Humanismo Negligenciado II
Desta feita é o Correio da Manhã de 14/07/07 que denuncia, pela pena de Cátia Vicente um caso de falta de humanidade de médicos/hospitais, neste caso de directores de serviço, uma casta geralmente intragável e muitas vezes vitalícia.
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Ricardo Antunes sofre de síndrome de Lowe – doença genética que se transmite de mães para filhos rapazes – e tem os ossos muito frágeis. Na quarta-feira, às 15h30, partiu uma perna durante uma sessão de fisioterapia. Hora e meia depois, “o ortopedista que o viu disse ao director clínico que precisava de alguém que o ajudasse a pôr gesso”, conta a mãe. A resposta chegou às 20h00 e foi a menos esperada. “Mandaram-nos para Coimbra para pôr um bocado de gesso”, revelou Zulmira Antunes. Já passava das 00h30 quando Ricardo e a mãe chegaram de ambulância ao Hospital Pediátrico de Coimbra. Durante o tempo de espera, a criança – que devido à doença tem problemas renais, dificuldades motoras e cataratas – esteve sem comer, o que deixou a mãe ainda mais indignada. “Será que não têm ninguém dentro do hospital que ajude o ortopedista a pôr gesso?”, questiona. Zulmira Antunes disse ao CM que “o ortopedista que viu o Ricardo queria tratá-lo mas não teve autorização superior nem uma pessoa para o ajudar”, por isso “fez uma tala improvisada”, para que o transporte fosse menos doloroso. João Frederico, director clínico do Hospital Amato Lusitano, diz que “é público que tem havido uma situação de divergência entre o Serviço de Ortopedia e a administração” mas afirma que “na ficha clínica do doente em causa apenas é referido que este precisava de uma intervenção e que o colega (ortopedista) não a podia fazer sozinho, pelo que foi solicitado ao Hospital Pediátrico de Coimbra se podia receber o doente”. Os conflitos no Hospital de Castelo Branco já levaram à demissão do director do Serviço de Ortopedia, função agora ocupada por João Frederico. O médico exerce ainda os cargos de director clínico e da Unidade de Cuidados Intensivos. Há dois anos, Ricardo tinha partido uma perna no hospital mas “fizeram-lhe logo um raio-X e puseram- -lhe gesso”, conta a mãe, afirmando que “isto só acontece agora porque andam zangados uns com os outros, mas os doentes não têm culpa e não podem ser prejudicados”. A criança ainda está internada no Hospital Pediátrico de Coimbra, onde vai ser sujeita a uma intervenção cirúrgica às pernas, intervenção essa que já estava prevista há algum tempo." |
1 comentário:
Infelizmente existe na classe médica (na qual me incluo)uma insensibilidade atroz que muitas vezes desvia a nossa atenção para problemas verdadeiramente mesquinhos! Os doentes são completamente esquecidos e passam a valer as regras de referenciação, as ordens da direcção, as fronteiras das áereas, criando-se situações que, vistas mais tarde por quem está de fora, parecem completamente ridículas. Claro que, na hora, os médicos pouco podem fazer e têm de se sujeitar às regras impostas, mas de facto, há casos que nos deveriam fazer parar um pouco para pensar na forma como cegamente nos submetemos a regras sem lógica!!
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