segunda-feira, dezembro 06, 2004

Ri-te, Ri-te

O Boticário poveiro, decidiu (mais uma vez) meter-se comigo. Está no seu direito, até já estava com saudades. Diz ele que se riu "... com vontade da gaffe assumida do médico explica medicina a intelectuais que não estudou toxicologia nem compostos organoclorados e portanto diz, como os jornalistas que ele adora corrigir, "Dealdrina". Sabe sempre bem ver um presunçoso a espalhar-se no tapete. Então, sua sapiência, não conhecia o 1,2,3,4,10,10-Hexacloro-6,7-epoxi-1,4,4a,5,6,7,8,8a-octa-hidro-1,4-,endo,exo-51,2,3,4,10,10-hexa-8-dimetanonaftaleno?"

Diz que sou presunçoso. Só não sei como é que um presunçoso admite ter errado.

Mas como o gosto de ver irritado, atiro-lhe com as negociatas do seu chefe: João Cordeiro.

"Farmácias com descontos chorudos
Há laboratórios que oferecem às farmácias mais 30 embalagens de um genérico pelo preço de dez. No final, o Estado é que paga
OS LABORATÓRIOS que vendem genéricos estão a fazer ofertas chorudas às farmácias para que estas prefiram os seus medicamentos aos da concorrência. Em vez dos médicos, o alvo destes laboratórios são agora os farmacêuticos, estando já generalizada a oferta de variadíssimas bonificações - as quais vão desde os créditos em viagens às ofertas, que chegam a 300% sobre a compra de embalagens do medicamento (pela compra de 10 caixas, recebem-se de borla mais 30).
Os responsáveis do sector - do Ministério da Saúde à própria Associação Nacional das Farmácias (ANF) - afirmam-se «preocupados» com a situação que, segundo o próprio presidente da ANF, João Cordeiro, torna «completamente irracional o mercado». Vive-se mesmo, disse Cordeiro ao EXPRESSO, «o salve-se quem puder».
"
.../...
"Há cerca de um ano, Luís Filipe Pereira recebeu uma denúncia onde eram relatados vários exemplos desta prática. Nessa denúncia, que chegou a ser noticiada, eram feitas referências a dois laboratórios nacionais de genéricos e a exemplos concretos de bonificações, lançando a suspeita sobre as margens de lucro que as farmácias estavam a obter à custa dos genéricos."
Para que não diga que faço censura, (notícia que não aproveite para censurar os médicos, não é notícia), aqui vai o resto da notícia da Graça Rosendo, no Expresso de 04/12/2004:

"Ainda no passado fim-de-semana, cerca de 150 psiquiatras estiveram no Algarve, a convite de um laboratório, mas sem programa científico. Também esta semana, outro laboratório levou para Roma 15 psiquiatras, com acompanhantes, numa acção de promoção de um outro medicamento. Em Novembro, artistas como Herman José, Luís Represas e Rui Veloso foram contratados para animar reuniões ditas científicas que juntaram, em diferentes jantares, mais de dois mil clínicos. Os anfitriões foram diferentes laboratórios e o objectivo dos encontros foi sempre o mesmo: promoção de medicamentos."

E ninguém me convidou. Será que não me conhecem? Pois eu conheço tantas delegadas de informação médica tão simpáticas. Será que não sou simpático? Também quero ir.
Também quero ir como foram muitos farmacêuticos a Marrocos convidados pela Farmoz, um laboratório de genéricos. Mas para a Gracinha Rosendo, só os médicos é que viajam... E depois admirem-se porque é que o sr João Cordeiro quer que os farmacêuticos tenham liberdade de troca de genéricos. A Farmoz levá-los-ia a uma volta ao mundo...
"O CONSUMO de apenas três medicamentos aumentou em €32,2 milhões a despesa dos portugueses com fármacos, nos primeiros nove meses do ano. São quase 12% dos €277 milhões de crescimento apurado neste período, revela um estudo da Associação Nacional de Farmácias (ANF) a que o EXPRESSO teve acesso. O mesmo estudo revela que a dispensa destes três medicamentos - Clopidogrel, Rosuvastatina e Escitalopram - era inexistente ou residual no período homólogo de 2003. E qualquer deles é o mais caro dentro da sua família e não tem genérico." - aqui estou de acordo com a ANF. Só que uma das críticas para a introdução de genéricos era a de que as novas moléculas teriam preços exorbitantes e pelos visto parece confirmar-se.

"O consumo de Clopidogrel aumentou de forma considerável, enquanto decresceu a procura da Ticlopidina e do Dipiridamol, que, segundo o estudo da ANF, actuam de igual modo na prevenção do acidente cardiovascular. Entre Janeiro e Setembro foram vendidas 360 mil embalagens de Clopidogrel que custaram mais de €20 milhões. A própria «aspirina de 100 miligramas faz o mesmo efeito», diz o presidente da ANF, o farmacêutico João Cordeiro." Mas diz mal, porque essas moléculas não actuam da mesma forma, nem têm as mesmas indicações.
Eu apoiaria uma inspeção a todos os médicos que presceveram clopidogrel para prevenção primária, pois este óptimo medicamento só deverá ser utilizado em determinadas situações muito específicas.

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