segunda-feira, dezembro 27, 2004

Aviso

Novo endereço de correio electrónico: memai@sapo.pt.

domingo, dezembro 26, 2004

Perdas de Natal

O sr M. Velhinho faleceu no Natal.

"- Senhor doutor acha que o meu Velhinho está para morrer?
- Minha senhora, o senhor Velhinho está muito velhinho, mas nós não podemos, nem sabemos adivinhar o futuro. Uma hora, um dia, uma semana, um mês, um ano, tudo pode acontecer ao seu marido velhinho."


8 dias depois desta conversa o sr Velhinho faleceu.
__________________________________________________________________________________

"Doutor, perdoe-me, sei que isto não é um consultório on-line, mas poderia dizer-me o que é leucemia galopante (ou leucemina fulminante)? é que tenho uma GRANDE amiga minha que morreu com 16 anos este verão... : "Ela tinha tudo pela frente... Fiquei revoltado... apenas gostava de saber o porquê desta patologia aparecer, visto que ela sempre foi saudável, tendo ido dia 3 de Julho ao hospital por uma dor de garganta e ter morrido no dia seguinte... Uns a chorar por Portugal ter perdido com a Grécia, ela (R.) a lutar pela sua (curta) vida..."
D F, 19 anos."


A GRANDE amiga faleceu por uma doença fulminante. Há várias doenças fulminantes. Em horas levam um vida perante a impotência da Ciência e dos médicos. As leucemias fulminantes são um caso paradigmático. Em muitas o primeiro e único sintoma é uma dor de garganta. Mas há mais, desde hepatites fulminantes a septicémias fulminantes.

Nem erro de diagóstico, nem negligência médica, nem problemas iatrogénicos. Mas algo cuja etiologia ainda não foi esclarecida totalmente...

O Natal É ...

... O Que O homem Quiser (Ou O Homem Permitir!)

sábado, dezembro 25, 2004

Silêncio Pós-Consoada

Explicações e Presunções

Consoada.

À volta de uma mesa, com o bacalhau e as batatas, e uns copos de tinto

economista explica economia a intelectuais

juíz explica justiça a intelectuais

advogado explica advocacia a intelectuais

professor explica pedagogia a intelectuais

artista explica arte a intelectuais

matemático explica matemática a intelectuais

e um Médico Explicou Medicina a Intelectuais.

Manteve-se anónimo apesar de nele falarem.

Ninguém foi presunçoso.

Explicar medicina a intelectuais será presunção?

Não será presunção outros intelectuais pensarem que dominam a Medicina?

Quanto à Visão, agradeço a distinção! E informo que sou absolutamente desconhecido nesse local.

P.S.: Só admito o adjectivo de prezunçozo ao Alvino.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Na Minha Terra

Não há vaidades.
O pensamento é livre.
Não há limites para a imaginação.
Faz-me falta olhar para a minha terra.

Só é pena pela primeira vez não encontrar na minha terra quem gostava de encontrar, mas as leis da vida ninguém as decreta, ninguém as promulga. Existem e são inexoravelmente o nosso destino...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Também Vou À Terra

O médico explica também vai à terra.

Não sabe se na terra terá novas tecnologias.

De qualquer forma Boas Festas.

Se Santas ou não, dependerá da Fé de cada um.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Não Há Triagem de Manchester Que Resista Ao Isolamento

Ou à honestidade!

Depois de ter passado todas as barreiras coloridas, ei-la frente a frente com o médico.

Pela triagem, era a "falta de ar" que a afligia.

Frente a frente:

- Então de que se queixa?
- Estou muito doente. Estou mesmo muito doente. Mas a verdade é que estou só. O isolamento é que me mata.

Não há tratamento urgente para isto.

Não há explicações a dar aos intelectuais sobre isto.
E quantos intelectuais também passam por isto?
Alguns. Pelos mails que vou recebendo!

Este episódio está a acontecer. Interrompi a consulta para "bloggar". E para pensar no Natal.

E entrou-me um cisco para os olhos, tenho que limpar esta humidade da Humanidade.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Apontamento Sobre O Velhinho

- Senhor doutor gostava que fosse ver o meu pai a casa. É muito velhinho. Tem 91 anos.
- Mas de que é que ele se queixa?
- Deixou de andar. Deixou de falar. Está muito velhinho.
- Amanhã passo por lá. Pode ser?
- Sim.

No dia seguinte. Já em casa do paciente.

- Como se chama este velhinho simpático?
- M Velhinho.
- Sim. Velhinho eu sei que ele está. Mas qual o apelido dele?
- Velhinho. Chama-se M Velhinho.
- Velhinho?
- Sim senhor doutor o meu marido está muito velhinho e chama-se Velhinho.

No fim da consulta.

- Senhor doutor acha que o meu Velhinho está para morrer?
- Minha senhora, o senhor Velhinho está muito velhinho, mas nós não podemos, nem sabemos adivinhar o futuro. Uma hora, um dia, uma semana, um mês, um ano, tudo pode acontecer ao seu marido velhinho.

sábado, dezembro 18, 2004

Ai estes Jurnalistas E Os Micronavios

Mas como sempre a culpa é do médico . Transcrevo:

"Identificação electrónica é obrigatória há cinco meses.
Mais de 200 mil cães já têm "microship".

Segundo o Público de hoje, andam por aí mais de 200 mil cães com micronavios... Seja lá isso o que for!!! De facto é adequado para um país de marinheiros.
É este o jornalismo que temos..."


Se não acreditam, está aqui, no Poblico, de 22 de Nubembro.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Um Pedido

de um jurnalista do Poblico ao Médico Explica Medicina A Intelectuais e largado na caixa do correio.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Acreditem Que Gostava ...

... de escrever mais e relatar alguns episódios da minha vida.


Hoje trabalhei mais de 12 horas.
Trabalhar significa para nós, ouvir, intervir quando necessário, deixar ouvir, discorrer "placebamente", ouvir, ouvir, ouvir, intervir pouco, intervir muito, intervir intensivamente, intervir nos limites, ultrapassar os limites, ir buscar ao Além alguns, deixá-los partir também, sorrir às vezes. Ouvir sempre!

Passadas doze horas, às vezes é necessário descomprimir.
Desligar a televisão. Apagão.
Ficar só neste mundo que não nos compreende.
Desconfiar daqueles que só gostam da $aúde.


Há dias um colega confessou-me que gostava de me conhecer. Porquê? A maior parte dos médicos são anónimos como eu. Ninguém os conhece. Há generalistas e generali$$$tas. Há especialistas e especiali$$$tas. Desde o mais simples interno geral ao mais afamado chefe de serviço há uma plétora de homens e mulheres conscientes da sua profissão.

Fico com erisipela quando as televisões e outros media fazem passar apenas a nódoa e transformam-na em regra.

Há médicos amigos dos seus doentes, desde o médico de família que o conhece há 20 anos, ao intensivista que o observa apenas durante horas.


Hoje depois de 12 horas de trabalho assistencial diverso (é preciso ganhar a vida!) alguém me convidou para o primeiro aniversário da sua vida.

Gostei do presente do aniversariante: "para o meu querido médico!". Tocou-me fundo.
Mas sei que os médicos só são queridos quando as "coisas" correm bem. Que me perdoe o aniversariante, mas o médico tem sempre esta perspectiva.
Só espero que não leiam este post até repousar nas profundezas dos arquivos.

Mas, após doze horas no limiar da incerteza e do risco: É ou não é? Foi ou não foi? Será ou não será um enfarte? Evacuo ou não evacuo? Será só uma reação aguda ao stresse ou uma crise de hipertiroidismo?
Depois de doze horas deixei-me levar pelo sabor do champanhe.
Foi o que me ofereceram.
Foi o que bebi.
Foi o que excedi.
Fez-me bem.
O álcool pode ser um bom psicofármaco, quando prescrito ou auto-medicado com consciência.

Mas não abusem, por favor!

segunda-feira, dezembro 13, 2004

[também posso ir?]

Carta resposta publicada no pasquim Expresso (ex-referência do jornalsmo português) de 11-12-2004:

"Li no artigo «Farmácias com descontos chorudos» (EXPRESSO, 4-12-04), uma «sugestão de notícia» acerca da conduta dos médicos: ainda no passado fim-de-semana, cerca de 150 psiquiatras estiveram no Algarve, a convite de um laboratório, mas sem programa científico.

Além de considerar que uma jornalista não deve produzir trabalho profissional genérico, sem rigor de concretização, a não ser que se trate de artigo de opinião, o que este não pretende ser, e que tenho o EXPRESSO por semanário onde a especulação sob capa de notícia não tem lugar, apelo à publicação de desmentido a que acrescento prova. Como palestrante no Simpósio Científico, que se realizou a 27 de Novembro no Algarve - Stª Eulália (se é a este que se querem referir), envio o programa científico e também a comunicação científica que apresentei.

Reitero o meu mais profundo protesto quanto a mais uma vileza relativa ao bom nome dos médicos portugueses. Convido as senhoras jornalistas, autoras da notícia, para um encontro [também posso ir?] onde talvez possamos compreender as razões de tais repetidos comportamentos persecutórios face ao bom nome dos médicos e lhes ajude a discernir as sérias repercussões que este tipo de atitude tem na saúde das populações.

Manuel Costa Guerreiro, Cruz Quebrada
"

Notícia Esquisita e Mais Uma Vez Manipuladora ... Falam, Falam, Falam E Não Dizem Nada"

Notícia muito esquisita do Comércio do Porto de 11/12/04 do jornalista João Santos.
Por um lado e mais uma vez, o título não condiz com o conteúdo. Manipulação! Desrespeito pelos leitores.

O título postula peremptório:
"Segredo profissional na saúde é ainda mal percebido"

O que é um profissional da saúde para o Povo? Médico, médico, médico, médico e só depois os outros profissionais, nomeadamente os enfermeiros.

O que diz a notícia?

"Esta é uma das principais revelações patentes no livro do enfermeiro .../..., ontem apresentado numa sessão que decorreu no edifício do Sindicato dos Enfermeiros. A publicação do livro surgiu no âmbito da tese de mestrado em desenvolvimento e subordinada ao tema "Teologia e Ética da Saúde". José Azevedo incluiu na sua investigação um inquérito realizado a um universo de mais de trezentos enfermeiros tendo sido verificado, entre um grupo significativo de elementos, um entendimento "mal percebido" e um "enorme subjectivismo" em questões que rodeiam a aplicação e a defesa do segredo profissional. José Azevedo, presidente do Sindicato dos Enfermeiros, actual enfermeiro-chefe do Hospital São João, têm desenvolvido um importante conteúdo teórico sobre a enfermagem e as suas ligações ao campo ético e social na sociedade. Paralelamente conta um trabalho reconhecido pelos seus pares enquanto dirigente no sindicato a que aderiu há mais de trinta anos."
  1. A notícia fala de um inquérito a cerca de 300 enfermeiros. O título fala dos profissionais da saúde, isto é, os médicos não sabem o que é o sigilo profissional.....
  2. Quem conhecer o sr enfermeiro Azevedo, sabe muito bem que a notícia não pode corresponder à verdade.
  3. Mestrados: quem quer comprar?. Vendo a crédito e a prestações...

sexta-feira, dezembro 10, 2004

European Heart House

Je suis la.

Confesso que aceitei o convite de uma multinacional do medicamento para visitar e frequentar um curso integrado num Programa Educacional da Sociedade Europeia de Cardiologia.

Aceitei. Pronto. Pelos que tenho recusado por nao oferecerem credibilidade.

E nao houve contrapartidas, descansem.

Talvez nunca conhecesse a European Heart House.

A industria farmaceutica tambem pode ter um papel positivo na preparacao cientifica dos medicos, com cuidado e com limites.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Ri-te, Ri-te

O Boticário poveiro, decidiu (mais uma vez) meter-se comigo. Está no seu direito, até já estava com saudades. Diz ele que se riu "... com vontade da gaffe assumida do médico explica medicina a intelectuais que não estudou toxicologia nem compostos organoclorados e portanto diz, como os jornalistas que ele adora corrigir, "Dealdrina". Sabe sempre bem ver um presunçoso a espalhar-se no tapete. Então, sua sapiência, não conhecia o 1,2,3,4,10,10-Hexacloro-6,7-epoxi-1,4,4a,5,6,7,8,8a-octa-hidro-1,4-,endo,exo-51,2,3,4,10,10-hexa-8-dimetanonaftaleno?"

Diz que sou presunçoso. Só não sei como é que um presunçoso admite ter errado.

Mas como o gosto de ver irritado, atiro-lhe com as negociatas do seu chefe: João Cordeiro.

"Farmácias com descontos chorudos
Há laboratórios que oferecem às farmácias mais 30 embalagens de um genérico pelo preço de dez. No final, o Estado é que paga
OS LABORATÓRIOS que vendem genéricos estão a fazer ofertas chorudas às farmácias para que estas prefiram os seus medicamentos aos da concorrência. Em vez dos médicos, o alvo destes laboratórios são agora os farmacêuticos, estando já generalizada a oferta de variadíssimas bonificações - as quais vão desde os créditos em viagens às ofertas, que chegam a 300% sobre a compra de embalagens do medicamento (pela compra de 10 caixas, recebem-se de borla mais 30).
Os responsáveis do sector - do Ministério da Saúde à própria Associação Nacional das Farmácias (ANF) - afirmam-se «preocupados» com a situação que, segundo o próprio presidente da ANF, João Cordeiro, torna «completamente irracional o mercado». Vive-se mesmo, disse Cordeiro ao EXPRESSO, «o salve-se quem puder».
"
.../...
"Há cerca de um ano, Luís Filipe Pereira recebeu uma denúncia onde eram relatados vários exemplos desta prática. Nessa denúncia, que chegou a ser noticiada, eram feitas referências a dois laboratórios nacionais de genéricos e a exemplos concretos de bonificações, lançando a suspeita sobre as margens de lucro que as farmácias estavam a obter à custa dos genéricos."
Para que não diga que faço censura, (notícia que não aproveite para censurar os médicos, não é notícia), aqui vai o resto da notícia da Graça Rosendo, no Expresso de 04/12/2004:

"Ainda no passado fim-de-semana, cerca de 150 psiquiatras estiveram no Algarve, a convite de um laboratório, mas sem programa científico. Também esta semana, outro laboratório levou para Roma 15 psiquiatras, com acompanhantes, numa acção de promoção de um outro medicamento. Em Novembro, artistas como Herman José, Luís Represas e Rui Veloso foram contratados para animar reuniões ditas científicas que juntaram, em diferentes jantares, mais de dois mil clínicos. Os anfitriões foram diferentes laboratórios e o objectivo dos encontros foi sempre o mesmo: promoção de medicamentos."

E ninguém me convidou. Será que não me conhecem? Pois eu conheço tantas delegadas de informação médica tão simpáticas. Será que não sou simpático? Também quero ir.
Também quero ir como foram muitos farmacêuticos a Marrocos convidados pela Farmoz, um laboratório de genéricos. Mas para a Gracinha Rosendo, só os médicos é que viajam... E depois admirem-se porque é que o sr João Cordeiro quer que os farmacêuticos tenham liberdade de troca de genéricos. A Farmoz levá-los-ia a uma volta ao mundo...
"O CONSUMO de apenas três medicamentos aumentou em €32,2 milhões a despesa dos portugueses com fármacos, nos primeiros nove meses do ano. São quase 12% dos €277 milhões de crescimento apurado neste período, revela um estudo da Associação Nacional de Farmácias (ANF) a que o EXPRESSO teve acesso. O mesmo estudo revela que a dispensa destes três medicamentos - Clopidogrel, Rosuvastatina e Escitalopram - era inexistente ou residual no período homólogo de 2003. E qualquer deles é o mais caro dentro da sua família e não tem genérico." - aqui estou de acordo com a ANF. Só que uma das críticas para a introdução de genéricos era a de que as novas moléculas teriam preços exorbitantes e pelos visto parece confirmar-se.

"O consumo de Clopidogrel aumentou de forma considerável, enquanto decresceu a procura da Ticlopidina e do Dipiridamol, que, segundo o estudo da ANF, actuam de igual modo na prevenção do acidente cardiovascular. Entre Janeiro e Setembro foram vendidas 360 mil embalagens de Clopidogrel que custaram mais de €20 milhões. A própria «aspirina de 100 miligramas faz o mesmo efeito», diz o presidente da ANF, o farmacêutico João Cordeiro." Mas diz mal, porque essas moléculas não actuam da mesma forma, nem têm as mesmas indicações.
Eu apoiaria uma inspeção a todos os médicos que presceveram clopidogrel para prevenção primária, pois este óptimo medicamento só deverá ser utilizado em determinadas situações muito específicas.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Muitos Intelectuais Só Conhecem O Médico ...

... dos consultórios da grande privada, os professores doutores, ou das grandes clínicas onde recorrem em situações de crise e vulneráveis.

Por isso, quando a vulnerabilidade desaparece, aparece a revolta contra o poder médico, a revolta contra os €€€€€€ que lá desapareceram e generalizam esses médicos (os barões da medicina) a toda a classe médica.

Mas o médico também é isto:

A minha 1ª vez

"Não. Não é sobre o que estão a pensar. Esta história é acerca do meu primeiro contacto directo com "doentes", ou melhor dizendo, com utentes do SNS.
Corria a Primavera do meu 1º ano na Faculdade. As nossas grandes preocupações, eram a conveniente preparação da 1ª QUEIMA, esse momento memorável de todos os estudantes do Porto, em que pela primeira vez deixam de ser caloiros e passam a ser aceites como "iguais entre iguais".

Apenas alguns dias antes desse tão importante momento, tive a missão de realizar um "inquérito de satisfação" aos utentes de um CS na região do Grande Porto. De relação médico-doente, propriamente dita, não tinha nada. Contudo, o peso da bata-branca, desde cedo aprendi ser importante para estabelecer esta relação. E foi numa dessas belas manhãs de Abril (ainda frias e chuvosas), que depois de ter acordado às 6h00, para poder chegar ao CS antes da abertura (às 08), que senti ter a minha primeira experiência, o meu primeiro contacto real com doentes. Até aí, mais não sabia do que espreitar por um microscópio e "conversar" com as peças inertes do Teatro Anatómico.

Ela era simpática. Dizia que tinha 96 anos, mas não lhe daria mais de 90 :). Pequenina e magrinha. Filha de pescador, viúva de pescador e mãe de pescador. Tinha nascido no início do século. Tinha conhecido reis, presidentes e ditadores. Lembrava-se de tudo claramente. Tinha uma saúde de ferro - HTA, ICC classe II NYHA e DM tipo 2 (longe de mim imaginar o que significava tudo isto... só o compreendi uns tempos mais tarde).
As cerca de 20 perguntas de que era composto o questionário (não demoravam mais do que 5 minutos) deram conversa para quase uma hora. Vieram à baila histórias da juventude, o namorado que a abandonou e foi para o Brasil, o casamento, os filhos, o casamento dos filhos, os netos, o casamento dos netos, os bisnetos, as fotografias dos bisnetos. As queixas dos médicos (os outros, porque o dela era muito bom - graças a Deus). As esperas no CS, o preço dos medicamentos, a reforma que era baixa.
Palavra-puxa-palavra eu que era um doutor-muito-jovem (como ela fazia questão de me chamar - olha o efeito da bata branca) fui-me deixando enlear pela conversa, pela necessidade de carinho e atenção. Ainda hoje, quando não tenho tempo para ouvir e utilizo a "técnica de entrevista" tantas vezes ensinada e aprendida uns anos mais à frente, me lembro daqueles olhos carentes, de quem precisa de ser ouvido.

Entretanto é chamada para a consulta. Levanta-se com genica impressionante para os 96 anos bem-vividos e beija-me na face. Vai-se embora dizendo: "Sr. Doutor, quando vier trabalhar para aqui quero ser sua doente. Vou pedir para trocar de médico"
Também eu gostaria de a rever. Não conhecia ainda o significado de "empatia" esse palavrão atrás do qual os médicos se escondem para defender a sua sanidade mental."

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Vital Moreira: Corporativista

Em 16 de Novembro de 2004, publicou Vital Moreira (VM) no Público, um artigo intitulado: "A Disciplina das Profissões".

Diz VM que "Justifica-se plenamente o destaque dado aqui no PÚBLICO de domingo passado à publicação das decisões disciplinares pela Ordem dos Advogados. Primeiro, porque se trata de um gesto inédito, pois é quase desconhecida a prática disciplinar das nossas ordens profissionais. Segundo, porque se verifica que a função disciplinar de uma profissão tão importante como a dos advogados está a ser efectivamente exercida, incluindo várias decisões de expulsão da profissão nos casos mais graves. Terceiro, porque, face aos acrescidos riscos para a deontologia profissional na sociedade actual, uma iniciativa desta natureza é uma importante arma contra a desconfiança e o descrédito das profissões."

VM tem publicado muitos artigos em que acusa toda uma classe profissional, os médicos, de corporativista, de que os erros médicos e mesmo a negligência são escondidos inter-pares e que a Ordem dos Médicos é relapsa na condenação de casos disciplinares. Isto tem dito VM ao logo dos anos.

Quando o lia, estava convencido de que VM era um estudioso da problemática das Ordens profissionais e nomeadamente da Ordem dos Médicos. Mas não. Pelos vistos VM sempre escreveu de cor. Levado pelo "ódio" que muitos intelectuais têm contra os médicos, particularmente os juristas, escrevinhava sem ter lido pelo menos um único número da Revista Ordem dos Médicos.

Neste artigo em referência, VM desde a primeira linha até ao último ponto final, enaltece e idolatra a sua Ordem e a sua decisão de publicar na sua revista os processos disciplinares que ele mesmo instaura. Diz, e com toda a razão, que os advogados devem ser julgados pelos seus pares. Digo eu, que os médicos devem ser julgados também inter-pares, assim como os engenheiros, etc.

Agora.
Porque em tempo sempre criticou a Ordem dos Médicos por querer ser ela a analisar os contextos e os erros ou negligências médicas, em parceria com outras estruturas.

E mente.
Talvez por negligência, quando afirma que é inédito a publicação dos processos, das decisões e dos resultados referentes a queixas instauradas contra médicos e dirigidas à Ordem dos Médicos.

Há dezenas de anos que o Boletim da Ordem dos Médicos publica as sanções, incluindo as penas de expulsão contra médicos...

domingo, novembro 28, 2004

Meu Caro FJV: Quanto Ao Pequeno-Almoço, De Acordo! Quanto Ao Primeiro Cigarro...Tanto Faz

Quanto ao pequeno-almoço, inteiramente de acordo. Deve ser um pequeno-almoço grande. Erradamente se chama pequeno e as pessoas no seu stresse diário ainda o encurtam mais: na quantidade, na qualidade e na disponibilidade. Compreende-se que, depois de quase 12 horas sem ingerir alimentos, nos devamos abastecer de energias para os gastos previsíveis de um novo dia.
Quanto ao primeiro cigarro, ser depois das onze, ou antes das dez, sinceramente tanto faz, se te dá prazer ao madrugar, com o mar em frente, fuma e fuma por mim, que fumei muitos com o meu anónimo mar como testemunha e o cheiro da maresia a misturar-se com o aprazível cheiro do tabaco.
Mas, agora não. Até o mar vai esvaecendo, mesmo no imaginário...

sábado, novembro 27, 2004

Situs Inversus E A Queixa do Esperma Escuro

Esta semana duas consultas foram diferentes da rotina habitual.

1) Ao observar um doente, sempre do lado direito com é da praxe, não encontrava os órgãos que habitualmente é esperado encontrar, quer na palpação e auscultação. Intrigado, mas sem lhe dizer nada, fui ver os exames complementares que ele trazia no seu saco de plástico: lá estava, uma ecografia com o fígado do lado esquerdo e o baço do lado direito, uma radiografia ao tórax e lá estava, o coração no local inverso. É um situs inversus completo. É raro.

2) Não foi este, mas outro jovem de 91 anos que se apresentou no consultório particular, com um reportório de várias queixas subjectivas, pouco valorizáveis pelo próprio doente e que prenunciam sempre a existência de uma última queixa, esta geralmente a mais importante para ele.
E lá apareceu ela. Quando me preparava para prescrever algum placebo para aquele idoso saudável, eis que me diz:
- "Sr doutor, só mais uma coisa. O meu esperma desde há uns meses que aparece escuro, parece sangue."

Pois é, para aqueles que pensam que não há vida sexual nos idosos, e que em muitos lares reprimem qualquer manifestação sexual ou afectiva entre os idosos, aqui está um bom exemplo do contrário...

Não Chega Pagarmos Mais Impostos

Também querem que paguemos mais pelos medicamentos!

Segundo o Correio da Manhã de 27/11/04:

"REMÉDIOS MAIS CAROS PARA A CLASSE MÉDIA"

"A comparticipação dos medicamentos vai ser alterada a partir de 2005, beneficiando as pessoas mais pobres e as que têm doenças incapacitantes. Opiniões contrárias já se fizeram ouvir por esta reforma penalizar ainda mais a classe média (trabalhadores por conta de outrém), ou seja, aqueles que mais pagam impostos."

Médico de Família Contra Obstetra

Já por várias vezes escrevi que não quero ser o advogado dos médicos de família portugueses. Os especialistas em medicina geral e familiar em Portugal têm várias estruturas representativas e a diversos níveis: Colégio da Ordem dos Médicos, APMCG, sindicatos e até uma associação de médicos de família privados, da qual não recordo o nome.

Choca-me que algumas outras especialidades médicas duvidem da sua idoneidade e muitas vezes por motivos subterrâneos: quer se queira ou quer não, os médicos de família portugueses, mesmo com a falta de médicos que há, distribuem-se por Portugal inteiro.

Mas não há só médicos de família em Unhais da Serra ou Pedrógão Grande, também os há professores universitários, ideólogos das especificidades da cultura generalista em Medicina, como o Prof. Armando Brito de Sá, médico de família, na Unidade de Saúde Familiar Rodrigues Miguéis, em Lisboa, e professor auxiliar na Faculdade de Medicina de Lisboa, Instituto de Medicina Preventiva, que, em artigo on-line no jornal Tempo Medicina responde aos dislates do presidente da SPOG (sem linke do artigo, porque só é acessível a médicos, segundo esclarece o Tempo Medicina, por imperativos legais).
No número de 15 de Novembro do «Tempo Medicina» publica-se uma reportagem sobre a abertura do XVII Congresso Português de Obstetrícia e Ginecologia. O Presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia (SPOG), Prof. Carlos Jorge, terá, segundo o «TM», comentado o que considera ser a «fraca actuação dos médicos dos cuidados de saúde primários». Mais adiante, na peça, surge um parágrafo que reproduzo na íntegra:
«O responsável da SPOG chamou ainda a atenção para o facto de não estar definido “o que fazer e quando fazer” no apoio às grávidas, a quem são feitas “consultas sobre consultas”. Para o obstetra, as inúmeras ecografias prescritas apenas obedecem ao “critério” da “inspiração do momento”, reflexo do desempenho do médico de família, que se limita, “na maior parte dos casos”, a ser “um preenchedor de papéis”. Por seu turno, as consultas de planeamento familiar “não passam de mera distribuição de contraceptivos” e o rastreio do cancro da mama padece, no seu entender, de uma “ausência de sistematização”.»
As afirmações do Prof. Carlos Jorge, em si mesmas preocupantes, assumem gravidade inusitada por virem do responsável primeiro de uma instituição prestigiada como a SPOG. Trata-se de um conjunto de generalidades depreciativas de uma especialidade inteira que, convenhamos, são difíceis de rebater, pela formulação desestruturada que apresentam.
Senão, vejamos:

1. O que se entende por «fraca actuação»? Seria interessante conhecer os critérios de qualidade utilizados pelo Prof. Carlos Jorge para efectuar este juízo, bem como ter acesso aos trabalhos de avaliação em que se baseia para o proferir em público.

2. Aparentemente, não estará definido «o que fazer e quando fazer» no apoio às grávidas, a quem serão feitas «consultas sobre consultas»; inúmeras ecografias serão pedidas segundo o «critério» da «inspiração do momento». Não sei se estaremos a falar do mesmo país. Como médico de família efectuo desde sempre consultas de saúde materna, segundo as Orientações Técnicas definidas pela Direcção-Geral de Saúde (incluindo, naturalmente, critérios para número e intervalo entre consultas), referenciando as grávidas aos serviços de Obstetrícia segundo os protocolos estabelecidos, com excepção das situações patológicas necessitando de cuidados hospitalares em tempo específico. Cabe ao Prof. Carlos Jorge demonstrar que não é esta a prática comum dos médicos de família portugueses que efectuam saúde materna, e que o quase milhão e meio de consultas nessa área por eles efectuadas no triénio 2000-2002 (1-3) não obedeceu aos critérios de racionalidade e adequação desejáveis. Na verdade, a generalidade da literatura internacional aponta para que, no que diz respeito à grávida de baixo risco, o médico de família obtém os mesmos resultados na gravidez que o obstetra, com menores custos (4), menor número de gestos (5) e maior satisfação para as mulheres por ele seguidas (6). Não dispomos de dados nacionais, mas não há razões para suspeitar de que entre nós se viva uma situação diferente.

3. É referido pelo Prof. Carlos Jorge que o médico de família será, «na maior parte dos casos», um «preenchedor de papéis». É público que os médicos de família são regularmente confrontados com a solicitação, deontologicamente indefensável, de transcrição de exames complementares de colegas de outras especialidades. Não irei abordar esse assunto, que tem merecido debate aprofundado em espaço diverso.

4. O Presidente da SPOG considera que as consultas de planeamento familiar «não passam de mera distribuição de contraceptivos». Suspeito, por esta afirmação, de que o Prof. Carlos Jorge não conhece os centros de saúde, ou de que a sua amostra, a existir, estará profundamente enviesada. A simples aritmética respeitante, por exemplo, ao número de DIUs distribuídos pelas ARS (e, por definição, colocados) nos centros de saúde portugueses poderia dar-lhe uma outra ideia da realidade; este evidente desconhecimento leva-o, por outro lado, a ignorar o trabalho diário de enfermeiras e médicos que efectuam ensino e esclarecimento no contexto das consultas de planeamento familiar nos centros de saúde em todo o País. Foram efectuadas, segundo os dados acumulados da Direcção-Geral da Saúde para os anos de 2000, 2001 e 2002, mais de dois milhões de consultas de planeamento familiar e saúde da mulher nos cuidados de saúde primários portugueses (Quadro II) (1-3). A desqualificação desta actividade proferida pelo Prof. Carlos Jorge é, ela mesma, inqualificável.

5. Entende o Prof. Carlos Jorge que o rastreio do cancro da mama padece de «ausência de sistematização». Por uma vez, estamos de acordo. É hoje impossível perceber objectivamente qual a situação real, entre nós, deste rastreio; por extensão, o mesmo raciocínio é aplicável ao rastreio do cancro do colo e a outros problemas de saúde fora do âmbito da presente discussão. Tal não se deve, contudo, à ausência de promoção e execução destas técnicas nos cuidados de saúde primários portugueses, mas à inexistência de sistemas fiáveis de registo que permitam quer a eficiente chamada das mulheres pertencentes à população-alvo, quando tal se justifica, quer a monitorização e avaliação desse processo. Trata-se de um problema para o qual há muito os responsáveis da Medicina Geral e Familiar portuguesa chamam a atenção e que, naturalmente, não é resolúvel com medidas avulsas, mas através de um sistema integrado de registo que permita a avaliação sistemática destas actividades a todos os níveis.

Os médicos de família portugueses realizam, desde o início da sua carreira, actividades no âmbito da saúde da mulher englobando saúde materna, planeamento familiar, diagnóstico e terapêutica de situações comuns, rastreio de neoplasia mamária e do colo uterino, e acompanhamento da menopausa, referenciando aos seus colegas obstetras/ginecologistas as mulheres que necessitam de intervenção em meio hospitalar. Os médicos de família continuarão a realizar estas actividades, em colaboração que se deseja cada vez melhor com os seus pares nos hospitais, sabendo que prestam um serviço insubstituível à população e conscientes de que a sua intervenção poderá ser sempre melhorada. Nesse sentido, continuamos a trabalhar.
Referências bibliográficas

1 Direcção-Geral da Saúde. «Centros de saúde e hospitais. Recursos e produção do SNS 2000». Lisboa, Direcção-Geral da Saúde; 2003.
2 Direcção-Geral da Saúde. «Centros de saúde e hospitais. Recursos e produção do SNS 2001». Lisboa. Direcção-Geral da Saúde; 2003.
3 Direcção-Geral da Saúde. «Centros de saúde e hospitais. Recursos e produção do SNS 2002». Lisboa, Direcção-Geral da Saúde; 2004.
4 Khan-Neelofur D, Gulmezoglu M, Villar J. «Who should provide routine antenatal care for low-risk women, and how often? A systematic review of randomised controlled trials. WHO Antenatal Care Trial Research Group». Paediatr Perinat Epidemiol, 1998; 12 Supl 2: 7-26.
5 Tucker JS, Hall MH, Howie PW, Reid ME, Barbour RS, Florey CD, McIlwaine GM. «Should obstetricians see women with normal pregnancies? A multicentre randomised controlled trial of routine antenatal care by general practitioners and midwives compared with shared care led by obstetricians». BMJ, 1996; 312: 554-9.
6 Villar J, Carroli G, Khan-Neelofur D, Piaggio G, Gulmezoglu M. «Patterns of routine antenatal care for low-risk pregnancy». Cochrane Database Syst Rev, 2001; (4): CD000934.

Notas do Médico Explica: sublinhados da sua responsabiliade, foto retirada do sítio da jornal Tempo Medicina, peço desculpa por não aparecerem os quadros referidos no texto. Por fim, sou anónimo, mas não sou o Armando Brito e Sá.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Medicinas d'Alterne

Leitora amiga enviou-me esta notícia.


"Não se esqueça da criança ... a criança!", vociferou o JT.


Pois mais um exemplo da grande devoção que todos os pais têm pelas suas crianças.


JT, se eu lhe contasse o que vejo, diariamente, sobre as crianças e seus lindos pais, diria que não estava a acontecer...


"Alemanha: casal vegetariano condenado a prisão por subnutrição do filho

O tribunal de Paderborn, na Alemanha, condenou esta quarta-feira um casal vegetariano a dois anos e meio de prisão por considerar que não cuidou correctamente do seu filho de 15 meses, que se encontrava subnutrido.

O pai, de 44 anos, e a mãe, uma enfermeira de 36, foram considerados culpados de infligir danos físicos que provocaram a morte do bebé, falecido em Março com uma pneumonia.
Segundo os especialistas, a criança morreu devido a uma pneumonia agravada por carências alimentares. O casal alimentava a criança com leite de amêndoas e noz de coco. A criança foi tratada pelos pais durante 15 dias apenas com oleos naturais, antes de ser internado com uma pneumonia grave, à qual não sobreviveu.

O juiz considerou que este não se tratava de um «caso típico de negligência», uma vez que «os arguidos pretendiam o melhor para o seu filho», mas referiu que os pais deviam ter consultado um medico quando a criança adoeceu.


Copyright Diário Digital 1999/2004 http://diariodigital.sapo.pt/"

domingo, novembro 21, 2004

Quando As Pessoas Ficam Cegas Pelo Ódio, Não Conseguem Ler E Interpretar O Que Se Escreve.

Resposta a um e-mail:

Caro J T

Assunto: Não se esqueça da criança... a criança...
- Qual criança? As que morrem assassinadas pelos pais, pelos padrastos, pelos vizinhos, ainda ontem foi condenado um casal a 14 anos de prisão. Parece que não eram médicos! Eram pais.

Já reparou que os seus últimos posts têm a ver com os processos que estão a ser levantados a médicos alegadamente negligentes?
- Exactamente, não só os últimos, como muitos outros. Sempre disse que os médicos devem ser condenados sempre que se prove que foram negligentes. O que não concordo é com a feira mediática que se faz à volta disso mesmo. Feira das vaidades. Os familiares aproveitam-se dos seus entes queridos falecidos para a sua vaidade própria.

Isso não lhe diz nada?
- A si é que não lhe diz nada? Como vê tambêm falo de colegas meus negligentes e que devem ser condenados. E você quantos dos seus pares já foram criticados no seu blogue? Envie-me os links, por favor... De quantos professores agressores de alunos já falou? De quantos professores que usam força desproporcionada contra os seus alunos? Sabe, caro amigo, tenho dezenas de professores de todos os graus de ensino na minha família. Compreendo-os. Não os persigo...

Falta a criança assassinada dentro do útero materno por um obstetra e os seus forceps - é assim que se diz?
- Assassinada? Isso não é forte de mais? Sabe, a minha filha quando nasceu também teve uma fractura do crâneo. Fui ler a literatura e isso é frequente. Um parto não é inóquo, embora se pense que sim. Se houve ou não negligência? Espero que os tribunais decidam. Mas uma coisa lhe garanto: quando o obstetra utilizou os forceps, não foi com intenção de matar... E sabe, não leu bem, refiro-me a três obstetras: dois do Amadora-Sintra e um de Mirandela.


Tal como lhe disse, o tempo em que o pessoal se calava já lá vai...
- Estou de acordo consigo: esse tempo foi com o 24 de Abril.

A partir de agora é preciso muito cuidado... muito mesmo, porque até a agressões a médicos, e não sei se pior, iremos assistir.
- Já assistimos. Ainda você andava de cueiros e já uma médica era assassinada em Abrantes por se recusar a passar uma baixa. E outros casos já houve. A nossa profissão é uma profissão de risco. Já o sabemos desde que há doentes psiquiátricos. Com as provocações da campanha dos media, a tendência agravar-se-á. Não tenho dúvidas.

É que não se pode brincar com a vida das pessoas, está a ver?
- Exactamente. Não se pode brincar. Com excepção da fome, como em África, das guerras como a do Iraque, da pobreza, como em Darfour, da pedofilia, como na Casa Pia, da exploração de homens, mulheres e crianças, como faz o capitalismo selvagem, os bancos e as seguradoras que nos exploram até ao tutano...

Bom fim de semana.
Também para si. O meu será a trabalhar 24 horas em 48 horas. Trabalhar? Talvez não. Os médicos não trabalham ... porra! Assassinam, matam, estropiam, gozam com as pessoas, usam-nas, negligenciam, erram! Todos. Mudemos todos para os alternativos...

sábado, novembro 20, 2004

SPOG

Na mesma semana em que o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia (SPOG) afirmava do alto da sua cátedra que as grávidas não eram convenientemente assistidas a nível dos cuidados de saúde primários (venham ao meu consultório, venham, deveria estar ele a pensar...) a Inspecção-Geral da Saúde e o Ministério Público deduziam acusação contra três colegas obstetras do sr presidente, por negligência médica grave, da qual resultou a morte de dois lactentes.


Acusar os médicos que trabalham nos mais de trezentos centros de saúde espalhados por Portugal é uma acusação injusta e infundada.


A opção da grávida é lei, e se uma grávida optar por ser assistida no Hospital CUF-Descobertas, em Lisboa, outra optará por ser seguida pelo seu médico de família em Unhais da Serra, para onde nenhum obstetra se decidiu mudar de armas e bagagens.


O sr presidente da SPOG que se preocupe em melhorar a qualidade da assistência hospitalar às grávidas, porque numa semana três obstetras condenados num país tão pequenino, é obra e deixe os médicos de família em paz, estes sim, distribuídos pelo Portugal profundo.


Estou plenamente de acordo com o encerramento de maternidades que apenas servem os interesses pessoais de quem lá trabalha - são as famosas quintas.




Peço Desculpa Aos Leitores...

Mas eu também fui enganado pela desplicência dos nossos jornalistas. (Alguns. Não quero generalizar como a comunicação social, em relação aos médicos).

Desplicência? Não. Negligência, má-prática jornalística, ultrapassagenm da legis artis, desprezo para com o público consumidor de notícias.

A TSF on-line em 19/11/04 feriu-nos os tímpanos e encandeou-nos a íris com a "dealdrina".

E eu acreditando na boa fé da rádio de referência e na competência dos seus jornalistas, confiei que seria dealdrina, o pesticida da moda, o mediático.

Mas não. O nome está incorrecto. Diz-se DIELDRINA.

Mas como não espero que a TSF peça desculpa a um seu ouvinte, peço eu desculpa aos leitores deste modesto blogue: dieldrina e não dealdrina.
Para os interessados:
Propriedades Físicas - A substância pura (também designada pela sigla HEOD) apresenta-se sob a forma de cristais brancos....
Propriedades Químicas - é um composto estável ao calor e à luz...
Aplicações - intervém como matéria activa na preparação de insecticidas...
Vias de Penetração - inalação, cutânea, ingestão...
Riscos - não é uma substância inflamável. .../... Devido à toxicidade dos fumos emitidos aquando da combustão as pessoas encarregadas da luta contra incêndio serão equipadas de aparelhos de protecção respiratória, autónomos e isolantes. Após um período latente de 20 minutos a 24 horas as intoxicações agudas manifestam-se por contracções musculares que podem dar lugar a um coma convulsivo, por vezes precedido de cefaleias, vertigens, náuseas vómitos e diarreia (sobretudo depois de ingestão). .../... provoca ligeira irritação da pele e das mucosas que é muitas vezes reforçada pela presença dos solventes; estes últimos, bem como os óleos vegetais, favorecendo a absorção da dieldrina, aumentam a sua toxicidade. A exposição prolongada à dieldrina, entre outros sintomas, pode dar origem a irritações brônquicas, a dermatoses, e lesões hepáticas e a perturbações do foro neurológico.
Medidas de Prevenção - Devido à toxicidade impõem-se severas medidas de prevenção...
Cuidados Médicos - Aquando da admissão, evitar expôr ao produto as pessoas portadoras de afecções neurológicas, hepáticas e renais ou de dermatoses crónicas. Em caso de projecções cutâneas ou oculares, de grande inalação ou de ingestão, alertar imediatamente o médico do trabalho.
(Mais em http://www.eq.uc.pt/~mena3/dieldrina.html)

sexta-feira, novembro 19, 2004

Dealdrina - Guerra de Tabaqueiras?

Segundo os jornais de hoje, a Direcção-Geral da Saúde "por uma questão de precaução, vão ser retirados do mercado os lotes de SG Ventil e SG Filtro, as duas marcas onde foi detectada a dealdrina, um pesticida cancerígeno".

Mas...

Não tem o tabaco mais de 4 500 substâncias químicas, das quais mais de 50 são cancerígenas?

Mais de 50 são reconhecidamente cancerígenas. Repito!

Ou será que o tabaco sem a dealdrina já não provoca cancro?

Mas, se é tão grave assim, a Inspecção-Geral de Saúde já abriu algum inquérito e o Mnistério Público já encontrou culpados por essa negligência? Ou não apareceram queixosos?

quarta-feira, novembro 17, 2004

17 de Novembro de 2004 - O Meu Dia Desde 1981

Dia Nacional do Não Fumador

terça-feira, novembro 16, 2004

Apagão Em Hospitais: Erro Médico, Erro Em Medicina, Erro de Quem?

O blogue Causa Nossa publicou um bilhete transcrito de um e-mail assinado por T A Fernandes com o título ""Apagão" em hospitais" e inserido em 8 de Outubro por VM, mais conhecido por Vital Moreira, e mais conhecido ainda entre os médicos pelo ódio que nutre pelos mesmos (segundo alguns dos seus inflamados artigos ... há uns anos foi um intransigente defensor do Pequito, que agora demonstrou o que na realidade é!) .

O TA Fernandes (que é engenheiro electrotécnico) teve a gentileza de me enviar recentemente um e-mail também sobre o assunto. Nele dizia que estava indignado, e que se tratava de uma negligência criminosa. Concordo com tudo.

Dizia-me ele que enviou também um e-mail de protesto para o Ministro da Saúde, para a Ordem dos Enfermeiros e para a Ordem dos Médicos.

Na resposta disse-lhe que também deveria enviar para a Ordem dos Engenheiros. Agora acrescento que deveria enviar também para o Sindicato dos Electricistas.

Na volta do correio, muito elegantemente TA Fernandes diz-me que não está contra os médicos, mas contra os gestores dos hospitais. Mas... os engenheiros electrotécnicos, Senhor?
Quem será o responsável por todos os circuitos de alta, média e baixa tensão num hospital?

Acredito na boa fé do TA Fernandes (já não da do VM, pois nem uma análise crítica fez ao e-mail!)

Mas o que me fez trazer aqui esta troca de e-mails é a cultura anti-médico que se vai instalando na sociedade: tudo o que corre mal nos hospitais ou nos centros de saúde é culpa dos médicos e dos enfermeiros.

Mas atenção: os médicos ainda são só médicos, embora cada vez mais dependentes dos engenheiros. De tensões altas e baixas, só as relacionadas com a pressão arterial. De circuitos, só as sinapses e os neurónios e outros circuitos semelhantes...

E é necessário cada um assumir as sua culpas.

Eu de electricidade só sei o que quer dizer on/off. E o que fazer quando está on ou off. E o que esperar que aconteça quando faço on ou off.
Maiii nada!

A Válvula Aórtica do Jornalista Fernando Oliveira Que Não Virou Juiz

A sua notícia no Jornal de Notícias de hoje é sobre a morte de uma doente ocorrida em 1999 em Vila do Conde e titula-a assim:

Médico julgado por homicídio – Ministério Público sustenta que houve negligência no atendimento a doente que veio a falecer

Sem dúvida uma notícia muito mais esclarecedora do que a do Comércio sobre o mesmo caso.

”O caso ocorreu às 22 horas do dia 3 de Novembro de 1999, quando Joaquina Maia deu entrada no serviço de urgência do Hospital de Vila do Conde, com dores de cabeça e vómitos. Era doente do coração, fez-se acompanhar de todos os medicamentos que tomava, mas apenas lhe foi diagnosticada uma enxaqueca.”

Teve alta três horas mais tarde, "porque já se encontrava consciente e colaborante". Menos de 48 horas depois, foi internada de urgência no serviço de neurocirurgia do Hospital de S. João do Porto, onde acabaria por morrer. "A doente apresentava o mesmo quadro clínico, cefaleia na nuca e vómitos, mas já sem consciência, porque a assistência médica prestada no Hospital de Vila do Conde não foi a adequada e só agravou o seu estado de saúde", lê-se na acusação do MP.

A afirmação do Ministério Público é muito polémica.

E mais polémica é quando diz:

“uma "simples auscultação" à paciente e verificar que tinha uma cicatriz de esternotomia mediana”

O Ministério Público demonstra que não sabe como se diagnostica uma hemorragia cerebral.

Já diagnostiquei muitas apenas pela clínica, incluindo a pesquisa de alguns sinais.

Um TAC hoje em dia certifica o diagnóstico.

Uma coisa posso dizer em 25 anos de exercício de medicina: nunca diagnostiquei uma hemorragia cerebral por auscultação cardíaca e visualização de esternotomia mediana.

Não passo cheque em branco a ninguém, nem tão pouco ao "médico José Gonçalves Extremina, residente na Póvoa de Varzim, com 41 anos, e aguarda julgamento com termo de identidade", segundo o Jornal de Notícias informa.

segunda-feira, novembro 15, 2004

A Válvula Aórtida da Jornalista Márcia Vara Que Virou Juiz

A sua notícia no Comércio do Porto de hoje é sobre a morte de uma doente ocorrida em 1999 em Vila do Conde e titula-a assim:


Homicídio involuntário por negligência médica é julgado dia 25 em Vila do Conde


Depois de ler a notícia cheguei à conclusão de que quem vai ser julgado é o médico e o Tribunal com o seu Juiz é que vai considerar se houve ou não homicídio involuntário por negligência médica, mas a Márcia diz-nos que já foi julgado, só falta ler a sentença, embora só no dia 25 é que o julgamento se irá realizar.

Hoje são 15 de Novembro, faltam 10 dias.

Mas que confusão, será que a Márcia anda metida com o Juiz? E o julgamento já está feito? Será algum furo jornalístico?

Confusão…

Da notícia:

“Vómitos e tonturas” – quem não as teve pelo menos uma vez na vida!

"tratamento negligente que deu à mulher” – como se pode afirmar se a consulta não tem assistência.

“Manuel Maia quer "que se faça justiça, porque o médico não deu a devida atenção" à mulher. - idem idem, aspas aspas.

“violou os deveres gerais de zelo e lealdade” – afirma peremptoriamente o Ministério Público.

“a uma hemorragia cerebral” – doença geralmente aguda, geralmente fatal, também conhecida por AVC ou “genericamente trombose”.

"Manuel Maia diz-se "revoltado" – compreendo. Eu também ficaria com a morte de alguém próximo.

“um sentimento que, garantiu ao COMÉRCIO, "só vai passar quando o tribunal condenar o médico" – desejo de vingança.

“"Se ele a tivesse examinada em condições, hoje, a minha mulher ainda estaria viva", conclui.” – quem garante? As hemorragias são fatais muitas vezes.

“A audiência está então marcada para o dia 25 de Novembro, a partir das 9h30, no Tribunal de Vila do Conde” – apareçam, o espectáculo vai começar com a artista Márcia Vara e cobertura mediática do Comércio do Porto.

Conversas de doentes

(Este post estava em draft no Blogger desde 13 de Outubro. Chegou a hora de ver a luz do dia!)

Os doentes são os primeiros a criticar os médicos pelos seus erros. E ainda bem,
mostram espírito crítico, excluindo o aproveitamento dos media e os minutos de glória que proporcionam, a verborreia que debitam e o ódio que destilam.

Mas não aceito as críticas de associações de doentes quando são feitas de forma superficial e leviana e muitas vezes com objectivos ocultos, pois muitas associações de doentes estão enfeudadas à indústria farmacêutica (sim, não são só alguns médicos. Também há doentes a receber da indústria. Era mais uma boa investigação jornalística...) ou a lobies médicos (que também os há!).

Regra geral as críticas são dirigidas ao elo mais fraco da cadeia assistencial: os médicos que labutam nos cuidados primários e que tanto geram ódio, como amor.
Tanto se lê nos jornais que "não percebem nada do assunto", como se lê que se fazem manifestações para impedir a sua retirada de um determinado local.

Isto vem a propósito de umas críticas já antigas de uma associação de doentes diabéticos (Não a APDP!) que se insurgia contra o tratamento dos diabéticos nos centros de saúde ou qualquer idiotice semelhante.

Estas conversas ouvi na sala de espera, hoje:

Uma: Ah! Esqueci-me da levar a insulina.

Outra: Hoje tenho 400, ainda bem, quanto mais alto melhor!

Outro: Remédios, quantos menos melhor! Quero é para o cérebro!

Ainda outra: Andar? Que andem eles!

Isto reflecte a iliteracia dos doentes portugueses.
Essas associações poderiam investir no ensino directo com os seus doentes, poderiam investir em reuniões no Portugal profundo, em vez de se reunirem em hotéis, em vez de organizar grandes campanhas de publicidade que muitas vezes têm como objectivo apenas o consumo de medicamentos...
______________________________________________________

Ontem foi um dia qualquer ligado à diabetes. Pela notícia da SIC deveria ser o dia dos Adolescentes Diabéticos Que Praticam Equitação.

Após 12 horas dominicais de trabalho, nada melhor que ligar a TV e ouvir as notícias fresquinhas: e ouvi, mais doenças, doenças, doenças, doentes, queixas.
Preferi ver os golos do Sporting, não sem antes ter ouvido a SIC a falar dos tais doentes diabéticos tipo 1, que são pouquíssimos quando se fala de epidemia da diabetes, pois é uma referência à diabetes tipo 2.

Mas dizia a jornalista do alto do seu saber: vejam lá como os médicos são uns incompetentes, atém proibiram esta jovem diabética de fazer hipismo, (palavras minhas). Jovem da classe alta, com uma mãe toda loiroca, com as mãos calejadas pelo trabalho de agarrrar as rédeas de um lindo cavalo, com o hipódromo ao fundo.

Mais um golo do Sporting...

sexta-feira, novembro 12, 2004

Quem Morrerá Amanhã? Eu? Tu?

Ontem, um familiar meu, numa estrada de Portugal em mais um estúpido acidente de viação: amputação dos dois membros inferiores...


Sabe Catarina ...

A estrada mata, mas não as vamos fechar. (No reverso da medalha, dão lucro ao País!)

Os automóveis matam, mas não os vamos deixar de vender, nem deixar de viajar. (No reverso da medalha, dão lucro à industria!)

O tabaco mata, mas não se proíbe a sua venda. (No reverso da medalha, dão lucro às tabaqueiras!)

Os aviões matam, mas não deixamos de voar. (No reverso da medalha, dão lucro, lazer e negócios!)

Os erros médicos podem matar, mas não vamos fechar os hospitais, nem despedir os médicos. O que até nem era mau, uma reforma antecipada e no reverso da medalha salvam também muitas vidas.

Como sempre tenho dito, os mais preocupados com o erro médico, são os médicos. Nem sequer os gestores dos hospitais, nem sequer a Mello Saúde

quinta-feira, novembro 11, 2004

"Não percebi completamente este seu post:"

Ok Tiago.
Eu estou cá para explicar. Embora não seja um especialista na orgânica interna da Ordem do Médicos, se alguem me puder corrigir, agradeço.

"De: T A F
Data: Quinta-Feira, 11 de Novembro de 2004, 2:00
Para: medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: Atraso da Ordem dos Médicos

Boa noite!

Não percebi completamente este seu post:
http://medicoexplicamedicinaaintelectuais.blogspot.com/2004/11/estarei-com-mania-da-perseguio.html

Eu não conheço o caso, mas afinal há ou não há atraso da Ordem dos Médicos? [Claro que não!]

Houve algum atraso ou falta de iniciativa do bastonário? [Claro que não!]

Houve algum atraso ou falta de iniciativa do Conselho Disciplinar? [Claro que não!]

Era obrigatório que os pais apresentassem queixa [Claro que sim!]
ou a iniciativa poderia ter partido da própria OM? [Claro que só se houvesse alguma denúncia concreta e factual!]

Era preciso esperar pelo relatório da IGS? [Claro que sim, se não houvesse outra qualquer denúncia!] [Claro que sim!]

Estas não são perguntas de retórica, são dúvidas sinceras. Não tenho qualquer opinião formada sobre o caso.

Os meus cumprimentos.
--
taf@etc.pt
http://taf.net/ - http://taf.net/opiniao/
http://porto.taf.net/ - http://7arte.net/
"
O Conselho Disciplinar só se pronuncia após os orgãos dirigentes lhes enviarem os processos.
Os processos só são abertos em caso de denúncias, quer por particulares individuais, quer por instituições, quer pelo poder da IGS ou Tribunais.
Presumo que num caso de proporções nacionais e mediáticas a Ordem do Médicos pode abrir um inquérito. Se fosse abrir inquéritos a todas as notícias da TVI...

O Blog do João Tilly Ensandeceu?

Espero que não! Mas aquela dos 45% das mortes hospitalares se deverem a erros médicos, preciso de confirmar. Mas também é verdade que ninguém fala dos milhões que saiem dos hospitais curados...

Mas como vou a caminho de uma negligência hospitalar e provavelmente vou matar mais um por erro médico, logo, depois de um turno de urgência, após um bom jantar com um bom vinho, numa bela Pousada (a minhas expensas!) vou ter calma e discernimento para ler os últimos bilhetes do amigo João Tilly, ainda magoado pela morte de um familiar.

Se o João Tilly fizesse uma ligeira pesquisa veria que somos a única classe que se dedica a estudar e investigar os seus próprios erros, porque sabemos que deles depende a vida ou a morte. Nos Estados Unidos da América do Norte há dezenas de anos que se estuda para diminuir e prevenir o erro médico. E apesar disso há erros, e ainda muitos.

Os erros de um professor? Quais são? Um aluno que não aprende e que chumba. Será um erro? Claro que não. Mesmo que o professor passe a aula ao telemovel.... e o ano de atestado médico em atestado médico, para justificar aquilo que nenhum médico pode atestar: um enxaqueca levada da breca, uma depressão do caraças, uma cólica renal ontem e onteontem e amanhã, uma lombalgia ou "dor de rinses", ou muitos outros sintomas subjectivos não visualizados e como tal não quantificados. Mas os médicos dão o benefício da dúvida e atestam. Tem bom coração. Não duvidam nunca dos outros, ao passo que os OUTROS estão sempre a duvidar dos médicos...

Os erros de um jornalista? Quais são? Umas noticias erradas. Ou até inventadas? Mas que interessa, esconde-se atrás das fontes.

Mas nós não. Temos uma poderosa Inspecção Geral da Saúde sem médicos, só com juristas, temos uma Ordem dos Médicos forte e responsável e temos toda a comunidade de olho bem aberto...

Arafat? Arafat morreu por negligência médica. E até sem um diagnóstico, já viram. Que maus médicos, os franceses...

quarta-feira, novembro 10, 2004

Estarei Com A Mania Da Perseguição?

Sobre o mesmo assunto o governametal e ex-jornal de referência Diário de Notícias, informa: a Ordem dos Médicos só agora vai instaurar o processo, mesmo depois do jornalista colher informações na origem.

Mas a notícia que querem passar é, de facto, o "atraso da Ordem dos Médicos".


"O Conselho Disciplinar da Ordem dos Médicos, por seu lado, só agora vai instaurar um processo de inquérito para apurar responsabilidades. Segundo explicou ao DN, o presidente do conselho, Freire Andrade, esta decisão tardia tem a ver com o facto de o relatório da IGS «só nos ter sido enviado ontem pelo sr. bastonário e também porque os pais nunca nos apresentaram qualquer queixa directamente»".

Ordem Processa Médicos!

Para aqueles que nos consideram corporativos ou a Ordem dos Médicos (com todos os defeitos que tem...) como uma corporação onde tudo se esconde leiam a notícia do Expresso on-line
"Ordem processa médicos
Morte de criança no Hospital Amadora-Sintra
As conclusões da Inspecção-Geral de Saúde sobre a morte de uma menina no Hospital Amadora-Sintra em Janeiro, «indiciam má prática médica». O relatório chegou agora ao conhecimento da Ordem dos Médicos, que garante abrir um processo disciplinar aos clínicos responsáveis.
Os médicos envolvidos na assistência à criança vão ainda ser processados disciplinarmente pelo próprio hospital, como recomendaram os inspectores da Saúde. O relatório foi também enviado para o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, que já abriu o respectivo inquérito.
A menina de dez anos entrou no hospital no dia 9 de Janeiro para ser submetida a uma cirurgia do foro otorriolaringológico (extracção das amígdalas), mas não acordou no final da intervenção. Entrou em coma profundo, acabando por falecer
."
Também é uma alerta para todas aquelas mãezinhas e papásinhos que não descansam enquanto não mutilam seu filhos por espirrarem de mais ou pingarem sempre do nariz quando entram e permanecem nas creches ... geralmente na privada, porque nos hospitais públicos faz-se apenas o necessário.

domingo, novembro 07, 2004

Particularmente sensibilisado

Poderia listar as dezenas de e-mails e dos seus correspondendes emissores que me sensibilizaram com a sua preocupação quanto ao estado de saúde de quem não conhecem.

É engraçado. Desejarem melhoras a uma figura anónima desta interessante atmosfera, difícil de definir.

Eu sou anónimo. E quero continuar a sê-lo.
Isto é, não sou ninguém para quem me lê. Mas eu sei quem sou.

Como sei quem sou, é interessante receber e-mails do João, do Armando, da Catarina, da Isabel, do Joaquim, do Al, do Manuel, do Mário, do Alexandre, do Marco, da Carla, do Francisco e de muitos outros, anónimos e não anónimos.

Mas posso confirmar que não estive doente, mas senti-me doente. E quando um médico se sente doente tem muitas doenças por onde escolher. O catálogo é inesgotável.

Deve ser o doente mais chato para os outros médicos.

Lá tive que me sujeitar a acareações, intervenções, manipulações e outras investigações e o raio dos médicos não me encontraram nada.

Fica aqui escrito: se daqui a 5 anos tiver um cancro qualquer, solicitarei uma indmenização por má prática clínica.

Com tantas queixas que eu tinha, com tantos tubos que me introduziram, com tantos exames que me obrigaram a fazer, não encontraram nada. Nada que eu pudesse vender à TVI.

Mas senti-me na obrigação de convalescer!
Ninguém acreditou em mim: eu estava doente!
Como me augurava uma leitora: "deram-me uma palmadinha nas costas e disseram que não era nada."

Até acredito.
A mente por vezes não acompanha o corpo.
E a minha mente, depois de tanta desgraça observar, depois de tanta injustiça acompanhar, depois de tanto cadáver espiar e de tanta vida socorrer, depois de tanta vida ver desaparecer, depois de tanta morte tentar impedir, faliu. A minha mente faliu, fraquejou, ressentiu-se. Foi-se...

Só espero depois de tanto procurar uma doença sentida, não venha a morrer na estrada, como ainda hoje um cadáver me passou pelas mãos... Paz na Estrada! Bolas. Vou adoecer outra vez!

sábado, novembro 06, 2004

Vendedores de Esperança

A frase não é minha, mas poderia sê-lo.
Pertence a Nuno Lobo Antunes que na revista Lux escreve "Quando a doença atinge as crianças, a televisão e os jornais fazem notícia do desespero, e aliviam a sua má consciência publicitando intervenções de eficácia mais do que duvidosa, ou promovendo tratamentos 'no estrangeiro'".


Isto a propósito da golfinhoterapia, cartilagemdetubarãoterapia, cavaloterapia ou azinoterapia e outras alternativoterapias ou mesmo "os milagres realizados por fisioterapeutas em Cuba".

A Convalescença Continua, A Manipulação Para A Rua!

Se continuar a ler o Expresso terei certa recaída.
Será a minha altura de ser indemnizado pelo mal que me fez ler notícias manipuladas.
Refere esse pasquim que:
"A PFIZER, empresa farmacêutica que comercializa o Viagra, lançou uma campanha pública de sensibilização para o tratamento da disfunção eréctil, que em Portugal afecta cerca de 500 mil homens, dos quais apenas 31 mil são medicados. A campanha «Estou de Volta» tem um público-alvo transversal. Apesar de a disfunção eréctil afectar sobretudo homens com mais de 45 anos de idade, o problema não é apenas consequência do envelhecimento, podendo ter outras origens. O Viagra foi o primeiro medicamento inovador contra a impotência a ser lançado no mercado internacional ..."
Quanto valerá uma notícia na primeira página do Expresso?
Será que a inclusão desta "importante" notícia foi inocente?
Notícia que, segundo o mesmo pasquim, interessará a menos de 2% dos portugueses, notícia de transcendente interesse mundial, relacionada com o futuro da humanidade, com as mais importantes decisões para o equilíbrio geo-estratégico do mundo...
Será que esta notícia não fará parte da própria campanha do laboratório para provover o Viagra? E se for verdade, quanto renderá o negócio?
Mais uma vez fomos manipulados pelos interesses económicos da indústria farmacêutica e dos media.

Ressuscitado Pela Desonestidade Jornalística do Expresso

A "convalescença" foi abreviada pela desonestidade intelectual do pasquim que dá pelo nome de Expresso.

O Expresso já foi o EXPRESSO. Hoje é apenas mais um jornal que manipula a seu belo prazer os seus leitores.

Na sua primeira página de hoje, fala-se de ERRO MÉDICO.

Já várias vezes referi que o erro médico é uma preocupação frulcal da classe médica e de cada médico em particular. Assim como serão para as outras profissões (assim o espero!) os seus erros. A grande responsabilidade de se trabalhar com a vida e a morte, individualmente, "face to face" e diariamente, transforma o problema do erro humano num grande problema. Não se pode comparar a morte à privação da liberdade por 10 ou 20 anos, por um mero erro judiciário.

O livro que o expresso divulga foi escrito por médicos e baseado numa extrapolação de outros estudos europeus para a nossa realidade. Assim se chega ao número de 3 000 mortes por ano. Mas como decidiu o desonesto expresso intitular a notícia na sua primeira página? Assim:
"3 000 mortes por incúria"
Todo o desenvolvimento da notícia desmente o título. A merda do Expresso propositadamente manipulou-me e a todos os que o leram.
Fui ao dicionário para comparar os significados:
Incúria - Descuido, desídia, desleixo, desleixamento, desmazelo, desazo, relaxação, relaxamento.
Erro - engano, incorrecção, desacerto, equivocação, equívoco.
Mais palavras para quê?

terça-feira, outubro 26, 2004

O MEM Também É Humano

sexta-feira, outubro 22, 2004

O Médico Foi Ao Médico

domingo, outubro 17, 2004

Meu Caro doutor. Desculpe Incomodá-lo...

"... mas tenho este péssimo feitio de abusar da paciência das pessoas, sobretudo, daquelas que acho que podem contribuir para a minha valorização profissional. Como é o seu caso."

"..., sou jornalista ... vou participar num ... na Universidade ..."

"Sou, apenas, um jornalista."

"... me move esta paixão de absorver conhecimento e trocar experiências, sobretudo no universo académico, ..."

"Ou seja, grosso modo, tentarei mostrar que a ignorância científica do jornalista ..."

"... peço-lhe autorização para citar o seu blog e as suas reflexões, ..."

A minha resposta:

"Acredite que é para mim uma honra um jornalista citar o meu blog..."

Como deve reparar eu não sou contra os jornalistas, mas sim contra os "dislates".
Use e abuse."


Este amigo jornalista, identificado, mas que pede anonimato, de um jornal com pergaminhos na comunicação social portuguesa, está profundamente enganado, pois ...

Oh Homem! Volto a repetir, eu é que fico agradecido por ser lido por si, se todos os jornalistas tivessem a sua preocupação, este blogue não existiria...

Ainda há dias, numa pausa de um banco assisti ao limpar o pó do velhinho 1,2,3 e o que mais me custou foi assistir ao desempenho de alguns concorrentes, não pela ignorância, mas pela falta de vergonha em serem ignorantes...

sexta-feira, outubro 15, 2004

"Ciberpatologia" está a crescer em Portugal.

Pediatra alerta para a dependência da internet.

Com origem na Lusa, esta notícia divulgada no sítio MNI (Médicos na Internet) merece alguma reflexão:

"O pediatra Mário Cordeiro alertou para o crescimento de uma nova doença que está a atingir os jovens em todo o mundo e também em Portugal, a "ciberpatologia", ou dependência da internet.

O médico falava durante as XII Jornadas de Pediatria de Évora que decorrem nesta cidade e que estão a debater a influência dos media e o problema da obesidade nas crianças.

Para o pediatra, o acesso à informação global a custos negligenciáveis que representa a internet é uma regalia que pode conduzir a "um delírio".
"Seria ingenuidade pensar que um fenómeno desta dimensão não resultaria numa enorme perturbação", afirmou
.

Mário Cordeiro questionou-se sobre a capacidade do cérebro, nomeadamente das crianças, para receber tanta informação e a possibilidade desta ser gerida pelo indivíduo - "Teremos tempo para gerir tanta informação e transformá-la em conhecimento e sabedoria?", questionou.

.../...

A nível dos sintomas desta doença, o pediatra sublinhou a «grande satisfação e euforia, que chega a ser desadequada» que o ciberdependente tem frente ao computador, chegando a achar que «tudo o que não é net é uma seca".

Paralelamente, o dependente vai desleixando a sua vida de relação e desligando-se da família, dos amigos e dos colegas por «puro desinteresse».

"Quando o jovem entra em parafuso quando o computador vai abaixo ou existe uma avaria na rede, então a dependência está instalada e é uma situação preocupante", acrescentou.

Mário Cordeiro alertou para as proporções que a ciberpatologia atinge, por exemplo, nos Estados Unidos: seis por cento das pessoas sofrem desta doença".

quinta-feira, outubro 14, 2004

Subúrbios da Vida Humana

Tem 13 anos.
Subúrbios da capital.
Trazida pela polícia.
Crise grave de agitação psíquica.

Na mão um molho de fotos desbotadas com uma legenda viva:

"são para que saibam que tenho família! São para que o meu pai (Este aqui! Aponta.) saber que eu gosto dele".

Repete com insistência: o meu avô morreu bêbado. A minha mãe mandou-me ir procurá-lo. Encontrei-o bêbado na tasca. Riu-se para mim. Estava bêbado. Fui para casa a chorar. Morreu à porta de casa. Vi o sangue na porta. Caiu e fez um buraco na cabeça.

Quando foi isso? Foi antes do meu pai se separar. Tinha 9 anos. A minha mãe pensa que eu não a via a receber os homens em casa. Mas eu via. Sempre vi. Gosto muito do meu pai e sei que ele gosta muito da minha mãe. A minha mãe fugiu para se juntar com outro homem. Quando vou lá a casa continuo a ver a minha mãe a deixar entrar homens em casa. O meu pai bate-me quando vou a casa dele. Mas eu gosto muito do meu pai.

Vivo com a minha tia que também recebe homens em casa. Ela pensa que eu não sei, mas eu vejo. Sei que ela gosta mais da minha irmã do que de mim. Eu tenho aqui as fotografias da minha família. Eu tenho uma família."

"O meu avô matou-se porque a minha avó recebia homens em casa. Eu não o conheci porque dizem que nasci depois dele morrer. A minha avó também toma conta de mim, também recebe homens em casa. Já teve uma trombose, mas só tem 50 anos. Eu tenho muito medo. Tenho medo de tudo. Tenho uma família. Tenho aqui as fotografias. A outra minha avó é maluca. É aquela que vem todos os dias aqui ao hospital. Eu tenho uma família."

E é tudo verdade. Não são confabulações.
Tudo isto era dita em catadupa, sem intervalos. Olhar fixo, gestos repetidos com os braços, polipneia.

10 mg de diazepan foram incapazes de acalmar. Foram precisos mais 5 mg. Dormiu 1 hora. Acordou com a mesma agitação.

Caixões. Vozes. Imagens do avô projectadas na parede.

Apoio psiquiátrico, já que apoio da sociedade não há.

O poder paternal tinha sido atribuído legalmente a uma destas sérias personagens .

Depois admirem-se que haja muitas histórias de joanas...

As urgências são a montra da nossa sociedade.

Os médicos não chamam as televisões, nem as televisões os procuram ...

quarta-feira, outubro 13, 2004

O Frango Segundo Ricardo

Para que não haja mal entendidos, não gosto do Ricardo.
Assim como muitos não gostavam do melhor treinador europeu.
Estamos todos no nosso direito.

Mas... Baía, volta estás perdoado (não sabemos de quê, mas perdoamos qualquer coisa).
Tu pelo menos és o melhor guarda-redes da Europa.

Porque falo do Ricardo aqui?
Porque quem se aproveita de êxitos circunstânciais, tem que ser modesto e assumir também os erros circunstânciais ou sistemáticos.

Para este treinador de bancada, que sou eu, Ricardo foi um dos responsáveis pela derrota de Portugal frente à Grécia e do empate no Liechtenstein.

Diz o menino que "Não há nada a explicar"!! O quê? Não merecemos uma explicação?

Só merecemos explicações quando se trata de êxitos?
Quando se trata de explicar uma defesa de um penalti sem luvas e uma atitude espontânea e extemporânea que o levou a marcar outro, aí já há explicações, colóquios, apresentações, entrevistas, e até livros biográficos de um ano de selecção.

Quando um profissional faz apelo a entidades divinas ou promessas esotéricas, está tudo dito. Um bom profissional tem que fazer apelo ao profissionalismo, à concentração, ao bom desempenho e reconhecer os erros quando os comete.

Os erros dos guarda-redes têm um nome: frango. A negligência tem outro: perú.

- "O guarda-redes da selecção portuguesa preferiu evitar o assunto e nem sequer deu a sua própria visão sobre o golo consentido."
- Um frango: «São questões técnicas. Vocês, não estando em campo, nunca vão perceber», sublinhou.
- "Não vale a pena. O povo percebe, de certeza absoluta, o que eu quero dizer" - pois percebe. A falta de modéstia e os frangos.

Porque falo disto aqui? Porque o futebol faz parte da cultura do povo português. Poderia ser o ténis de mesa, o cricket, o basquetebol, o futebol americano, o raguebi ou até a malha, mas é o futebol.

E também porque há, para afogar as mágoas, a

Amineptina
Amitriptilina
Bupropiona
Citalopram
Clomipramina
Duloxetina
Escitalopram
Fluoxetina
Fluvoxamina
Imipramina
Maprotilina
Mianserina
Milnaciprano
Mirtazapina
Moclobemida
Nefazodone
Nortriptilina
Paroxetina
Reboxetina
Sertralina
Sulpiride
Tianeptina
Tranilcipromina
Venlafaxina

terça-feira, outubro 12, 2004

Viva a Ponte !

Uma história de um leitor deste blog, (preservando o seu anonimato, com sua autorização e utilizando o título do seu e-mail), que reflecte a má organização da gestão dos hospitais, sem respeito pelos seus utentes. Quem paga, quem?

Os médicos, os enfermeiros, os administrativos...

Mas as chefias, essas nem sabemos quem são. Fazem as asneiras ... e raspam-se.


"Quero contar-lhe um episódio que se passou comigo no dia x deste mês, véspera do feriado. Tinha consulta marcada (como todos os meses) para as 00.00 horas no centro de centros, piso qualquer do Hospital de X. de Y., em Portugal.


Ao chegar à recepção e entendendo a situação de ponte por parte dos médicos, explicada por uma funcionária administrativa, pedi explicações sobre o não aviso da não consulta visto terem o meu número de telefone e ter-me deslocado do Lado Oposto de Portugal, a cerca de >100 kms do hospital. Como doente crónico, necessito de medicamentos semanais, todas as minhas consultas a este departamento de medicina tem essencialmente a ver com, além de mostrar resultados de análises ao sangue, levantar novo carregamento para um mês de tratamento.


A dita consulta é sempre efectuada às segundas-feiras e pratico o medicamento às terças, (sem hipótese de ter uma carga extra para eventuais contratempos porque a farmácia assim o dita, contrapondo exposições escritas da médica que me trata da saúde, assim como, as explicações orais da minha parte sobre o facto de morar longe e que por vezes, como já aconteceu, as canetas de injecção empanarem).


Após insistência a administrativa levou-me à presença da enfermeira chefe de serviço. Minha conhecida desde há ano e meio e atrevo-me a dizer que a considero uma das profissionais mais competentes que conheci até hoje: humana, bem humorada e com resposta tranquila a todo o tipo de utente sem nunca fugir a qualquer tipo de intimidação.


Estava um farrapo.

Não a vi com lágrimas, mas chorava . . .


Ouvi um monólogo angustiante: dezenas de utentes que a ofenderam moralmente, ameaças de porrada com empurrões à mistura, segurança que não apareceu em tempo útil, tudo lhe aconteceu naquela manhã do dia 4. Porquê? Porque, para além da funcionária do guichê, era a única destacada no dia, naquele serviço que serve "buéréré" de doentes por dia.

Só o soube no próprio dia no meio da confusão.

O meu problema clínico foi resolvido noutras esferas, -º piso, mas voltei ao -º piso para levantamento dos medicamentos, na farmácia do hospital.


Ao lado da porta da farmácia li, num rectângulo de cortiça próprio para anúncios, um fax, com ar de fax, a missiva que talvez explique tudo.
O dito tinha a data de 01 de Outubro e dizia que em conselho de ministros foi deliberado conceder ponte à função pública nomeadamente aos funcionários do HXY.


Portanto chegou por fax e em fax estava exposto, numa sexta feira, dizendo que podiam faltar na segunda-feira seguinte.


Visto do meu lado, interrogo-me se restou tempo para nomear responsáveis por avisar o pessoal (durante o fim-de-semana, imagine-se) que não havia consultas na segunda-feira. E sabendo-se que nenhum utente foi avisado da não consulta, pergunto-me porque não foram acauteladas as raivosas e legítimas queixas dos lesados utentes, poupando a possibilidade de uns bons profissionais se transformarem em meros funcionários públicos, por ódio ao "patrão"?.


São rosas ... meu senhor."


O que eu penso é que um serviço não pode encerrar a 100% como parece que este encerrou, por causa de uma ponte quer com a falta de médicos, quer com a falta de enfermeiros. Aqui é notória uma falta de ética de gestão de serviços de saúde...


Na resposta, perguntei se não descarregou um protesto no livro amarelo ou no gabinete de utente. Segundo o leitor, não se lembrou.


Aconselho todos os utentes dos serviços de saúde a utilizarem o Gabinete de Utente, para reclamar, para sugerir, para melhorar os serviços. Só assim é que as chefias se apercebem das dificuldades por que os utentes passam...

segunda-feira, outubro 11, 2004

Cachené Negro Em Alvalade

Respondendo ao pedido do Nosso Senhor Scolari irei de cachené negro (porque sou da Académica, apenas e não por estar de luto).

Vou pedir ao S. Ricardo que faça uma milagre e se demita, como o Figo e outros, para que o Imaculado Baía regresse à selecção.

sábado, outubro 09, 2004

Vioxx: Um Caso de Azinojornalismo, Ou Talvez Não

A retirada do VIOXX do mercado é um escândalo!


Qual a razão porque uma empresa como a Merck retira só agora um fármaco do qual se suspeitava há muito que não era tão inócuo como se afirmava e nem era mais eficaz que os anteriores AINES.

Apenas uma diferença em relação aos AINES tradicionais: menos agressivo para o estômago, em linguagem de leigo para que se compreenda.

Mas porquê retirar só agora e de repente, sem ninguém publicamente se ter queixado previamente, sem nenhum advogado, mesmo norte-americano se ter queixado, sem a TVI ter feito qualquer reportagem com um elemento do povo referindo que morreu depois de ter ingerido o VIOXX. Porquê?

O VIOXX foi muito bem promovido. Foi um êxito de mercado. A Merck ganhou milhões e mais milhões iria ganhar. Foram mais de 2,5 biliões de dólares.
Será um dos maiores escândalos da história do medicamento a nível mundial, da história das multinacionais e da sua seriedade perante a classe médica e os doentes. Porquê só agora?
E porquê o silêncio dos media e dos jornalistas, tão lestos a denunciar médicos e instituições públicas por dá cá aquela palha, por dez reis de mel coado, por reportagens que nem valem um caracol, e agora que poderiam desafiar uma multinacional, fazer investigações sérias. Nada.

Eu que ainda sou independente (talvez por isso me mantenha anónimo), que não sofro pressões, nem tenho negócios com o Estado, proponho aos senhores jornalistas que investiguem. Poderão ganhar um prémio Pulitzer!
O maior embuste do Mundo da Saúde, passa por vocês, jornalistas e nada dizem?
Como se silenciou a nível mundial rapidamente este problema. Até parece que os media fizeram um favor à multinacional Merck avisando a população mundial, mesmo antes dos médicos, da retirada do mercado.

Porque não foram utilizadas as vias científicas para o fazer? Porque não deixaram apenas de produzir e esgotar o stock? Porquê esta rapidez?
Outros laboratórios com medicamentos da mesma classe estão apreensivos. A própria Merck já tem um outro coxib comercializado e que mais tarde ou mais cedo também será retirado.

Um conselho: não utilizem coxibes, pelo menos para já!

Leiam jornais científicos como o New England Journal of Medicine (e as acusações que faz!) ou a revista Prescribe. Jornais à partida não dependentes dos anúncios dos laboratórios.

Algumas dicas para os senhores jornalistas:
Há quanto tempo se suspeitava dos riscos cardiovasculares?

Quantas pessoas faleceram devido ao Vioxx?

Quem se calou?

Quem conluiou?

Qual o papel do INFARMED?

Quem nos defende das poderosas multinacionais?

Há laboratórios éticos?

Os profissionais médicos podem confiar nas multinacionais do medicamento?

Se as autoridades reguladoras que já sabiam e sabem dos riscos do grupo dos coxibes, porque não actuaram?

É verdade que a "democracia" nos EUA é melhor que a nossa e já está a pedir intervenção dos políticos?

Não perceberam (vocês jornalistas!) que os vossos patrões se calaram no dia seguinte?

Eu não prescreverei mais coxibes.

Prontooooooooosssssss.

O Papel do Médico Faliu!

A independência paga-se caro.

O Papel do Médico foi o primeiro jornal on-line português sobre a temática da saúde, gratuito numa primeira fase e posteriormente por assinatura.
Mas ... era independente dos poderes, das organizações, de tudo.

A verticalidade, honradez e dedicação ao serviço público que durou alguns anos dos seus três editores médicos - Rosalvo de Almeida, neurologista, Pedro Moura Relvas, médico de família e informático, e outro médico* de que não recordo o nome deve ser homenageada.

Este é o meu simples reconhecimento.
E o link vai desaparecer para as siglas médicas. Se a alguém foi útil, ainda bem.

* "O outro editor médico do P@pel do Médico chama-se Jaime Correia de Sousa e é tb Médico de Família", informação prestado por Jorge Silva por e-mail.
Obrigado.

Haja Bom Jornalismo. Bem Haja!

Dois bons exemplos de óptimo jornalismo sobre saúde:

- o programa "Haja Saúde" na 2: produzido pela Companhia de Ideias, com a apresentação responsável e crítica, mas sempre esclarecedora e pedagógica, de Marina Caldas, jornalista e ex-pivot da TV Medicina.

- um pequeno artigo em As Beiras no dia 09/10/04 pela jornalista Dora Loureiro, sobre o seguimento do doente cardíaco no pós-enfarte e resumindo algumas intervenções numas jornadas organizadas pelo Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC). intituladas “Doença Coronária Estável” destinadas a médicos de família, a médicos do internato geral e complementar e a outros especialistas.

O título alerta para uma realidade, ainda pouco compreendida pelo público em geral: "O médico de família na doença cardíaca"

Alguns extractos:

"Os médicos do ambulatório têm uma função decisiva na prevenção, diagnóstico e tratamento da doença coronária estável, afirmou Armando Gonsalves. Realçar e formar o papel dos médicos de família na prevenção, diagnóstico e tratamento dos pacientes com doença coronária foi um dos objectivos das jornadas que se iniciaram ontem e prosseguem hoje (...) Prevenir, diagnosticar e tratar a doença coronária estável, de modo a evitar recaídas e a morte súbita, depende essencialmente dos médicos de ambulatório”, afirmou ontem Armando Gonsalves, director do Serviço de Cardiologia do CHC, na sessão de abertura das jornadas."

"Hoje as novas terapêuticas, como os trombolíticos e a angioplastia coronária, determinaram que a mortalidade intra–hospitalar em casos de doença coronária aguda, que há alguns anos era superior a 20 por cento, diminuísse para 11 por cento em 2001 e para 9 por cento em 2003. Um número que nos hospitais que dispõem de angioplastia desce para os 7 ou 7,5, realçou Armando Gonsalves."

"E é neste circuito - na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento dos doentes com doença coronária - que é fundamental o papel dos médicos de família.“Os doentes que sofrem uma doença aguda quando saem do hospital devem manter para toda a vida a medicação estabelecida e a vigilância dos factores de risco”, notou Armando Gonsalves. “E isto depende muito do médico de família, porque foi detectado, em vários países, que os doentes abandonam estas terapêuticas ao fim de alguns meses”.

"Mesmo na doença coronária estável há por vezes sinais de instabilidade que advertem que o doente pode ter de repente uma morte súbita ou um enfarte do miocárdio. “E estes sinais devem ser muito bem conhecidos, de modo a que os médicos de família orientem rapidamente os doentes para as unidades especializadas”, salientou o cardiologista."

Azinoterapia ou Azinojornalismo

Vendedores de esperança. Uma crónica na Lux. Contra os mitos na revista dos mitos.

Azinojornalismo, porquê?

quinta-feira, outubro 07, 2004

"Seguramente que os médicos agradecerão"! Eu Agradeço.


Sobre os Atestados Médicos, Paulo Mendo no jornal 1º de Janeiro de 7 de Outubro de 2004 escreve uma crónica, que assino por baixo.

Os atestados médicos

Primeiro caso: Justificando a sua não comparência a um exame cerca de 1200 alunos apresentaram atestado médico.
Estranhando a estranha epidemia que no mesmo dia afectou tão grande número de jovens foi ordenado um inquérito com suspeita de os atestados terem sido leviana ou fraudulentamente passados por médicos desonestos. Em resultado dessa investigação vários alunos e médicos vão começar a ser julgados, arguidos desta então chamada epidemia de Guimarães.
Segundo caso:A última colocação de professores, além de todos os desaires que sofreu, veio ainda mostrar que uma enorme percentagem de candidatos apresentou atestados para beneficiar da colocação em escolas próximas da residência, ultrapassando colegas mais antigos e melhor classificados. A quantidade desses atestados é tal que há fundadas suspeitas de muitos deles terem sido fraudulentamente obtidos com a cumplicidade e conivência de médicos.
Vale a pena debruçarmo-nos sobre este assunto. Seguramente que há médicos desonestos que a troco de pagamentos ou de favores passam conscientemente atestados que sabem falsos. Em todos as profissões há desonestos e numa classe de trinta mil profissionais ninguém se admirará de que nem todos sejam santos!
Por isso é natural e desejável que a justiça investigue e castigue se for caso disso, não só quem corrompeu como quem se deixou conscientemente corromper.
Mas não será que o próprio atestado faz parte do problema? Julgo que sim. Grande parte da responsabilidade do que sucede reside no facto de a sociedade ter feito do atestado médico e, portanto, do médico, a única justificação válida e insubstituível de faltas ao trabalho, de afirmações de robustez, de necessidade de acompanhamento de familiares doentes, de afirmações de doenças crónicas ou deficiências para atribuição de benefícios sociais e fiscais e por aí fora.
Para tudo a sociedade requer a afirmação peremptória, sim ou não, de um médico. E é aqui que se situa o péssimo nó górdio desta prática social.
Por várias razões: A primeira, mais imediata e indiscutível, é que devendo o médico orientar a sua consulta baseado nas queixas que o doente refere, porque elas são a base e razão do pedido de ajuda do paciente, não pode partir do princípio que o seu doente lhe está a mentir. Mesmo quando, após exame, não encontra razão para as queixas não pode delas duvidar.
Se o doente se queixa de cefaleias intensas e o médico nada encontra que as justifiquem, pode tranquilizar o doente, afirmar-lhe a normalidade do exame, mas não pode dizer que as cefaleias não existem.
E se este lhe pede um atestado porque não aguenta ir trabalhar nesse dia? Vai recusá-lo porque, como se fazia, dizem, na antiga tropa, não tem febre logo não tem doença? Vai destruir a confiança entre si e o doente, princípio essencial do acto médico, dizendo-lhe que não acredita nele?
E qualquer clínico sabe que uma enorme percentagem dos doentes que diariamente vê não tem sinais objectivos detectados no exame que justifiquem as queixas que, no entanto, são reais e indiscutíveis.
Mas outra razão que dá mais valor ainda à anterior é a posição filosófica das sociedades modernas face à saúde e à doença. Porque se por um lado os Estados modernos colocam os médicos como os grandes decisores legais da doença e da saúde dos cidadãos, por outro lado, ultrapassaram toda a humana e limitada capacidade do médico, afirmando que a saúde “ é a completa sensação de bem estar físico moral e social do individuo”, tal como o afirma a Organização Mundial da Saúde.
O que, levado ao exagero, mas não muito, serve para justificar como doente e merecedor de atestado aquele que nos vem dizer que não lhe apetece ir ao emprego porque está aborrecido!!!
Por estas razões é muito difícil concluir da falsidade dos atestados médicos, exceptuando-se, apenas, aqueles em que se demonstra terem sido passados, com conhecimento da sua falsidade. E mesmo aqui, há um factor a ter em conta: a banalização e burocratização do atestado.
Necessário para tudo, em nenhuma circunstância sendo substituído pela palavra de honra do interessado, tornou-se um papel inócuo e insignificante que serve para validar tudo. Já a mim, há anos, não podendo comparecer num julgamento porque, como director de um hospital, tinha sido convocado para uma reunião no Ministério e disso tendo informado o Juiz, este me aconselhou a… “meter um atestado”!!
Tendo a sociedade banalizado até ao limite da insignificância o atestado médico para tudo necessário e sendo o acto médico uma ajuda e não um inquérito administrativo, não é de estranhar que os clínicos ajudem o seu paciente, acreditando nele e passando, quando necessário o desacreditado, mas indispensável papel.
O problema não é resolvido pela exigência aos médicos de rígido rigor e precisão científica no atestado que passam, mas na modificação das exigências sociais, aceitando a palavra de honra do cidadão e a responsabilidade de testemunhos, com severo castigo aos mentirosos e tornando os atestados médicos, verdadeiros relatórios, sujeitos a sigilo, necessários apenas em casos especiais em que a gravidade da doença ou a sua duração os torne indispensáveis.
Seguramente que os médicos agradecerão.