segunda-feira, junho 22, 2009

Magalhães pode fazer rastreio visual das crianças


22.06.2009 - 07h10 Margarida Gomes Público


"O que é que o computador Magalhães pode fazer pelas crianças com doenças invisíveis como a ambliopia (síndrome do olho preguiçoso), por exemplo?


Mais do que imagina.


Um grupo de engenheiros biomédicos e médicos oftalmologistas ligados à empresa tecnológica Blueworks, especializada na área da oftalmologia, está a desenvolver um software didáctico para ser aplicado ao Magalhães, permitindo o rastreio visual a todas as crianças em idade escolar.


O pai da ideia é o médico de Coimbra António Travassos, que preside à Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e foi desenvolvida na empresa, da qual é um dos fundadores.


A investigação partiu da cruel realidade dos números. "Todos os anos cerca de cinco mil crianças perdem entre 10 e 70 por cento da sua visão", um problema, dizem os especialistas, que "está a ser descurado em detrimento de outros, como a cirurgia das cataratas".


Atento à realidade de que as doenças como a ambliopia, que podem não ter sintomas, mas que têm de ser tratadas com urgência, porque depois são irreversíveis, e tendo em conta que todas as crianças do ensino básico e secundário têm uma plataforma computacional homogénea disponível, os investigadores lançaram-se na criação de um software que funciona essencialmente como um jogo onde vão aparecendo figuras com combinações diferentes.


A filosofia, segundo explicou ao PÚBLICO um dos engenheiros biomédicos que está a desenvolver o projecto, Paulo Barbeiro, consiste na existência de um jogo que, quando a dimensão do objecto vai mudando, permite fazer a avaliação da acuidade visual das crianças.


Este processo é feito primeiro num olho e repetido depois no outro.


O presidente da SPO considera que "o facto de termos em todas as escolas um computador com características de ecrã uniformes é uma oportunidade de ouro para lançar uma campanha de rastreio visual de muito baixo custo, mas cujo impacto na saúde infantil é muito elevado".


Entusiasmado com o desafio, Paulo Barbeiro realça a vantagem de haver um equipamento standard. "Todos os estímulos têm de estar calibrados para a dimensão e para o brilho dos vários monitores e o facto de o Magalhães ter o mesmo hardware para todas as crianças permite-nos criar um software em que nós recebemos a informação fidedigna", faz notar.


A informação é depois "enviada de uma forma encriptada para o sistema central onde depois é analisada".


Paulo Barbeiro revela que o projecto está "numa fase adiantada de desenvolvimento", mas não está ainda concluído.


"Mas, se tivéssemos hoje o ok do Ministério da Saúde para avançar, em dois ou três meses conseguíamos ter tudo distribuído em todos os computadores", assegura Michael Bach, professor universitário, que preside à Sociedade Internacional de Eletrofisiologia da Visão, e que é considerado com um dos grandes especialistas nesta área específica de testes electrónicos, está a colaborar no âmbito académico deste projecto inovador.


E o que faz dele um projecto singular não é o facto de os dispositivos que avaliam a acuidade visual serem electrónicos, "mas sim a utilização de uma plataforma computacional homogénea distribuída a todos os alunos, aplicando-a uma iniciativa concertada de saúde pública", revela o engenheiro biomédico.


Já o presidente da SPO prefere realçar o facto de este projecto possibilitar (através do Magalhães) uma distribuição online da ferramenta, possibilitando a existência de acções concertadas de rastreio de saúde visual a toda a população escolar, "com vantagens óbvias na detecção precoce de algumas patologias que quando tratadas adequada e atempadamente permitem que haja uma recuperação da função visual".


A equipa que está a operacionalizar o programa já teve contactos com os responsáveis pelo Plano Tecnológico da Educação (composto por três eixos de actuação: tecnologia, conteúdos e formação), mas as negociações encontram-se, aparentemente, num impasse, o que, de alguma maneira, pode comprometer o arranque do projecto no início do próximo ano lectivo.


O projecto foi apresentado como uma solução economicamente "muito eficaz" para o controlo da saúde ocular das crianças portuguesas.


"O computador Magalhães é um veículo de excepcional qualidade, representando uma oportunidade de ouro para lançar uma campanha de rastreio visual", defende o presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.


António Travassos salienta que o projecto vai ao encontro das orientações estratégicas 2004-2010 do Plano Nacional de Saúde.


O relatório do Ministério da Saúde (MS) a que alude refere que "a prevenção primária e a redução de risco, o rastreio e a detecção precoce, anteriores à manifestação dos primeiros sintomas (...), constituem as medidas eficazes e determinantes na redução das taxas de incidência e morbilidade das doenças da visão".


Os números revelados pelo MS indicam, entre outros dados, que "cerca de um terço de todas as novas cegueiras poderiam ser evitadas, se as pessoas tivessem acesso atempado à tecnologia oftalmológica existente no país" e que "20 por cento das crianças e metade da população adulta portuguesa sofrem de erros de refracção; mais de 5.000.000 de pessoas usam óculos ou beneficiariam com o seu uso".


Convicto de que o Governo não deixará escapar esta oportunidade de efectuar um "rastreio visual exaustivo, único na Europa, por um custo que é uma fracção de uma campanha tradicional de rastreio", o médico oftalmologista revela que a Blueworks já foi contactada por outras entidades que se mostraram interessadas no projecto.


O Governo anunciou no sábado que já foram entregues 370 mil computadores Magalhães a alunos das escolas do continente, públicas e privadas, estando 3000 já pagos e em vias de serem entregues.


31.600 alunos inscritos no programa de distribuição não receberam o equipamento por incorrecção de dados ou falta de pagamento.


De fora ficaram também cerca de 50 mil alunos do primeiro ciclo, que os responsáveis afirmam serem "sobretudo alunos do 4.º ano de escolaridade que optaram por aguardar inscrever-se no programa e-escola no próximo ano lectivo, quando frequentarem o segundo ciclo do ensino básico"."


2 comentários:

Anónimo disse...

Aí está um bom aproveitamento do Magalhães!

p disse...

No site www.thea.pt poderá encontrar informações muito uteis sobre todo o tipo de doenças relacionadas com a visão.