quinta-feira, março 10, 2005

Tintura Idiota

O fim de uma consulta, geralmente não é no fim.

Quer dizer, há um fim, quando o médico se despede do doente e depois uma espécie de pós-fim, quando o doente diz:

- "Já agora, sr doutor..."

Hoje foi isso que se passou.
Já a consulta tinha terminado. Já se tinha programado outra. Já nos havíamos despedido com um afectuoso aperto de mão e dispara a doente de meia-idade:

- "Já agora, sr doutor tenho aqui no dedo do pé uma coisa preta que me poderia ver."

O médico tem sempre várias opções:

1) Mostre-me para a próxima consulta.
2) Isso não é da minha especialidade.
3) Vá ali ao guichet e peça à menina para marcar uma consulta para a especialidade das coisas pretas nos dedos dos pés.
4) Mostre ao seu médico de família, que ele resolve.
5) Minha senhora não me chateie (esta opção em geral é só idealizada).
6) Mostre lá isso, que eu estou com pressa.

Enquanto mentalmente escolhia uma opção, já a doente se re-despia para me mostrar o que a atormentava e dizendo com ar compenetrado:

- "Há uma semana que lhe ando a pôr a tintura idiota... e cada vez fica mais preto!"

- "Tintura idiota? Mas que é isso?"

- "Não sabe? Aquela tintura preta, em frascos!"

- "Ah!". Exclamei:

- "Tintura de iodo? Betadine!"

Mas a moral da história não é falar da iliteracia do nosso povo em relação a quase tudo que não passe na TVI, ou na Maria, ou na Ana ou na Pancrácia.

A moral é que, são estas mesmas pessoas as testemunhas oculares escolhidas pelos jornais e pelas televisões para emitirem as doutas opiniões sobre os acontecimentos diários do nosso Serviço Nacional de Saúde...

Sem comentários: