segunda-feira, setembro 29, 2003

Uma História de Hoje (Profissão: Escrever), Antes de Um Período de Reflexão

Chegar a casa, a pensar em descansar, responder a alguns e-mails, entre os quais ao Sr Hugo Almeida, dando a mão à palmatória, e depois receber o mail que no post anterior divulgo do mesmo senhor, deprimiu-me.
Conto a história (já sem convicção) e vou parar para reflectir!

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Foi uma das últimas doentes de Domingo, entrou com a mão direita no ar, já besuntada com várias pomadas, reluzindo dentro do gabinete. Indiferenciada. Com ar "de poucochinho", como diz o povo. Oligofrenia cultural, dizem alguns psiquiatras.

Perguntei: então o que faz, qual a sua profissão? Escrever, respondeu ela.

Olho para a ficha e não vejo a profissão.

- Então em que é que trabalha?
- Estou a escrever.
- A escrever? Mas a escrever o quê?
- A escrever nisso dos cursos.
- Mas que cursos. Está a estudar?
- Não. Estou a escrever, nisso dos cursos.
- Mas que curso está a tirar?
- Não sei, estou nisso dos cursos. Estou a escrever.

Tinha que acreditar no que dizia, pois os seus dedos da mão direita, usados habitualmente na escrita, estavam com várias e enormes bolhas.
Provavelmente escreveu demais ou era alérgica a “escrever nisso dos cursos”.
Não foi uma consulta de medicina legal, mas não podia excluir que as bolhas fossem de origem traumática.

Tenho que dar razão ao ministro Bagão Félix.

Cursos de formação profissional, onde os formandos nem sabem o que estão a fazer, apenas sabem que recebem um subsídio mensal.
Formadores (há-os óptimos, interessados em ensinar, com métodos pedagógicos) sem qualquer qualificação e que, pelos vistos, ditam, ditam, ditam, ditam e os coitados dos formandos escrevem, escrevem, escrevem, escrevem...


domingo, setembro 28, 2003

O Hotmail (que demora na entrega), a Ansiedade de Hugo A. e a Minha Segunda Resposta Que Não Leu

A minha segunda resposta, depois de 12 horas de banco hoje, 12 ontem e 6 na sexta:
(E só trago esta polémica para aqui, porque o Sr Hugo Almeida, na sua irrequieta juventude de jovem licenciado, enviou a peça que se segue para os e-mails de blogues que me merecem a maior estima e consideração.)

"Data Domingo, 28 de Setembro de 2003, 23:04
Para "Hugo A."
Assunto Re: Enfim...

"Ok, venceu.

Mas, também lhe digo que a minha filha estuda em Farmácia, por opção, note-se. Gosta de facto do medicamento, para já. Não gosta do comércio do medicamento.

Assim como muitos médicos, se renderam e rendem aos laboratórios, muitos farmacêuticos, só tiraram o curso de farmácia para ficarem com a farmácia do pai.
.../...
A posse das farmácias é um escândalo nacional. Trespassam-se farmácias por centenas de milhares de contos. Repito é um escândalo. Só Portugal é que protege este negócios, contrariando a livre concorrência que defende para todas as outras actividades económicas.
Polémico, seria se dissesse tudo isto no meu blogue. Mas censurei-me.

Em relação ao dito farmacêutico, não troquei correspondência com ele, ao contrário do que ele diz. Apenas me madou duas vezes o seu link para eu o visitar. Aqui vai para si: http://trenguices.blogspot.com

E parabéns pelo seu blogue que já conhecia.

Med. Expl."


E ASSIM AGRADECEU O SR HUGO ALMEIDA,
que mostrou que de facto há muitos carteiros, muito mais educados que muitos doutores. (Já agora, senhor doutor Hugo Almeida, imaginará quantos carteiros, como este, lerão blogues? Por isso publiquei o seu e-mail. Não pelos elogios, porque só podem ser para o que escrevo, para o que faço, julgam-me os doentes)

"Mail aberto ao Médico que Explica Medicina a Intelectuais.

Caros Bloguistas

Foi a minha primeira decepção na Blogosfera. Escrevi o que se segue ao
Médico que Explica Medicina a Intelectuais e vejam o que recebi

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28 de Setembro de 03

Caro Médico Explicador

Ontem escrevi-lhe um mail com um pedido. Não sei se o terá recebido pelo que
aqui vai pela segunda vez. Gostaria que me enviasse o link para o blog do
farmacêutico com o qual tem trocado argumentos. Gostaria de ter os dois
pontos de vista. Neste momento a minha visão do caso é totalmente
desapaixonada (e incompleta) embora, seja fácil reconhecer um certo... como
dizer?... bem, digamos que o bilhete do farmacêutico roçou o mau gosto.
Acho, (opinião pessoal) que quando alguém se envolve nestas discussões
deveria deixar o link, ou outra referência (e-mail, por exemplo) do
oponente. Porque veja, O Médico Explicador de Medicina pôde, no seu blog que
possui um razoável impacto, comentar frase a frase, o bilhete do
farmacêutico, mas este último, do qual desconheço o blogue, embora possa
escrever defendendo-se, não o está fazendo para a mesma audiência.
Saudações da blogosfera profunda

Hugo A. (Bactéria Blog, www.bacb.blogspot.com)

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E isto foi o que recebi

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(publicado sem autorização)
Caro Colega:
O meu blog não é para polemizar.
Também só faço publicidade a quem acho que devo fazer.
Limitei-me a transcrever.
Med. Expl.
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Nem um ?boa tarde?!
(Não é a educação dos bloguistas que me leva a escrever esta carta, pelo que
vou continuar).
Fiquei zangado! O blogue do Médico Explicador polemiza, ao contrário do que
me respondeu. Emite opiniões que são próprias (direito que lhe assiste),
comenta. Não é um blog neutro. Ainda bem que assim é. Neste canto espera-se
interactividade e debate entre pessoas. Podemos ganhar e aprender muito.
Será sempre melhor acreditar que temos muito a receber do que partir do
princípio que todos têm a aprender connosco, que temos muito a ensinar? seja
medicina, ou qualquer outra matéria, seja a intelectuais ou a qualquer outro
tipo de audiência.
Quanto à questão da publicidade? enfim. Digam-me honestamente se é isso que
vos move, caros bloguistas. Ele, médico, diz que não publicita. O que dirá o
farmacêutico?
Já agora se não publicita porque é que publica as deprimentes cartas com
estes títulos ?Sr dr, chamo-me João S, tenho 28 anos e sou carteiro de
profissão?; cartas com rasgados elogios, do estilo ?Acredito na sua
competência como médico ,
embora não conheça o sr dr pessoalmente, e creio que quando escreve no seu
blog, escreve o que sabe, não inventa? ou ?Sr dr permita-me que lhe diga
algo ... quanto as ofensas que lhe foram
feitas, pelo dito farmacêutico, peço-lhe que não lhes dê importância ,
pois penso que cada coisa só tem a importância que nós próprios na condição
de seres humanos, lhes damos, como tal, não creio que as ofensas que lhe
foram feitas sejam importantes, para mim na condição de ser humano e de
leitor do seu blog, o importante é o que o sr dr tem escrito até hoje, por
isso mesmo deste humilde ser humano um muito obrigado?

Comentários? Poderia, o Senhor Doutor guardar humildemente este mail.
Poderia eventualmente agradecer ao Sr Carteiro no blog mas, Oh!
descaramento? vejam bem o que lá está: ?O Senhor é bom, o Farmacêutico é
mau.? Está lá, até um pobre coitado como um carteiro é capaz de perceber
quão bom é o Senhor Doutor.
Encontram-se mais cartas elogiosas ao longo do blog do médico.

Quanto ao último ponto da resposta. O Doutor transcreve, sim, mas também
comenta. Regressando ao que motivou este mail, o que terá escrito o dito
farmacêutico?

Por fim, não se despediu de mim, oh! Eu disse que não falaria em educação.

Para terminar este Mail aberto que já vai longo, gostaria que atentassem bem
ao nome ?Médico explica medicina a intelectuais?

1- Quem foi/foram o(s) intelectual(ais) que pediram explicações de medicina?
Quero apurar responsabilidades.
2- Se o médico explica medicina a intelectuais concluímos que os
intelectuais não sabem medicina. Se não sabem medicina, não são médicos e,
portanto, os médicos não são intelectuais. Ou seja não tem a capacidade de
usar o intelecto. Nisto eu não acredito. Pela relação de parentesco que
tenho com 2 médicos, pela relação de amizade que tenho por muitos (futuros e
presentes) médicos e até pelo namoro que tenho com uma (futura) médica.

Aqui me despeço. Fiz muita publicidade ao médico que não gosta de
publicidade mas, fiz com gosto. Assim é a minha blogosfera. Ensina-se,
aprende-se, debate-se?

Saudações a todos os bloguistas!

Hugo Almeida
Bactéria Blog
bacb.blogspot.com
"

sábado, setembro 27, 2003

"Sr dr, chamo-me João S, tenho 28 anos e sou carteiro de profissão"

De: joão s < @msn.com>
Data: Sabado, 27 de Setembro de 2003, 22:37
Para: medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: Obrigado!!
"Sr dr, chamo-me João S, tenho 28 anos e sou carteiro de profissão,
nunca fui muito dedicado aos estudos e a minha formação escolar para os
tempos que correm é muito reduzida, contudo tento manter-me informado e
tento evoluir por conta propria. Acredito na sua competência como médico ,
embora não conheça o sr dr pessoalmente, e creio que quando escreve no seu
blog, escreve o que sabe, não inventa. Desta forma, embora não precise,
venho por este meio prestar-lhe o meu apoio e agradecer-lhe o tempo que
dispensa ao seu blog e aos leitores do mesmo em que eu me incluo. Obrigado
por todos os esclarecimentos voluntários que nos presta, obrigado pela
partilha que faz conosco das suas experiências profissionais, obrigado
tambem pelos alertas que nos faz. Ao visitar hoje o seu blog, pareceu-me
que mexeu numa "ferida" bastante infectada, por isso, tambem quero
agradecer-lhe a sua coragem .
Sr dr permita-me que lhe diga algo ... quanto as ofensas que lhe foram
feitas, pelo dito farmacêutico, peço-lhe que não lhes dê importância ,
pois penso que cada coisa só tem a importância que nós próprios na condição
de seres humanos, lhes damos, como tal, não creio que as ofensas que lhe
foram feitas sejam importantes, para mim na condição de ser humano e de
leitor do seu blog, o importante é o que o sr dr tem escrito até hoje, por
isso mesmo deste humilde ser humano um muito obrigado
."

Sensibilizadíssimo com esta mensagem de alguém que não pôde, mas quer adquirir conhecimentos e sabe que os mesmos só são úteis quando partilhados.

"ANF Tenta Travar Distribuição de Medicamentos para Pressionar Tutela"

É um título do Público de hoje.

Eu estou calado!

Afirma Pereira

N' O 1º Janeiro de 27/09/03:
"O ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, considerou ontem que o aumento da taxa de penetração dos medicamentos genéricos no mercado nacional, que representam actualmente seis por cento, é "caso único" na Europa.

A quota de mercado "aumentou seis vezes em sete ou oito meses, é um caso único até em termos europeus", sublinhou o governante
".

Se, como ouço constantemente, os médicos não permitem, não querem, odeiam, proscrevem, condenam, desterram,
abolem, banem, extinguem os medicamentos genéricos, quem afinal os anda a prescrever?

Esta pergunta também é para os caros jornalistas.....

Onde Está O Ódio? Decida O Leitor.....

Usei um direito que me assiste, numa sociedade democrática de criticar aquilo com que não concordo. Não insultei ninguém (li e reli o meu bilhete anterior), apenas afirmei e continuo a afirmar que o Dr João Cordeiro, presidente da ANF, é um exímio defensor das farmácias, fundou um lobie com uma força impressionante e sabe geri-lo muito bem. É o seu papel. Tomara os médicos terem bastonários assim!

Mas eu não gosto do Dr João Cordeiro! Também é um direito que me assiste, o não gostar, não implica ser inimigo, detratar, insultar.

Então de que lado estará o ódio? Leiam este bilhete que um farmacêutico colocou no seu blog e decidam:

"Apreciem, meus caros, o ódio e a inveja [Ai se tu me conhecesses, pá!] que destila um blogueiro médico relativamente aos farmacêuticos. Já aqui falei na "Guerra das Cruzinhas" [Não ponho cruzinhas, dou total liberdade ao doente, para sua informação.]; ora aqui está um magnífico exemplar do fel expelido pelo médico explica medicina a intelectuais.
O tipo não fala de mais nada. Nada de interesse,
[Parece que não é bem assim...] pelo menos (mesmo assim foi classificado como o melhor da semana no Mata-Mouros, grande amigo). Obcessão.[Serão ciúmes? Inveja?]
O blogue até tinha um projecto de intenções com algum interesse. Mas a pose não enganava; arrogava-se o meco, [Insulto nº 1] desde logo, como um sabe-tudo, e a terminologia é a de um supra-sumo, um ser iluminado "São tantos os dislates que se ouvem e lêem..." . [Já afirmei em alguns textos que estou sempre a aprender, é uma necessidade fundamental, até posso dizer que nada sei, mas sei o que sei! ]
Em tempos fartei-me de o aturar e mandei-lhe um imeil a informá-lo que ia processá-lo por difamação e calúnia. [É um brincalhão, este amigo farmacêutico! ] O homenzinho [Insulto nº 2] assustou-se e acalmou-se. [Olhe que não! ]Como se eu fosse perder tempo com uma alimária destas [Insulto nº 3].
Deve ser um clinicozeco-geral [Tenho um respeito enorme por quem trabalha nos Centros de Saúde. ] enterrado num centro de saúde, escriturário de receitas, [Que seriam das farmácias sem o receituários emanado pelos Centros de Saúde?] um médico do 25 de Abril, [É uma honra ter vivido o 25 de Abril na Universidade] que pediu transferência de História para Medicina e fez o curso em 4 anos, à custa de passagens administrativas.[Não diga asneiras, pá!] [Insultos nº 4 a 7]
Agora está tramado, acabaram-se as férias nas Maldivas à custa dos laboratórios. [Nunca fui às Maldivas. E o senhor? Mas gostava de ir, confesso!] Tem que viver com o miserável ordenado de funcionário público [Tem razão!] e conviver com os colegas Ucranianos (de dia estão nas obras, à noite fazem bancos nas urgências), Guineenses e Espanhois. [Laivos de xenofobia, por esses lados?]
Doutorzinho [Insulto nº 8] explique-me lá o que quer dizer cotovelalgia?
Deixe lá os farmacêuticos em paz, preocupe-se com os problemas da sua classe.
[E são muitos!]
E interesse-se mais pelos doentes" [Gosto do que faço]

quinta-feira, setembro 25, 2003

"Novamente Os Genéricos", por Dr João Cordeiro

É a novela dos genéricos!
Tenho a certeza que os médicos se sensibilizariam muito mais a prescrever genéricos, se o Dr João Cordeiro se mantivesse calado.
Os anticorpos que gerou na classe médica, eu incluído, são muitos. Quando fala, apetece-me fazer o contrário do que propõe.

Afirmaram todos os jornais: "O representante máximo da ANF não vai mais longe, mas deixa implícita para todos os presentes na conferência de imprensa de ontem a ideia de que pretende pressionar os médicos a prescreverem mais genéricos, acusando-os inclusivamente de «não cumprirem a legislação que obriga a que a prescrição seja feita por Denominação Comum Internacional»".

Posso fazer uma pergunta?
Se os médicos «não cumprirem a legislação que obriga a que a prescrição seja feita por Denominação Comum Internacional», porque motivo as farmácias continuam a aceitar as prescrições ilegais? Porque não as recusam e obrigam os médicos a passar as receitas como deve ser?

Posso fazer outra pergunta?
Se os médicos não prescrevem genéricos, porque razão a sua venda tem subido exponencialmente?

Posso fazer, ainda, outra pergunta,?
Porque é que a ANF publicitou este estudo? Então o que anda a fazer o Infarmed? E os seus laboratórios? Não é ao Infarmed que compete dar e publicitar estes estudos?

Posso fazer, outra pergunta, esta maliciosa?
Porque é que a ANF publicitou este estudo dias depois de assinar um contrato milionário com o Ministério da Saúde, sem qualquer interesse científico para os doentes diabéticos?

É-me permitido mais uma pergunta?
Porque razão o Dr João Cordeiro defende tão activamente os genéricos? Os farmacêuticos, por definição, também se deveriam preocupar com a descoberta de novas moléculas, com os novos desenvolvimentos farmacológicos, com a biotecnologia e não só com o seu comércio a retalho. Uma farmácia hoje em dia é apenas um intermediário na comercialização dos medicamentos, já perdeu toda a sua história de farmácia de oficina, de romantismo, de cavaqueira, (lembram-se da série Os Pós de Bem-Querer?)

E para finalizar, outras perguntas maliciosas: porque razão, com tantos farmacêuticos no desemprego ou a fazer de balconistas nas farmácias, o Dr João Cordeiro não propõe a liberalização da abertura das farmácias a quem esteja interessado? Porque não permite a venda de medicamentos nas grandes superfícies, com a supervisão de farmacêuticos?

Já disse anteriormente que prescrevo genéricos, em grande quantidade. Talvez cerca de trinta ou mais por cento da minha prescrição é de medicamentos genéricos, altero muitas prescrições de medicamentos de marca para genéricos, explicando ao doente. Uns querem ou outros não.

Para que não restem dúvidas: tenho vários farmacêuticos/as no meu círculo de amigos, em várias áreas das Ciências Farmacêuticas, defendo os genéricos (sem marca e por unidose), defendo a investigação dos grandes laboratórios, defendo os medicamentos de marca e defendo a liberalização da atribuição de farmácias a todos os farmacêuticos que o desejem.

Nietzsche & Schopenhauer

Não parece, mas é nome de blog.
E ainda mais estranho é ser nome de blog sobre futebol, sim futebol, aquele jogo adorado por milhões e detestado por milhares.
Mas ainda mais estranho, é ser um blog sobre o Benfica. E digo estranho, não por ser do Benfica, mas por ser um blog inteligente, crítico, acutilante, educado, e não-agressivo, apesar da fase menos boa que o Benfica atravessa e que defende as suas posições e critica as dos outros clubes com uma elevação de palavras, que não é usual ouvir-se quando se discute ou fala de futebol.

É um blog aconselhado para todos, quer sejam ou não adeptos do Benfica.

Há uns anos atrás escrevi umas linhas num grupo de discussão de medicina, sobre a influência da prestação contínua dos clubes, no bem-estar das famílias.
Pode parecer ridículo, mas a influência que o futebol tem, não se restringe apenas às quatro linhas de um campo de futebol, nem aos números do resultado final, prolonga-se sub-liminarmente pela vida fora.

Bom, mau? Talvez o Nietzsche e Schopenhauer possam dar a resposta. Ou melhor o Frederico e o Artur ou quem por eles escreve!

Early Morning ...

Early Morning Blogs e está tudo dito! É uma frase que pertence ao dito. Não sei se estará registada na SPA. Mas a comunidade blogueira identifica-a de imediato.

Mas ontem, às early nove horas o primeiro doente do banco direccionou-me de imediato para o JPP e para os seus early morning blogs. Não sei por onde estaria voando, mas, mirando a face do doente, com um pronunciado desvio da comissura labial, nada colaborante e até ausente deste mundo, num mesmo instante cheguei ao diagnóstico e aos early morning blogs.

De momento não compreendi a razão deste reflexo condicionado. O JPP é intelectual, este doente era operário, tinha visto o JPP na TV, dois dias antes, e a este nunca o tinha visto, físicamente parecidos, mas o operário não tinha barba, o intelectual deveria estar em grande reunião discutindo grandes problemas, o operário foi trazido pelo seu capataz e directamente da máquina que operava, para a urgência.

Depois de ingerir a dose de cafeína matinal para enfrentar a calma de uma urgência, fez-se luz: o que condicionou o reflexo foram as palavras early morning. O JPP inicia a sua early morning com actividade intelectual, este operário iniciou a sua early morning com actividade puramente reflexa, talvez como o JPP e todos os leitores dos seus early morning blogs.
Mas este operário, desconhecedor dos blogs, dirigiu-se à fábrica onde trabalha há décadas, sentou-se preparando-se para iniciar o seu dia de trabalho, com a boca ao lado, com os braços caídos, desinteressado do mundo que o rodeava, não reconhecendo os seus colegas de trabalho, mas não abandonando o seu posto.
O operário fez ou estava a fazer um AVC, nas early morning hours. É assim na literatura científica inglesa: enfartes e tromboses cerebrais são mais frequentes nas early morning hours. Este early morning é que inconscientemente me catapultou para o JPP e os seus early morning blogs.

A este operário, de apenas 50 anos, nem um AVC o retirou do seu posto de trabalho.

E alertemo-nos todos, enfartes e AVCs podem aparecer nas early morning hours, ao levantar.

Controle a sua pressão arterial e o seu colesterol e nunca será o protagonista desta história.

quarta-feira, setembro 24, 2003

Hoje Não Dá Para Explicar Nada!

Só dá para agradecer ao Mata-Mouros o óscar semanal do melhor blog, empatado com o Dicionário do Diabo. E para dizer que não mereço tal distinção.

Não é falsa modéstia.
Reconheço que estou a léguas da qualidade de muitos blogues, nomedamente do próprio Mata-Mouros e do do Pedro Mexia. Apenas dedico algum tempo nocturno, já com a cabeça pendente e os olhos semi-cerrados a esta actividade. Se saem alguns bilhetes interessantes, o mérito é do sono!

Um presente para o Mata-Mouros: uma ligação para uma cidade onde já estive, no México, Matamoros, na fronteira com a cidade estado-unidense de Brownsville, Texas, com o Rio Bravo (para os mexicanos) ou Rio Grande (para os texanos) a separá-las e famoso pelos nossos westerns da adolescência.

segunda-feira, setembro 22, 2003

Não Sei Se Conseguirei Explicar ... (Actualizado)

Pois trata-se de um negócio das arábias, este negócio entre o Sr Dr João Cordeiro e o Ministério da Saúde.
Demonstra que o País, afinal não está de tanga!

Não sei os pormenores. Mas deverá ser assim: o Ministério da Saúde transferirá 120.000 contos mensalmente (?) para os cofres da ANF. A ANF decide as farmácias com as quais fará os seus acordos.
Até aqui, nada a opor. As farmácias são empresas e fazem os negócios que entenderem e com quem entenderem.
Mas ficam-me algumas dúvidas:
1) O que são actos farmacêuticos? Estão legislados? Há alguma referência nas faculdades de farmácia sobre os actos farmacêuticos?

2) O que é para este contrato "diabetes não controlada"? Se até para o médico por vezes é difícil chegar a conclusões numa única consulta, sem recorrer a uma análise que se chama hemoglobina glicosilada, como concluirão os farmacêuticos rapidamente que a diabetes está descontrolada?

3) Será só pela picadinha no dedo que significa glicémia capilar? E quem paga as tiras (testes colorimétricos de glicose no sangue) para essa picadinha feita na farmácia? O Estado já subsidia as tiras de diagnóstico, os laboratórios já oferecem as máquinas a quem compre as suas tiras. Os médicos já há muito tempo dizem que as picadinhas no dedo, tem um alcance muito limitado para a maioria dos diabéticos, os insulino-dependentes (diabetes 1) ou os portadores de diabetes 2, mas insulino-tratados, serão os únicos que precisarão, REGRA GERAL, de um controle apertado da sua glicémia para efeitos terapêuticos.

4) E porque pagarão os doentes diabéticos cerca de 500 escudos nas farmácias, quando as suas consultas nos centros de saúde e hospitais são gratuítas?

5) - E continuarão os doentes diabéticos com inúmeras dificuldades no acesso a consultas de oftalmologia para despiste e controle da retinopatia diabética, principal causa de cegueira.
- E continuarão os doentes diabéticos com inúmeras dificuldades no acesso a consultas hospitalares para tratamento de diabetes de dificil controle nos centros de saúde.
- E continuarão os doentes diabéticos com inúmeras dificuldades no acesso a consultas com nutricionistas hospitalares (único local oficial onde as há) para alteração dos hábitos alimentares.
- E continuarão os diabéticos a ficar cegos por que não podem pagar consultas privadas de oftalmologia, e continuarão os diabéticos a cometer erros alimentares porque não podem pagar consultas com nutricionistas privados, e continuarão a ser amputados e a ter enfartes e AVCs, e etc.
- E coitados dos médicos de família nos seus centros de saúde que agora terão mais um canal para marcação de consultas: o doente sai da consulta com um rol de análises para três ou seis meses, as análises anteriores até estavam óptimas, mas como está com fome vai almoçar, depois lembra-se de ir fazer a picadinha no dedo à farmácia do bairro, onde até está uma técnico que ele conhece, a picadinha mostra 147 mg/dl de glicémia capilar, o técnico ou farmacêutico olha para os seus papéis e diz: está com um valor superior ao normal, vá já ao seu médico (entupir ainda mais as consultas) e assim os centros de saúde continurão a funcionar mal.

6) Outras perguntas se poderiam colocar: há um Programa de Controlo de Diabetes, oficial, onde se inserem as farmácias neste programa? Ficará a ANF responsável pela compra, pela distribuição, pela escolha das farmácias e depois ... quem pagará serão todos os portugueses.

7) Finalmente: será que o Ministério da Saúde apenas ouviu o Sr Dr João Cordeiro? Ou ouviu as sociedades científicas de diabetes? E há várias em Portugal:
# Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal;
# Sociedade Portuguesa de Diabetologia;
# Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo;
# Sociedade Portuguesa de Cardiologia;
# Grupo de Estudos da Diabetes da APMCG;
# DGS - circular normativa sobre actualização dos critérios de diagnóstico;
# DGS - circular normativa sobre diagnóstico sistemático da nefropatia diabética


Então Não Era para Facilitar (Democratizar!) o Acesso!

O Correio da Manhã de 2003-09-20, confunde-me, ou será o título escolhido para a notícia, aquele que mais vende?

Muito Mentiroso ...
345 - Porque será que o Correio da manhã escolheu este título"

"MAIS DIFÍCIL TIRAR MEDICINA

A partir do próximo ano lectivo será mais difícil aceder aos cursos de Medicina e de Medicina Dentária já que os candidatos a estas licenciaturas terão que realizar uma prova nacional de acesso que terá um peso de 50% na nota de candidatura.

Este exame substituirá as actuais provas de ingresso de Biologia e Química que se realizam no 12.º ano.

A prova vai realizar-se em duas fases. A primeira decorrerá a 5 de Julho de 2004 e a segunda a 26 de Julho de 2004, devendo a afixação dos resultados coincidir com a dos exames nacionais do ensino secundário. Os locais e as datas para a inscrição, bem como os locais de realização da prova serão divulgados posteriormente.

Este tipo de exame ainda está em testes, prevendo-se que os resultados desta experiência sejam divulgados no mês de Novembro.

O manual da prova, distribuído aos alunos no processo de testagem, contendo, entre outras matérias, a estrutura da prova e exemplos de perguntas-tipo, irá estar disponível no ‘site’ do ministério da tutela (www.mces.gov.pt) e em www.acessoensinosuperior.pt. Prevê-se igualmente que seja divulgado, até final do ano, o texto integral da prova testada, bem como o regulamento da prova para 2004."

:)

"Caríssimo doutor :)
Para começar... parabéns pelo seu Blog! Obrigada pela análise sã e divertida
que põe em todos os textos que escreve!
Leio, quase todos os dias meia duzia de blogs que tenho como referência...
entre eles o seu.
Já por vezes estive para escrever... mas, deixei para depois... (e depois...
depois é tarde... e fica para o dia seguinte... ) mas hoje tinha que
devolver-lhe o sorriso!
Sou Lic. em Informática... e fartei-me de rir com a descrição da suposta
formação... Tambem eu já estive dos dois lados... do do staff e do lado do
formando... sei bem o que é ter 40 olhos à espera de uma password ou dum
computador que resolveu não arrancar!!!
E, sou tambem mulher... adorei um texto, ha uns tempos atrás, em que era
meia noite e ia oferecer flores... Há textos que nos tocam, mensagens que
ficam...
Obrigada, pela partilha de ideias e de tempo com que nos brinda (espero que
durante ainda muito tempo)"

M T.

Não Sei Se Conseguirei Explicar ...

Não sei mesmo. O Sr João Cordeiro da ANF é um ás a inventar negócios.

De uma coisa tenho a certeza: os doentes diabéticos não vão ganhar nada; as farmácias vão ganhar tudo!

Voltarei.

sábado, setembro 20, 2003

Rezo Por Eles Todos os Dias ….

É terça-feira. Recebo no telemóvel uma chamada de uma conhecida doente.

Pergunta-me se a posso consultar e a uma amiga. Digo-lhe que apenas as poderei consultar na quinta-feira após as 18 horas.

Fica combinado. Quinta-feira aparece, mas não aparecem. Faço o que tenho a fazer e eis-nos na sexta-feira.

Faço o que tenho a fazer. Faço o que estava programado, por estar escalado e a que não posso fugir.

Pelas 16 horas, novo telefonema:
- “Senhor doutor, já cá estamos!”
- “Estão onde?”
- “À sua espera em sua casa, para a consulta, como combinado.”
- “Dona Z, a consulta era para ontem. Hoje só a posso ver depois das nove!”
- “Não faz mal, a gente espera.”

Às nove e meia, chego a casa e lá estão as minhas doentinhas: a Dona Z de 81 anos e a Dona Y de 82 anos. São diferenciadas. Economicamente estáveis. Vieram de táxi, e esperaram 5h30 para a consulta. Reprogramaram o táxi para as 22 horas.
O que eu tinha a fazer era jantar. Mas não janto. Algo me impele para consultar as minhas doentes idosas.
Começo pela Dona Z e pergunto como se entreteu nestas cinco horas.
Oh, senhor doutor, eu nunca saio de casa, vim apanhar ar puro, respirar, andar, falar com a minha amiga, pois só falo quando venho ao médico. Mas conversamos muito."
Começa a consulta com as queixas habituais, subjectivas, tonturas, dores de cabeça, esquecimentos, e um certo ar triste. Mais triste que o habitual. Encaminho a consulta para esse ar triste. Explica-me que o cunhado faleceu em 2001, a irmã em 2002 e o irmão em 2003. "Acompanhei as suas doenças", diz. Por isso estive muito tempo sem vir à consulta. E choro todos os dias. Mas é pelo meu filho que morreu há 24 anos. Mas rezo por todos eles todos os dias.
Menos hoje, que vim para aqui.
Nem chorei, nem rezei.
Estive a conversar com a Dona Y e passou o tempo.

Posso chamar a Dona Y para a consulta? É que a sua irmã, pediu-me para a acompanhar, porque ela não ouve nada. “É surda como uma porta!” acrescenta.

sexta-feira, setembro 19, 2003

Médicos e Engenheiros

Diz o Pedro Rolo: "(afinal os Engenheiros de vez em quando também ajudam os
médicos!)".


Não deve colocar entre parêntesis a frase.
É uma realidade a ajuda que refere. Eu até acrescentaria mais: sem os engenheiros, a Medicina teria estagnado. Os engenheiros, de qualquer área, são imprescindíveis actualmente para o desenvolvimento da Medicina.

Maximizar / Restaurar

Do Adufe:
"Viva!
Sugestão:
Prima o botão maximizar / restaurar para ver todo o blog"

Do Pedro Rolo:
"Bom dia!
Desde já parabéns pelo seu blog!
Escrevo (para já) apenas para tentar ajudar na questão que levantou no seu post
acima mencionado.
Quando me acontece algo semelhante, o que faço é minimizar a janela e voltar a
maximizá-la.
Geralmente resulta!
Espero ter sido útil (afinal os Engenheiros de vez em quando também ajudam os
médicos!).
Cumprimentos"

Obrigado aos dois!

Agência Funerária Vilas-Boas

A blogosfera e Internet tem coisas interessantes.

Um bilhete meu de Terça, dia 09 de Setembro, apesar de não ter recolhido nenhum óscar do Mata-Mouros (como três anteriores tinham recolhido) recolheu várias e interessantes reacções da comunidade bloguística e não só. A divulgação pela Antena 3 dessa história levou-a a Portugal inteiro, do Minho ao Algarve.
Todas as localidades onde se passaram recentemente casos semelhantes, se viram identificadas.
E se se reconheceram identificadas, também os hipotéticos intervenientes se viram retratados.
O que não é verdade. Embora a história tenha acontecido na realidade, propositadamente não é localizável. E portanto não tem intervenientes conhecidos.
Uma crónica, tenta generalizar uma história verídica a um universo muito mais abrangente e demonstrar a hipocrisia desta sociedade.

Isto vem a propósito de algumas mensagens que recebi, querendo colar esta história a uma localidade que dá nome a um dos blogues mais conhecidos. A partir daí, tentou-se identificar os intervenientes e principalmente a Agência Funerária dessa localidade.

Tem razão o seu gerente em ficar indignado.
E tem razão porque, conhecendo eu os médicos dessa localidade por serem alguns do meu curso, tratei de me informar e tenho a dizer que a Agência Funerária Vilas-Boas, sempre tratou dos funerais com dignidade e profissionalismo e segundo me disseram antecipando por vezes o funeral e aguardando o recebimento dos subsídios.

Assim como há bons e maus médicos, também haverá boas e más Agências Funerárias. A do gerente Vilas-Boas enquadra-se como é óbvio na primeira.
Embora não o conheça pessoalmente, o autor deste blog só tem que lhe pedir desculpa e afirmar que a história não é localizável. Pode ser parecida com muitas que se passam em Portugal, mas não tem nomes, nem localidades.

As histórias deste blog fazem parte da minha vida profissional, mas também recolhidas em conversas com muitos colegas pelo País fora!

Confrades da Confraria das Novas Comunicações Virtuais

Mensagem ao Encontro de Blogues de Braga

"Venho desejar as maiores felicidades ao vosso (nosso) encontro.

Embora não saiba qual o futuro deste movimento, espero que concluam pela sua vitalidade, embora todos saibamos da vulnerabilidade e volatilidade de tudo isto.

Saudações

http://medicoexplicamedicinaaintelectuais.blogspot.com/

(Nesta atmosfera prefiro manter-me anónimo, mas não delinquente ou malfeitor)"

Também Eu Queria Saber ......

" @hotmail.com>

Data: Quarta-Feira, 17 de Setembro de 2003, 15:52

Assunto: Boa tarde!!

> Gosto muito do seu blogue, mas ultimamente só consigo ler a
> primeira parte
> de cada post, pois a barra do lado diteito é muito grande e eu não
> consigo
> ler todo o texto.
> Tem alguma solução??
>
> Obrigada e Felicidades,
> P C"


Quem ajudar esta leitora, estar-me-á a ajudar, porque isto também me acontece am alguns blogues de que gosto!

quarta-feira, setembro 17, 2003

Blog Anónimo, Sim. Blog Anónimo, Não.

Na esfera do blogues vai-se discutindo se os blogues deverão ou não ser anónimos.

O ouvido do nosso Barman diz que ouviu dizer no seu bar "Se estes revelarem algum tipo de talento escondido e quiserem fazer uso dele, podem vir a encontrar problemas em provar a sua autoria (lembro-me deste, daquele e de daqueloutro)".
O daqueloutro sou eu. Mas como não quero fazer uso de nada, linkei-me a mim próprio.

É giro.

Os blogues são assim. É tão fácil ter um blog. É tão fácil ter um, dois, três blogues, 100 blogues.
Podemos fazer de tudo: de parvos, egoístas, vaidosos, tristes, anedóticos, sérios, palermas, de homens, de mulheres, de adolescentes desorientados, de casados, de solteiros, de Deus, de deus, de deusas, de diabo, de bicho que escala as estantes. Posso trabalhar a dias, desejo casar.
Posso dizer que sou uma bomba, que estou desactualizado e desinteressante, que vivo numa trágico-comérdia. Posso dizer que mato mouros, que sou de esquerda ou de direita. Que como jaquinzinhos. Que sou alfacinha ou das terras do nunca ou do Maranhão. E posso dizer que sou o Joaquim, o Francisco, o Pacheco, o Pedro, o António, a Ana.
Até posso fazer um blog em nome de outro. O blogger não me pediu nenhuma identificação autenticada.
Até posso dizer que eu é que sou o responsável pelo Abrupto, ou sou o verdadeiro Aviz.

Para mim tanto faz!

Portanto, o que faz um blog é o que lá se escreve. O que faz um blog, não é a figura pública que lhe dá o nome, mas sim o que para lá atira (ou arquiva!). O Abrupto ou o Aviz são os mais visitados porque têm qualidade. Têm qualidade intrínseca e extrínseca, no conteúdo e na forma. No Abrupto, mesmo sem ler, olhar, já provoca prazer.
Em Portugal, ainda estamos presos a estigmas do fascismo, sim fascismo, e por isso ainda nos povoam medos e fantasmas: temos medo de denunciar, mesmo por uma boa causa. Temos preconceitos no anonimato, mesmo para fazer afirmações com qualidade.

Vou continuar no anonimato, não sei porquê. Talvez por timidez? É possível. Talvez, apenas, porque me apetece. É provável. É a minha liberdade.
Talvez o pipi, munca fosse o meu pipi, se dissesse quem é.

Outra questão, muito importante, é quando um blog se torna num caso de polícia. Ou porque é muito mentiroso, ou porque veicula ideologias ilegalizadas, ou faz apologia da violência gratuita. Ou ... Ou ... E nesses casos, as entidades policiais, se o entenderem podem actuar e descobrir com facilidade (maior ou menor) o criminoso.

Parafraseando o Barman: "Não! Não sou nenhuma figura pública nem coisa que o valha. E diga-se, não quero vir a ser. Acrescento ainda. Pagava para não ..." ser.

Este blog foi produto de uma isónia. Depois foi andando. Quando deixarem de cá passar. Fecha-se, vende-se, trespassa-se, abandona-se, suicida-se (o blog), tudo pode acontecer.

Sou apenas um médico anónimo.
Não sou o bastonário, nem presidente de nada, não sou quadro de nenhuma organização sindical, política ou autárquica. Sou desconhecido no Mundo, mas tenho o meu mundo e não o quero invadido, nem o quero largar.
Mas não sou parvo, nem ando de olhos fechados.
Mas agora vou fechá-los!

terça-feira, setembro 16, 2003

Como Eu Gosto da Minha Função Pública!

Férias.
Aproveito para frequentar uma formação de cinco dias, para não prejudicar a actividade assistêncial.
Sobre informática. Para gestores de rede.
Organizada nos e pelos serviços do Estado.
Hoje.
07h00 - Levantar.
08h15 - Viajar.
09h30 - Início programado.
09h31 - Staff: a password não dá acesso à rede.
09h32 - Staff: a password continua a não dar acesso à rede.
09h33 - Staff: a password continua a não dar acesso à rede.
09h35 - Staff: temos que telefonar ao "especialista" de informática do serviço, que está no outro lado da cidade.
09h50 - Chega o especialista.
09h51 - Staff: o especialista estuda o problema.
10h00 - Staff: o especialista continua a estudar o problema.
10h10 - Staff: já há diagnóstico, alguém mudou a password.
10h12 - Staff pergunta: quem mudou a password?
10h15 - Staff lembra-se: o computador veio de xxxx.
10h20 - Alguém do staff: outro distrito, outra intranet.
10h25 - Alguém do staff: mais perto são 100 km.
10h30 - Formandos: 1 médico, 1 enfermeiro, 12 administrativos: umas fazem malha, outras vão à loja dos trezentos local, umas falam das filhas, noras, netos, maridos, outros falam de futebol, do desaire do Benfica, outras falam da telenovela, o médico e o enfermeiro vão tomar café.
10h40 - O médico diz para o enfermeiro: onde nos viemos meter. Gestores de sistema?
10h50 - Staff: desculpem, mas temos que levar o computador a xxx, para se mudar a password ??!!!!=!"#$&//()=?»###.
11h00 - Staff: o melhor é irem tomar café.
11h01 - Eu: prefiro ir fazer pipi.
11h02 - O enfermeiro: eu vou fazer cócó.
11h30 - Staff: o melhor é irem almoçar e regressar às 14 horas.
14h00 - Formandos: regressamos.
14h01 - Staff: agora há uma avaria na rede.
14h30 - Staff: agora continua a avaria na rede.
14h40 - Staff: o melhor é irem tomar café.
15h00 - Staff: está quase, agora só nos falta ligar os vossos computadores.
15h10 - Staff: os computadores não ligam!
15h20 - Staff: porque será que os computadores novos não funcionam?
15h30 - Staff: já temos diagnóstico! Como os computadores são novos, ninguém se lembrou de instalar os sistema operativo.
15h45 - Staff: está quase.
16h00 - Formadora: (já deformada) vamos para outra sala, pelo menos dizemos qualquer coisa.
16h20 - Staff: podem ir tomar café.
16h30 - Staff: já podem entrar. Está tudo pronto.
17h30 - Fim da sessão.
17h31 - Formadora: até amanhã.

Isto não foi em Portugal.
Foi na Guiné-Bissau. E por causa das gargalhadas do Kumba Ialá.

Não, já sei. Foi mau olhado da Maya.

domingo, setembro 14, 2003

"É a política, estúpidos!", disse Francisco José Viegas

Não no Aviz, que está de férias, mas no JN.

Tentei transcrever umas ideias do artigo, mas aconselho a sua leitura. Não porque seja um artigo de fundo, mas porque lá se dizem várias verdades, semelhantes às que motivaram e motivam muitos dos meus bilhetes.
A "tabloidização da sociedade" como ele caracteriza tem um culpado. E esse culpado tem nome: comunicação social vs lucro fácil e não confundir com jornalistas vs profissão (coitados ao que são obrigados!).

Os programas podem ser ligeiros, generalistas, mas com qualidade. Sem nos venderem as Mayas, os Hermanos Josés (sim, a partir de hoje ficam no mesmo tabloide!)

Estou farto!
E ainda nos querem tirar o Canal 2 e a TSF.

Dr Manuel Antunes - Será o Paradigma do SNS ?

É óbvio que não!
Por mais artigos que se escrevam e que queiram demonstrar que o Dr Manuel Antunes tem a chave para a resolução dos problemas do SNS, não me convencem!

Nem mesmo Amílcar Correia, no Público de Domingo, de 07 de Setembro de 2003 , no seu artigo As Duas Listas de Espera do Ministro quando diz que:
"Porque o verdadeiro combate às listas de espera só terá lugar quando a exclusividade dos médicos no SNS deixar de ser o tabu que ainda hoje constitui entre a classe e a tutela. Especialistas como Manuel Antunes, o cirurgião dos Hospitais Universitários de Coimbra, têm insistido nessa tecla até à exaustão, mas sem grandes consequências políticas. Mas o que é certo é que serviços como o de Cirurgia Torácica que Manuel Antunes dirige, à semelhança do seu congénere do Hospital de S. João, no Porto, não dispõem de uma lista de espera. Por uma razão muito simples, embora aqui os tempos de espera clínicos sejam naturalmente mais curtos: exclusividade e dedicação da equipa".

E não me convencem porquê? Por um motivo muito simples. O Estado paga ao Dr Manuel Antunes aquilo que ele quer, isto é, milhares de contos por mês! São pagos e são bem pagos, porque ele merece.
Só que o SNS não poderia pagar milhares de contos mensais a todos os médicos que desejassem trabalhar 24h/24h, ou melhor estarem disponíveis para o SNS 24h/24h e serem chamados quando necessário! Além de exclusividade, porque estar exclusivo não é sinónimo de alargar o horário, de produzir mais, apenas é sinónimo de ganhar mais 40% do ordenado para o mesmo horário de trabalho, é necessário estar disponível 24 horas. E isto, é outro assunto, que se tem que pagar! E aí é que está o problema!

Alguem acreditaria que um cirurgião como o Dr Manuel Antunes, viria para Portugal ganhar 400 contos por mês, líquidos?

sexta-feira, setembro 12, 2003

Férias e Relatórios de ECD

A Tragico-ComeRdia em 12/09/2003 insurge-se (e até certo ponto com razão!) contra o facto de ter feito um EEG na medicina privada e o relatório escrito só lhe ser fornecido após o regresso de férias do médico/a que o efectuou. E que foi necessário o médico assistente, interceder para resolver o problema (mas os médicos de família/asistentes servem também para isso: "gerir os doentes na proximidade").

E como é óbvio, tem razão nas suas queixas, tanto mais que não há ninguém que aguarde um resultado impávido e sereno.
Eu quando vou de férias, tento não ficar com assuntos pendentes com os meus doentes. E se por acaso acontecer, forneço um meio de comunicação para o doente se esclarecer comigo.

Em relação aos exames, tenho a certeza que este relatório está normal. Os médicos que executam exames para outros, quando o executam, eles ou os técnicos, fazem com um relatório automático mental ou uma leitura na oblíqua.
Se o exame numa primeira abordagem mostrar indícios de qualquer coisa menos explícita (que poderá ser apenas uma variante do normal) fazem chegar esse relatório rapidamente ao utente com a indicação de o levar ao médico.

Por vezes tenho que acalmar alguns doentes porque os seus exames aparecem depressa de mais e "ainda por cima em correio azul, é porque estou a morrer, senhor doutor, se não vinham em correio normal."

Quando o doente paga, também paga a rapidez (apenas porque são poucos os que pagam), mas à luz das convenções, o doente do SNS tem que ser tratado de igual modo que o doente privado. Assim rezam as convenções com o Estado.

Por outro lado em Portugal exagera-se no consumo de exames, por pressão do utente. Não tenho dúvidas. Qualquer dorsita de cabeça, cefaleias para nós, leva logo com "um TACO à cabeça" porque o doente sabe que o vizinho da prima do marido da colega do serviço onde trabalha a melhor amiga, disse que conhece uma pessoa que é amiga da porteira do prédio onde mora o Jardel, e que ouviu dizer que o senhor do quarto andar tinha um tumor na cabeça e começou assim.

Mas, Tragico-ComeRdia, dou-lhe inteira razão, até para ficar descansada o médico executor do exame, poderia dizer apenas isto: está normal, depois mando o relatório.

quinta-feira, setembro 11, 2003

Há Quanto Tempo Não Oferece (Ou Recebe) Flores?

Hoje à meia-noite vou oferecer flores.

Sim, o médico explica medicina a intelectuais, vai oferecer flores hoje. À meia-noite.

O médico explica medicina a intelectuais vai oferecer a uma intelectual um ramo de flores à meia-noite.

O médico explica medicina a intelectuais vai explicar o seu sentimento sem palavras, mas com flores.

As palavras por vezes não aparecem quando as geramos nos nossos neurónios. Por vezes é necessário a ajuda de um psico(logico) ou de flores.

Hoje à meia-noite o médico explica medicina a intelectuais vai trocar os actos e as palavras pelas flores.

O médico que tenta explicar medicina a intelectuais, na unidade de saúde que agora gere, ordenou com a sua autoridade que se espalhassem ramos de flores semanalmente pelos locais públicos onde os utentes aguardam eternamante, vulgo, salas de espera. Foi a ordem que mais objecções levantou. Porquê?

Sim, o médico explica medicina a intelectuais, vai oferecer flores hoje. À meia-noite. À intelectual que o atura, aguenta, consente, padece, tolera, suporta, há mais de 20 anos.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Caiu A Ponte !

Domingo.
Caiu a ponte.
Enterraram-se os mortos e trataram-se dos vivos.
A nomeação da comissão.
A comissão reuniu.
O relatório foi elaborado.
A culpa foi da borboleta.

Alguém ouviu falar na palavra engenheiros?

Ai se os médicos construissem pontes, ou mesmo se consultassem doentes em cima da ponte!

Coitadinha da Elsa Raposo

Tanta publicidade fez ao seu "tumor" que agora ninguém a quer, pois, segundo a Lux "Já não há casamento!"

Mas pergunto eu: quem se quer casar com um tumor e ainda para mais, mediático?

terça-feira, setembro 09, 2003

Íntima Fracção

Sou um recente admirador do Francisco Amaral e da sua fracção íntima.

Não posso acreditar que vá desaparecer.

A minha solidariedade.

Miséria Humana ou Coisas Que Uma Certidão de Óbito Esconde

É tanta a minha revolta contra a minha espécie (a humana, para quem não saiba!) que embora esteja num dilema, com a mente a puxar-me para o computador e os olhos a encerrarem-se e a puxar-me para a cama, com a revolta apossar-se de mim, decido escrever este bilhete.
Quase que ao vivo. Mas este blogue vive disso. Tentar explicar coisas que por vezes nem eu as compreendo.

Há duas horas emiti mais uma certidão de óbito.
Morte não natural, i.e., morte violenta. Entrada na urgência já cadáver.
Processos burocráticos mais morosos. Confirmação da morte. Comunicação à autoridade civil com ofício e impresso próprio, esta comunica com a autoridade judicial de turno que decide se prescinde ou não da autópsia.
Caso prescinda, foi este o caso, pois a causa da morte era óbvia, devida a um incêndio no domicílio, por inalação de monóxido de carbono e não por carbonização.
Viúva, meio rural, iniciam-se os contactos para a reclamação e entrega do corpo.
1º telefonema: "não tenho nada a ver com isso, o marido da viúva apenas me pagou para tratar dos assuntos bancários dela em vida. Se já morreu, não é nada comigo."
2º telefonema: "eu era sua cunhada, mas como o marido já morreu, não quero saber mais disso. Ela não gosta de mim."
3º telefonema: "Oh senhor doutor, eu sou sobrinho dela, mas ela não me ligava, eu ainda estou em estado de choque (não com a morte, mas sim com o incêndio!). Morava ao pé dela, mas compreende, não quero saber de nada".
4º telefonema: "eu sou uma vizinha, sei que ela deve ter um filho algures na Europa, mas não sei mais nada e não posso tomar conta do corpo."
5º telefonema: " Sr doutor, a minha agência funerária só pode responsabilizar-se depois de alguém assumir o pagamento".
6º telefonema: "Senhor provedor, tenho um favor a pedir-lhe em nome de uma cadáver, para que tenha um funeral minimante digno, pois todos os familiares com quem falei se recusaram a reclamá-lo."
7º telefonema: "Para o cangalheiro: Senhor, já pode escolher a urna, pois a Santa Casa da Misericórdia (não é a de Lisboa) encarrega-se de tudo."

Será que o desrespeito pela morte é característico da espécie humana. Se não há quem sinta a perda, um cadáver que pertenceu a um membro da nossa espécie já não tem valor?

Esta mulher pressentia que a sua morte seria um problema para a sociedade.

Assim se compreende que se tenha fechado em casa, com todas as portas trancadas com grandes trancas de madeira, que tenha fechado todas as portas interiores à chave, que tenha incendiado todos os cortinados dos quartos e se tenha deitado sossegadamente à espera da morte e da carbonização, para desaparecer deste mundo em cinzas.

Consta que um dia antes (como é habitual nos suicidas, procurarem alguma ajuda na véspera) foi encomendar-se a Fátima.

Eu vou dormir mergulhado na hipocrisia desta sociedade!

W32.Sobig.F@mm virus

Atenção

Tenho recebido dezenas de mensagens de muitos endereços electrónicos pertencentes a blogs (e não só) portugueses infectadas com este vírus.

Se daqui saiu alguma mensagem infectada é por culpa do IOL, (como pertence à TVI, não me admira!)POIS NÃO ABRO MENSAGENS COM ANEXOS NÃO SOLICITADOS .

segunda-feira, setembro 08, 2003

Apareci (Tarde Porque Voei ) e Gostei

"Meu caro
Não, não estou com nada de especial...
Só lhe queria dizer que hoje o "meu dicionário" meteu-se pelos seus domínios...
apareça
um abraço
A."

opiniondesmaker

E gostei porque não há erros, palavras bem escritas, significados bem aplicados.

domingo, setembro 07, 2003

O Mata-Mouros e o Médico Explica

Já escrevi em bilhetes anteriores que pouco navego pelos blogues.
Leio diariamente o Abrupto e o Aviz, e raramente navego.
Por isso não tenho coluna de links, embora saiba que há blogues de muita qualidade.
Quando coloco ligações, em geral referem-se a mensagens que recebo e respondo para a blogosfera.

Por isso, como me considero um outsider destas lides sinto-me lisonjeado e não posso deixar de agradecer os "prémios" que o Mata-Mouros me tem dado na sua REVISTA DE BLOGUES - Os Melhores da Semana, que começa a ser uma referência nesta margem (à margem) da (outra) Internet.

quinta-feira, setembro 04, 2003

Vou Voar e Tenho Medo

Confesso.
Tenho medo de andar de avião.
Que seria de mim se fosse deputado europeu!
Convem-me que só haja congressos médicos ocasionalmente e que hoje em dia a Internet seja um bom instrumento de reciclagem.

Assim o blog ficará sem actualização até Domingo, se a viagem for de retorno.

Estou muito melhor, presentemente só me intoxico com uma boas doses de Xanax (Alprazolan).
Tempos houve, em que começava com uns bons uisques na sala de embarque, já com uns xanaxes ingeridos previamente, mais um uísque logo à entrada e solicitado à hospedeira, mais uma refeição acompanhada com vinho tinto, seguida de um cognaque, enfim, bombas atrás de bombas.

Lembro-me de uma viagem intercontinental em que não me recordei da própria viagem.

Mas, para quem precisar de viajar por motivos profissionais, aqui estão umas simples dicas para enfrentar a fobia:

- "aprenda a enfrentar o objecto temido (a ansiedade pode aumentar, mas o medo vai diminuir)
- tente normalizar a respiração, que em momentos de nervoso fica curta e acelerada
- questione suas crenças
- construa um filme na sua cabeça (ensaie passo a passo toda a viagem, desde a chegada na sala de embarque até a aterrissagem)
- respire fundo e tente relaxar
- ouça música suave
- não divida o mérito de um vôo bem-sucedido com o calmante
- não trate a situação de forma catastrófica
"

Para casos mais graves mais vale consultar um psico(logico).
Como não sei se volto deste voo europeu, se não falar no blog alfacinha sou injusto. Só me penitencio por não ter respondido ao seu e-mail sobre técnicos vs intelectuais.
Para o Terras do Nunca, lembro a nossa conversa sobre as mortes pelo calor e a resposta do Ministro. Parece que adivinhámos.

terça-feira, setembro 02, 2003

Por Mais Brutos e Distantes Que Às Vezes Possam Parecer...

Era uma vez um médico que entrou de serviço, num domingo de manhã, numa unidade de saúde portuguesa.

Pronto para iniciar o seu turno de 12 horas, que o levaria até às 21h, fresquinho, depois de ler as gordas do Público, depois de um pequeno almoço substâncial, já com dois ou três cafés ingeridos e depois de espreitar o movimento da sala de espera, estava apto para iniciar o seu trabalho. Feliz e satisfeito, senta-se e aguarda a entrada do primeiro doente:
- “Então minha senhora, diga lá de que se queixa”, pergunta afavelmente.
- “De uma dorsinha no peito e como sofro do coração, vim ver o que se passa”, responde a doente de meia idade, com voz trémula, talvez com medo da reacção do médico.
- “Diga-me se lhe está a doer agora e há quanto tempo lhe dói”, perguntou o médico.
- “Agora é só uma dorsita, e dá-me muitas vezes”, responde a utente do Domingo de manhã, acrescentando de imediato:
- “Mas deve ser tudo dos nervos, porque ando muito nervosa”.
Uma rápida observação e o médico aceitou o diagnóstico proposto pela doente: crise de ansiedade.
- “Vai fazer ali um tratamento e dentro de meia hora já se sentirá melhor”. Disse-lhe o médico, prescrevendo aquela droga muito antiga, de acção rápida, politicamente incorrecta, mas de uma ajuda inexcedível nestes bancos e que a doente levaria à enfermagem para a administração.
Cerca de uma hora depois, novamente com a doente, perguntou o médico:
- “Então, está melhor?”
- “Oh senhor doutor, nem se compara, já não me dói nada”.
- “Então pode-se ir embora e não deixe de consultar o seu médico de família”.
- “Está bem senhor doutor, mas se me pudesse fazer um favor?”, diz a doentinha com a voz quase inaudível.
- “Diga lá o que precisa.” disse o médico, já adivinhando o favor.
- “É que a minha psiquiatra está de férias e acabaram-se os medicamentos dos nervos.”
- “Está bem, diga lá quais são.” Abre então o saco de plástico e despeja meia dúzia de caixas de medicamentos em cima da secretária.
- “Pronto já está. Pode ir-se embora".
Uns segundos de silêncio, uma certa relutância em se levantar, como que à espera que o médico perguntasse, como na mercearia:
- “Então minha senhora, deseja mais alguma coisa?”
- “Ai senhor doutor, precisava de um grande favor.”
- “Um grande favor? Mas que é que precisa agora?”
- “Ai senhor doutor, pela sua saúde, é para a minha filha, que tem 20 anos!”, diz começando a soltarem-se-lhe as lágrimas.
O tempo vai passando, o médico vai-se incomodando, mas como ainda está fresquinho, pergunta:
- “Então o que é que se passa com a sua filha?”
A doentinha abre a sua mala, retira um papel e diz:
- “Se me pudesse passar esta análise para a minha filha, que o seu médico de família também está de férias e foi ele que a mandou a esta médica e disse-me que era urgente.”

Abro o papel, leio o cabeçalho (de uma colega ginecologista) e a prescrição apenas de uma análise: CA 125.
Abri bem os olhos, mirei o facies triste da doente e pensei para mim:
- “Aqui está o verdadeiro motivo da consulta”.
O Cancro.
Provavelmente, quer o médico de família, quer a ginecologista suspeitam fortemente que a jovem deve ter um cancro do ovário. E a mãe, com o seu instinto maternal, também não estará a augurar nada de bom para a filha, caso contrário, não se teria sujeitado, numa manhã de Domingo a tal aventura.
Suspiro eu, pensando o que poderia fazer para lhe resolver o problema e cogitando só para mim: se esta história se passasse no final do turno de banco, como reagiria eu? Será que, estando com fome, cansado, olhando insistentemente para o relógio e aguardando a rápida entrada do meu substituto, teria os sentimentos com um limiar tão baixo, para não deixar de lhe fazer o favor? Ou não?
Aquilo que muitos esquecem é que os médicos também têm sentimentos, por mais brutos e distantes que às vezes possam parecer...

segunda-feira, setembro 01, 2003

Já Que O Abrupto Falou na Varíola...

O vírus (do grupo orthopoxvirus) de facto ainda não foi extinto.
A varíola (doença) na realidade já está extinta.
As requisições de vacinas burocraticamente também já estão extintas.

"A varíola (smallpox) era um problema praticamente em todos os países e o controle da doença era feito isoladamente pelos governos locais. Em 1959, a Organização Mundial da Saúde decidiu a realização de um programa global de erradicação da varíola. Em 08 de Maio de 1980, em assembleia solene declarou que "the world and all its peoples have won freedom from smallpox" estabelecendo assim o primeiro caso de erradicação global de uma doença. Desde então, acredita-se que o vírus da varíola só exista em dois laboratórios no Mundo (na Rússia e nos EUA) e já foi decidido pela WHO que estas amostras serão distruídas em 30 de Junho de 1999." Parece que esta decisão foi revogada a pedido dessas potências.

Um leitor deste blog, propôs que falasse das chamadas medicinas alternativas.
A resposta que lhe dou, está no parágrafo transcrito que se segue. Acredito e tenho fé na Ciência e a Ciência incorporará todas as descobertas que, pelo método científico forem validadas. Infelizmente, dessas práticas complementares, talvez nem 10% tenham demonstrado alguma coisa de válido.
O que não invalida que as pessoas se sintam bem quando as frequentam. A minha avosinha (enquanto viveu), sempre foi à bruxa e sentia-se sempre bem, aliviada. Era o seu antidepressivo e ansiolítico. Proibir, para quê?

"Na Europa, ao fim do século XVIII, cerca de 400.000 pessoas sucumbiam vitimadas pela varíola a cada ano, e um terço dos sobreviventes ficavam cegos. Nada menos do que cinco reis morreram de varíola no século XVIII, uma doença que alterou a linha de sucessão dos Habsburgo quatro vezes, em quatro gerações.
Antes de 1967, a vacinação era feita com um método de escarificação ou uma técnica de pressão múltipla. O Programa Intensivo proporcionou a oportunidade de desenvolver novos métodos. Primeiro, surgiu a pistola de injeção, e em seguida a agulha bifurcada, muito mais eficaz, que aplicava uma única dose da vacina. Depois de imergir as agulhas em um frasco de vacina reconstituída, depositavam-se as doses sobre a pele e se realizavam 15 riscos verticais através da gota.
A varíola endêmica foi erradicada em 20 países no oeste e centro da África em 1970, no Brasil em 1971, e na Indonésia no ano seguinte. A incidência de varíola caiu acentuadamente em 1972, com casos notificados em oito países endêmicos e na África e no sudeste da Ásia. Finalmente, em 1975 a varíola endêmica foi erradicada do continente asiático. Na Etiópia, a difusão da doença foi contida em 1976, e na Somália, o último caso natural de varíola data de 26 de Outubro de 1977. Posteriormente, em 1978, foram relatados dois outros casos por contaminação num laboratório. Esses casos acidentais foram, de fato, os últimos".
Aqui, podem ver "the last smallpox victim on earth".

E agora, a minha linha de glória: O Abrupto, na palavra anti-varíolicas, tem que deslocar o acento uma letra para a direita: anti-variólicas. (E obrigado pela referência).