quinta-feira, julho 15, 2004

Daqui, Do Centro Da Europa...

Nao! Nao vim acompanhar o nosso ex-primeiro para as suas novas funçoes no centro da Europa.
Escrevo hoje, bem longe de Portugal. No tal Centro Europeu onde as decisoes se "decidem", numa cidade dividida entre tres Estados e onde a industria quimica e' rainha.

E' uma historia curta e simples:

- Sr dr venho convida'-lo para visitar as nossas instalaçoes em xxx! Atira a matar o delegado de informaçao medica.
- Mas isso fica em XXX! digo eu.
- Sim. Venho convida'-lo a visitar a nossa fabrica para que confirme a qualidade dos nosssos medicamentos genericos.
- Mas porque eu? Perguntei intrigado.
- Sabemos que o dr prescreve genericos e queremos apresentar-lhe a nossa fabrica e o nosso staff.
- Sim, estou a ver. Vem-me assediar.
- Nada disso dr. Diz o DIM.
- Venho apenas convida-lo.
- Saimos na quarta e regressamos no Domingo. Nao tem que se preocupar com nada. Vao colegas seus do resto do pais e apenas ha' uma questao.
- Diga la´ qual e' a questao!
- Nao podem levar as esposas. Como e' uma viagem profissional, por uma questao de etica, a empresa nao permite acompanhantes.
- Esta' bem desta vez aceito! Tenho rejeitado tantas por uma questao de etica.

(E ate' e' politicamente correcto: sempre sao genericos, ninguem pode levar a mal e ate' aproveito para espairecer deste trabalho absorvente, penso eu, como que a desculpar o meu ego por ter aceite uma viagem paga por um laboratorio da industria farmaceutica).

"Outras historias" tem-me levado a rejeitar viagens paradisiacas.

Assim de repente, lembro-me de um convite para um pais das arabias. Foi assim:

- Sr dr venho convida'-lo para uma viagem a xxx para assistir a um simposio organizado pela minha empresa.
- Mas isso fica em XXX! digo eu, como sempre.
- Sim. Venho convida'-lo.
- Mas porque eu? Pergunto sempre meio intrigado com tanta amabilidade da industria.
- Senhor dr tenho tres convites e escolhi-o a si.
- Sim, estou a ver. Mas nao sera' pelos meus belos olhos.
- E' durante uma semana e se quiser levar acompanhantes contacta com a agencia de viagens para saber os preços.
- So' precisa de passar x unidades disto, mais x daquilo, mais x daquilo e mais x daqueloutro.
- Eu compreendo muito bem a vossa profissao e ate' tenho pena, pois sei que tambem sao diariamente pressionados pelas vendas. Mas muito sinceramente nao estou interessado. Ate´lhe posso prescrever umas caixitas, para que os seus chefes vejam que trabalha, mas nao conte comigo para esse tipo de viagens.
- Boa tarde e ate' 'a proxima!
(E assim perco eu uma viagem que se calhar nunca a poderei fazer, mas paciencia...)

Outro convite para um pais encantador e que recusei (e custa tanto recusar viagens com tudo pago. Mas porque nasci honesto? Porra!).

Começa sempre da mesma forma estudada:

- Sr dr venho convida'-lo para um congresso em xxx.
- Mas isso fica em XXX. E' muito longe! digo eu.
- Pois. Venho convida'-lo.
- Pelos nossos dados o sr dr prescreve uma media de x caixas por mes. So' tem que passar mais cinco por mes. Como ve e' facil, diz sorrindo a encantadora DIM.
- Pelos vossos dados? Mas sabem mais que eu? Nem eu sabia que prescrevia tanto do seu laboratorio.
- Mas como conseguem esses dados?
- Isso nao sei. Sao coisas das empresas.
- E' durante uma semana e se quiser levar acompanhantes contacta com a agencia de viagens para saber os preços.
- Olhe, voce ate' e' simpatica, deve ter uma familia para sustentar e se como diz eu ja' passava esses medicamentos, como e' logico vou continuar a passar, mas viajar cedendo a pressoes, nao, desculpe la', mas eu sou assim.
- Boa tarde e ate' 'a proxima!

A minha consolaçao e' de que a maior parte dos medicos tem comportamentos eticos, porque diz quem sabe o que esta' a dizer, que os viajantes sao sempre os mesmos.

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