Um Operário Da Contrução Civil Workaholic Em Anasarca
Já o conhecia.
Quando entrou na urgência, o diagnóstico foi feito de imediato. Estava em anasarca.
50 anos. Era portador de uma insuficiência cardíaca grave. Classe IV da classificação da NYHA.
Último percurso de quem nunca seguiu as indicações e as terapêuticas anti-hipertensoras.
A hipertensão mata, grito muitas vezes aos meus doentes, mas devagar.
Este episódio não era o primeiro e, pensava ele, não seria o último. E eu, sempre a pensar que poderá ser o último…
Mesmo em repouso, a sua dispneia era intensa, e com dificuldade diz-me:
- Trabalhei até ontem. Sabia que estava a piorar. Mas já sei como é. Fico aqui uns dias, tiram-me os líquidos com umas agulhas e para a semana já estou a trabalhar.
Não sabia ele que a sua cardiopatia hipertensiva se ia agravando cada vez mais e que um dia, já não sairia do hospital pela porta por onde entrou.
Durante anos tentei explicar-lhe que a sua pressão arterial elevada já se tinha transformado em doença a que se dá o nome de hipertensão arterial e que esta já tinha danificado o coração, agravado pelos valores altos do colesterol.
Já lhe tinha explicado que estas crises seriam cada vez mais frequentes e mais graves e que uma delas seria invariavelmente a última.
Mas nada o demovia do seu trabalho na construção civil. Era um verdadeiro workaholic.
Mas o que eu não esperava era que o doente seguinte, fosse seu pai, com 88 anos, e que à pergunta:
- De que se queixa?
Após uma ligeira pausa, responde-me:
- Como está o meu filho? Está mal, não ?
- Durante toda a vida, nunca se preocupou connosco, foi sempre desligado. Mesmo quando estamos nós doentes não nos visita, apesar de viver ao pé!
Perante o meu silêncio, levantou-se a chorar e desapareceu.
Pensei: foi a melhor maneira que descobriu para se informar da situação da doença do filho, provavelmente já habituado ao péssimo funcionamento dos sistemas de informações dos hospitais!
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