Afirma João Lobo Antunes num encontro organizado pela Associação Portuguesa de Seguradoras.
Alguns excertos de uma notícia publicada no jornal Tempo Medicina:
"... as exigências hoje impostas à Medicina tornam inevitável a ocorrência de erros. No entanto, os médicos têm muita dificuldade em lidar com as suas falhas."
"Segundo Lobo Antunes, a discussão do erro médico é essencial e inevitável."
"Em qualquer profissão, há dois segredos muito mal guardados, um é o erro e o outro é o conflito de interesses"
"Enquanto trabalhou nos Estados Unidos o neurocirurgião foi alvo de quatro processos, três dos quais sem mérito. No entanto, estas experiências serviram-lhe para perceber que os médicos não podem continuar a achar que conseguem resolver este tipo de problemas sozinhos"
"Vários estudos têm provado que este é «um problema real» e também que, ao contrário do que se pensa, a maior parte dos erros ocorrem em procedimentos simples, pelo que, muitas vezes, são evitáveis."
"..., que usa há vários anos modelos de segurança. Segundo o professor, a área médica que já o fez, a Anestesiologia, verificou melhorias significativas, como exemplificou – em 1980 havia uma morte por dez mil anestesias, hoje há uma morte por 300 mil anestesias. A adopção de guidelines, a estandardização dos procedimentos e a existência de uma liderança são factores de sucesso essenciais, que a Anestesiologia adoptou e que outras áreas devem também seguir, acredita o neurocirurgião".
"O fenómeno do erro é também o resultado da mudança dos tempos — dantes a Medicina era «simples, ineficaz e inócua», hoje é «complexa, eficaz e potencialmente perigosa».
"este é o preço do progresso que não se pode iludir".
"Ao contrário do que se chegou a pensar em determinada altura, a incerteza na prática médica não desapareceu e, aliás, nunca vai deixar de existir. Contudo, e embora saliente que erro é diferente de acidente, Lobo Antunes reconhece que a cultura portuguesa do «desenrasca» convida muitas vezes à ocorrência de erros que poderiam ser evitados."
"Há, de facto, da parte dos médicos, uma dificuldade em lidar com o erro. Nós somos educados para trabalhar sem erro e quando este acontece é muitas vezes considerado uma falta de carácter ou negligência"
"Além disso, o tratamento que os meios de comunicação social fazem do erro médico empola frequentemente o problema e tem, por vezes, consequências para a carreira profissional do médico."
"por isso, que os médicos não sabem tudo e é preciso que os doentes tenham consciência disso. Não é possível esperar uma omni-sabedoria do médico."
"... é preciso evitar as falhas que dão origem ao erro médico, como sejam as faltas de conhecimento, o estudo insuficiente da história clínica do doente e das hipóteses de diagnóstico ou o excesso de cansaço. Já a instituição deve ter atenção à distribuição da tarefas e responsabilidades e à saúde e estado psicológico dos médicos. Outras formas de controlar o risco são a informatização dos processos clínicos, a criação de checklists, o treino e a recertificação dos profissionais. E, para além disso, é preciso encontrar formas de aprender com os erros".