terça-feira, dezembro 30, 2003

http://bvporto.home.sapo.pt/

Descubra o erro.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

Adivinhem Onde Está A Verdade.

No Diário de Notícias de 24/12/2004, a perfeita notícia, nas entrelinhas, de quem deposita os idosos nas urgências dos hospitais. Posso estar errado, mas não creio.

Os sublinhados são meus.

"Hospital do Montijo esquece idosa no raio X
C. V.
Elvira da Luz Salvador, de 67 anos, terá ficado esquecida mais de duas horas na sala de raio X do Hospital Distrital do Montijo. A filha classifica a situação de «inadmissível», tanto mais que a idosa «é asmática e necessita de acompanhamento constante».

O insólito ocorreu anteontem: Elvira foi deixada por um dos filhos, na Urgência do Hospital do Montijo, às 10.30, «por ter passado a noite com problemas respiratórios», adiantou ao DN a filha, Idalina Salvador, que telefonou para a unidade de saúde procurando informações sobre a mãe. «Depois de esperar imenso tempo, disseram-me que não estava lá. Mas como nada batia certo, voltei a ligar e, após nova espera, voltaram a dizer o mesmo e chegaram a gritar-me por insistir», garante.

Só quando a família se dirigiu ao Hospital, cerca das 13.30, é que o «mistério» se desfez. Elvira estava nas instalações e, de acordo com a filha, «passara mais de duas horas fechada, abandonada numa cadeira de rodas na sala de raio X». Tanto, que «alguns funcionários até pediram desculpa», o que não invalida o «susto» e a «indignação» de Idalina.

O DN tentou, durante todo o dia de ontem, obter um comentário por parte da administração do Hospital do Montijo, mas até à hora de fecho desta edição tal não foi possível.
"

1º - adoeceu de noite e só de manhã a levaram ao hospital.
2º - o filho deixou-a na URGÊNCIA e pirou-se.
3º - a asma é uma doença crónica que quando agudiza necessita de tratamento médico imediato, na hora, de noite se necessário;
4º - a filha telefona mais tarde, em vez de se deslocar ao hospital.

quinta-feira, dezembro 25, 2003

Errei!

"Não desejo boas-festas aos soldados da GNR que estão no Iraque. Desejo que regressem todos, sãos e salvos. Desejo, isso sim, que concretizem o seu sonho com os ordenados que vão receber. É triste ter que emigrar para uma zona de guerra, para realizar sonhos simples" - afirmei eu no último post no dia 24 de Dezembro.

Nunca uma frase incomodou tanto os meus neurónios.
Martelou toda a noite.
Ideia fixa.
Tenho que a exorcisar.

Mas o que me deu para não desejar Boas-Festas aos soldados da GNR?
Posso não concordar com a guerra!
Posso não não concordar com os pressupostos desta guerra!
Posso não concordar com a ida dos soldados da GNR para o Iraque!
Mas daí a não desejar as Boas-Festas vai uma grande distância. E depois de saber que não consoaram bacalhau...

Quando interiorizei que esta consoada foi a primeira sem a figura tutelar do meu último progenitor, invadiu-me uma tristeza profunda.
A minha Querida Mãe deixou de tutelar os seus quatro filhos que muito lhe deviam.
Confesso que aquela frase ainda mais me atormentou: Não desejo boas-festas aos soldados da GNR. Que parvoíce!

Por isso corrijo-me: Desejo as Boas-Festas aos soldados da GNR, pessoas como eu, e vítimas da intolerância e dos jogos de poder, como todos.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Boas Festas Para Todos, Crentes e Não Crentes

Esta quadra que deixou de ser há muito a quadra da Família ocidental, é hoje em dia a quadra dos excessos.
Consumismo exacerbado na oferta de prendas, muitas hipócritas, outras para pagar favores disfarçados e ainda outras por pura adição ou prazer.
Prendas com afecto, serão poucas.
São os adictos que percorrem quilómetros dos centros comerciais na ânsia de mais prendas comprar.

Vou dar uma prenda ao meu cão e ao meu gato, que bem merecem. Aturam o meu mau humor anual, sempre com um ar de felicidade quando me cheiram para confirmar o perfume do amigo. Não são hipócritas. Manifestam o seu prazer pela minha companhia de um modo natural.

Para os diabéticos, dislipidémicos, úricos, hipertensos, obesos, dispépticos, e outras patologias do géneros, façam os vossos excessos conscientemente, mas não esperem milagres.
Nos restantes 360 dias do ano cumpram a vossa dieta escrupulosamente.
Mais vale um excesso programado e consciente, do que a tristeza de ver os outros comer!

Para os ex-adictos ou actuais adictos do álcool ou tabaco, se estiverem em programas de recuperação ou já em evicção, o álcool ou tabaco são tabu. Não há contemplações!
Uma gota ou uma passa podem dar cabo de uma vida.

Para os fumadores, fumem e abusem. Fumem por mim e por vocês. Façam-no conscientemente, longe dos não fumadores. Sejam felizes na bruma que vos envolve.

O meu mais sincero desejo de boas festas, vai para os que vivem sozinhos mesmo quando acompanhados. A solidão é muito dificil de ultrapassar, mesmo quando não é percepcionada por quem nos rodeia.

Não desejo boas-festas aos soldados da GNR que estão no Iraque. Desejo que regressem todos, sãos e salvos. Desejo, isso sim, que concretizem o seu sonho com os ordenados que vão receber.

É triste ter que emigrar para uma zona de guerra, para realizar sonhos simples.

Mesmo assim, boas festas para todos os leitores e vizinhos da blogoesfera!

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Confirmo Este Artigo

No Jornal de Notícias de 22/12/2003, Eduarda Ferreira, jornalista, tem a coragem de descrever estas situações:


"Como olhar para o lado


A esta hora, famílias preparam já as suas festas, assegurando para os velhos uma cama de hospital



Agosto e final de Dezembro são épocas de maior crise nos hospitais dos grandes centros. Claro que há médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar de férias, não fosse já problemático o seu déficite ao longo do ano. Claro que as maleitas crónicas atingem um pico
de gravidade com o calor e com o frio.
Mas já não é tão claro outro fenómeno: há famílias que depositam aí os seus velhos usando artimanhas diversas ou que prolongam internamentos, não respondendo às informações de "alta" enviadas pelos serviços. Até que acabem as férias ou as festas,pelo menos.
Postas as coisas assim, tudo assume contornos de crueldade. Estaremos logo de unhas afiadas, prontos a criticar o expediente. Teremos logo à mão um sem número de apetrechos moralistas que afastam de nós a suspeita de alguma vez sermos capazes de tanto e tãopouco, pobres hipócritas.
Mas, já que somos tão generosos com a vida dos outros, experimentemos amontoar a família toda em três gerações e duas assoalhadas com marquise, mais humidade. Experimentemos, nessas condições insalubres e promíscuas (talvez com desemprego à mistura), uma daquelas senilidades que exigem cuidados permamentes até ao desgaste.
Imaginemos as crianças a partilhar espaços, tempo e despesas com um avô ou uma avó, cuja dependência deixa de rastos todo o agregado familiar. São raros e caros os lares que acolhem idosos em condições dignas. Os cuidados domiciliários ainda não constituem
uma verdadeira rede. O nível mais comum das pensões de reforma assegura apenas pobreza envergonhada.
Em França, os resultados do trabalho num feriado em cada ano vão ser usados para, ao longo da próxima década, dotar o país de equipamentos e serviços capazes de acorrer ao envelhecimento da população e às condições cada vez mais solitárias desse envelhecimento.
As lições do último Verão, com o calor a matar milhares de idosos no isolamento em que foram deixados pelas famílias ou nem por elas, impuseram à sociedade francesa um compromisso a que trabalhadores e empresários não conseguiram eximir-se, mesmo recalcitrando um pouco. No fundo, diminui em um o número de feriados, mas ninguém arrecada o lucro. Vai tudo para lares e apoio domiciliário que, em França, não estão propriamente no ponto incipiente em que os temos ainda.
Fosse por cá e havia de ser bonito. Se mais ninguém se locupletasse antes com o dinheiro, haveria sempre contas tortas, por onde o Estado, pouco fiável nestas coisas, afunilaria as benesses aos verdadeiros destinatários. Mais que certo. De resto, sempre que vem à baila a diminuição dos feriados, a generosa ideia reverte sempre e só a favor das empresas e, claro está, de um famigerado aumento da produtividade. Mas, que se saiba, como diria o outro, "não é por se fazer cera mais um dia que se cria mais-valia".
Por isso, e já que o Mundo não é perfeito, mais vale conformarmo-nos com o facto de Lisboa e arredores não contarem sequer com um hospital de retaguarda nem com uma rede de serviços domiciliários.
De vez em quando, há rompantes governamentais a prometer isso. A Santa Casa também já propalou em tempos a intenção, que ficou por aí.
Portanto, os hospitais que aguentem o embate social do envelhecimento demográfico. E nós cá estaremos para nos indignarmos cinicamente com as famílias que esquecem os seus velhos nos estabelecimentos de saúde nas festividades ou férias
".

domingo, dezembro 21, 2003

"Fumar Ma[L]ta". Impressões de Uma Festa Num Monte em Avis

Fui convidado para um jantar num monte, algures no concelho de Avis. Avis com s, mas onde era suposto encontrarem-se alguns responsáveis de alguns blogs de referência na blogosfera, nomeadamente o Aviz com Z e eu, incógnito.

Afinal, de bloguers, só apareci eu, anónimo autor de um blog umbiguista sem pretensões, que vai falando do que lhe passa dia-a-dia pelos olhos, mas que lhe molda – e de que maneira! – a sua personalidade.

Alguém disse um dia que pelos médicos passa a sociedade doente, não só em termos biológicos, mas também psicológicos e sociais. Nenhum médico pode ficar indiferente aos problemas que se apresentam na intimidade de um consultório.

E se um médico ficar indiferente, não é médico.
E infelizmente já há alguns que só se preocupam com o $$. Mas a tendência será para agravar. Quantos mais médicos houver, mais candidatos aparecerão a pensar só no status e nos proventos.

Preparem-se e não se queixem, pois, vocês, intelectuais, inconsciente ou conscientemente, estão a preparar esse futuro.

Mas vem este bilhete a propósito de uma frase que foi dita e que me ficou na memória. Alguém a brincar, disse, pegando num maço de tabaco: "Olha, fumar malta!" Era bem melhor fazer uns maços de papel, onde se acrescentaria apena um L para subverter a mensagem."

E logo alguém falou na polémica da blogosfera sobre o tabagismo, dando como exemplo os blogs do Aviz e do Médico Explica Medicina A Intelectuais.

Fiquei satisfeito. A polémica serviu para alguma coisa. Alertou alguém para os Malefícios do Tabaco*

Posso anunciar que a Direcção-Geral de Saúde irá publicar, em breve, umas Orientações Técnicas, como habitualmente tem feito, de onde constará que o tabagismo passivo é um factor de risco para o desenvolvimento de asma nas crianças.

Acautelem-se!
__
* - "OS MALEFÍCIOS DO TABACO (A. Tchekov) - A personagem, um pobre diabo a quem um casamento infeliz e uma existência frustrada não conseguiram todavia apagar a capacidade de sonhar, durante a sua conferência sobre os malefícios do tabaco, vai revelando factos da sua vida e do seu casamento, exprimindo grotescamente uma angústia trágica."

sábado, dezembro 20, 2003

Literatura Médica X

Nome:

Exame: Tomografia Axial Computorizada Tóraco-Abdominal

Obs. nº

Data:

Informação clínica:
Litíase renal direita a esclarecer.
Dores abdominais

Ficha Técnica:
Exame efectuado com cortes de 7 mm de espessura adquiridos em programação espiral, após opacificação oral do tubo digestivo e injecção endovenosa de produto de contraste.

Leitura do Exame:
Ao nível do lobo direito do fígado (segmento VII) observamos imagem nodular hipodensa de parede bem definida de conteúdo líquido em relação com a presença de pequeno quisto biliar, não se observando outras alterações ao nível do parênquima hepático, nomeadamente estão conservadas as suas dimensões.

Vesícula biliar de parede fina sem litíase e sem dilatação das vias biliares intra e extra hepáticas.

Pâncreas, baço, e supra-renais sem alterações.

Ausência de derrame pleural bilateral, ascite ou densificações anómalas da gordura mesentérica-mesocólica.

Ausência de adenopatias das cadeias ganglionares abdominais superiores e lombo-aórticas.

Obtivemos imagens dos rins após 70 segundos e 10 minutos de injecção do produto de contraste, observando-se dilatação do grupo calicial superior do rim direito em relação com a presença de litíase radiopaca com 10 mm de diâmetro localizada ao nível da haste calicial condicionando ectasia a montante observando-se duas formações calculosas localizadas ao nível dos cálices com diâmetros que rodam os 8 e 13 mm, não se observando outras alterações valorizáveis ao nível das árvores excretoras de ambos os rins, nomeadamente não há uretero-hidronefrose bilateralmente.

Os rins apresentam dimensões conservadas ao nível dos eixos bipolares, a nefrografia parênquimatosa é simétrica e simultânea observando-se ao nível da região polar inferior do rim direito formação quística cortical simples com cerca de 3 cm de diâmetro, à esquerda observamos na região mélia da parede antero-lateral formação quística cortical simples com cerca de tem, não se observando outras alterações valorizáveis do parênquima de ambos os rins.

Nos cortes que obtivemos da região abdominal superior ficamos com a sugestão de anomalias ao nível da aorta torácica pelo que efectuamos o estudo complementar do tórax com injecção endovenosa de produto de contraste

Observamos uma aorta ectasiada com múltiplas placas de ateroma ao nível da crossa, com um exuberante desenrolamento do arco aórtico notando-se na porção terminal da aorta torácica sugestivo de dissecção da aorta só visível a este nível e mais inferiormente na região retro.cr.al mas que nos parece este nível uma falsa imagem condicionada por compressão do pilar diagramático direito, a justificar avaliação complementar por cortes coronais em ressonância magnética para melhor avaliação da aorta.

(Desenrolamento da aorta condicionando falsa imagem? Dissecção da aorta?)

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Boa Opinião

Alfredo Vieira
Data Quinta-Feira, 18 de Dezembro de 2003, 11:14
Para medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: genéricos...
Exmo colega...

A tal polémica de que falou, sobre a prescrição deste ou daquele mesmo princípio activo de marcas diferentes, só existe por um motivo: não temos qualquer razão. Nenhuma razão. Acreditamos na ciência e sabemos bem que não conseguimos distinguir entre duas moléculas diferentes. O empirismo com que nos defendemos é insustentável, e incrivelmente corrosivo para a nossa credibilidade. A distinção requer estudos cuja complexidade os desenquadra das nossas possibilidades. A distinção cabe ao Infarmed. Nós só podemos fazer uma coisa: acreditar no mesmo princípio activo, e julgá-lo por igual a outro descrito como sendo igual.
Há corrupção na classe, e o colega sabe-o. Desde a pequena e inofensiva "simpatia" do congresso da treta em local distante para turismo, até à oferta, diz-se, de dinheiro e bens, casos obviamente de polícia. Depende sempre da consciência do médico, e essa consciência não se despe, nem é comprovável em televisão, nos jornais e em tribunal.... Claro que também há os patrocínios de congressos com valor inequívoco; para apresentações de casos clínicos, de estudos, etc.... Mas o que há sobretudo é a apresentação do fármaco x pelo laboratório y, e que não interessa, cuja informação real se encontra em 2 linhas de muitos sítios da internet e das revistas a que temos acesso... Essa situação, já o compreendeu, desgosta-me muito. Somos uma classe intelectualmente ímpar, honrada, e que se torna vítima de ataques vis, por um assunto ridículo como este, e pela atitude vergonhosa de alguns de nós. Que, hoje em dia, e graças aos meios de comunicação que desgraçadamente temos, mina a credibilidade de todos.
Sugestão: acabe-se pois com a diversidade de marcas de um mesmo princípio activo. De uma vez por todas. Que alguém, no ministério, se responsabilize por um concurso entre todas as marcas de cada princípio activo, e só permita a comercialização de um único. Que se tire do médico o ónus da escolha, e a suspeição do favorecimento ilícito. E agora, e em maiores proporções concerteza, do farmacêutico.... E que desse modo o estado assuma, também, a responsabilidade do produto que comercializa.
Quanto ao efeito placebo, todos sabemos que a água disfarçada de fármaco "cura" uma boa parte dos nossos doentes. 20-30%, dizem alguns estudos.... Esse efeito depende, porém, da acção do médico, que o confere ou não a um placebo, conforme a vontade e a arte lho permite. Por isso, o efeito placebo de um medicamento de marca obviamente que deixa de existir se um médico prescreve o genérico pouco convictamente. Mas isso seria uma longa conversa, o essencial resume-se ao facto de pouco importar a realidade do fármaco no efeito-placebo, mas antes o médico, e a sua relação com o paciente.

...

Alfredo L S Vieira


terça-feira, dezembro 16, 2003

Aborto

O Mata-Mouros refila quando vê a esquerda folclórica a rejubilar pela captura do Saddam, depois de contestar a guerra. Até certo ponto, com razão.

Eu refilo quando vejo a "direita folclórica" (e acrescento hipócrita) e os seus representantes (até o CDS/PP) a chorarem lágrimas de crocodilo pelas coitadinhas das mulheres que se sujeitaram à IVG, particularmente depois das corajosas palavras do Bispo do Porto.

Depois de inventarem filmes, vídeos, fotografias, casos, adulterando a ciência, criando devaneios filosóficos, dando vida ao zigoto, reconhecendo a mórula, apadrinhando a blástula, idolatrando o blastocito, exigindo ao embrião um bilhete de identidade e obrigando o feto a pagar impostos, conseguiram que o referendo lhes desse razão. Foi uma ditadura sem ditador. Mas conseguiram o que desejaram. Muitos continuaram a ganhar rios de dinheiro.

Para depois abandonarem a pessoa após o nascimento. Não é novidade que a direita é individualista e a esquerda colectivista.

Por outro lado, nunca tive simpatia, quer por médicos, quer por enfermeiros, que enriqueceram com o azar, a angústia e insegurança alheia. Fazer um aborto era (ainda é) ilegal, não se passavam recibos, não se pagavam impostos. Foram milhares, milhões de contos que foram gastos em actos clínicos, por vezes em condições deploráveis, sem higiene, sem qualquer apoio psicológico às mulheres que eram obrigadas a abortar.

Muitas vezes fui (sou) procurado para receitar medicamentos ou indicar moradas. Nunca o fiz. Sabia que essas mulheres poderiam correr muitos riscos. Sempre aconselhei a deslocarem-se a Espanha. Era sempre um investimento muito mais seguro. O Público desde há anos que traz aquele pequeno anúncio amarelo ... com morada em Badajoz.

Assim aconteceu na semana passada quando uma jovem irrompe pelo consultório, aos prantos, exigindo que lhe desse medicamentos para abortar.

Sabia que tivera uma nascimento sem afecto, uma infância atribulada, uma adolescência atribuladamente inconfessada. O afecto passou-lhe sempre ao lado.

Há alguns anos encontrou a bonança, a serenidade, quase o sossego. Juntou-se com alguém que sempre amou. Durante 24 meses lutou para engravidar, para ter um filho desejado.

Há meses conseguiu. Estava contente. Ia ser mãe. Poderia ser feliz e dar a alguém aquilo que não teve.

"Vou ali e já volto." Disse-lhe o companheiro um dia. Não voltou. Ainda não voltou. Mas voltou a solidão, a tristeza, o desassossego.

"E agora, doutor, que vou fazer! Estou desempregada. Estou grávida. A casa está em nome dele. São quarenta contos que vou ter que pagar. Do subsídio de desemprego recebo 40 contos. Os meus pais já me disseram que não é nada com eles. A mãe do X, também já disse que o problema não é dela. Não consigo emprego. Tem que me ajudar. Não posso ter este filho! Não lhe posso dar, o que lhe queria dar!"

Impotência, foi o que senti, mas nada lhe poderia fazer. Fiz-lhe ver que tinha direitos. (Mas não imaginei nenhuns!).

Falei-lhe em Espanha, mas até me envergonhei. Para quem está abandonada e o que ganha será para a renda, senti-me ridículo.

Senti ódio para com a sociedade hipócrita, que cria estes casos e não os pode resolver.

Foi mais uma consulta gratuita no consultório particular.

Não sei como acabou ou acabará esta história...

segunda-feira, dezembro 15, 2003

E Não Se Pode Capturá-los, Também?

Mário Baptista, no Diário Económico, de 15/12/03:

Lisboa vai ter quatro hospitais num espaço de dois quilómetros



"Na linha dos hospitais de Santa Maria e da Cruz Vermelha deverão ser edificados mais dois hospitais privados.

Daqui a uns anos, a Avenida Lusíada bem pode passar a ser conhecida pela Avenida dos Hospitais. É que entre o centro comercial Colombo e o Estádio Universitário, os lisboetas e não só terão à sua disponibilidade quatro hospitais. Para além dos dois já existentes - o de Santa Maria e o da Cruz Vermelha - o Grupo Espírito Santo (GES) e a Caixa Geral de Depósitos, através da Hospitais Privados de Portugal (HPP), vão também edificar duas novas unidades de saúde.

"... o Hospital das Lusíadas. Isto, claro, se a Câmara Municipal de Lisboa licenciar a obra proposta pela empresa participada da Caixa Geral de Depósitos. Se isso acontecer, «o hospital começará a ser construído em 2005», revela ao Diário Económico o administrador da HPP. Luís Vasconcelos adianta que o investimento previsto «ronda os 30 milhões de euros» e mostra-se esperançado em «inaugurar o hospital em 2007».

O objectivo é «alargar a oferta a todos os clientes de todas as seguradoras», sejam eles clientes ou não da Fidelidade-Mundial, a empresa seguradora do grupo da Caixa.

.../...

Dois anos antes, já deverá ter aberto o Hospital Colombo, do Grupo BES. Com um investimento na ordem dos 85 milhões de euros, já noticiado pelo DE, o hospital terá cerca de 130 camas, com especial vocação para o tratamento de adultos. No mesmo local, «para além do hospital de agudos, haverá uma residência medicalizada e um conjunto de cerca de 100 residências assistidas destinadas primordialmente ao segmento da terceiro idade», disse ao DE a administradora da Espírito Santo Saúde, Isabel Vaz.

Para além da construção destes hospitais privados, estes dois grupos vão também concorrer ao Hospital de Loures, que será construído e gerido por um grupo privado, apesar de fazer parte da rede do Serviço Nacional de Saúde."


Muito se tem falado na promiscuidade publico/privado dos médicos (o que por vezes acontece, sem que se fale muito disso, depois, pois geralmente são médicos influentes nas várias esferas de poder...). O exercer medicina em dois locais diferentes, não é promiscuidade.

Mas o que dizer de empresas que se irão candidatar a construir e gerir hospitais públicos e privados? Não será promiscuidade do capital? Não haverá depois conflito de interesses? Para pensar!

"Esconder erros é pecado mortal"

Isa Alves, no Diário de Notícias de 13/12/03:

"O erro médico é «inevitável». Os médicos consideram-no resultado das contingências da prática clínica moderna. Para os advogados, é «incrementado» se os pacientes não forem informados até ao seu esclarecimento. O frente-a-frente entre as duas ordens profissionais decorreu durante o congresso «Erros, Negligência e Responsabilidade Civil e Penal dos Médicos» e promoveu o debate sobre as situações-limite entre o erro e a negligência da actividade médica e as suas consequências jurídicas.

«Os erros são inevitáveis, mas tratáveis. É necessário identificá-los e revelá-los. Esconder os erros é um pecado mortal, em ciência», defendeu o neurocirurgião João Lobo Antunes.

A questão da relação médico-paciente focou o imperativo de uma actuação médica baseada no «consentimento informado» do doente. Para isso, «os médicos têm que cuidar da sua retórica» e utilizar uma linguagem comum, defendeu o advogado João Vaz Rodrigues. Mas adiantou: «O dever de informar o paciente tem de se cruzar com o dever de informar do próprio paciente, um dever de colaboração.» Para o clínico António Vaz Carneiro, «a prática clínica é complexa, arriscada e incerta e, por isso, marcada por um risco elevado». Comunicar o risco aos doentes «é difícil». E as contingências «atrapalham e invalidam o acto da comunicação», rematou."

domingo, dezembro 14, 2003

A Paz Para Os Iraquianos, O Petróleo Para Os EUA do Norte!

Os seus grandes feitos e descobertas científicas, a referência que é para todos os médicos, contrastam com a sua política expansionista, a falta de democracia interna (apenas participam nas eleições menos de 20% da população), a gritante pobreza, a apologia constante da guerra, a indiferença para todos os atropelos (crimes) que os seus amigos possam fazer, a falta de perspicácia para reconhecer as diferenças históricas e culturais de outros povos, a imposição permanente da sua vontade.

Conheço os EUA, tenho amigos americanos, adoro o american way of life da classe média, mas, politicamente encontro-me nas antípodas da sua política hegemónica.

Por isso, ao contrário de todos, não rejubilo com a captura de um ditador. Um ditador é só um homem.
E quando se fala de mortes, assassínios e outras matanças colectivas, não nos podemos esquecer do rol, no qual o ditador Saddam é só uma linha e nem será a primeira, independentemente da escolha para o ordenar.

sábado, dezembro 13, 2003

Ai Margarida, Margarida!

"A Margarida entrou na medicina interna dos miúdos - a pediatria, claro. E só pelo brilho daqueles olhos, valeu a espera. E a ansiedade de meses. Sim, meses.", lê-se no Cibertulia

Mas a ansiedade, só agora vai começar. Ser médico, hoje em dia é uma profissão de alto risco, e com tendência para piorar.

Em cima de nós, o peso (o medo) da responsabilidade, o peso das instituições, dos lados, a comunicação social, os doentes, os advogados, por baixo, o piso escorregadio da gestão constante do risco, da incerteza, o que pode parecer um síndrome gripal, pode acabar numa epiglotite (já que a pediatria foi a escolha!).

Se voltasse para trás, escolheria uma especialidade sem doentes ou sem responsabilidades.

A Margarida escolheu uma especialidade generalista (serão três: a medicina geral e familiar, a medicina interna e a pediatria), nestas, vai ter que saber de tudo: não se pode dizer "eu só trato do coração, para isso vá ao meu colega", poderia escolher uma especialidade clássica, a cardiologia, a neurologia, ou uma cirúrgica, a cirurgia geral, a cardiotorácica, a orl, ou uma tecnológica, a imagiologia, a medicina nuclear, ou então uma sem doentes, a patologia clínica, a anatomia patológica, a farmacologia clínica. Ou então as da moda: a pedopsiquiatria, cirurgia plástica, reconstrutiva e estética.

Mas uma coisa é certa, quanto mais o contacto com o doente, mais ansiedade.

Confesso que, apesar de uma experiência de 22 anos, cada dia, especialmente dia de banco (como vai ser amanhã e ainda aqui estou!) é como se fosse o primeiro dia.
E confesso: não há dia de banco, sem 0,5 mg de alprazolan à entrada, para apaziguar a ansiedade e sorrir quando sou insultado, não ouvir, quando me gritam, e especialmente não sofrer por antecipação, com medo de errar, com medo de ser acusado, com medo de ser manchete nas televisões...

O Meu Pipi, O Teu Xixi e O Chichi dos Outros

Continua o amigo Boticário (é um trengo, este poveiro):

Os médicos blogueiros (o Besugo do Blogame mucho, o Médico explica, o Gasel do Dias que voam e o O Coiso) [e outros, como O Bisturi, Urgência Interna, Médico à Solta] não perderam a oportunidade para cerrar fileiras e refilar em uníssono. Entre outras coisas disse-se que parece que a furosemida genérico faz fazer menos chichi do que a marca Lasix. Que nabos, que cientistas de meia tigela, porque não produzem um ensaio clínico que prove estas patéticas afirmações?

Pergunto: e não acha estranho que muitos, que não se conhecem, digam o mesmo?

E parafraseando o outro: genéricos há muitos …

"A Aventis (ex-Hoescht) havia de lhes dar a ganhar um dinheirão a proferir palestras por esse mundo fora. O Daniel Kenedy teria sido afastado da selecção nacional por se ter dopado com o genérico ou com a marca? Que parolos!”

Parolos, só parolos? Não.

Os médicos são uns filhos da puta, uns cabrões, uns chulos, uns energúmenos, uns nabos, uns podres, uns parasitas da sociedade, uns rotos, todos, todinhos, desde o Egas Moniz (prémio Nobel), passando pelo bastonário, até ao argentino que aterrou em Barrancos).
E se querem mais caralhadas vão ao O Meu Pipi"

P.S.: como podem ver, os médicos não são deuses, nem santos. São pessoas, que também se irritam e falam mal e pecam também!

Farmácia, Farmacologia, Terapêutica, Placebo

O Trenguices respondeu à polémica lançada pelo Lápis de cor.

Embore concorde com 80% dos seus comentários, tenho pena que o amigo Boticário de Província não consiga despir o seu corporativismo, nem a sua alma anti-médico.

E até concordo numa coisa:

- os médicos não percebem de Ciências Farmacêuticas – Farmácia: do Lat. pharmaciu < Gr. pharmakeía. s. f., ciência e arte da conservação das drogas e da preparação dos medicamentos; estabelecimento em que se preparam e vendem produtos farmacêuticos testados e autorizados; profissão de farmacêutico; colecção de medicamentos.

Mas percebem e muito de

- farmacologia - do Gr. phármakon, veneno, remédio + lógos, tratado; s. f., parte da Medicina que estuda os medicamentos e que trata do seu emprego ou aplicação,

- e de terapêutica - do Lat. therapeutica < Gr. Therapeutiké, s. f., Parte da Medicina que trata da escolha e aplicação dos meios de curar doenças e da natureza dos remédios; tratamento das doenças. in Dicionário de Língua Portuguesa On-Line, da Texto Editora.

Mas se nós não percebemos de Farmácia, os farmacêuticos muito menos percebem de patologias, doenças, diagnósticos, controle metabólico, prognósticos, gestão de riscos, polimedicação, polipatologia, etc., porque se percebessem, seriam médicos e não farmacêuticos.

Outra afirmação do Trenguices:

Em Portugal são comercializados *, (mais grave) comparticipados ** e (mais grave ainda) largamente prescritos medicamentos de eficácia mais que duvidosa. Isso, medicamentos que não servem para nada, a não ser como placebo.”***

* – quem comercializa? Empresas de farmacêuticos, sejam as farmácias, sejam os laboratórios da indústria farmacêutica;
** – quem decide a comparticipação? O Infarmed, gerido por farmacêuticos.
*** – o placebo e o seu efeito, também são uma arma terapêutica. E muito importante. É preciso é saber utilizá-la. Ao desvalorizá-lo, mais uma vez se demonstra quem é médico e quem não é.

E isto acontece porquê?” Exclama o nosso vizinho:

Porque os médicos percebem pouco de medicamentos, estudam pouco, agem muito numa base empírica e deixam-se embalar pelas cantigas mal ensaiadas da propaganda dos laboratórios (não, não estou a falar de corrupção!).
…/…
e os médicos recusam-se a obedecer a protocolos terapêuticos.”

E quem faz os protocolos terapêuticos? Não serão os médicos?

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Literatura Médica IX

Nº Registo: Código: Data:
Nome:
Idade: 61

Tipo de Exame: Registo Poligráfico de Sono Nocturno em Laboratório (EMBLA)

EEG poligráfico de sono nocturno em laboratório (EMBLA), com registo de 4 canais de EEG, EOG, EMG, EMG do membro inferior, ECG, respiração torácica, fluxo oronasal, oximetria e sensor de roncopatia.

A latência do sono é igual a 72 min., está pois aumentada.
A eficiência do sono é de 70%, está portanto reduzida.
A vigília distribui-se por períodos breves, ao longo de toda a noite.
FASE 1: Predomina sobre todas as outras fases, em duração. Pontas do vértex não foram observadas.
FASE 2: Fusos muito abundantes e de pequena amplitude. Complexos K de morfologia simples.
FASE 3 e 4: Ondas delta de amplitude moderada.
A percentagem de sono lento profundo é igual a 2,3%, estando portanto diminuída.
A ciclicidade do sono está perturbada.
Não existe fragmentação do sono.
REM: A latência do REM é 292 minutos e a percentagem de sono paradoxal é de 15,2%. Ondas em dente de serra presentes, média amplitude. MOR's presentes.
POST's: Muito abundantes e simétricos.
Despertares: 4,8/ hora « 60 segundos) e 1,9/ hora (> 60 segundos).
ECG: Tem características normais.
EMG dos membros inferiores: PLM's com índice de 18,7/ hora.
Parâmetros respiratórios: Apneias, das quais as de tipo central predominam na primeira metade da noite e as de tipo misto predominam na segunda metade da noite.
APNEIAS:
- Centrais: 263
- Obstrutivas: 17
- Mistas: 102
- Hipoventilações: 99
O índice de apneias é de 32 / hora e o de hipoventilações é de 8 / hora, portanto está aumentado de forma acentuada.
RONCOPATIA: Com índice de 79%.
OXIMETRIA: O ODI = 24 / hora. A oximetria de base é 92% e o valor médio é 89%, sendo que os episódios de dessaturação distribuem-se da seguinte forma: 2% = 101; 3% = 64;
4% - 9% = 93; 10% - 20% = 25. Observam-se também períodos em que o Sa02 é
<90% sem que ocorram apneias ou hipoventilações.

CONCLUSÃO:

Apneia do sono com roncopatia e algumas hipoxemias. Movimentos periódicos do sono.

À Lolita Respondo Depois. Ao Besugo Agradeço.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

A Pedido do Lápis de Cor

Este simpático blog lá para os lados das terras dos poveiros e vileiros (Póvoa de Varzim e Vila do Conde, respectivamente) questiona-me por e-mail e também no seu blog, sobre o porquê dos silêncios sobre uma notícia do Público. No seu bilhete dá algumas respostas. Concordo com algumas.

Mas tenho um princípio com muitos anos: todas as notícias em jornais generalistas, que envolvam laboratórios de indústria farmacêutica ou simplesmente medicamentos, em geral trazem água no bico.

Isto é, as grandes multinacionais da indústria farmacêutica não procuram assediar só os pobrezitos dos médicos portugueses. Não é o que se vende em Portugal que dá lucro às multinacionais. Quero com isto dizer que os investimentos das multinacionais dos medicamentos são investimentos globais. Mais vale uma frase ou uma notíica cirurgicamente divulgada pelos órgãos da comunicação mundial, do que comprar o médico prescritor ou a farmácia vendedora.

Por isso, para mim, todas estas notícias têm sempre um objectivo oculto, que poderá ser como bem disse o Lápis de Cor a preparação para uma qualquer nova notícia ou divulgação de novos produtos.

Não tenho dúvidas que o futuro está na genética. Estará nos medicamentos que para lá se dirijam. A biotecnologia, a engenharia genética ou outras técnicas semelhantes vão ao encontro do que é dito no blog do lápis: "as declaracoes do vice-presidente da divisao de genetica da GlaxoSmithKline devem ser lidas com incentivo e alento ao desenvolvimento de novas tecnicas de “drug-delivery” com taxas de eficiencia superiores as actuais", .

Que muitos medicamentos não têm o efeito dejesado, já nós, médicos, o sabemos no nosso trabalho diário, caso contrário não morreria ninguém com enfartes, infecções, etc (embora para muita gente, televisões na cabeça do pelotão, o médico e o medicamento têm que curar tudo, da mesma forma inversa, que o tabaco e outros produtos nunca fazem mal).

Confiram a 12ª Model List of Essential Medicines da OMS e se houver coragem política e económivca, apenas se comparticipariam os medicamentos que constassem dessa lista, que é constantemente actualizada.

Mas como é óbvio, se o universo de medicamentos disponíveis se reduzisse assim tanto, quem perderia? Os médicos? As farmácias? Os laboratórios? Pensem e meditem!

Quem lucraria, sei eu: Portugal e os portugueses.

E eu que pago impostos!

Parabéns ...

Ao Mata-Mouros/CCA pelo seu melhor prémio às 23.15h do dia 06 de Dezembro de 2003.

Ao Aviz pelo seu melhor visual

Ao FCP pela sobriedade que NOS mostrou e pela defesa que fez e faz do futebol português no mundo, da qual todos lucrarão, incluindo os seus adversários...

Converti-me

Dia 10 de Dezembro de 2003 será um marco na minha vida. Será o dia da Conversão!

Após algumas recusas, hoje cedi e fui fazer uma consulta domiciliária a um casal vizinho, simpático que não merecia mais uma recusa, nem mais uma desculpa.

Bem abençoado dia. Se não fosse este dia, nunca teria visto a Luz, a Luz que a Ciência sempre me escondeu. Mas hoje abriu-se a Porta.

Após ter consultado o simpático casal, sentado na sua cozinha, enquanto "inventava" alguma receita para quem não está doente, mas tem que estar doente, pois uma consulta sem um papelinho no final a que se convencionou chamar receita, não é uma consulta, reparei num pequeno frasquinho com um líquido arrocheado que me despertou a atenção. Perguntei com ar despreocupado, mas curiosíssimo, o que era e para que servia. Resposta imediata, quase em uníssono:
- É um medicamento para tudo. E cá não há. Temos que ir comprar a XX.
- E resulta? pergunto eu.
- Claro! dizem eles novamente afinadíssimos.
- Não vê?

Eu de facto andava era cego. Nunca tinho vista a Luz. A Luz estava ali.

- Posso ver? pergunto novamente.

Nome do medicamento: Perfume Contra Tudo
Preço: 9,66 €
Composição: "contém essências de plantas com grande poder espiritual" (sic)
Tratamento (sic): "durante 9 dias antes de sair de casa faça uma cruz com o Perfume Contra Tudo, na testa e no peito e diga a oração que se segue. Após os 9 dias de tratamento e caso reste perfume deve no dia seguinte deitá-lo no banho." (sic)
Oração: "Deus que tudo criou e abençoou eu lhe peço com o meu amor e minha grande fé que a essência destas plantas sagradas seja para mim um milagre divino que me dê toda a protecção que necessito em nome de Deus de Jesus Cristo da Virgem Maria e dos Santos do altar, amén." (sic)

Como o jovem e simpático casal já ultrapassou a meta do 90 anos e com saúde, é óbvio que se deve inteiramente ao Perfume Contra Tudo.

Assim eles crêem, assim vou passar a crer.

À saída, diz-me o simpático velhinho:
- Posso usar com os seus medicamentos? É que eu todos os dias espalho nove gotas do outro medicamento pela casa e como vê tem dado resultado.
- Sim. Não há problema nenhum. Podem continuar a usar que não faz mal... E vê-se, não é? Vocês estão de boa saúde.

terça-feira, dezembro 09, 2003

Como O Título do Jornal É Falacioso!

No Público de 08/12/2003.

O congresso irá debruçar-se essencialmente sobre o erro médico, pois embora errar seja humano, o nosso pequeno erro pode ter consequências catastróficas..

A negligência não se discute, condena-se!

Mas o jornalista quer é vender e a palavra negliência, vende muito mais!

"Advogados e Clínicos Debatem Negligência Médica
Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2003

Os bastonários das ordens dos advogados e médicos vão debater, pela primeira vez em Portugal, o erro médico, a negligência e respectivas responsabilidades. A iniciativa terá lugar na Universidade Católica de Lisboa, nos próximos dias 12 e 13.

Para além da presença dos bastonários, José Miguel Júdice (advogados) e Germano de Sousa (médicos), haverá ainda, neste primeiro encontro, comunicações a cargo de António Vaz Carneiro (A complexidade da prática clínica: incerteza e risco), João Vaz Rodrigues (Direito da Medicina: a relação jurídica médico-doente) e João Lobo Antunes (O conceito clínico de erro médico).

O corpo principal do congresso será constituído por quatro painéis: "O erro médico versus a negligência versus o efeito inesperado" (Pedro Ponce e João Vaz Rodrigues), "Responsabilidade disciplinar" (Pedro Nunes e Paulo Santos), "Responsabilidade civil e penal" (Álvaro Dias e Germano Marques da Silva) e "Responsabilidade civil e penal, estudos de casos" (António Vaz Carneiro e João Correia).
"

Demagogia Pura!

N'O 1º Janeiro de 08/12/03:

"Idosos vão ter exame de saúde gratuito

Dez mil idosos da Covilhã vão ter acesso anualmente a um exame geral de saúde gratuito depois da assinatura de um protocolo entre a Câmara, a Administração Regional de Saúde do Centro (ARS) e o Hospital da Covilhã.

A iniciativa, "inédita no País" como afirmou o presidente da ARS do Centro, Fernando Andrade, foi apresentada por este subscritor do protocolo como "um exemplo da forma como uma autarquia pode assumir responsabilidades ao nível da saúde".

Aquele responsável disse ainda que vai utilizar este programa destinado a portadores do Cartão Municipal do Idoso para convencer outros municípios a fazerem o mesmo.

O documento foi assinado durante o almoço de Natal oferecido aos idosos do concelho e que juntou cerca de três mil pessoas.

A iniciativa da autarquia entrará em vigor em 2004, devendo, ao longo do ano, os idosos receber em casa uma carta para que realizem o exame geral no centro de saúde da cidade.

Transferências

"Os casos que necessitem de cuidados diferenciados serão conduzidos para o Hospital da Covilhã", explicou Miguel Castelo Branco, presidente da unidade de saúde, prevendo que as especialidades de neurologia e ortopedia serão as mais chamadas a intervir. Carlos Pinto, presidente da Câmara, lembrou que a ideia já tem cerca de três anos, mas que "não foi fácil trabalhar este modelo, porque em Portugal tudo o que é novo merece desconfiança". "Na Europa, os poderes locais desde há muito que têm uma intervenção na prestação de cuidados de saúde que vai para além da construção física de instalações", lembrou.

O Cartão Municipal do Idoso é gratuito e foi lançado pela Câmara da Covilhã em 1998
."

domingo, dezembro 07, 2003

Morte de Sá Carneiro

A história que o Mata-Mouros conta sobre a sua experiência vivida nessa data, há 23 anos, fez-me lembrar a minha:

jovem médico licenciado há um ano e meio estava de serviço ao banco do Hospital de Santa Maria, no internato geral e exercendo ainda medicina tutelada, tendo sido dada ordem (nunca percebi bem por quem) para não abandonar o hospital até que a situação fosse esclarecida.

Aí percebi que os médicos nos serviços públicos não têm liberdade total. Compreende-se. Só é pena é que sejam tão mal tratados por esse mesmo Estado.

Não chorei, como o Mata-Mouros, mas, sinto-me identificado com o percurso dos seus amigos descrito no Post Scriptum: de militante empenhado politicamente em 1980, hoje, não voto, olho a política com descrédito, mas não fecho os olhos às injustiças sociais que infelizmente são cada vez mais...

sábado, dezembro 06, 2003

"The Heaviest Repeat Users of an Inner City Emergency Department Are Not General Practice Patients"

The aim of these Australian researchers was to test the hypothesis that frequent attenders at emergency departments (ED) are suitable for diversion to general practice. They undertook a retrospective review of a computerized database for the top 500 frequent presenters to an inner city adult teaching hospital ED.

They found that 500 patients presented 12 940 times, an average of 26 times per patient, accounting for (8.4%) of total ED presentations over 64 months. There were 7699 (59.5%) presentations deemed appropriate for ED. Of the remaining 5241 presentations, 1553 (29.6%) were between 22.00 and 07.00 hours, outside the hours of most actual or proposed primary care clinics. This left 3688 (28.5%) presentations by the heaviest users of the ED as potentially appropriate for general practice. Of these presentations 1507 (40.9%) were by people who were homeless. A total of 2574 (69.8%) had pre-existing case management, either by the hospital or another service. 978 (26.5%) had primary psychiatric or altered conscious states due to drugs and alcohol as the presenting problem. At least 90 of these 500 frequently presenting patients died during the study period.

The researchers concluded:

"The majority of the presentations by the heaviest users of an ED in a city teaching hospital are not suitable for general practice. Attempting diversion of the heaviest repeat ED users to a general practice in this setting may not be successful due to the severity, acuity and nature of casemix of the presentations and would have minimal impact on crowding in similar emergency departments".


Emergency Medicine Volume 15: Issue 4 August 2003 © Australasian College for Emergency Medicine, Australasian Society for Emergency Medicine, Blackwell Synergy. ICPC-2 Category HSR. Health Services Research
The heaviest repeat users of an inner city emergency department are not general practice patients. Andrew Wesley Dent, Georgina A Phillips, Antony J Chenhall, Lachlan Robert McGregor

Vós os que fumais, meditai!

Faleceu mais um médico.
De repente.
Subitamente.
Sem aviso.
Durante uma reunião.
Tinha 55 anos.
Paragem cardíaca.
Era fumadora. Muito.

Literatura Médica VIII

ESTUDOS FUNCIONAIS DO ESÓFAGO :

NOME: Maria
MÉDICO ASSISTENTE: dr. - , Motivo do exame: HH e RGE .
DATA: --/--/--.

1) MANOMETRIA ESOFÁGICA:

1.1 - ESFÍNCTER ESOFÁGICO INFERIOR (EEI) determinado com sistema de perfusão (4 cateteres radiais), pela técnica de retirada progressiva.
. Localização: dos 43 aos 42 em asa do nariz com 1 cm de comprimento e com segmento intra-abdominal de 0 cm.
. Pressão média: 10 mmHg
. Relaxamento: normal.

1.2 - PERISTALSE ESOFÁGICA DO CORPO, determinada com 10 deglutições de água (deglutições húmidas) com cateteres colocados a 3, 8, 13 cm acima do EEI.
. Ondas peristálticas - 30 %
. Ondas não transmitidas - 70 %
. Ondas simultâneas - %
. Amplitude média - 27 mmHg.
. Duração média - 3,3 seg.

2) pH METRIA ESOFÁGICA AMBULATÓRIA DE 24h (1 CANAL) pHmetria de 24h, com eléctrodo de antimónio, colocado 5 cm acima do E.E.I determinado por manometria
. % de tempo total de pH < 4 = 2,0 %
. % de tempo de pé pH < 4 = 3,1 %
. % de tempo deitado pH < 4 = 0 %
. Score DeMeester - 7,4.

CONCLUSÃO:

E.E.I. intratorácico compatível com hérnia do hiato. Alteração marcada da peristalse com presença de 30% de ondas peristálticas de baixa amplitude - hipoperistalse - e 70% de ondas não transmitidas. Phmetria de 24h normal com índice sintomático para dor torácica de 0%
«motilidade esofágica ineficaz» propõe-se: repetição do estudo monométrico dentro de 3 a 6 meses, sob terapêutica com IBP.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

THS* - Um Negócio de Milhões

De que lado se vai colocar a comunicação social?

Quanto pagarão os laboratórios da indústria farmacêutica aos media para publicar notícias agradáveis sobre este assunto?

O Diário Digital de 04/12/03 com este título "THS: Ordem dos Médicos desvaloriza conselho do Infarmed" já dá o mote. Isto é, a comunicação social sempre tão lesta em criticar e achincalhar uma classe, desvaloriza um conselho de uma estrutura independente (Infarmed) baseada em estudos sérios e credíveis para valorizar a opinião de um bastonário com formação em análises clínicas. E muito sinceramente, aquilo que algumas sociedades portuguesas possam dizer sobre este assunto poderá não ser independente....

A verdade é que:

Segundo dois estudos recentes, um com mais de 17.000 mulheres realizado nos EUA, demonstrou-se inequivocamente que a utilização prolongada da THS aumenta:

- risco acrescido de enfarte do miocárdio, de tromboembolismo venoso, de AVC hemorrágico, de demência, de cancro da mama e de cancro do endométrio.

O benefício-risco das indicações (prevenção da osteoporose e de fracturas em mulheres de elevado risco e tratamento dos sintomas de climatério) pende para o lado dos riscos, que são muito mais importantes.

Só que esta terapêutica (com milhões de mulheres na menopausa) é muito rentável ....

* Terapêutica hormonal de substituição

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Urgências Pediátricas - Algo Mais do que o Show-Off

Estamos perante um problema empolado por todos os intervenientes.

Para mim estamos perante uma questão de falta de autoridade do Estado.

Assistimos a um show-off do pediatra Gomes Pedro.

Assistimos a uma enormidade lançada pela boca do Emídio Rangel.

Assistimos ao desenrolar das notícias alarmantes da comunicação social: primeiro dizem-nos que há um surto de meningites, depois que a gripe nos vai matar a todos, depois que não há médicos suficientes, depois que não médicos, imagine-se para as urgências, primeiro de obstetricia, agora de pediatria. Por outro lado, anunciam com pompa e circunstância a construção de mais hospitais, Só nos último dias foram três ou quatro que foram anunciados.

Quanto aos médicos pediatras, primeiro dizem que as suas urgências estão atafolhadas de doentes que deveriam ser observados nos centros de saúde, por outro vêm dizer que não querem médicos de família ou generalistas nas triagens dos hospitais pediátricos.

Para mim esta é a vingança do PS pelo ataque ao Ferro.

terça-feira, dezembro 02, 2003

O Vilacondense. O Lasix®. O Blogame mucho. Genéricos.

Todos sabemos que há médicos corruptos, que há engenheiros corruptos, que há jornalistas corruptos,
que há farmacêuticos corruptos, que há políticos corruptos, que há escritores corruptos, que há cronistas corruptos, que há pedreiros corruptos, que há laboratórios corruptos, que há comerciantes corruptos, que há juízes corruptos, que há mendigos corruptos, enfim, todos sabemos que há portugueses corruptos.

Como não há genéricos de direita, nem de esquerda, só genéricos, infelizmente confirmo o que o Blogame mucho afirma: alguns genéricos do Lasix não são de confiança. Se no caso do tratamento do EAP é o médico que fica com essa sensação, no caso da prescrição ser em comprimidos, é o doente que afirma que faz menos chichi com o genérico, como já me afirmaram...

Eu fico com a dúvida d'O Vilacondense.

Mas, não me lembro de ter sido retirado do mercado nenhum medicamento de marca por probemas de fabrico, estruturais. Mas genéricos, já vi, muito recentemente...

segunda-feira, dezembro 01, 2003

European Network for Smoking Prevention (Para os Interessados...)

The European Network for Smoking Prevention is an International non-profit association that aims
to develop a strategy for coordinated action among organisations active in tobacco control in Europe.

The European Network for Smoking Prevention receives financial support from the European Commission
in the framework of the "Europe Against Cancer" programme
.

"VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, PARA QUE SERVE?"

Este bilhete d' O Meu Pipi de Quarta-feira, Novembro 26, 2003, (como são raros, agora...) é mais importante do que parece.

A violência doméstica (sob o ponto de vista médico) tem por base uma doença psiquiátrica.

Mas a mensagem subliminar do bilhete é verdadeira!

Para pensar....

Gostava de Ter Terminado Em Beleza... Mas Fui Malcriado... Confesso

Depois de dois dias de intenso trabalho (sábado e domingo) medicando aspirinas, hidratação e repouso paras as dezenas (ou mais!) de casos de gripe que solicitaram ajuda, dos quais cito de cor um caso de uma idosa de 91 anos, que ainda resistiu a três dias de gripe em casa, mas que ao quarto teve necessidade de recorrer à urgência, já sem febre, mas com dificuldades respiratórias, acompanhada pelo seu marido, já com um laivos de demência senil, mas que chorou ao saber que a sua companheira teria que ficar internada (desconfiando que seria a última vez que a veria - mas os médicos também sentem estes casos, bolas!) e um outro de uma gripe complicada com uma reação alérgica grave com edema da laringe em curso, mas que não passou despercebida e tratada adequadamente seguiu pelo seu pé para casa (salvei hoje uma vida, bolas!), para terminar em beleza com dois casos de abuso descarado dos serviços de saúde: são 22 h, deveria ter saído às 21 h e ouço à pergunta habitual de que se queixa? a resposta que me iria estragar dois dias de intenso trabalho: senhor doutor vomitei hoje de manhã e venho saber o que se passa. Mas de que se queixa, neste momento, às 22 h? De nada, era só isto. Adiante e diga-me o que se passa com a sua filha (de 18 anos). Responde-me a filha: senhor doutor, doi-me aqui, apontando para a articulação temporo-mandibular. Há quanto tempo, pergunto eu. Há mais ou menos um mês. Um mês? Sim, um mês.
Minhas senhoras, desculpem-me mas este serviço é para doenças urgentes. Vão-se embora e nunca mais ponham cá os pés.

Vou de férias merecidas, senão ensandecia

sábado, novembro 29, 2003

O que faz falta à blogosfera”? Coragem.

Coragem para se assumir apenas no que realmente é.

O meu colega do bisturi intitula uma mensagem que me dirigiu com “obrigado pela coragem”. Mas coragem porquê? Por dizer aquilo que quero, sem me preocupar com o que os outros possam pensar?

À blogosfera falta coragem para se assumir como é. E o que é a blogosfera? Nada e tudo ao mesmo tempo.

É uma anarquia organizada.

Identifico-me a 99% com o texto do FJV do Avis (1% para: "não concordo com dos outros [dos anónimos], só conhecemos os textos e o mau carácter (que transparece sempre), o que é bastante") sobre um outro texto do Paulo Querido com o qual não concordo, quando refere o hipotético efeito nefasto dos blogs de referência. Não consigo alcançar como a qualidade de uns quantos blogs pode ser nefasta à blogosfera. Mas já concordo em que a anarquia do espaço onde “Existem apenas pontos suspensos no espaço digital” (Paulo Querido), os blogs, seja organizada por alguém que se dê a esse trabalho, mas no sentido de uma organização técnica e temporal, que não de conteúdos, agendas ou seja lá o que for que nos impeça consciente ou inconscientemente de transcrever o pensamento.

Por isso o bisturi não tem que me agradecer a coragem. Quem tem um blog, não pode ter agenda nem constrangimentos para dizer o que pensa. E o que disse o bisturi?

Isto:

1- O senhor Azevedo deve ser enviado rapidamente para um país do terceiro mundo para poder lá "exercer" o seu "saber". Do que pude apurar, ele é descredibilizado no seio da sua própria classe.

2- O programa de diabetes nas farmácias é um escândalo, uma verdadeira falta de respeito pelo seguimento e tratamento dos diabéticos em Portugal. Poderiamos simplesmente vigiar a sua hemoglobina glicada para apurar a "eficácia" desse método "tão humano" e comprovar a demagogia e os interesses espúrios que se escondem;

3- A criação de mais faculdades de medicina vai ter um efeito rebound, com excesso de médicos num prazo de 20 anos; vários estudos demonstram que basta uma faculdade para cada 2 milhões de habitantes.

sexta-feira, novembro 28, 2003

Denúncias...

E-mail amigo foi enviado para a caixa do correio com uma mensagem de uma lista de discussão de médicos de família.

"Olá colegas
Por aqui em Lisboa tem acontecido algo "interessante".
O empregado da farmácia "faz o teste", "receita " o medicamento "em promoção", por glicémias "em risco de vir a ter diabetes", ou colest. "um pouco alto" (precisava de medicamento urgente...) e manda ir ao médico para passar a receita e receber a participação. E só agora está a começar...
Futuro risonho, a "ética" profissional destes empregados da farmácia, é ditada pelos produtos em promoção, por acaso os mesmo que nos bombardeiam à porta do CS...
Depois o número de medicamentos "esgotados" (outros, não em promoção...) não pára de crescer, será que há medicamentos sem interesse e ficam esgotados logo na sua requisição? De qualquer modo, como não temos terminais ligados às farmácias, como saber que alternativas, não estão "esgotadas"?
Enquanto que estamos inibidos de entar no terreno de outros profissionais, na promoção e comercialização; publicidade, farmácias, EAD; nada impede no entanto, que estes penetrem no nosso terreno. Ainda há pouco vi um "stand" de livros para enfermeiros e entre outros, lá estavam volumosos livros sobre farmacologia e terapêutica, mais um sinal dos tempos?
Outro caso, um doente que tem feito o acompanhamento por HBP sem queixas, e tinha feito há meses PSA que até estava baixa (1), viu uma campanha na TV e insiste que quer repetir os exames, pois "eles disseram que era importante fazê-los já"...
Muita publicidade e promoção de produtos, disfarçada de informação e os modos de atacar são crescentemente diversos, até à publicidade furtiva...!!!
Outro motivo de aumento de procura, é que os sub-sistemas estão a fechar as portas e mandam as pessoas inscrever-se e recorrer ao CS, alguns já estavam inscritos, mas só agora passam a fazer as consultas no CS e o resto.
Outra, é de pessoas que têm seguros de empresa, mas preferem recorrer ao CS, para quê pagar ao seguro, se nós é que fazemos o serviço?
Depois um que deu uma queda no serviço, e o respectivo seguro envia-o ao CS para fazer os exames e ter baixa...(relato expontâneo do próprio na altura) que eu pús como acidente profissional e depois vem a mulher ou mãe, dizer que a queda tinha sido em casa, naturalmente..., e que ele se tinha enganado...E as funcionárias a dizer para eu "regularizar" a situação, a contento do pedido do utente, assim reforçado na sua aspiração parasitária!!!
Logo fica uma estranha sensação que o mundo à volta não pára...e não vai para mais transparência e rigôr...Ai governança!!!
E que meios temos de justiça e aplicação das regras declaradas e implicitas!!! ou correcção dos desvios? Ou que incentivos ao procedimento pelas regras? É nossa missão fazer de polícias do sistema, armados em D.Quixote, contra tempestades, moinhos, mellos&cia ??
Continuamos o bombo da festa...???!!! O alvo a abater?? por ser o único com o real poder???!!! Note-se que também com o poder de reforçar a identidade local, de refazer comunidades, logo de se opôr eficazmente à anómica mediatização fragmentatória do eu!!! Sua infantilização consumista!!!
Um abraço, ainda na fase de agitação contra o desânimo, a agressão estrutural e a falta de controlo."

Será Que O Sr. Azevedo ...

não conhece estas taxas de mortalidade materna

Mortalidade materna

ANO----Taxa
1960 115.5
1965 84.6
1970 73.4
1975 42.9
1980 19.0
1985 10.7
1990 10.3
1991 12.0
1992 9.6
1993 6.1
1994 9.1
1995 8.4
1996 5.4
1997 5.3

Fonte: DGS do MS.

"Famílias “despacham” doentes psiquiátricos"

Confirmo esta notícia publicada no Diário de Coimbra em 27 de Novembro 2003.

Poder ser que TVI queira entrevistar uma destas famílias exemplares e muito provavelmente fazendo parte do seu share habitual.

"O psiquiatra Adriano Vaz Serra alertou ontem para a existência de um número cada vez maior de famílias portuguesas a quererem «despachar-se» dos doentes psiquiátricos para os hospitais, chegando a privá-los da medicação em casa.
«Há familiares que chegam ao ponto de retirar a medicação ao doente, para que ele descompense de novo e regresse ao internamento hospitalar, depois de ter sido enviado para casa já recuperado», afirmou o especialista de Coimbra, em declarações à Agência Lusa, à margem do V Congresso Nacional de Psiquiatria, que ontem começou nos Hospitais da Universidade de Coimbra."

Este Francisco Sarsfield Cabral É Hilariante

Publicou FSC no Diário de Notícias de 25/11/03 uma curtíssima crónica sob o título Médicos onde mais uma vez vem tentar dizer (mais uma vez!) que a falta de médicos é culpa dos próprios, batendo na tecla de que a concorrência entre médicos é o factor que impede que haja mais médicos.

Acredito que FSC quando vai ao médico, vá só a médicos privados. Acredito e está no seu pleno direito.
Só que a maioria dos médicos deste país está proletarizada, seja no Estado, seja nas seguradoras, seja em empresas do grande capital.
Medicina liberal, privada, de consultório está em vias de extinção. Sendo assim, onde está a concorrência, se não há médicos para concorrer?

Tudo para justificar as corporações, os lobies, etc.

Pretende concluir em grande, mas a sua frase final, acaba por desmentir o que quer provar (que os médicos estão contra mais vagas para Medicina) ao afirmar que:

"o anúncio da futura entrada de mais médicos no mercado suscitou reparos e resmungos de alguns médicos e alunos".

Então, será que só alguns médicos e alunos, fazem uma classe inteira?

quinta-feira, novembro 27, 2003

Este Spam É Hilariante

Agora é fácil conseguir rapidamente médicos e outros profissionais e será sempre mais barato que pagar propinas no público ou privado.

A prática depois encarregar-se-á do resto.

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Este Azevedo É Hilariante!

No 1º Janeiro de 26/11/03 com o título "Liberalizar a obstetrícia" podem ler-se algumas das frases mais hilariantes que já foram produzidas na comunicação social portuguesa pelo Sr. Azevedo, enfermeiro dono de um sindicato e conhecido por se ter apropriado de um sanatório para sua residência pessoal, através de uma doação ao seu sindicato. Os enfermeiros melhor poderão esclarecer esta situação.

"Ter um filho não é um acto (acto ??? ou situação?) patológico, não depende nem nunca dependeu de médicos, e não deve por isso ser «medicalizado». Os enfermeiros demandam a liberalização da Obstetrícia e o retorno ao parto em casa, garantindo ganhos no orçamento dos hospitais."

Por isso é que há anos as taxas de mortalidade nessa área eram o que eram!

"Já diz o povo que "gravidez não é doença". O Sindicato dos Enfermeiros acrescenta, nessa linha de ideias, que "ter um filho não é um acto patológico, não depende nem nunca dependeu de médicos, e como tal não deve ser «medicalizado», como tem acontecido até aqui em Portugal, com alterações incontornáveis nos ciclos vitais da mulher"."

Esta não percebo.

"já havia partos muitos antes de haver clínicos", .

e enfermeiros, acrescento eu

"os enfermeiros portugueses não estão satisfeitos com a ingerência da Ordem dos Médicos nesta matéria. José Correia de Azevedo aponta o dedo à OM por alegadamente querer "aumentar a «medicalização» dos partos, tirando daí as respectivas contrapartidas",

os enfermeiros fá-los-iam em casa gratuitamente?

"a parteira, que é uma enfermeira especializada em saúde materna e obstétrica, é autónoma e não precisa de ser auxiliada",

por isso muitos dos abortos clandestinos são feitos por parteiras sem auxílio e a mortalidade é o que é....

"Agora que a Ordem dos Médicos alarma a população relativamente aos riscos de ter filhos nas maternidades, estão reunidas as condições para o retorno ao modelo holandês dos partos ao domicílio".

Informo que as taxas de mortalidade materno-infantil na Holanda são superiores às nossas em Portugal...

quarta-feira, novembro 26, 2003

Outros Explicadores Para Intelectuais

Renato Pousada:

"De facto não sei qual a real situação dos médicos (e enfermeiros ) e o Racio médico(enfermeiro )/ utentes e o desejável, porque ninguem o diz abertamente e menos ainda como tudo vai evoluir face ao envelhecimento e saidas de formandos. Só sei que há meia duzia de anos um ilustre médico americano que aqui esteve, qdo lhe falaram em carencias de hospitais sorriu e disse : Portugal não tem falta de hospitais, tem isso sim falta de boas estradas e meios de transporte. Bem e se calhar de modernização de instalações, digo eu."

João Carlos:

"Achei muito curioso este artigo ...".

Your Doctor’s Drug Problem

November 18, 2003
By ARNOLD S. RELMAN

The reason drug costs are skyrocketing is that the
pharmaceutical companies subsidize your doctor’s
continuing education.


José Adriano Nogueira Santos:

Epilepsia vs Estigma

Reflexão no tempo, na doença, na vida

No tempo, porque longe vai o tempo em que eramos considerados endemoniados e votados a um ostracismo natural e evidente, pois ninguem conseguia explicar bem o quê, e era mais fácil rotularem as pessoas desta forma e esconde-las da sociedade !!!!!!! ..... Crueldade pura e simples que ainda hoje se vê retratada em muitos noticiários dos canais televisivos (com os locutores a perguntarem a si mesmo porque passam reportagens e notícias sobre este tema !!!!!!)
De certa forma ainda senti e vivi esse tempo em que se era uma cobaia, de forma a ficarmos o melhor possível sem estragar muita coisa

Da doença que mais não é do que um vulgar distúrbio ... a nível das células do cérebro (neurónios). Pasmem-se meus senhores, só é isto.... e quantos distúrbios digestivos não andam por ai a dar conferências de imprensa, a governar, sem se importarem com o cheiro pestilento das suas intervenções.
Só que estes últimos conseguem disfarçar a sua situação e parecerem o que não são, enquanto os Epilépticos não conseguem, pois de repente, sem previsão a máquina deixou de responder ao nosso controle. Será isto a definição de anormalidade??? Entendo que não, .../... Para mim é isso mesmo, que andamos a falar....Uma doença.... mas que tem de ser encarada como tal, quer pela comunidade médica quer pela sociedade, quer principalmente pelo Epiléptico.
Por mim, adaptei-me a esta última situação (da melhor forma), sem vergonha e da forma que me permitiu conviver, ter amigos, praticar muito desporto, namorar, casar ter uma filha.... e continuar neste mundo..... É verdade que esta doença tem uma carga e característica genética , mas de quem é a culpa?????? Voltamos ao ostracismo??? Negam-se as pessoas??? Terminam-se amizades ??? Nunca fiz isto....e não pretendo....

Da vida, pois a vida deve ser encarada como o oposto da morte. Para ser vivida, com as limitações e aptidões que todos nós temos....com as nossas virtudes, com os nossos defeitos, com os nossos umbigos maiores que os os dos outros... enfim, com os problemas e com as alegrias que a vida nos traz e nos dá e também nos tira algumas vezes...Faço isto há 46 anos e não faço mais nem menos do que provavelmente o bébé que acabou de nascer agora, neste momento e nem sonha a tarefa que tem pela frente na sua vida (Hoje, a ciência já se encarregou de evoluir declaradamente neste domínio) .

Não sou médico... Sou um simples cidadão como tantos outros nesta sociedade, que resolveu participar num blog sobre um tema que de certa forma domina (no aspecto mais lato da palavra), já que tendo sido cobaia de muitas alterações medicamentosas, uma das quias me provocou uma hepatite medicamentosa, sente que tem de se acabar definitivamente com este dogma, mas também falar sem rodeios e sem vergonhas do mesmo.

Não é vergonha, não é pecado, nem fizemos nada de mal...... somos pessoas como as outras que muitas vezes nesta vida são pessoas importantes ou pessoas menos importantes.
.../...
"

segunda-feira, novembro 24, 2003

Malícia-de-mulher

O prémio da revelação que o Mata-Mouros atribuiu esta semana, levou-me a cocar e encontrei uma adorável malícia com destinatários:

"DIA MUNDIAL DO NÃO FUMADOR
Deixei de fumar há dois anos e meio.
Antes disso, detestava este dia".

E Não Se Pode Exterminá-lo? Ao Dr D. Grande Amigo do Jaquinzinhos.

O Dr D. grande amigo do Jaquinzinhos é um carapau de corrida. Será por isso que é um grande amigo do Jaquinzinhos?

Mas acreditando que tudo aquilo que é descrito no bilhete do Jaquinzinhos em 20 de Novembro "Faltam Médicos? O Papá Estado Vai Resolver..." é verdade, um bom serviço público que o Jaquinzinhos poderia fazer, era denunciar o Dr D. à Inspecção-Geral de Saúde.

Não é a questão dos exames complementares de diagnóstico que me preocupa, pois seria sempre o Estado a pagar. Por via dos hospitais, por via das transcrições nos centros de saude (e estes médicos também se queixam das transcrições que fazem dos hospitais para o orçamento dos centros de saúde) ou outra qualquer via, com excepção dos seguros de saúde.

O que me enoja, repito enoja, é a falta de produtividade desse importante Dr D., é a ultrapassagem dos doentes marcados para introduzir os doentes do seu consultório. Aceitaria, se a introdução fosse por doença grave já diagnosticada e que necessitaria de uma intervenção terapêutica urgente e hospitalar. Acontece muitas vezes que o recurso aos consultórios privados serve apenas para antecipar um diagnóstico que se prevê grave.

São estes doutores dês que maculam a minha classe. São estes doutores dês que os media chamam às televisões e assim os ajudam a encher os seus consultórios privados.

Como o Jaquinzinhos refere que a conversa foi durante um jantar comemorativo, presumo que já haveria um grau de alcoolémia elevado nesse dr D., pois as facilidades também não são tão simples como transparece na conversa.

domingo, novembro 23, 2003

Quero Uma Maternidade No Meu Concelho, Já!

Quero que os meus netos e bisnetos, assim como os filhos iliegítimos nasçam todos no concelho de onde parti e que presentemente, por não ter uma maternidade por causa do presidente da câmara e da junta, só tem 3500 hab.!

Quero um obstetra de imediato no Centro de Saúde do meu concelho, já!

As Outras Explicações para Intelectutais dos Leitores do Médico Explica Medicina

Gasel do Dias que voam
Data: Sabado, 22 de Novembro de 2003, 18:07
Para medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: Vagas; hospitais e outras coisas

"Boa tarde
Concordo .../... Sobretudo com uma coisa: não há informação, ninguém conhece verdadeiramente a realidade, quase sempre se decide às escuras.

Em relação à distibuição dos hospitais, trabalho num da região do país mais mal servida nesse aspecto (Algarve 2,6 camas/1.000 hab.). Há zonas de Portugal com rácios superiores à média Europeia (> 8
camas/1000 h)
"
* * * *
Alfredo V
Data: Sabado, 22 de Novembro de 2003, 10:29
Para: medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: de um colega...

"É com tristeza que constato que, vítimas que somos de mais ou menos constantes e graves acusações mais ou menos diárias através dos meios de comunicação social, continuemos a manifestar uma constrangedora incapacidade de resposta, de defesa da dignidade do exercício da nossa profissão, e da nossa dignidade pessoal.
Estou de acordo que a classe jornalística em geral, que debita opiniões sobre "nós", é mal formada, mal intencionada, e tem por interesse, se não único, pelo menos primordial, o de vender o tempo de antena ou o pasquim que lhes paga o salário, e que a "ética jornalística" não passa hoje de um hilariante non-sense, que obviamente ninguém consegue levar a sério. .../...

Há um ataque cerrado, pois, ao numerus clausus, e .../... Essa vergonha nacional, que tantos assim apelidam, leva a que só os mentecaptos cujas notas são "brilhantes" acedam ao curso de Medicina, e façam o trabalho lastimoso, vergonhoso e indolente que todos temos oportunidade de ver todos os serões nos telejornais. Isso enquanto os "bons" alunos, só porque ficam uma centésima abaixo dos "brilhantes", e que dariam médicos sensatos, inteligentíssimos, dedicados e virtuosos, são deixados nas ruas da amargura, coitadinhos. .../...

Fará também sentido que, há 10 anos, em que essa vergonha não estava patente no prime time, em que o numerus clausus era de 500 vagas, e em que havia 150000 candidatos ao ensino superior, fosse mais justa a situação, relativamente a agora, em que há mais de 1000 vagas e menos de 100000 candidatos? Não se ficava de fora com média de 18,5, é verdade, mas atrevo-me a um exercício básico de matemática, não querendo falar da curva de Gauss num país que demoniza Pitágoras: será que já se considerou a hipótese dos exames serem menos discriminativos, numa sociedade ridiculamente igualitária e que contribui desse modo para a frustração, só porque não se quer chatear os meninos que estudam (pouco e mal)? Não é preciso fazer contas, basta o bom senso. Esses meninos com 18 valores que ficam fora da faculdade de Medicina, não se iludam, noutros tempos, teriam menos de 12 valores; e quem tiver dúvidas que faça os percentis, e verá; ou que pergunte ao seu stôr de matemática.
Há limites para tudo, até para o ridículo...
"
****
João Tilly do Blog do Joao Tilly . . . actualizado n vezes ao dia
Data: Sabado, 22 de Novembro de 2003, 9:28
Para: medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: João Tilly - textos para idiotas

"Se acha que há médicos e hospitais a mais, dê um saltinho à nossa terra - Seia - onde o Presidente da Câmara e os vereadores da oposição se querem demitir para reivindicar um novo Hospital e médicos ... portugueses!!!"
****
mardevigo
Data: Sexta-Feira, 21 de Novembro de 2003, 18:10
Para: medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: razoabilidade
"E eu que o tinha por lúcido!

Se está com muito tempo livre, se quiser continuar a escrever - e a ter resposta - deverá usar uma linguagem inteligível. Lembre-se que eu nem sequer entendi o seu oculto raciocínio no post que deu origem a esta troca de mails.

M. - de mulher. Sem qualquer dúvida.
"

sábado, novembro 22, 2003

Contra a Ordem, Diz O Fernando Madrinha. Contra O Fernando Madrinha, Digo Eu! (actualizado)

O jornalista Fernando Madrinha numa crónica publicada no Expresso de hoje, sob o título "Contra a Ordem" omite informações importantes, presumo que deliberadamente, para justificar o conteúdo da sua crónica. ´

O Bastonário da minha Ordem, (e repare-se que cada vez há mais Ordens) fez afirmações graves que não reflectem o pensamento colectivo dos médicos, nem as decisões tomadas pelos órgãos eleitos da Ordem dos Médicos.

Fernando Madrinha, na sua crónica de hoje omitiu as importantes declarações dos presidentes das Secções Regionais do Norte, do Centro e do Sul da Ordem dos Médicos proferidas e publicadas há vários dias.

Fernando Madrinha, com o objectivo de malhar numa classe, no seguimento de campanhas primárias de outros órgãos de informação demonstrou, como a maior parte dos jornalistas, que não entende nada daquilo que julga perceber. A iliteracia dos nossos jornalistas, no que à saúde diz respeito é confrangedora.

No que eles se têm especializado é em expor doentinhos, quanto mais desfigurados, melhor. É em divulgar actividades empíricas ditas médicas. É divulgar feiticeiros e bruxos em horário nobre (como hoje na TVI), com tempo de antena gratuito e credibilizando essas actividades exploradoras dos sentimentos do nosso povo. Acredito que sejam reportagens pagas, ou aos jornalistas ou às televisões.

Sobre a falta de médicos:

1 - Não existe ainda nenhum estudo científico e sério que confirme a alegada falta de médicos.

2 - Há em Portugal um excesso de hospitais, um excesso de serviços de urgência, um excesso de extensões de centros de saúde, um excesso de notícias veiculadas pelos jornalistas sobre a falte de médicos.

3 - Há casos de flagrante negligência planificadora da construção de hospitais separados por poucas dezenas de quilómetros: Torres Novas, Tomar e Abrantes; Portalegre e Elvas; Beja e Serpa; Cascais, S. Francisco Xavier, Santa Maria e S. José; Braga, Guimarães e Barcelos; Vila da Feira e Vale do Sousa. Na periferia do Grande Porto a situação ainda é mais caricata: Porto com dois, Matosinhos, Gaia, Vale do Sousa, Feira, Vila do Conde, Póvoa de Varzim (agora unidos), Famalicão, etc (citando tudo de cor e passível de correcção)

4 - Há extensões de centros de saúde, a construir em freguesias com algumas centenas de habitantes.

5 - Houve numerus clausus sucessivamente impostos por sucessivos governos.

6 - Há carências imacreditáveis ao nível do ensino da Medicina em várias faculdades.

7 - Não há incentivos (ou obrigação) de deslocar médicos para o interior do país.

Em conclusão:

Haverá falta de médicos no futuro se não se abrirem mais vagas nas actuais Faculdades de Medicina, é necessário reformular a carta hospitalar de Portugal, sou a favor do aumento das vagas no ensino superior público e entrada através de um exame de aptidão (como antigamente...) e contra as faculdades privadas de Medicina, apenas porque não são necessárias.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Tou Rico!

Finalmente!
Ao fim de 23 anos de carreira na função pública, auferindo um salário base líquido de 1.412,67 euros (283.214,91 escudos) aos quais retiro mensalmente 170.000 escudos para pagar os estudos de minha filha numa universidade pública (ainda sem aumento das propinas!), mais as prestações do automóvel, da casa (pois claro!) e até do computador portátil (bem haja a Fnac!) recebi um e-mail que me levará directamente para o paraíso dos milionários:

"De Manuel Cruz
Data Sexta-Feira, 21 de Novembro de 2003, 1:31
Para medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto Fw: INFORMAÇÃO

Acabei de saber que o Governo Civil de Lisboa concedeu a autorização necessária para o eventual pagamento de um prémio de 225.000 euros em seu nome. Clique já ou digite www.etapafinal.com.

Uma vez que o seu nome foi seleccionado como finalista deste sorteio, é muito provável que o acesso ao apuramento final de vencedores já esteja garantido. Se for esse o caso, peço-lhe que confirme a sua habilitação, seguindo as instruções dadas em www.etapafinal.com. Só assim poderei ter a certeza de que a entrega dos 225.000 euros será feita de acordo com as suas preferências, se o seu nome for apurado vencedor.

Muito obrigado pela sua colaboração,
Manuel Cruz
Director de Concursos
-----------------------------Forwarded by Manuel Cruz---------------
-------------------
HELENA MARTINS
-------------------

To: Manuel Cruz, Arménio Cardoso
Cc:
Bcc:
Subject: APROVAÇÃO DO GOVERNO CIVIL
From: Helena Martins

Recebi a informação de que o Governo Civil de Lisboa aprovou o regulamento do 51º Grande Concurso das Selecções do Reader's Digest. Isto significa que devemos começar a informar os candidatos a vencedores o mais depressa possível. Além disso, as garantias bancárias para o pagamento dos prémios devem ser imediatamente providenciadas.

Helena Martins
Centro de Distribuição de Prémios
"

Se outros receberam semelhantes e-mails, desenganem-se porque eu já sei que fui o escolhido (até porque já tratei a sogra do amigo que vive no prédio da funcionária que leva as pizas ao Manuel Cruz e que ao que dizem exerce muita influência no departamento de concursos das Selecções. E já a ameacei: se não for eu a ganhar, nunca mais lhe passo receitas no corredor!)
Finalmente poderei encerrar o consultório adaptado na garagem da residência (ainda hoje me acordaram às 4 h por uma crise de pânico), deixar de fazer horas extraordinárias ao fim-de-semana e passar a gozá-los doravante com a familia.

Bem hajam as Selecções do Reader's Digest que têm contribuído desde que sou pequenino para a minha felicidade (com a quantidade de prémios que já me ofereceu) e para a minha cultura geral e do meu país com a sua revista impar no panorama científico, cultural e político, nacional e internacional.

Parabéns Manuel Cruz por se ter lembrado deste anónimo médico que explica medicina aos intelectuais!

Se me quiser entregar o prémio eu comunico-lhe de imediato o número da conta que possuo em Gibraltar.

O vizinho Abrupto tem razão. Cada dia que passa o spam aumenta em progressão geométrica. São necessárias medidas urgentes para parar esta praga.

quarta-feira, novembro 19, 2003

No dia em que

comuniquei a alguém que o seu conjuge de 38 anos era portador de um cancro em estado avançadíssimo, de localização inabitual, mas também dependente de muitos anos de tabaco (e nós médicos não somos insensíveis a estas notícias) peço desculpa, pelo menos à M. de Mardevigo, se interpretou mal as minhas palavras: "Sem agulhas, medicamentos, patetices ou palermices" do bilhete anterior.

Refere M. que está dependente do tabaco, que tem muita dificuldade em se desabituar e que sofre por isso.

Tem toda a razão.

O que caracteriza a dependência, os adictos, é precisamente essa dificuldade. Mas também há muita dependência só psicológica que é entendida pelos fumadores como física e que atrasa a desabituação.

Quem fuma cerca de 20 cigarros por dia, não necessitará de grandes tratamentos (regra geral).

Quando me referi a "patetices ou palermices" referia-me às dezenas de terapêuticas ditas alternativas ou complementares que apenas existem para sugar o orçamento e servem-se de casos em que a mentalização psicológica seria suficiente.

Fico feliz por saber que uma milionésina parte do que paguei pelos sucessivos Windows foi bem empregue!

Malária e Bill Gates


"Ministério da Saúde [de Moçambique]
Despacho.

Revisão da política de terapia antimalárica em Moçambique

Em Moçambique, a malária constitui ainda o mais importante problema de saúde pública, sendo a principal causa de morte em crianças.
Durante a estação chuvosa em 1999-2000, cerca de 48% do total de consultas externas e 63 % de todos os internamentos nas enfermarias de pediatria nos hospitais rurais e gerais foram devido à malária. No mesmo período, cerca de 26,7 % das mortes nos hospitais foi provocada pela malária e a taxa de letalidade variou entre 0,4 a 7,3%.
A transmissão é constante atingindo o seu pico no final da estação das chuvas (Março e Abril), dependendo da pluviosidade e da temperatura.
O plasmodium falciparum é responsável por cerca de 90% de todas as infecções de malária …

Nos últimos anos a resistência do parasita aos anti maláricos tem-se mostrado um problema crescente."


A leitura deste despacho do Dezembro de 2002 lembrou-me uma outra notícia relacionada com a malária:

"Bill Gates lucha contra la malaria

REUTERS

Gates, presidente de Microsoft


El hombre más rico del mundo ha donado 168 millones de dólares para luchar contra la malaria e insta a que se intensifique la batalla contra una enfermedad que mata a más de un millón de personas al año, principalmente en África.

"Es hora de tratar la epidemia de malaria en Africa como la crisis que es", dijo Gates, presidente de Microsoft, en una visita al Pams sudafricano de Mozambique.

"La malaria le esta robando a África su gente y su potencial, y más allá de la extraordinaria perdida de vidas humanas, la malaria es una de las mayores barreras para el crecimiento económico de África, ya que agota los presupuestos nacionales y agrava la pobreza", ha declarado.

La malaria es la mayor asesina de África (junto con el sida), matando a unos 3.000 niños al día e impidiendo que el continenete más pobre del mundo ingrese alrededor de 12.000 millones de dólares al año.

Las donaciones de Gates y su fundación superan los 100 millones de dólares asignados mundialmente para la investigación sobre esta enfermedad. Serán usados para financiar investigaciones en nuevas estrategias preventivas para niños, nuevas vacunas y nuevos medicamentos.

Mozambique, uno de los paises más pobres del mundo, es también una de las naciones más golpeadas por la malaria, una enfermedad parasitaria transmitida por un mosquito. La enfermedad destruye glóbulos rojos y deteriora la circulación de la sangre.

Médicos expertos dicen que la enfermedad, que representa también el 40% del gasto público en salud en África, esta aumentando en el continente por primera vez en 20 años, debido a un incremento en la resistencia a los medicamentos.

Sin embargo, el centro de investigaciones mozambiqueño de Manhica, fundado por Gates, está cerca de encontrar un nuevo método para tratar a los niños conocido como "tratamiento preventivo intermitente".

Esta técnica incluye la administración de un medicamento antimalaria llamado sulfadoxina pirimetanina tres veces durante el primer año de vida. Estudios preliminares mostraron que este tratamiento podría disminuir la malaria entre los niños en cerca de un 60%, y reducir a la mitad la incidencia de anemia severa provocada por la enfermedad."


A malária ainda é o que é, porque só existe em países pobres. As multinacionais do medicamento não se interessam pela investigação direccionada para doenças para as quais não haja depois compradores dos medicamentos.

Fico feliz por saber que uma milionésina parte do que paguei pelos sucessivos Windows foi bem empregue!

terça-feira, novembro 18, 2003

A Notícia Tal e Qual

Público, Segunda-feira, 17 de Novembro de 2003
Por ALEXANDRA CAMPOS


"Consultas nos Hospitais para Parar de Fumar Têm Listas de Espera

A maior parte das consultas de desabituação tabágica a funcionar nos hospitais portugueses tem listas de espera. Há um hospital em Lisboa onde os candidatos a não fumadores têm de aguardar dois anos pela consulta (o Egas Moniz) e quem procura a atendimento no Santa Maria é imediatamente informado de que só há vaga no final de Abril. Para Paulo Vitória, o psicólogo que coordena a "Linha SOS Deixar de Fumar", isto é a prova de que em Portugal "o tabagismo ainda não é entendido como uma dependência".

"Ninguém liga nenhuma. Isto funciona à nossa custa", corrobora João Barreto, o psiquiatra responsável pela consulta de desabituação tabágica do Hospital de S. João, no Porto, onde a lista de espera se fica pelos dois, três meses. Com dois médicos e um psicólogo não é possível dar uma resposta mais rápida, até porque a consulta tabágica é apenas uma das muitas tarefas que preenchem o dia-a-dia destes profissionais.

Bem mais optimista, Pais Clemente, o otorrinolaringologista que preside ao Conselho de Prevenção do Tabagismo, interpreta com bonomia este fenómeno, considerando até que é um bom sinal - o de que há cada vez mais pessoas interessadas em deixar de fumar. "Em 1996, havia apenas seis consultas de desabituação tabágica, hoje são cerca de 90 (entre as que funcionam em instituições públicas e privadas) e a procura é grande."

"Deixar de fumar está na moda", remata, satisfeito com esta tendência, que parece ter-se acelerado com recente chegada dos novos rótulos com mensagens-choque sobre os malefícios do tabaco. (ver texto nestas páginas).

Quanto às respostas disponíveis nos serviços públicos, as lacunas estão bem diagnosticadas no Plano Nacional de Saúde, que admite sem reservas a insuficiência do investimento em consultas de desabituação tabágica. Estes serviços "não têm registado o desenvolvimento necessário" e "os poucos que existem não têm recebido os apoios adequados", refere o documento, realçando a necessidade de se investir na formação dos profissionais de saúde, sobretudo os médicos de família.

A verdade é que os médicos que dedicam algum do seu tempo a este problema fazem-no "numa base de carolice", lamenta Paulo Vitória, e o aparecimento e manutenção das consultas dependem quase sempre do seu empenho nesta causa. Para dar uma ideia das limitações das respostas organizadas em Portugal Ajudar a deixar de fumar começa mesmo a ser visto como um negócio com grandes potencialidades em Portugal, a crer na multiplicidade de métodos e de tratamentos que têm surgido na iniciativa privadapara o combate ao tabagismo, Paulo Vitória faz notar que a "Linha SOS Deixar de Fumar" (808208888, atendimento entre as 13h00 e as 21h00 dos dias úteis), a funcionar desde Abril de 2002, dispõe apenas de dois postos telefónicos, quando em Inglaterra uma linha similar tem um "call center" com 120 postos.

12 mil mortes por ano
Com os melhores índices de prevalência de tabagismo na população com mais de 15 anos dos países da União Europeia, Portugal pode considerar-se numa posição confortável, mas a verdade é que o vício do tabaco está a aumentar gradual e sustentadamente entre as mulheres e os jovens, ao contrário do que acontece com os homens.

E, mesmo que as últimas estimativas apontem para um decréscimo na prevalência tabágica - 16,6 por cento da população com idade igual ou superior a 15 anos, de acordo com um inquérito recentemente concluído pelo serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de S. João -, e apesar de as vendas de cigarros terem invertido a tendência crescente desde 2001 (ano que se venderam menos 0,2 por cento de embalagens), .

Mesmo assim, Pais Clemente defende que a luta contra o tabaco se deve basear numa "cultura de os efeitos do tabaco na saúde dos fumadores continuam a ser devastadores. Basta ver que as doenças associadas ao cigarros provocam cerca de 12 mil mortes por ano em Portugal - oito vezes mais vítimas mortais do que a sinistralidade rodoviáriainformação", mais do que em campanhas "radicais e fundamentalistas" contra os fumadores, que poderiam surtir " um efeito contrário". O otorrrinolaringologista sabe do que fala: está comprovado que as mulheres se assustam mais com a mensagem de que fumar provoca rugas e que os homens só se alarmam a sério com o alerta de que o tabaco causa impotência. "Ninguém está preocupado com o cancro ou com as doenças cardiovasculares", lamenta.
"

Em 10 de Agosto de 1982 deixei de fumar. Decidi. Sem agulhas, medicamentos, patetices ou palermices.

Apenas decisão minha! Por opção.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Na Recordação das Vítimas da Estrada - A Lembrança de Quem as Recebe

Um dia depois, mas é sempre dia para nos lembrarmos desta endemia nacional.
Parabéns ao Paz na Estrada e à homenagem do homenagem.
________________________________________________

Em 20 anos de profissão, já assisti no imediato a muitas vítimas de acidentes mortais mas nossas estradas. Muitas histórias poderia contar.
O mais dificil é dar a notícia, e quando a temos que dar a familiares ou amigos a situação torna-se mais amarga.

Há mais de dez anos, o filho de um conhecido meu teve um acidente rodoviário. Como se tratava de pessoas conhecidas na zona, rapidamente a notícia se espalhou e chegou ao conhecimento dos pais. Ainda antes do transporte do sinistrado, já a mãe se encontrava na sala de espera aguardando ansiosamente a chegada do filho trazido pelo 112 da altura, o 115. Desconhecia eu ainda quem era o sinistrado e como tinha visto a mãe, sempre pensei que lá estaria por outros motivos.

O sinistrado era muito jovem, 17 anos, e logo após a entrada, enquanto executava os primeiros gestos automáticos para me inteirar do seu estado (palpar o pulso, ver se respira, se está inconsciente) um bombeiro aponta-me para a cabeça que se encontrava coberta por várias compressas. Ainda antes de calçar as luvas, levantei algumas compressas e deparei-me com uma ferida craneana contusa, perfurante com saída de massa encefálica para o exterior. Era um milagre estar ainda vivo. Mas estava.

Entretanto, chegado o pai já com a notícia de que o filho tinha tido um acidente e de que teria uma ferida na mão. Mal me viu, chamou-me e a sua primeira pergunta foi: a mão salva-se ou não? Nem compreendi a pergunta e respondi-lhe que estava ocupado e que já voltaria para falar com eles. Voltei de imediato para junto do corpo, onde já se procedia a outros gestos básicos.

Depois de tomar a decisão de o transferir de imediato para um hospital central com neurocirurgia, pedi a um enfermeiro para me chamar os pais do sinistrado e entrei noutro gabinete mais isolado para comunicar a gravidade do seu estado e a transferência. Batem à porta e vejo entrar o casal amigo, levanto-me e explico para aguardarem um pouco no exterior, que já os atenderia. Explico que estou à espera de um casal cujo filho teve um acidente de automóvel. "Mas somos nós!", exclamam eles.

Nesse momento fiquei eu sem fala e deixei-me cair na cadeira. Tinha estado com toda aquela família na véspera a comemorar o aniversário do único filho.
E o pai só me perguntava: mas como está a mão? Salva-se a mão?

Arranjei coragem para ser só médico e dizer: "O vosso filho está muito mal! Vai já ser transferido para outro local mais especializado e temo que qualquer coisa de mal lhe possa acontecer durante a viagem. Tem uma ferida muito grande na cabeça e está em coma. A mão de facto está muito mal, mas nem me preocupei. Não se pode perder tempo."

O pai dá um murro na mesa e desata a correr para o seu veículo para perseguir a ambulância que já se dirigia para o local da evacuação.

Ao quarto dia, foi mais uma vítima mortal da sinistralidade rodoviária, que entrou na estatística apenas como ferido grave ...