sábado, março 27, 2004

A Profissional da Bata Aberta

João Tilly, referenciado na mensagem anterior, sobre "uma profissional de bata larga, aberta e esvoaçante de cor verde" interroga-se se seria médica ou enfermeira, inclinando-se para a primeira hipótese.

Muito provavelmente será uma enfermeira, pois desde há uns anos, passaram a trabalhar de bata aberta, desconhecendo a justificação de tal facto.

O Lado Lunar do SNS ou Quando a Inspecção Geral de Saúde Deve Entrar em Acção

Ao João Tilly, vizinho bloguer do João Tilly - Textos e imagens sobre Seia, Ensino, inJustiça, Jornalismo e Actualidades apresento os meus pêsames pela perda de seu Pai.
Todas as perdas são importantes e geram dentro de nós uma revolta intensa.
Revolta essa que aumenta, tanto mais, quanto mais nos sentirmos injustiçados.
Quanto mais sentirmos que a perda poderia ser evitada.

Da descrição que João Tilly faz numa mensagem no seu blog, ressaltam duas conclusões primeiras: a ausência de um diagnóstico e as constantes deslocações entre hospitais.

A ausência de um diagnóstico só poderá ser esclarecida com um inquérito da IGS ou do próprio hospital ou da Ordem dos Médicos, ou das três entidades em simultâneo. Não está em causa a ausência de um diagnóstico, pois muitas vezes, por mais que se investigue, não se conseguem obter conclusões. O problema reside na questão: foram ou não utilizados todos os meios para investigar? Ou foram feitos consecutivamente diagnósticos errados?

As constantes deslocações entre hospitais são a factura a pagar pela disseminação de instituições hospitalares em espaços geográficos contíguos: Seia, Guarda, Covilhã, Fundão, Castelo Branco. Falta de planificação, cedência a interesses autárquicos e bairristas, são a causa. A recente polémica sobre as maternidades e a pediatria nos hospitais da Guarda e Covilhã, separadas cerca de 30 quilómetros são um exemplo bem recente e esclarecedor!

Ai Estes Jornalistas! Ai Esta Deco!

Deco por Deco, prefiro o Deco.

Fui sócio da primeira Deco. Da segunda Deco/Proteste, "desarrisquei-me" e ainda não estou arrependido.

A segunda Deco é um atentado aos consumidores, por muita boa vontade que possa ter.

Recebi na caixa do correio o relatório completo do estudo da Deco sobre os Centros de Saúde.

Não é que os médicos de família precisem de advogado, mas, enquanto todos os jornais e a própria Deco enfatizavam os aspectos negativos dos CS, nomeadamente que 30% dos inquiridos detestavam os CS e outras afirmações do género, não vi nenhum jornal ou jornalista "pegar" na afirmação de que 70% dos inquiridos estão satisfeitos com o seu médico de família e por arrastamento com os CS onde trabalham.

quarta-feira, março 24, 2004

"Haverá nos médicos alguma homeofobia?"

Pergunta o leitor Nuno Ramos, referindo-se à homeopatia.

Não, caro leitor. Nos médicos não há qualquer medo irracional em relação à homeopatia, nem preconceito contra a homeopatia, nem sequer ódio em relação à homeopatia.

O que há, é falta de evidência científica de que essa prática alternativa traga qualquer benefício para os doentes. Ou qualquer cura para as doenças.

Não basta o Manuel ou o José ou a Zeferina referirem que se deram muito bem com esses remédios para as suas dores nas costas, ou para as suas dores musculares ou para a sua sinusite. São necessários estudos científicos bem estruturados e desenvolvidos com milhares de utilizadores e com percentagens de sucesso superiores às do placebo.

A ciência incorpora as novas descobertas quando estas se tornam reprodutíveis em vários centros.

Não se pode afirmar que a Medicina esteja contra qualquer coisa que melhore a saúde dos doentes. A Medicina já reconheceu a acupunctura e as técnicas manipulativas.

Para mim, a homeopatia foi uma das maiores fraudes do século vinte e se a comunicação social continuar a proteger tudo o que é considerado alternativo, será sempre difícil denunciar estas práticas.

Não concordo com a própria filosofia da homeopatia: as diluições milesimais das moléculas causadoras das doenças, de tanto se diluirem em água desaparecem e nada mais fica que dois átomos de Hidrogénio e um de Oxigénio. Por mais que afirmem o contrário....

sexta-feira, março 19, 2004

No Coments!

"Associação Nacional de Farmácias Critica Judiciária e Médicos"

O presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), João Cordeiro, acusou ontem a Polícia Judiciária (PJ) e a Ordem dos Médicos (OM) de tentarem pôr em causa a imagem de seriedade dos farmacêuticos portugueses
.", dos jornais.

O sr dr João Cordeiro deve estar a sentir o que os médicos sentiram quando há uns anos iniciou uma campanha contra a seriedade de todos os médicos, colocando nas farmácias da sua associação cartazes onde se denunciava a corrupção de toda uma classe, generalizando casos particulares a toda uma profissão.

Digo o mesmo que digo dos meus colegas: quem prevarica, quem coloca em risco a saúde dos doentes, tem que ser denunciado.

quarta-feira, março 17, 2004

E Se O Médico de Família Desaparecer?

A figura do médico de família ainda não foi descoberta pelos intelectuais portugueses e particularmente pelos jornalistas. Sobre o internista hospitalar poucos saberão que é um especialista em medicina interna.

(Numa anterior greve de médicos de família uma jornalista afirmou que estes médicos só serviam para transcrever para o Serviço Nacional de Saúde os pedidos dos médicos privados!)

Para os intelectuais, se parece que dói o coração, vai-se directamente ao melhor cardiologista, de preferência a um que tenha a anteceder no nome a palavra professor; se parece que aquela tosse não passa ao fim de 8 dias, vai-se ao pneumologista, mas se se aguardasse mais 3 ou 4 dias, desapareceria como que por milagre.

É tão giro dizer: o meu pedopsiquiatra, porque dizer, o psiquiatra dos meus filhos, já pode fazer pensar que somos malucos. Nem que vá ao cardiologista uma vez de 10 em 10 anos, será sempre o meu cardiologista.

Há duas especialidades por quem tenho enorme respeito: os generalistas e os internistas.

Os primeiros são os médicos de família, que em Portugal existem há pouco mais de 20 anos, mas nos países desenvolvidos, pertencem a uma especialidade com dezenas e dezenas de anos em constante evolução. A American Academy of Family Physicians foi fundada em 1947! A Associação Portugesa dos Médicos de Clínica Geral foi fundada em 1981. Em Portugal os médicos de família herdaram uma pesado fardo, do qual ainda não se conseguiram (ou não deixaram!) libertar: as famosas Caixas de Previdência (ainda hoje se diz "vou à Caixa") e os burocráticos Serviços Médicos-Sociais.

Reunidos em Vilamoura no seu 21 Encontro Nacional ouviram o Sr Ministro fazer muitas promessas sobre a melhoria dos cuidados prestados nos Centros de Saúde. Travaram uma luta recente contra uma lei que o Ministério promulgou, mas que o próprio Ministério, ainda antes de a regular, já a ultrapassou criando uma nova figura: a fagocitose dos Centros de Saúde pelos Hospitais empresa. Terá o Médico de Família os seus dias contados? O seu futuro incerto? Uma conclusão é certa: não é com estas indefinições que se cativam médicos para trabalhar com motivação nos cuidados de saúde primários...

Os internistas ou especialistas em medicina interna, são (ou foram!) a alma e o corpo de muitos hospitais e por muitas décadas. Eram os médicos que primeiro encontrávamos nas urgências hospitalares.
Actualmente as tutelas dos hospitais SA estão a privilegiar os intensivistas para as emergências hospitalares e os médicos indiferenciados e enfermeiros para as triagens (de Manchester) e os atendimentos nas urgências.

Segundo a própria Sociedade Portuguesa de Medicina Interna os seus anos dourados foram na década de 50, tendo a sociedade sido fundada em Dezembro de 1951. Se a constante evolução da Medicina para a especialização e o permanente aparecimento de muitas sub-especialidades dentro das várias especialidades, originou um movimento contrário na área extra-hospitalar, com o aparecimento da filosofia generalista, agora mais diferenciada, na área hospitalar, a medicina interna ia perdendo elementos e importância e segundo a SPMI, "a 28 de Maio de 1983 efectuou-se uma Assembleia Geral da SPMI na qual estavam presentes apenas 4 sócios efectivos". Mais tarde "a SPMI entrava assim na sua 2ª fase, em que partia da estaca zero" e não "conseguiam evitar um movimento irreversível e já consumado: a separação das sub-especialidades médicas. Daí em diante a Medicina Interna teria que assumir a sua própria identidade e iria tentar sozinha recuperar o tempo perdido."

Proximamente realizará o seu 10º Congresso Nacional. Será que vai conseguir recuperar o tempo perdido?

segunda-feira, março 15, 2004

Sei Que Há Bons E Maus Jornalistas,

assim como há bons e maus médicos, quer se fale de ética, de conhecimento, de valores.

Recebi mensagens de alguns jornalistas referindo que os títulos dos seus artigos não correspondiam ao que eu afirmava na minha mensagem.

Eu sei, pois li vários títulos.

Para que não haja mal-entendidos, foi no Diário de Notícias de 10 de Março de 2004, numa notícia assinada (ou melhor "notícia assassinada") pela jornalista Elsa Costa e Silva

"Aborto pode duplicar risco de cancro" foi a afirmação infeliz escolhida pela referida jornalista.

Pura manipulação.

Por exemplo:
- um dos factores de risco do cancro do colo do útero é o comportamento sexual das mulheres, isto é, está actualmente demonstrado que a precoce idade da primeira
relação, a sua grande frequência e especialmente a existência de múltiplos parceiros sexuais e a diversidade de contactos sexuais destes aumentam a probabilidade da existência de cancro cervical.

Poderei eu afirmar no título de um qualquer jornal "As Relações Sexuais Provocam Cancro"?

domingo, março 14, 2004

Ler Jornais Provoca Cancro

Foi o povo português recentemente insultado pela distribuição de uns abjectos panfletos de qualidade duvidosíssima que lembravam uns outros panfletos com uns vinte anos de idade onde se afirmava que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço e que matavam os idosos com injecções atrás da orelha.
Nestes afirmou-se que se vendiam fetos em Taiwan para serem servidos ao jantar e posteriormente afirmou-se que o aborto aumentaria o risco de cancro da mama.
Afirmações desprovidas de qualquer suporte científico ou qualquer estudo publicado em alguma revista científica, independentemente do seu rigor.

Os jornais falaram.
No primeiro caso, criticando quase unanimemente. No segundo, a maioria dos media, não credibilizou a afirmação, mas um houve que afirmava em título: “O Aborto Provoca Cancro”. Assim escarrapachado para que todos lessem. Por trás estaria como é óbvio um jornalista, talvez jornalista.

É óbvio que se tratou de uma mentira científica grosseira.

Mas eu, médico que vou explicar aos intelectuais (alguns) a mais recente descoberta científica, já comprovada, mas ainda não publicada: Ler jornais provoca cancro não só nos olhos, mas em qualquer parte do corpo.

O estudo interrogou todos os leitores de vários jornais e chegou à conclusão de que entre os leitores se encontravam portadores de cancros do estômago, pulmão, tiróide, testículos, ânus, pele, mama, útero, etc. Os investigadores pensam que se trata da absorção das tintas pela saliva, quando se manuseiam as folhas de papel, depois da humidificação das pontas dos dedos.

Já há informações de que se estará a formar um movimento contra os jornais.

sexta-feira, março 12, 2004

Um Operário Da Contrução Civil Workaholic Em Anasarca

Já o conhecia.
Quando entrou na urgência, o diagnóstico foi feito de imediato. Estava em anasarca.
50 anos. Era portador de uma insuficiência cardíaca grave. Classe IV da classificação da NYHA.
Último percurso de quem nunca seguiu as indicações e as terapêuticas anti-hipertensoras.

A hipertensão mata, grito muitas vezes aos meus doentes, mas devagar.

Este episódio não era o primeiro e, pensava ele, não seria o último. E eu, sempre a pensar que poderá ser o último…

Mesmo em repouso, a sua dispneia era intensa, e com dificuldade diz-me:

- Trabalhei até ontem. Sabia que estava a piorar. Mas já sei como é. Fico aqui uns dias, tiram-me os líquidos com umas agulhas e para a semana já estou a trabalhar.

Não sabia ele que a sua cardiopatia hipertensiva se ia agravando cada vez mais e que um dia, já não sairia do hospital pela porta por onde entrou.

Durante anos tentei explicar-lhe que a sua pressão arterial elevada já se tinha transformado em doença a que se dá o nome de hipertensão arterial e que esta já tinha danificado o coração, agravado pelos valores altos do colesterol.

Já lhe tinha explicado que estas crises seriam cada vez mais frequentes e mais graves e que uma delas seria invariavelmente a última.

Mas nada o demovia do seu trabalho na construção civil. Era um verdadeiro workaholic.

Mas o que eu não esperava era que o doente seguinte, fosse seu pai, com 88 anos, e que à pergunta:

- De que se queixa?

Após uma ligeira pausa, responde-me:

- Como está o meu filho? Está mal, não ?

- Durante toda a vida, nunca se preocupou connosco, foi sempre desligado. Mesmo quando estamos nós doentes não nos visita, apesar de viver ao pé!

Perante o meu silêncio, levantou-se a chorar e desapareceu.

Pensei: foi a melhor maneira que descobriu para se informar da situação da doença do filho, provavelmente já habituado ao péssimo funcionamento dos sistemas de informações dos hospitais!

quinta-feira, março 11, 2004

A Política do Terror, Nunca Resolveu!

A minha homenagem a todas as vítimas do terrorismo está em toda a força deste post que peço emprestado à Adesse.



P.S.: um obrigado ao leitor José Armando que me enviou por mail umas dicas para estas ligações directas.

quarta-feira, março 03, 2004

Comentário ao Seguro de Saúde

De P. Casella, médico:

"Excelente exemplo do que, à nossa medida, já se vai verificando entre nós ... Quando digo à nossa medida também os preços dos nossos seguros de saúde são incomparavelmente mais baratos que nos EUA, logo ....
Apesar de não ter nenhuma convenção com os novos "donos" da saúde gerida por empresas de seguros não resisto a citar um Colega mais velho que quando surgiram estes novos sistemas dizia . "eles pagam 2500 escudos por uma consulta e querem ter um Urologista, eu dou-lhes apenas 2500 escudos de Urologia o que é manifestamente pouco...". Apesar de se dizer que temos a Medicina mais cara da UE eu estou convencido que abaixo de certos limites ou com imposições restritivas de diversa ordem a praxis médica vai-se degradar na sua qualidade, com reflexos directos sobre a relação médico doente.
".

Sublinhado do blogue.