terça-feira, junho 15, 2004

Peço Desculpa, Aos Leitores E Aos Curiosos Googleanos

Mas actividade sabática e editorial sem interrupção da actividade assistencial pública forçam um interlúdio temporário.

quinta-feira, junho 10, 2004

As Emoções Também Matam!

Não tenho dúvidas que, se António Sousa Franco não tivesse ido à lota de Matosinhos, ainda estaria vivo.

A deslocação à lota e a intensidade das emoções aí vividas foram o factor precipitante do enfarte do miocárdio num coração já doente. Obviamente que, no dia seguinte, ou noutro qualquer dia, um outro qualquer estímulo, ou mesmo o simples evoluir da doença, conhecida ou não, poderia evoluir para o enfarte.

Mas, basta ver as imagens televisivas, para nos aperceber que o seu estado já não era semelhante ao dos dias anteriores. Parece pálido, com um fácies de preocupação. Ou seria já dor? A respiração parece mais ofegante. São tudo congeminações subjectivas e compreendo que seja politicamente incorrecto afirmar o que afirmei.

Mas, as emoções matam. A reacção aguda ao stress pode matar.

Como refere o besugo do blogame mucho já vimos morrer muita gente à nossa frente, nas nossas mãos. Já vimos muitos cadáveres chegarem ao nosso local de trabalho. Muitos tentámos ressuscitar, outros não.

Mas, quando somos testemunhas presenciais da morte, sabemos que não "há duas mortes iguais" e há sempre algumas que nos marcam para sempre.

Há uns anos, assisti a uma dupla morte. Primeiro morreu ele de morte súbita, transportado para o banco a reanimação foi impossível. Avisada ela na sala de espera, disse que ia telefonar para o filho e que depois falariam comigo.

Decorrida quase uma hora chega o filho.

Abraçada ao filho, exclama: "O teu pai morreu!"

Foram as suas últimas palavras. Cai fulminada no chão.

Numa hora o filho perde o pai e assiste à morte da mãe.

Ela não resistiu à emoção da morte dele.

quarta-feira, junho 09, 2004

A Morte de Sousa Franco, A Saúde dos Intelectuais E O Colesterol

Acerca da morte de António Sousa Franco respigo duas mensagens deste blogue com quase um ano de postagem:

Em 22 de Julho de 2003, escrevi:

"Para ler e pensar.

Qual o papel da comunicação social no crescendo desta situação! Os nossos telejornais transformaram-se em várias TVs Medicina.

Perde-se meia-hora a falar de uma doença de que se conhece um caso em Portugal, e nessa meia-hora a hipertensão, o colesterol elevado, o abuso do tabaco, o sedentarismo levaram muitos deste mundo para o outro!
Doenças evitáveis.
Há quanto tempo não mede a sua pressão arterial, há quanto tempo não faz um análise ao colesterol.
Sabia que neste momento, sentado ao computador, pode estar com uma pressão arterial alta, p.ex. 200/120 mmHg e um colesterol total de 350 mg/dl, dois importantes factores de risco para as doenças cardiovasculares e sentir-se bem, felicíssimo da vida? Mas, amanhã pode ter um enfarte ...
"

Em 14 de Agosto de 2003, disse:

"- Sobre "O Colesterol - em mais de 90% dos casos uma mudança nos hábitos alimentares reduz os níveis de colesterol" - afirma um naturopata. (O que não afirma é que a mudança de comportamentos em qualquer doença tem um êxito quase nulo, confirmado por estudos científicos.)
Cá por mim, faço como muitos dos meus colegas, ingiro diariamente uma aspirina de baixa dose e uma estatina para prevenir as doenças cardiovasculares, um dos flagelos da actualidade.
"

Há meses...

Fui consultado por um intelectual, perguntei-lhe: e o colesterol? E a pressão arterial? Sabe como estão? Não sabia, já há dezenas de anos que não sabia nada do colesterol...

Hoje...

Morreu António Sousa Franco, 61 anos. Segundo o relatório preliminar da autópsia divulgado pelos telejornais, foi vítima de um "enfarte do miocárdio fulminante, mas as suas coronárias mostravam lesões ateroescleróticas antigas", provavelmente relacionadas com o colesterol!

Provavelmente uma morte evitável...

Intelectual ou não que me lê, sentado há horas ao seu computador, amanhã dirija-se ao seu médico de família, ao seu médico assistente, ao seu médico cardiologista, ao seu vizinho médico, atá ao médico da sogra, se for necessário, mas controle o seu colesterol pelo menos uma vez por ano.

Lembre-se: o colesterol mata!

sábado, junho 05, 2004

"Médico de família? O que é isso?"

"Médico de família? O que é isso?

É aquele médico que a gente aponta á sorte, na listagem que nos mostram, ao sermos atendidos pela primeira vez?
É um sujeito que sabe de tudo e serve para se perder tempo antes de chegarmos ao verdadeiro especialista?
Nunca precisei desse.
"

Este comentário a uma posta no blasfémias ilustra bem como a cultura hospitalocêntrica, hiperespecialista, hipocondríaca, espartilhada em órgãos do corpo humano aprendidos na escola primária vai (ainda) reinando na mente de algumas cabeças em Portugal.

A cultura generalista existe nos países desenvolvidos, nomeadamente nos EUA, Canadá, países nórdicos, etc. Nos países do terceiro mundo vingam na mente das pessoas as velhas especialidades por órgão, elas próprias já quase generalistas em relação a vários órgãos ou em crise de existência. Por exemplo, a pediatria presentemente é uma especialidade generalista, a cardiologia já está "dividida" em inúmeras sub-especialidades: cardiologia de intervenção, cirurgia cardíaca (cirurgia cardio-torácica), cardiologia desportiva, hipertensão, cardiologia preventiva, cardiologia pediátrica, ecocardiografistas, cardiologia nuclear, electrocardiografistas, reabilitação em cardiologia, etc., etc.

Mas, o comentário revela também algumas verdades: a má organização dos médicos de família portugueses alocados a centros de saúde disfuncionais com péssima acessibilidade, a má articulação entre os cuidados primários e secundários, a dificil e demorada referenciação aos cuidados hospitalares, etc, etc.

Os médicos de família portugueses não precisam de um blogue que os defenda, nem que um médico explique (medicina (familiar) aos intelectuais) que um doente já bem estudado e referenciado a um especialista hospitalar por um especialista em medicina familiar só sai beneficiado, assim como com uma boa articulação entre as diversas especialidades e os diversos níveis de cuidados.

"Médico de família? O que é isso?"

Para quem se quiser informar ou formar em medicina familiar:

1) organizações:
WONCA - World Organisation of Family Doctors
APMCG
American Academy of Family Physicians
Royal College of General Practitioners

2) Revistas:

American Family Physician
Annals of Family Medicine
Archives of Family Medicine
Australian Family Physician
BMC Family Practice
British Journal of General Practice
Canadian Family Physician
Canadian Journal of Rural Medicine
Education for Primary Care
Equip Magazine
European Journal of General Practice
Family Doctor (New Zealand)
Family medical practice on-line
Family Medicine
Family Physician Report
Family Practice
Family Practice Management
General Practice On-Line
Hong Kong Practitioner
Informatics in Primary Care
Journal of Family Medicine On-Line
Journal of Family Practice
Journal of Primary Care Medicine On-Line
Journal of the American Board of Family Practice
Maanedsskrift for Praktisk Laegegerning (Danish)
Medicina de Familia Andalucía
New Zealand Family Physician
Primary Care Mental Health
Primary Care Respiratory Journal
Quality in Primary Care
Revista Portuguesa de Clínica Geral
Rivista QQ (The Quality and the Qualities in General Practice)
Salud rural (Spanish)
Scandinavian Journal of Primary Health Care
Singapore Family Physician
Utposten (Norwegian)
Work Based Learning in Primary Care

Anatomia do Mexilhão

Nunca imaginei que houvesse alguém interessado na anatomia do mexilhão. E que o espantoso Google o direccionasse para o meu blog!

Na anatomia humana, mas na feminina, sei que há!

Espero continuar amigo deste meu triplo vizinho.

Há Perguntas Que Se Não Fazem!

O Vilacondense, blogue simpático e vizinho, colocou uma pergunta a dois blogues médicos da blogosfera. Há mais por aqui. Podem ter outras opiniões. O blogame mucho já respondeu. Brincou, eu vou ser mais sério, mas porque o assunto hoje em dia é mais sério do que aquilo que se possa pensar.

O Vilacondense ainda pensa ir para Medicina? Será adolescente! Ou quererá mudar de curso?

Será que para ver "mulheres nuas" é necessário ir para Medicina?

O Google em 0,15 segundos apresentou-me 57 800 sítios para a pesquisa sobre "mulheres nuas". Para a próxima serão 57 801, pois já parecerá este blog referido na pesquisa, para infelicidade de muitos.

Conclusão: para se ver mulheres nuas não é necessário o curso de Medicina.

Não sei qual a profissão do colega Dupont, mas se na sua actividade profissional lhe aparecer à frente dos seus olhos qualquer coisa de que goste muito, que deseje há muito tempo, que o excite muito, não se irá apropriar dessa mesma coisa. Obviamente que não. Poderá sonhar, poderá imaginar: ai se eu um dia...

Mas digo-lhe colega Dupont, o contrário é que é mais frequente: o médico ou médica defender-se da sedução ou assédio dos doentes. E há várias defesas, mas primeiro é necessário diagnosticar que se está perante uma sedução e por vezes, não é à primeira que se descobre.

Por outro lado, o ambiente do consultório, onde se pressupõe existir intimidade e proximidade para ouvir e examinar o paciente propicia psicologicamente a aproximação dos intervenientes. Por isso, presentemente, prefiro consultar com testemunhas presenciais ou com a porta semi-aberta determinadas pessoas, pois no fim, será sempre a palavra de um contra a do outro e todos sabemos que os médicos não são muito bem quistos, lá, nos palácios das justiças....

Por fim, remato assim: arte é arte. Uma obra de arte examina-se com os olhos, estuda-se, analisa-se, não se toca!

quinta-feira, junho 03, 2004

Importa-se de repetir?

"Grupo Mello quer 50% do Serviço Nacional de Saúde". Título do Diário Económico.

Porquê só 50%? Porque não ou outros 50%?

Responda quem souber, que eu publico.




quarta-feira, junho 02, 2004

Mourinho - um case study

O blog Blasfémias publicou uma blasfémia pelo teclado do CAA que indiscutivelmente não é uma blasfémia (blasfémia - substantivo feminino, 1. toda a palavra ou atitude injuriosa contra uma divindade ou religião; 2. atribuição de defeitos a Deus ou negação de qualquer dos Seus atributos; 3. dito insultuoso; ofensa; 4. calúnia; difamação; 5. praga; (Do gr. blasphemía, «palavra de mau agoiro», pelo lat. blasphemìa-, «palavra ultrajante»)).

Mais se assemelha a um parágrafo de uma tese sociológica sobre a psicopatologia do povo português. Brilhante!

O noso Povo é assim: 99% dos doentes das minhas segundas consultas, hoje, estavam piores. Invariavelmente à pergunta: então como é que está? As respostas eram: na mesma, pior, nem melhor, nem pior. O único que afirmou que estava melhor, foi directo para o internamento. E foi difícil convencê-lo.

À medida que Mourinho subia vertiginosamente na cotação internacional, o povo português (de onde brotaram os nossos jornalistas e os adversários do FCP) através dos media nacionais ridicularizava-o e consequentemente descredibilizava-o na opinião pública.

Isso Mourinho nunca desculpará e eu estou com ele.

Como disse um adepto do FCP, ao Mourinho, tudo se desculpa. Acredito que a sequência infinita de vitórias e de títulos do FCP evitou a ingestão de muitos prozaques, metamidois, xanaxes, valiuns, efexores e outras drogas para a "boa disposição".

Mourinho foi para os adeptos do FCP, durante 2 anos um bom antidepressivo, um óptimo ansiolítico. Um adorável hipnótico.

Muitos lorenines foram evitados nos dias das vitórias do Mourinho.

Ainda há dois anos, Mourinho procurava emprego: foi despedido do Benfica, rejeitado pelo Sporting, escondido no União de Leiria e redescoberto pelo FCP.

Hoje tem o mundo a seus pés. Hoje pode e deve ser arrogante.

Aliás a única qualidade que os media desportivos e não só, lhe reconheceram em Portugal.