Alguém Me Ajuda!
Alguém me envia uma SMS e pergunta: "Então como está a correr o banco?"
Em dia de preparação para a euforia nacional, em vésperas do Dia D futebolístico aprazado para amanhã, "o banco corre bem", respondi-lhe.
Menti.
É óbvio que não recebemos envenenamentos, acidentes, enfartes, cadáveres, portanto pode-se afirmar: corre bem. Sem esforço!
Mas não! Esforço físico não houve. Mas psicologicamente está muito pesado!
Os médicos também sentem, embora por vezes guardem esses sentimentos bem aferrolhoados para que ninguém os desvende sob aquela bata branca, fechada, testemunha de muitos actos, factos, sentimentos, etc.
Para além de dar entrada a ALGUÉM em estado de caquéxia involuntária, por neoplasia da cabeça do pâncreas, aos 35 anos e explicar aos familiares o que ainda não previam: a Morte está aí, a aproximar-se!
... e para além de dar entrada a ALGUÉM em estado de caquéxia voluntária, por decisão voluntária de não querer viver mais, aos 98 anos, apesar de uma saúde de ferro e poder atingir ou ultrapassar o centenário e explicar aos familiares o que ainda ninguém lhes explicou: os médicos não podem obrigar ninguém a alimentar-se!
Assistimos à instalação da Morte, involuntária num caso, voluntária noutro!
Mas os médicos não podem ficar dependentes destes existencialismos.
Que culpa terá o doente seguinte, se trouxer com ele uma extraordinária dor de dentes, nunca antes sentida, e o médico prescrever reflexamente o que quer prescrever, sem levantar os olhos da secretária, enquanto o seu pensamento percorre a vastidão da natureza humana num turbilhão de ideias que não levam a lado nenhum. Mas à minha frente está um ser humano com uma enorme dor de dentes a suplicar ajuda, talvez para que consiga ver a final em tranquilidade e atrás de mim estão dois à espera da morte, um chamou-a o outro foi por ela atacado e não se conseguiu defender.
Para onde me devo virar?
Eu não acredito em Nossa Senhora de Fátima, eu não acredito em Nossa Senhora de Caravaggio.
Eu acredito na dor de dentes, no cancro do pâncreas e na incerteza da natureza humana.
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