terça-feira, outubro 26, 2004

O MEM Também É Humano

sexta-feira, outubro 22, 2004

O Médico Foi Ao Médico

domingo, outubro 17, 2004

Meu Caro doutor. Desculpe Incomodá-lo...

"... mas tenho este péssimo feitio de abusar da paciência das pessoas, sobretudo, daquelas que acho que podem contribuir para a minha valorização profissional. Como é o seu caso."

"..., sou jornalista ... vou participar num ... na Universidade ..."

"Sou, apenas, um jornalista."

"... me move esta paixão de absorver conhecimento e trocar experiências, sobretudo no universo académico, ..."

"Ou seja, grosso modo, tentarei mostrar que a ignorância científica do jornalista ..."

"... peço-lhe autorização para citar o seu blog e as suas reflexões, ..."

A minha resposta:

"Acredite que é para mim uma honra um jornalista citar o meu blog..."

Como deve reparar eu não sou contra os jornalistas, mas sim contra os "dislates".
Use e abuse."


Este amigo jornalista, identificado, mas que pede anonimato, de um jornal com pergaminhos na comunicação social portuguesa, está profundamente enganado, pois ...

Oh Homem! Volto a repetir, eu é que fico agradecido por ser lido por si, se todos os jornalistas tivessem a sua preocupação, este blogue não existiria...

Ainda há dias, numa pausa de um banco assisti ao limpar o pó do velhinho 1,2,3 e o que mais me custou foi assistir ao desempenho de alguns concorrentes, não pela ignorância, mas pela falta de vergonha em serem ignorantes...

sexta-feira, outubro 15, 2004

"Ciberpatologia" está a crescer em Portugal.

Pediatra alerta para a dependência da internet.

Com origem na Lusa, esta notícia divulgada no sítio MNI (Médicos na Internet) merece alguma reflexão:

"O pediatra Mário Cordeiro alertou para o crescimento de uma nova doença que está a atingir os jovens em todo o mundo e também em Portugal, a "ciberpatologia", ou dependência da internet.

O médico falava durante as XII Jornadas de Pediatria de Évora que decorrem nesta cidade e que estão a debater a influência dos media e o problema da obesidade nas crianças.

Para o pediatra, o acesso à informação global a custos negligenciáveis que representa a internet é uma regalia que pode conduzir a "um delírio".
"Seria ingenuidade pensar que um fenómeno desta dimensão não resultaria numa enorme perturbação", afirmou
.

Mário Cordeiro questionou-se sobre a capacidade do cérebro, nomeadamente das crianças, para receber tanta informação e a possibilidade desta ser gerida pelo indivíduo - "Teremos tempo para gerir tanta informação e transformá-la em conhecimento e sabedoria?", questionou.

.../...

A nível dos sintomas desta doença, o pediatra sublinhou a «grande satisfação e euforia, que chega a ser desadequada» que o ciberdependente tem frente ao computador, chegando a achar que «tudo o que não é net é uma seca".

Paralelamente, o dependente vai desleixando a sua vida de relação e desligando-se da família, dos amigos e dos colegas por «puro desinteresse».

"Quando o jovem entra em parafuso quando o computador vai abaixo ou existe uma avaria na rede, então a dependência está instalada e é uma situação preocupante", acrescentou.

Mário Cordeiro alertou para as proporções que a ciberpatologia atinge, por exemplo, nos Estados Unidos: seis por cento das pessoas sofrem desta doença".

quinta-feira, outubro 14, 2004

Subúrbios da Vida Humana

Tem 13 anos.
Subúrbios da capital.
Trazida pela polícia.
Crise grave de agitação psíquica.

Na mão um molho de fotos desbotadas com uma legenda viva:

"são para que saibam que tenho família! São para que o meu pai (Este aqui! Aponta.) saber que eu gosto dele".

Repete com insistência: o meu avô morreu bêbado. A minha mãe mandou-me ir procurá-lo. Encontrei-o bêbado na tasca. Riu-se para mim. Estava bêbado. Fui para casa a chorar. Morreu à porta de casa. Vi o sangue na porta. Caiu e fez um buraco na cabeça.

Quando foi isso? Foi antes do meu pai se separar. Tinha 9 anos. A minha mãe pensa que eu não a via a receber os homens em casa. Mas eu via. Sempre vi. Gosto muito do meu pai e sei que ele gosta muito da minha mãe. A minha mãe fugiu para se juntar com outro homem. Quando vou lá a casa continuo a ver a minha mãe a deixar entrar homens em casa. O meu pai bate-me quando vou a casa dele. Mas eu gosto muito do meu pai.

Vivo com a minha tia que também recebe homens em casa. Ela pensa que eu não sei, mas eu vejo. Sei que ela gosta mais da minha irmã do que de mim. Eu tenho aqui as fotografias da minha família. Eu tenho uma família."

"O meu avô matou-se porque a minha avó recebia homens em casa. Eu não o conheci porque dizem que nasci depois dele morrer. A minha avó também toma conta de mim, também recebe homens em casa. Já teve uma trombose, mas só tem 50 anos. Eu tenho muito medo. Tenho medo de tudo. Tenho uma família. Tenho aqui as fotografias. A outra minha avó é maluca. É aquela que vem todos os dias aqui ao hospital. Eu tenho uma família."

E é tudo verdade. Não são confabulações.
Tudo isto era dita em catadupa, sem intervalos. Olhar fixo, gestos repetidos com os braços, polipneia.

10 mg de diazepan foram incapazes de acalmar. Foram precisos mais 5 mg. Dormiu 1 hora. Acordou com a mesma agitação.

Caixões. Vozes. Imagens do avô projectadas na parede.

Apoio psiquiátrico, já que apoio da sociedade não há.

O poder paternal tinha sido atribuído legalmente a uma destas sérias personagens .

Depois admirem-se que haja muitas histórias de joanas...

As urgências são a montra da nossa sociedade.

Os médicos não chamam as televisões, nem as televisões os procuram ...

quarta-feira, outubro 13, 2004

O Frango Segundo Ricardo

Para que não haja mal entendidos, não gosto do Ricardo.
Assim como muitos não gostavam do melhor treinador europeu.
Estamos todos no nosso direito.

Mas... Baía, volta estás perdoado (não sabemos de quê, mas perdoamos qualquer coisa).
Tu pelo menos és o melhor guarda-redes da Europa.

Porque falo do Ricardo aqui?
Porque quem se aproveita de êxitos circunstânciais, tem que ser modesto e assumir também os erros circunstânciais ou sistemáticos.

Para este treinador de bancada, que sou eu, Ricardo foi um dos responsáveis pela derrota de Portugal frente à Grécia e do empate no Liechtenstein.

Diz o menino que "Não há nada a explicar"!! O quê? Não merecemos uma explicação?

Só merecemos explicações quando se trata de êxitos?
Quando se trata de explicar uma defesa de um penalti sem luvas e uma atitude espontânea e extemporânea que o levou a marcar outro, aí já há explicações, colóquios, apresentações, entrevistas, e até livros biográficos de um ano de selecção.

Quando um profissional faz apelo a entidades divinas ou promessas esotéricas, está tudo dito. Um bom profissional tem que fazer apelo ao profissionalismo, à concentração, ao bom desempenho e reconhecer os erros quando os comete.

Os erros dos guarda-redes têm um nome: frango. A negligência tem outro: perú.

- "O guarda-redes da selecção portuguesa preferiu evitar o assunto e nem sequer deu a sua própria visão sobre o golo consentido."
- Um frango: «São questões técnicas. Vocês, não estando em campo, nunca vão perceber», sublinhou.
- "Não vale a pena. O povo percebe, de certeza absoluta, o que eu quero dizer" - pois percebe. A falta de modéstia e os frangos.

Porque falo disto aqui? Porque o futebol faz parte da cultura do povo português. Poderia ser o ténis de mesa, o cricket, o basquetebol, o futebol americano, o raguebi ou até a malha, mas é o futebol.

E também porque há, para afogar as mágoas, a

Amineptina
Amitriptilina
Bupropiona
Citalopram
Clomipramina
Duloxetina
Escitalopram
Fluoxetina
Fluvoxamina
Imipramina
Maprotilina
Mianserina
Milnaciprano
Mirtazapina
Moclobemida
Nefazodone
Nortriptilina
Paroxetina
Reboxetina
Sertralina
Sulpiride
Tianeptina
Tranilcipromina
Venlafaxina

terça-feira, outubro 12, 2004

Viva a Ponte !

Uma história de um leitor deste blog, (preservando o seu anonimato, com sua autorização e utilizando o título do seu e-mail), que reflecte a má organização da gestão dos hospitais, sem respeito pelos seus utentes. Quem paga, quem?

Os médicos, os enfermeiros, os administrativos...

Mas as chefias, essas nem sabemos quem são. Fazem as asneiras ... e raspam-se.


"Quero contar-lhe um episódio que se passou comigo no dia x deste mês, véspera do feriado. Tinha consulta marcada (como todos os meses) para as 00.00 horas no centro de centros, piso qualquer do Hospital de X. de Y., em Portugal.


Ao chegar à recepção e entendendo a situação de ponte por parte dos médicos, explicada por uma funcionária administrativa, pedi explicações sobre o não aviso da não consulta visto terem o meu número de telefone e ter-me deslocado do Lado Oposto de Portugal, a cerca de >100 kms do hospital. Como doente crónico, necessito de medicamentos semanais, todas as minhas consultas a este departamento de medicina tem essencialmente a ver com, além de mostrar resultados de análises ao sangue, levantar novo carregamento para um mês de tratamento.


A dita consulta é sempre efectuada às segundas-feiras e pratico o medicamento às terças, (sem hipótese de ter uma carga extra para eventuais contratempos porque a farmácia assim o dita, contrapondo exposições escritas da médica que me trata da saúde, assim como, as explicações orais da minha parte sobre o facto de morar longe e que por vezes, como já aconteceu, as canetas de injecção empanarem).


Após insistência a administrativa levou-me à presença da enfermeira chefe de serviço. Minha conhecida desde há ano e meio e atrevo-me a dizer que a considero uma das profissionais mais competentes que conheci até hoje: humana, bem humorada e com resposta tranquila a todo o tipo de utente sem nunca fugir a qualquer tipo de intimidação.


Estava um farrapo.

Não a vi com lágrimas, mas chorava . . .


Ouvi um monólogo angustiante: dezenas de utentes que a ofenderam moralmente, ameaças de porrada com empurrões à mistura, segurança que não apareceu em tempo útil, tudo lhe aconteceu naquela manhã do dia 4. Porquê? Porque, para além da funcionária do guichê, era a única destacada no dia, naquele serviço que serve "buéréré" de doentes por dia.

Só o soube no próprio dia no meio da confusão.

O meu problema clínico foi resolvido noutras esferas, -º piso, mas voltei ao -º piso para levantamento dos medicamentos, na farmácia do hospital.


Ao lado da porta da farmácia li, num rectângulo de cortiça próprio para anúncios, um fax, com ar de fax, a missiva que talvez explique tudo.
O dito tinha a data de 01 de Outubro e dizia que em conselho de ministros foi deliberado conceder ponte à função pública nomeadamente aos funcionários do HXY.


Portanto chegou por fax e em fax estava exposto, numa sexta feira, dizendo que podiam faltar na segunda-feira seguinte.


Visto do meu lado, interrogo-me se restou tempo para nomear responsáveis por avisar o pessoal (durante o fim-de-semana, imagine-se) que não havia consultas na segunda-feira. E sabendo-se que nenhum utente foi avisado da não consulta, pergunto-me porque não foram acauteladas as raivosas e legítimas queixas dos lesados utentes, poupando a possibilidade de uns bons profissionais se transformarem em meros funcionários públicos, por ódio ao "patrão"?.


São rosas ... meu senhor."


O que eu penso é que um serviço não pode encerrar a 100% como parece que este encerrou, por causa de uma ponte quer com a falta de médicos, quer com a falta de enfermeiros. Aqui é notória uma falta de ética de gestão de serviços de saúde...


Na resposta, perguntei se não descarregou um protesto no livro amarelo ou no gabinete de utente. Segundo o leitor, não se lembrou.


Aconselho todos os utentes dos serviços de saúde a utilizarem o Gabinete de Utente, para reclamar, para sugerir, para melhorar os serviços. Só assim é que as chefias se apercebem das dificuldades por que os utentes passam...

segunda-feira, outubro 11, 2004

Cachené Negro Em Alvalade

Respondendo ao pedido do Nosso Senhor Scolari irei de cachené negro (porque sou da Académica, apenas e não por estar de luto).

Vou pedir ao S. Ricardo que faça uma milagre e se demita, como o Figo e outros, para que o Imaculado Baía regresse à selecção.

sábado, outubro 09, 2004

Vioxx: Um Caso de Azinojornalismo, Ou Talvez Não

A retirada do VIOXX do mercado é um escândalo!


Qual a razão porque uma empresa como a Merck retira só agora um fármaco do qual se suspeitava há muito que não era tão inócuo como se afirmava e nem era mais eficaz que os anteriores AINES.

Apenas uma diferença em relação aos AINES tradicionais: menos agressivo para o estômago, em linguagem de leigo para que se compreenda.

Mas porquê retirar só agora e de repente, sem ninguém publicamente se ter queixado previamente, sem nenhum advogado, mesmo norte-americano se ter queixado, sem a TVI ter feito qualquer reportagem com um elemento do povo referindo que morreu depois de ter ingerido o VIOXX. Porquê?

O VIOXX foi muito bem promovido. Foi um êxito de mercado. A Merck ganhou milhões e mais milhões iria ganhar. Foram mais de 2,5 biliões de dólares.
Será um dos maiores escândalos da história do medicamento a nível mundial, da história das multinacionais e da sua seriedade perante a classe médica e os doentes. Porquê só agora?
E porquê o silêncio dos media e dos jornalistas, tão lestos a denunciar médicos e instituições públicas por dá cá aquela palha, por dez reis de mel coado, por reportagens que nem valem um caracol, e agora que poderiam desafiar uma multinacional, fazer investigações sérias. Nada.

Eu que ainda sou independente (talvez por isso me mantenha anónimo), que não sofro pressões, nem tenho negócios com o Estado, proponho aos senhores jornalistas que investiguem. Poderão ganhar um prémio Pulitzer!
O maior embuste do Mundo da Saúde, passa por vocês, jornalistas e nada dizem?
Como se silenciou a nível mundial rapidamente este problema. Até parece que os media fizeram um favor à multinacional Merck avisando a população mundial, mesmo antes dos médicos, da retirada do mercado.

Porque não foram utilizadas as vias científicas para o fazer? Porque não deixaram apenas de produzir e esgotar o stock? Porquê esta rapidez?
Outros laboratórios com medicamentos da mesma classe estão apreensivos. A própria Merck já tem um outro coxib comercializado e que mais tarde ou mais cedo também será retirado.

Um conselho: não utilizem coxibes, pelo menos para já!

Leiam jornais científicos como o New England Journal of Medicine (e as acusações que faz!) ou a revista Prescribe. Jornais à partida não dependentes dos anúncios dos laboratórios.

Algumas dicas para os senhores jornalistas:
Há quanto tempo se suspeitava dos riscos cardiovasculares?

Quantas pessoas faleceram devido ao Vioxx?

Quem se calou?

Quem conluiou?

Qual o papel do INFARMED?

Quem nos defende das poderosas multinacionais?

Há laboratórios éticos?

Os profissionais médicos podem confiar nas multinacionais do medicamento?

Se as autoridades reguladoras que já sabiam e sabem dos riscos do grupo dos coxibes, porque não actuaram?

É verdade que a "democracia" nos EUA é melhor que a nossa e já está a pedir intervenção dos políticos?

Não perceberam (vocês jornalistas!) que os vossos patrões se calaram no dia seguinte?

Eu não prescreverei mais coxibes.

Prontooooooooosssssss.

O Papel do Médico Faliu!

A independência paga-se caro.

O Papel do Médico foi o primeiro jornal on-line português sobre a temática da saúde, gratuito numa primeira fase e posteriormente por assinatura.
Mas ... era independente dos poderes, das organizações, de tudo.

A verticalidade, honradez e dedicação ao serviço público que durou alguns anos dos seus três editores médicos - Rosalvo de Almeida, neurologista, Pedro Moura Relvas, médico de família e informático, e outro médico* de que não recordo o nome deve ser homenageada.

Este é o meu simples reconhecimento.
E o link vai desaparecer para as siglas médicas. Se a alguém foi útil, ainda bem.

* "O outro editor médico do P@pel do Médico chama-se Jaime Correia de Sousa e é tb Médico de Família", informação prestado por Jorge Silva por e-mail.
Obrigado.

Haja Bom Jornalismo. Bem Haja!

Dois bons exemplos de óptimo jornalismo sobre saúde:

- o programa "Haja Saúde" na 2: produzido pela Companhia de Ideias, com a apresentação responsável e crítica, mas sempre esclarecedora e pedagógica, de Marina Caldas, jornalista e ex-pivot da TV Medicina.

- um pequeno artigo em As Beiras no dia 09/10/04 pela jornalista Dora Loureiro, sobre o seguimento do doente cardíaco no pós-enfarte e resumindo algumas intervenções numas jornadas organizadas pelo Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC). intituladas “Doença Coronária Estável” destinadas a médicos de família, a médicos do internato geral e complementar e a outros especialistas.

O título alerta para uma realidade, ainda pouco compreendida pelo público em geral: "O médico de família na doença cardíaca"

Alguns extractos:

"Os médicos do ambulatório têm uma função decisiva na prevenção, diagnóstico e tratamento da doença coronária estável, afirmou Armando Gonsalves. Realçar e formar o papel dos médicos de família na prevenção, diagnóstico e tratamento dos pacientes com doença coronária foi um dos objectivos das jornadas que se iniciaram ontem e prosseguem hoje (...) Prevenir, diagnosticar e tratar a doença coronária estável, de modo a evitar recaídas e a morte súbita, depende essencialmente dos médicos de ambulatório”, afirmou ontem Armando Gonsalves, director do Serviço de Cardiologia do CHC, na sessão de abertura das jornadas."

"Hoje as novas terapêuticas, como os trombolíticos e a angioplastia coronária, determinaram que a mortalidade intra–hospitalar em casos de doença coronária aguda, que há alguns anos era superior a 20 por cento, diminuísse para 11 por cento em 2001 e para 9 por cento em 2003. Um número que nos hospitais que dispõem de angioplastia desce para os 7 ou 7,5, realçou Armando Gonsalves."

"E é neste circuito - na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento dos doentes com doença coronária - que é fundamental o papel dos médicos de família.“Os doentes que sofrem uma doença aguda quando saem do hospital devem manter para toda a vida a medicação estabelecida e a vigilância dos factores de risco”, notou Armando Gonsalves. “E isto depende muito do médico de família, porque foi detectado, em vários países, que os doentes abandonam estas terapêuticas ao fim de alguns meses”.

"Mesmo na doença coronária estável há por vezes sinais de instabilidade que advertem que o doente pode ter de repente uma morte súbita ou um enfarte do miocárdio. “E estes sinais devem ser muito bem conhecidos, de modo a que os médicos de família orientem rapidamente os doentes para as unidades especializadas”, salientou o cardiologista."

Azinoterapia ou Azinojornalismo

Vendedores de esperança. Uma crónica na Lux. Contra os mitos na revista dos mitos.

Azinojornalismo, porquê?

quinta-feira, outubro 07, 2004

"Seguramente que os médicos agradecerão"! Eu Agradeço.


Sobre os Atestados Médicos, Paulo Mendo no jornal 1º de Janeiro de 7 de Outubro de 2004 escreve uma crónica, que assino por baixo.

Os atestados médicos

Primeiro caso: Justificando a sua não comparência a um exame cerca de 1200 alunos apresentaram atestado médico.
Estranhando a estranha epidemia que no mesmo dia afectou tão grande número de jovens foi ordenado um inquérito com suspeita de os atestados terem sido leviana ou fraudulentamente passados por médicos desonestos. Em resultado dessa investigação vários alunos e médicos vão começar a ser julgados, arguidos desta então chamada epidemia de Guimarães.
Segundo caso:A última colocação de professores, além de todos os desaires que sofreu, veio ainda mostrar que uma enorme percentagem de candidatos apresentou atestados para beneficiar da colocação em escolas próximas da residência, ultrapassando colegas mais antigos e melhor classificados. A quantidade desses atestados é tal que há fundadas suspeitas de muitos deles terem sido fraudulentamente obtidos com a cumplicidade e conivência de médicos.
Vale a pena debruçarmo-nos sobre este assunto. Seguramente que há médicos desonestos que a troco de pagamentos ou de favores passam conscientemente atestados que sabem falsos. Em todos as profissões há desonestos e numa classe de trinta mil profissionais ninguém se admirará de que nem todos sejam santos!
Por isso é natural e desejável que a justiça investigue e castigue se for caso disso, não só quem corrompeu como quem se deixou conscientemente corromper.
Mas não será que o próprio atestado faz parte do problema? Julgo que sim. Grande parte da responsabilidade do que sucede reside no facto de a sociedade ter feito do atestado médico e, portanto, do médico, a única justificação válida e insubstituível de faltas ao trabalho, de afirmações de robustez, de necessidade de acompanhamento de familiares doentes, de afirmações de doenças crónicas ou deficiências para atribuição de benefícios sociais e fiscais e por aí fora.
Para tudo a sociedade requer a afirmação peremptória, sim ou não, de um médico. E é aqui que se situa o péssimo nó górdio desta prática social.
Por várias razões: A primeira, mais imediata e indiscutível, é que devendo o médico orientar a sua consulta baseado nas queixas que o doente refere, porque elas são a base e razão do pedido de ajuda do paciente, não pode partir do princípio que o seu doente lhe está a mentir. Mesmo quando, após exame, não encontra razão para as queixas não pode delas duvidar.
Se o doente se queixa de cefaleias intensas e o médico nada encontra que as justifiquem, pode tranquilizar o doente, afirmar-lhe a normalidade do exame, mas não pode dizer que as cefaleias não existem.
E se este lhe pede um atestado porque não aguenta ir trabalhar nesse dia? Vai recusá-lo porque, como se fazia, dizem, na antiga tropa, não tem febre logo não tem doença? Vai destruir a confiança entre si e o doente, princípio essencial do acto médico, dizendo-lhe que não acredita nele?
E qualquer clínico sabe que uma enorme percentagem dos doentes que diariamente vê não tem sinais objectivos detectados no exame que justifiquem as queixas que, no entanto, são reais e indiscutíveis.
Mas outra razão que dá mais valor ainda à anterior é a posição filosófica das sociedades modernas face à saúde e à doença. Porque se por um lado os Estados modernos colocam os médicos como os grandes decisores legais da doença e da saúde dos cidadãos, por outro lado, ultrapassaram toda a humana e limitada capacidade do médico, afirmando que a saúde “ é a completa sensação de bem estar físico moral e social do individuo”, tal como o afirma a Organização Mundial da Saúde.
O que, levado ao exagero, mas não muito, serve para justificar como doente e merecedor de atestado aquele que nos vem dizer que não lhe apetece ir ao emprego porque está aborrecido!!!
Por estas razões é muito difícil concluir da falsidade dos atestados médicos, exceptuando-se, apenas, aqueles em que se demonstra terem sido passados, com conhecimento da sua falsidade. E mesmo aqui, há um factor a ter em conta: a banalização e burocratização do atestado.
Necessário para tudo, em nenhuma circunstância sendo substituído pela palavra de honra do interessado, tornou-se um papel inócuo e insignificante que serve para validar tudo. Já a mim, há anos, não podendo comparecer num julgamento porque, como director de um hospital, tinha sido convocado para uma reunião no Ministério e disso tendo informado o Juiz, este me aconselhou a… “meter um atestado”!!
Tendo a sociedade banalizado até ao limite da insignificância o atestado médico para tudo necessário e sendo o acto médico uma ajuda e não um inquérito administrativo, não é de estranhar que os clínicos ajudem o seu paciente, acreditando nele e passando, quando necessário o desacreditado, mas indispensável papel.
O problema não é resolvido pela exigência aos médicos de rígido rigor e precisão científica no atestado que passam, mas na modificação das exigências sociais, aceitando a palavra de honra do cidadão e a responsabilidade de testemunhos, com severo castigo aos mentirosos e tornando os atestados médicos, verdadeiros relatórios, sujeitos a sigilo, necessários apenas em casos especiais em que a gravidade da doença ou a sua duração os torne indispensáveis.
Seguramente que os médicos agradecerão.

terça-feira, outubro 05, 2004

Gabriela

A Gabriela enviou-me dois belos poemas.

Em relação aos meus Poemas, aos poemas que lhe enviei, só lhe posso dizer que quando escrevo estou sujeita a inúmeras influências literárias tais como Vinicius, Ary dos Santos, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner por isso são as suas obras que me influenciam o que faz com que nada seja meu e ao mesmo tempo todo o meu eu está nas palavras que escrevo. A poesia é isso mesmo ... No entanto gostaria que esses meus Poemas ficassem só para si, pode ser?

Claro! Mas é pena não poder partilhar.

Todas as Gabrielas são belas, inocentes e singelas. São cravos e canelas.

"O que é que sente depois de escrever no blog?..."

"...e agora que sei como sente essas situaçoes que lhe passam pelas mãos no dia a dia, fica-me a pergunta:
O que é que sente depois de escrever no blog?...
É que as vezes "escreve-se" para muita gente quando se esta "sozinho"!....
:)))"


Fácil e difícil resposta: mas geralmente sinto qualquer coisa antes de escrever, e que me leva precisamente a escrever!

"Olá Doutor....
.../...
Fazem-me sorrir ....devo calar?"


Não. Sorrir, sorrir sempre.

"tomo a liberdade de lhe pedir um conselho:
As crises de pânico tem soluçao sem ser com xanax? O que devo fazer para
perder o medo de andar sozinha na rua?
imensamente grata se me puder responder...."


Direcciono-a para o canto superior direito do blog: "Aviso 2: Este blog não é um consultório on-line." (mas para si, respondo-lhe em privado.)

O Concelho Regional do Centro da Ordem dos Médicos

A jornalista Helena Ramos não sabe o que é um concelho, nem um conselho.

Mas dou-lhe um conselho: quando se deslocar ao Concelho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, tente localizá-lo primeiro no mapa.

Encontrá-lo-á fronteiriço com a Negligência a Norte, com a Iliteracia a Sul, com o Analfabetismo a Oeste e com a Desídea a Este.


"O Concelho Regional do Centro (CRC) da Ordem dos Médicos (O.M.), que também está preocupada com esta questão, acrescenta outra explicação..."

"O Concelho Regional do Centro (CRC) da Ordem dos Médicos alerta ..."

in Tempo Medicina on-line

segunda-feira, outubro 04, 2004

domingo, outubro 03, 2004

A Falta De Seriedade De Fátima Campos Ferreira

O que queria discutir Fátima Campos Ferreira (FCF)?

Mais uma vez o experiente Adelino Gomes foi sensato: não se pode meter o Rossio na Betesga!

Prós a favor de quê? E Contras o quê?

Foi dos piores debates a que assisti sobre Saúde. FCF com aquelas poses excessivas e forçadas das mãos, com o deambular pelo cenário, está a transformar um programa de debate em programa de diversão.

E a falta de seriedade: querer discutir Saúde, carimbando todo o programa com o sentimento de perda de um ser humano em circunstâncias anormais, não é sério.
E apesar de todo o debate ser marcado pelas referências à morte da utente do SNS, não foi explicada a causa de morte.

Se se tratou de um aneurisma da aorta, trata-se de uma situação gravíssima, rara, de evolução imprevisível e muitas vezes fatal.
Tratou-se obviamente de uma erro médico, um erro de diagnóstico, que como tenho afirmado não pode ser confundido com negligência médica.
E pelo descrito, a única estrutura que deu uma resposta responsável foi o médico dos cuidados primários, do SAP do Centro de Saúde de Ourém ao transferir a paciente para os cuidados secundários. Cuidados primários tão atacados e descredibilizados, mas que tanta falta fazem...

Seria bom um debate público sobre Erro Médico, não para desfilar perante o palco da televisão os protagonistas desses mesmos erros. Mas para divulgar quais as medidas que os próprios médicos, as suas ordens e os governos tentam implementar para a sua diminuição.
Assim como um debate público sobre Erro Judiciário, Erro de Engenharia, Erro Pedagógico e porque não Erro Jornalístico (lembremo-nos do recente e actual caso da Joana).

FCF queria um debate sério?
Mas leva ao seu programa:
- o actual ministro - para quê? Para falar da unha encravada? Para falar da morte da utente?
- um anterior ministro, eventual futuro candidato ao cargo - para quê? Para falar seriamente de Saúde ou para fazer campanha eleitoral?
- o pai do Serviço Nacional de Saúde, também um potencial candidato ao cargo pela oposição - para quê? Para falar sobre o seu filho? Ou para falar de mudanças necessárias para o melhorar?
- um comandante de Bombeiros - para quê? Para falar de política de Saúde? De estratégias para a Saúde? Para falar de transportes de doentes? Para falar das insuficiências das cosporações? Para falar do papel relevante dos bombeiros no (único!) socorro às vítimas no interior? E a afirmação mais importante produzida foi a da unha encravada! E a FCF caiu na esparrela. A directora do Centro de Saúde referido já desmentiu!
- alguém que perdeu um familiar, cuja angústia, preocupação e até ódio será compreensível, mas ao qual foi permitido dizer um enorme dislate: "segundo uma enfermeira amiga, é dos livros fazer um electrocardiograma a todas as dores nas costas!".

Provavelmente é dos livros de enfermagem, pois dos livros dos médicos não é!

Tu que me lês, se estás com uma dor nas costas (eu estou com uma dorsolombalgia do carago!) não te esqueças, corre já ao SAP ou banco mais próximo e exige um electrocardiograma. Talvez um Tac(o) seja melhor. Mas exige-o ou pega no Taco e bate no médico.
Podes ser um dos próximos convidados do programa de FCF: Prós e Contras: os tacos na Saúde.

sábado, outubro 02, 2004

Apontamentos Rápidos Do Dia A Dia Para O Blogue

Tentativa de suicídio – 36 cp

Divórcio de marido alcoólico e agressivo.
Viúva há 2 meses de velho alcoólico que mandou asilar.
Filha de 15 anos com vida muito vivida e corpo de 25.
Filho de 18 anos, que iniciou o namoro com filha da maior inimiga e segue as pisadas dos dois ex-maridos.

Lipotímia

Jovem de 16 anos, construção civil, pequeno-almoço: 2 médias mais 1 bagaço.
entra em letargia com forte dor no peito, entra de cadeira de rodas com vários colegas de trabalho alvoroçados. Sinais vitais normais, umas palavras e diagnóstico psicossomático. É um “sem família”, mas com abrigo. Vive sozinho.

Metrorragias

Mt ansiosa. Marido q bate e não lhe liga. Expulsou uma filha de casa, outra filha com 15 anos e mãe solteira de um filho sem pai, preferida do pai, alcoolismo.

Stress

Homem, 68 nos, rural, com stress da guerra, mulher q não lhe liga desde que veio da guerra, filho que se” amigou” com uma que ele não queria, 1 filha com 18 anos e 18 namorados e um filho enjeitado para a casa dos avós, agora anda com um dealer.
Crises hiperansioas no banco semanais ou bisemanais.

Mãe I

Com filho único que morreu há 20 anos, com 35, com cancro.

Mãe II

com 1 filho com tumor do pulmão em fase terminal, 1 filho preso por processo mediático, 1 filho com crise de psicose com internamento no HJM, 1 marido mais velho 20 anos falecido há 1 ano. 1 filho divorciado, 1 filho falecido.

Jovem

Jovem de 15 anos, que se “ajuntou” com jovem de 30, e foi viver para a casa da mãe, já divorciada do pai das filhas e que se juntou com o sogro 40 anos mais velho, teve uma gravidez não desejada e com um aborto daqueles denunciados pela WOW, a irmã casada com um jovem que só esta satisfeito se tiver muitas e quer mais 1 filho, chateou-se com o actual sogro e marido e teve que fugir da cidade pois o homem perseguia.

Esposa

Esposa, filha de um Zé-ninguém, casada com um filho de mãe supersupersuperprotectora ,"órfão" de um irmão, com marido imberbe e que sofre sempre que o Benfica perde. Construiu uma casa e vive em casa da sogra portista.

Filho na banca rota.

Pai que faleceu com tumor na cabeça, mãe que faleceu com TC acidente de automóvel, filho iniciou negócio de automóveis, casado com mulher gastadora, filho com doença hepática e agora toxicodependente e alcoólico

Mãe III

88 anos, diabética, com enfarte, ICC, crises demenciais, com filha oligofrénica, de 45 anos, preocupada por saber que a vai deixar sozinha no mundo. Cada consulta discussões profundas uma com a outra.

Mãe IV
dores nos joelhos, no peito precordial, com os nervos, mt enervada, não pode ouvir ninguém, irrito-me logo, até ouvir o menino se irrita. anda desmorecida.
Filha fugiu de casa com homem rico para, na mesma altura que a neta engravidou sem pai conhecido, genro alcoólico e marido morreu de dpoc, emagrecimento. Actualmente cada um faz a sua vida e esta mulher é o apoio de todos e a escrava de todos

Cefaleias

O marido é bêbado, chega todos os dias com bebedeiras, o meu filho único é ruim, o marido tem uma mota, o filho tem um carro e eu venho a pé 20 km, não posso pagar um carro de praça. Ele é ravesso. Vida de um filha da puta. Olhe doutor não é só a ruindade, é também a bebedeira. O pai deu para se embebedar, trás uma perna que neu sei lá e eu já lhe disse qd vier ao médico é para cortar a perna. E depois sabe como é, implicam comigo que nem me apetece estar ao pé deles.
Só Deus e eu é que sabe o que estou ali a sofrer. Fui à SS e dão-me 12 contos. Ele não me dá dinheiro. É para andar com a bebedeira e o pior é que paga aos outros, eu não como e os outros embebedam-se.