliminares da IGS.

"O Ministério da Saúde instaurou hoje processos disciplinares ao director clínico do hospital distrital de Lagos e a uma médica anestesista, na sequência da morte de dois doentes no bloco operatório daquele estabelecimento.

Segundo um relatório da Inspecção-Geral de Saúde (IGS), foram apurados "elementos que podem pôr em causa a actuação da médica responsável pelos actos anestésicos praticados" nos doentes que vieram a falecer, "bem como a própria actuação do director clínico do hospital".

Uma mulher de 44 anos e um homem de 35 morreram a 29 de Março e 02 de Abril de paragens cardio-respiratórias no bloco operatório do hospital de Lagos, onde se encontravam para realizarem operações simples.

O documento salienta que as ocorrências têm "em comum o facto de serem pequenas/médias cirurgias, previamente programadas, tendo como interveniente directa a mesma médica anestesista".

Segundo a IGS, os indícios recolhidos apontam "para a exclusão de dúvidas sobre a funcionalidade do bloco operatório do Hospital de Lagos" e classificou como correcta a decisão do ministro da Saúde de encerrar o bloco operatório do hospital, a partir do dia 30 de Março, "como medida cautelar"
."

Como médico, considero a minha profissão de risco permanente.

Hoje, durante o meu dia de trabalho, fui vítima de várias negligências de várias profissões: desde uma empresa de informática, até ao almeida da minha rua que me riscou a viatura.
Todas me provocaram mau humor.
Só.
Não morreu ninguém

segunda-feira, abril 05, 2004

Senhor Doutor Quero Fazer Um Check-up A Tudo, Com Análises Gerais E Um Taco Ao Corpo Todo

Publicou o Expresso um dossiê sobre Medicina Familiar, com vários artigos interessantes sobre as especificidades desta especialidade, descritas na óptica dos seus intervenientes, pois todos os artigos são assinados por diversos médicos de família.

De todos, o que me despertou mais atenção foi o do médico Carlos Martins, sobre as actividades preventivas.
São desmistificados alguns conceitos e apresentada uma tabela genérica sobre as actividades preventivas relevantes e baseadas na evidência. Não foram publicadas referências sobre as afirmações produzidas, mas num artigo para um público generalista talvez fosse desnecessário.

Tratando-se de um dossiê, presume-se que foi elaborado a pedido e pago pela APMCG.

ISTO É QUE ME PREOCUPA.

Para se dizerem verdades, politicamente correctas e por vezes impopulares, particularmente para os intelectuais que não as compreendem, contrariando muitas vezes páginas e páginas de publicidade encapotada, é necessário pagar.

Para se afirmar que não são necessários rastreios de base populacional para o cancro da próstata é necessário pagar, caso contrário, teríamos a ira dos urologistas.

Para se afimar que bastam alguns simples procedimentos (medir a pressão arterial, determinar a glicémia e o colesterol, pesar e fazer uma simples pergunta) para se saber se há ou não risco cardiovascular, tem que se pagar, caso contrário todos os cardiologistas se levantariam contra a comunicação social, especialmente os que têm consultório particular.

Outras afirmações se poderiam fazer e outras iras se levantariam, particularmente de quem "com o medo do cancro" lucraria.

Algumas frases para ler e reler:

"Seria óptimo se traduzisse uma vontade real das pessoas mudarem os seus hábitos para estilos de vida mais saudáveis e de romperem com costumes e rotinas que implicam um risco elevado para a saúde. Contudo, aquilo que se constata na prática é precisamente o contrário…"

"... pretendem frequentemente efectuar uma bateria de análises e exames de diagnóstico para poderem continuar a cometer os seus erros alimentares, a consumir bebidas alcoólicas em excesso e o seu tabaco, entre outros".

"...desconhecem que a medicina actual, não obstante o facto de toda a evolução das últimas décadas, não dispõe de um conjunto de exames que possam dar ao cidadão uma garantia semelhante à dos electrodomésticos: “após estes exames, o senhor terá uma garantia de vida saudável por dois anos.” "

"Quando um fumador se dirige ao seu médico e lhe pede uma radiografia pulmonar para ver como estão os seus pulmões, pode ver essa sua pretensão justamente recusada. E porquê? Porque os vários estudos de investigação que foram efectuados para esclarecer se se deve usar a radiografia pulmonar como método de rastreio do cancro do pulmão não demonstraram que os benefícios superem os prejuízos. E cada vez que alguém se submete a uma radiografia está a submeter-se a uma dose substancial de radiações que, por sua vez, também têm efeitos cancerígenos."

"Um outro exemplo é a mamografia quando utilizada para rastreio do cancro da mama na mulher sem queixas, sem antecedentes pessoais ou sem antecedentes desta doença na sua família. ... uso deste exame só se revela eficaz ou seja, só diminui a mortalidade provocada por aquela doença quando usado de dois em dois anos nas mulheres com mais de 50 anos. Nas mulheres com idades entre os 40 aos
50 anos, este método de rastreio deve ser muito bem ponderado pois os benefícios não superam os prejuízos. .../... Os prejuízos do uso indevido deste método de rastreio passam pela exposição desnecessária às radiações, pelo elevado número de falsos positivos, pelas biopsias desnecessárias que terão que ser efectuadas e também pela desnecessária ansiedade e incómodo que cria na mulher que a ele se submete."


"Também tem sido frequente a solicitação de marcadores tumorais como forma das pessoas se assegurarem de que não têm cancro. Até agora, com base na evidência científica, nenhum marcador tumoral se revelou eficaz como método de rastreio de qualquer cancro. Nem mesmo o tão popularizado PSA como forma de rastreio do cancro da próstata, nos homens que não apresentem qualquer queixa prostática. Poderão os excelentíssimos leitores questionar-se sobre os malefícios de fazer uma simples análise ao sangue, como é o caso do PSA. Deixando de lado a questão dos custos desnecessários de um rastreio universal aos homens assintomáticos acima dos 50 anos, os malefícios estão sobretudo relacionados com o elevado número de falsos positivos e com o desconforto de outros exames desnecessários como as respectivas biopsias ou ecografias transrectais."

Pois então parabéns à APMCG, ao seu presidente e ao médico Carlos Martins, que investiram na qualidade da informação, contra "os dislates que se ouvem e lêem, por vezes inconscientes, ... para que os jornalistas (e outros intelectuais!) sejam o veículo para os 'media' não fomentarem a iliteracia científica" o lema deste simples blog.

domingo, abril 04, 2004

"Um milhão de portugueses sem água"

Noticia o Expresso de 27 de Março de 2004. Segundo a notícia um milhão dos nossos conterrâneos vive em residências sem abastecimento público de água.

Não ponho em causa as notícias dos jornais, mas se transformar os números absolutos em percentagem, teremos que cerca de 10% dos portugueses não têm água. Mas por outro lado não existem em termos estatísticos as doenças comuns de quem não tem água potável, como a cólera, as hepatites A, as disenterias, etc.

Começo a interrogar-me se não será o mesmo milhão de portugueses que não tem médico de família, segundo nos diz o Ministério...

E também presumo que deverá ter saído deste mesmo milhão os 4 900 portugueses interrogados pela DECO, pois num outro estudo recente sobre os centros de saúde da autoria do dr Vilaverde Cabral, as conclusões não poderiam ser tão diferentes, como foram....

A Morte em Frente E Os Centros Comerciais Ao Lado

A Morte de Frente, pode ler-se na Grande Reportagem de 27 de Março de 2004 (nº 168, ano XV, 3ª série). O artigo refere-se a uma reportagem em "directo", sobre a morte de um doente com SIDA.

Macabro. Macabro. MACABRO. macabro.

A exploração de sentimentos pelos media atinge proporções escandalosas.
Não sei para quem foram os honorários do personagem principal. Talvez para os herdeiros! O autor sei que os ganhou, como ganham todos os jornalistas e é um seu direito.
Mas o que me fez escrever esta mensagem, foi a última frase da introdução ao artigo, com a qual se pretende jusficar toda a reportagem: PARA AVISAR OS VIVOS.

Pois eu acho que a melhor frase será: PARA VENDER MAIS REVISTAS!

Não está em causa a qualidade, o empenho e o desempenho da jornalista Felícia Cabrita, o que está em causa são os temas escolhidos para que um (a) jornalista (a) se torne (também) conhecido e seja ele também notícia, deixando de ser o seu motor.

Shopping. Shopping. SHOPPING. Shopping.

São duas notícias indissociáveis na sua filosofia, a anterior e esta do Expresso de 27/03/04.

"'Shopping' liga a hospital
A URBAMINHO inaugurou a Galeria Comercial Campus São João com ligação directa ao edifício das consultas externas do Hospital de São João. Para o perímetro do hospital está ainda prevista a instalação de um hotel da cadeia Ibis."


No futuro veremos os médicos, enfermeiros e outro pessoal da saúde, com publicidade nas suas batas às lojas desses centros comerciais.
Os laboratórios farmacêuticos perderão a corrida.

Ninguém leva a mal que o médico tenho uma bata, onde se possa ler: "Visite BodyShop" ou "Compre na Batta".