Dr. Francisco George, no jornal Tempo Medicina
A recente ameaça de gripe das aves serviu de mote à discussão sobre a problemática da comunicação do risco. Na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), médicos, responsáveis oficiais e jornalistas debateram formas de conseguir alcançar com êxito a difícil meta de informar sem alarmar.
No passado dia 18, a ENSP, em Lisboa, promoveu um painel debate sobre as dificuldades de comunicar em Saúde. Intitulado «Percepção do risco e comunicação em Saúde Pública – A gripe das aves», o evento partiu desta ameaça de pandemia para pensar a complexa problemática.
Integrado no curso de Mestrado em Saúde Pública da escola, o debate foi moderado pela Dr.ª Antónia Frasquilho, psiquiatra e Mestre em Pedagogia da Saúde. Neste painel participaram dois jornalistas – Manuel Acácio, da TSF, e Madalena Augusto, da SIC Notícias – e dois representantes de entidades oficiais, o Dr. Francisco George, Subdirector-Geral da Saúde, e a Prof.ª Teresa Paixão, virologista do Instituto Nacional de Saúde do Dr. Ricardo Jorge (INSA). Além destes, também deram os seus contributos o Prof. Paulo Moreira, especialista em Comunicação em Saúde, e a Dr.ª Isabel Marinho Falcão, que apresentou um estudo do INSA acerca do conhecimento da população portuguesa sobre a gripe das aves (ver caixa).
A moderadora abriu o debate enumerando quatro das muitas razões que explicam por que é importante que os especialistas e responsáveis da Saúde se aliem aos media, na comunicação de situações de perigo para a Saúde Pública. «Quando estamos perante uma situação de risco em Saúde, é preciso difundir a mensagem, ampliar o seu impacte, trabalhar com profissionais qualificados e também tonificar o impacte da notícia. Ora, os jornalistas são as pessoas indicadas para o fazer», afirmou a Dr.ª Antónia Frasquilho.
Contudo, nem sempre a comunicação do risco se processa da melhor forma, falhando sobretudo o último tópico mencionado, como demonstrou a moderadora, dando exemplos de notícias sobre a gripe das aves veiculadas pelos media nacionais. Segundo a Dr.ª António Frasquilho, «o medo e a dramatização são inimigos da boa comunicação do risco», enquanto o conhecimento e a sabedoria são os seus melhores aliados: «É importante informar, mas também é essencial criar conhecimento e ir para além do racional, ou seja, fazer a gestão das emoções. A contenção da população, a serenidade, são fundamentais e é aqui que a ética intervém», disse.
Já a Prof.ª Teresa Paixão, que expôs alguns factos e números da história da gripe das aves, sublinhou que esta «é uma realidade e um problema de Saúde Pública mundial, para o qual é preciso uma conjugação de esforços».
O desafio da nova Saúde Pública
O Dr. Francisco George defende que a «nova Saúde Pública» deve estabelecer com os meios de Comunicação Social uma «relação de especial intimidade». Segundo o Subdirector-Geral da Saúde, esta ligação tem que ser reforçada, até porque fenómenos como a gripe das aves, a SARS ou as ameaças bioterroristas «colocaram a Saúde Pública na linha da frente das preocupações nacionais e mundiais».
Por tudo isto, é essencial garantir a correcta informação à população, de modo a evitar o empolamento do problema. O Dr. Francisco George defende, nesse sentido, a disponibilização de informação, através da internet e de linhas telefónicas próprias e sempre disponíveis, mas esta deve funcionar apenas como um complemento do «imprescindível» trabalho efectuado pela Comunicação Social. «Sem os media não há comunicação do risco, nem adopção de medidas de Saúde Pública», sublinhou o responsável.
Já os jornalistas salientaram a importância de haver especialistas disponíveis para explicar os fenómenos e esclarecer a população, em tempo útil, uma das maiores dificuldades do trabalho jornalístico. «Nós temos uma pressão enorme em termos de tempo, e nem sempre os profissionais de saúde estão disponíveis para falar, quando uma notícia rebenta nas redacções. E nós precisámos de avançar a informação», explicou Madalena Augusto, que sublinhou a importância de media e especialistas de saúde fomentarem a referida «relação íntima». Por seu turno, Manuel Acácio frisou que «para os jornalistas, também é um risco dar notícias de saúde», pois estas têm um enorme impacte na opinião pública. Além disso, os dois profissionais da Comunicação Social alertaram para a importância de os especialistas de saúde saberem adaptar o seu discurso ao órgão para o qual estão a falar e terem em conta que quando se fala para as «massas» não se pode usar o «médiquês» e é preciso simplificar. «Tal como nós temos de saber fazer as perguntas certas, o lado da Saúde tem que ter a sabedoria de saber comunicar», afirmou o jornalista da TSF.
Por fim, o Prof. Paulo Moreira contou a sua experiência como relações públicas de um hospital para demonstrar que a comunicação de uma instituição de saúde deve ser não só reactiva, mas também pró-activa e que, em caso de risco ou crise, aquela deve estar preparada para reagir, 24 horas por dia, se necessário.
Maria F. Teixeira