domingo, novembro 28, 2004

Meu Caro FJV: Quanto Ao Pequeno-Almoço, De Acordo! Quanto Ao Primeiro Cigarro...Tanto Faz

Quanto ao pequeno-almoço, inteiramente de acordo. Deve ser um pequeno-almoço grande. Erradamente se chama pequeno e as pessoas no seu stresse diário ainda o encurtam mais: na quantidade, na qualidade e na disponibilidade. Compreende-se que, depois de quase 12 horas sem ingerir alimentos, nos devamos abastecer de energias para os gastos previsíveis de um novo dia.
Quanto ao primeiro cigarro, ser depois das onze, ou antes das dez, sinceramente tanto faz, se te dá prazer ao madrugar, com o mar em frente, fuma e fuma por mim, que fumei muitos com o meu anónimo mar como testemunha e o cheiro da maresia a misturar-se com o aprazível cheiro do tabaco.
Mas, agora não. Até o mar vai esvaecendo, mesmo no imaginário...

sábado, novembro 27, 2004

Situs Inversus E A Queixa do Esperma Escuro

Esta semana duas consultas foram diferentes da rotina habitual.

1) Ao observar um doente, sempre do lado direito com é da praxe, não encontrava os órgãos que habitualmente é esperado encontrar, quer na palpação e auscultação. Intrigado, mas sem lhe dizer nada, fui ver os exames complementares que ele trazia no seu saco de plástico: lá estava, uma ecografia com o fígado do lado esquerdo e o baço do lado direito, uma radiografia ao tórax e lá estava, o coração no local inverso. É um situs inversus completo. É raro.

2) Não foi este, mas outro jovem de 91 anos que se apresentou no consultório particular, com um reportório de várias queixas subjectivas, pouco valorizáveis pelo próprio doente e que prenunciam sempre a existência de uma última queixa, esta geralmente a mais importante para ele.
E lá apareceu ela. Quando me preparava para prescrever algum placebo para aquele idoso saudável, eis que me diz:
- "Sr doutor, só mais uma coisa. O meu esperma desde há uns meses que aparece escuro, parece sangue."

Pois é, para aqueles que pensam que não há vida sexual nos idosos, e que em muitos lares reprimem qualquer manifestação sexual ou afectiva entre os idosos, aqui está um bom exemplo do contrário...

Não Chega Pagarmos Mais Impostos

Também querem que paguemos mais pelos medicamentos!

Segundo o Correio da Manhã de 27/11/04:

"REMÉDIOS MAIS CAROS PARA A CLASSE MÉDIA"

"A comparticipação dos medicamentos vai ser alterada a partir de 2005, beneficiando as pessoas mais pobres e as que têm doenças incapacitantes. Opiniões contrárias já se fizeram ouvir por esta reforma penalizar ainda mais a classe média (trabalhadores por conta de outrém), ou seja, aqueles que mais pagam impostos."

Médico de Família Contra Obstetra

Já por várias vezes escrevi que não quero ser o advogado dos médicos de família portugueses. Os especialistas em medicina geral e familiar em Portugal têm várias estruturas representativas e a diversos níveis: Colégio da Ordem dos Médicos, APMCG, sindicatos e até uma associação de médicos de família privados, da qual não recordo o nome.

Choca-me que algumas outras especialidades médicas duvidem da sua idoneidade e muitas vezes por motivos subterrâneos: quer se queira ou quer não, os médicos de família portugueses, mesmo com a falta de médicos que há, distribuem-se por Portugal inteiro.

Mas não há só médicos de família em Unhais da Serra ou Pedrógão Grande, também os há professores universitários, ideólogos das especificidades da cultura generalista em Medicina, como o Prof. Armando Brito de Sá, médico de família, na Unidade de Saúde Familiar Rodrigues Miguéis, em Lisboa, e professor auxiliar na Faculdade de Medicina de Lisboa, Instituto de Medicina Preventiva, que, em artigo on-line no jornal Tempo Medicina responde aos dislates do presidente da SPOG (sem linke do artigo, porque só é acessível a médicos, segundo esclarece o Tempo Medicina, por imperativos legais).
No número de 15 de Novembro do «Tempo Medicina» publica-se uma reportagem sobre a abertura do XVII Congresso Português de Obstetrícia e Ginecologia. O Presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia (SPOG), Prof. Carlos Jorge, terá, segundo o «TM», comentado o que considera ser a «fraca actuação dos médicos dos cuidados de saúde primários». Mais adiante, na peça, surge um parágrafo que reproduzo na íntegra:
«O responsável da SPOG chamou ainda a atenção para o facto de não estar definido “o que fazer e quando fazer” no apoio às grávidas, a quem são feitas “consultas sobre consultas”. Para o obstetra, as inúmeras ecografias prescritas apenas obedecem ao “critério” da “inspiração do momento”, reflexo do desempenho do médico de família, que se limita, “na maior parte dos casos”, a ser “um preenchedor de papéis”. Por seu turno, as consultas de planeamento familiar “não passam de mera distribuição de contraceptivos” e o rastreio do cancro da mama padece, no seu entender, de uma “ausência de sistematização”.»
As afirmações do Prof. Carlos Jorge, em si mesmas preocupantes, assumem gravidade inusitada por virem do responsável primeiro de uma instituição prestigiada como a SPOG. Trata-se de um conjunto de generalidades depreciativas de uma especialidade inteira que, convenhamos, são difíceis de rebater, pela formulação desestruturada que apresentam.
Senão, vejamos:

1. O que se entende por «fraca actuação»? Seria interessante conhecer os critérios de qualidade utilizados pelo Prof. Carlos Jorge para efectuar este juízo, bem como ter acesso aos trabalhos de avaliação em que se baseia para o proferir em público.

2. Aparentemente, não estará definido «o que fazer e quando fazer» no apoio às grávidas, a quem serão feitas «consultas sobre consultas»; inúmeras ecografias serão pedidas segundo o «critério» da «inspiração do momento». Não sei se estaremos a falar do mesmo país. Como médico de família efectuo desde sempre consultas de saúde materna, segundo as Orientações Técnicas definidas pela Direcção-Geral de Saúde (incluindo, naturalmente, critérios para número e intervalo entre consultas), referenciando as grávidas aos serviços de Obstetrícia segundo os protocolos estabelecidos, com excepção das situações patológicas necessitando de cuidados hospitalares em tempo específico. Cabe ao Prof. Carlos Jorge demonstrar que não é esta a prática comum dos médicos de família portugueses que efectuam saúde materna, e que o quase milhão e meio de consultas nessa área por eles efectuadas no triénio 2000-2002 (1-3) não obedeceu aos critérios de racionalidade e adequação desejáveis. Na verdade, a generalidade da literatura internacional aponta para que, no que diz respeito à grávida de baixo risco, o médico de família obtém os mesmos resultados na gravidez que o obstetra, com menores custos (4), menor número de gestos (5) e maior satisfação para as mulheres por ele seguidas (6). Não dispomos de dados nacionais, mas não há razões para suspeitar de que entre nós se viva uma situação diferente.

3. É referido pelo Prof. Carlos Jorge que o médico de família será, «na maior parte dos casos», um «preenchedor de papéis». É público que os médicos de família são regularmente confrontados com a solicitação, deontologicamente indefensável, de transcrição de exames complementares de colegas de outras especialidades. Não irei abordar esse assunto, que tem merecido debate aprofundado em espaço diverso.

4. O Presidente da SPOG considera que as consultas de planeamento familiar «não passam de mera distribuição de contraceptivos». Suspeito, por esta afirmação, de que o Prof. Carlos Jorge não conhece os centros de saúde, ou de que a sua amostra, a existir, estará profundamente enviesada. A simples aritmética respeitante, por exemplo, ao número de DIUs distribuídos pelas ARS (e, por definição, colocados) nos centros de saúde portugueses poderia dar-lhe uma outra ideia da realidade; este evidente desconhecimento leva-o, por outro lado, a ignorar o trabalho diário de enfermeiras e médicos que efectuam ensino e esclarecimento no contexto das consultas de planeamento familiar nos centros de saúde em todo o País. Foram efectuadas, segundo os dados acumulados da Direcção-Geral da Saúde para os anos de 2000, 2001 e 2002, mais de dois milhões de consultas de planeamento familiar e saúde da mulher nos cuidados de saúde primários portugueses (Quadro II) (1-3). A desqualificação desta actividade proferida pelo Prof. Carlos Jorge é, ela mesma, inqualificável.

5. Entende o Prof. Carlos Jorge que o rastreio do cancro da mama padece de «ausência de sistematização». Por uma vez, estamos de acordo. É hoje impossível perceber objectivamente qual a situação real, entre nós, deste rastreio; por extensão, o mesmo raciocínio é aplicável ao rastreio do cancro do colo e a outros problemas de saúde fora do âmbito da presente discussão. Tal não se deve, contudo, à ausência de promoção e execução destas técnicas nos cuidados de saúde primários portugueses, mas à inexistência de sistemas fiáveis de registo que permitam quer a eficiente chamada das mulheres pertencentes à população-alvo, quando tal se justifica, quer a monitorização e avaliação desse processo. Trata-se de um problema para o qual há muito os responsáveis da Medicina Geral e Familiar portuguesa chamam a atenção e que, naturalmente, não é resolúvel com medidas avulsas, mas através de um sistema integrado de registo que permita a avaliação sistemática destas actividades a todos os níveis.

Os médicos de família portugueses realizam, desde o início da sua carreira, actividades no âmbito da saúde da mulher englobando saúde materna, planeamento familiar, diagnóstico e terapêutica de situações comuns, rastreio de neoplasia mamária e do colo uterino, e acompanhamento da menopausa, referenciando aos seus colegas obstetras/ginecologistas as mulheres que necessitam de intervenção em meio hospitalar. Os médicos de família continuarão a realizar estas actividades, em colaboração que se deseja cada vez melhor com os seus pares nos hospitais, sabendo que prestam um serviço insubstituível à população e conscientes de que a sua intervenção poderá ser sempre melhorada. Nesse sentido, continuamos a trabalhar.
Referências bibliográficas

1 Direcção-Geral da Saúde. «Centros de saúde e hospitais. Recursos e produção do SNS 2000». Lisboa, Direcção-Geral da Saúde; 2003.
2 Direcção-Geral da Saúde. «Centros de saúde e hospitais. Recursos e produção do SNS 2001». Lisboa. Direcção-Geral da Saúde; 2003.
3 Direcção-Geral da Saúde. «Centros de saúde e hospitais. Recursos e produção do SNS 2002». Lisboa, Direcção-Geral da Saúde; 2004.
4 Khan-Neelofur D, Gulmezoglu M, Villar J. «Who should provide routine antenatal care for low-risk women, and how often? A systematic review of randomised controlled trials. WHO Antenatal Care Trial Research Group». Paediatr Perinat Epidemiol, 1998; 12 Supl 2: 7-26.
5 Tucker JS, Hall MH, Howie PW, Reid ME, Barbour RS, Florey CD, McIlwaine GM. «Should obstetricians see women with normal pregnancies? A multicentre randomised controlled trial of routine antenatal care by general practitioners and midwives compared with shared care led by obstetricians». BMJ, 1996; 312: 554-9.
6 Villar J, Carroli G, Khan-Neelofur D, Piaggio G, Gulmezoglu M. «Patterns of routine antenatal care for low-risk pregnancy». Cochrane Database Syst Rev, 2001; (4): CD000934.

Notas do Médico Explica: sublinhados da sua responsabiliade, foto retirada do sítio da jornal Tempo Medicina, peço desculpa por não aparecerem os quadros referidos no texto. Por fim, sou anónimo, mas não sou o Armando Brito e Sá.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Medicinas d'Alterne

Leitora amiga enviou-me esta notícia.


"Não se esqueça da criança ... a criança!", vociferou o JT.


Pois mais um exemplo da grande devoção que todos os pais têm pelas suas crianças.


JT, se eu lhe contasse o que vejo, diariamente, sobre as crianças e seus lindos pais, diria que não estava a acontecer...


"Alemanha: casal vegetariano condenado a prisão por subnutrição do filho

O tribunal de Paderborn, na Alemanha, condenou esta quarta-feira um casal vegetariano a dois anos e meio de prisão por considerar que não cuidou correctamente do seu filho de 15 meses, que se encontrava subnutrido.

O pai, de 44 anos, e a mãe, uma enfermeira de 36, foram considerados culpados de infligir danos físicos que provocaram a morte do bebé, falecido em Março com uma pneumonia.
Segundo os especialistas, a criança morreu devido a uma pneumonia agravada por carências alimentares. O casal alimentava a criança com leite de amêndoas e noz de coco. A criança foi tratada pelos pais durante 15 dias apenas com oleos naturais, antes de ser internado com uma pneumonia grave, à qual não sobreviveu.

O juiz considerou que este não se tratava de um «caso típico de negligência», uma vez que «os arguidos pretendiam o melhor para o seu filho», mas referiu que os pais deviam ter consultado um medico quando a criança adoeceu.


Copyright Diário Digital 1999/2004 http://diariodigital.sapo.pt/"

domingo, novembro 21, 2004

Quando As Pessoas Ficam Cegas Pelo Ódio, Não Conseguem Ler E Interpretar O Que Se Escreve.

Resposta a um e-mail:

Caro J T

Assunto: Não se esqueça da criança... a criança...
- Qual criança? As que morrem assassinadas pelos pais, pelos padrastos, pelos vizinhos, ainda ontem foi condenado um casal a 14 anos de prisão. Parece que não eram médicos! Eram pais.

Já reparou que os seus últimos posts têm a ver com os processos que estão a ser levantados a médicos alegadamente negligentes?
- Exactamente, não só os últimos, como muitos outros. Sempre disse que os médicos devem ser condenados sempre que se prove que foram negligentes. O que não concordo é com a feira mediática que se faz à volta disso mesmo. Feira das vaidades. Os familiares aproveitam-se dos seus entes queridos falecidos para a sua vaidade própria.

Isso não lhe diz nada?
- A si é que não lhe diz nada? Como vê tambêm falo de colegas meus negligentes e que devem ser condenados. E você quantos dos seus pares já foram criticados no seu blogue? Envie-me os links, por favor... De quantos professores agressores de alunos já falou? De quantos professores que usam força desproporcionada contra os seus alunos? Sabe, caro amigo, tenho dezenas de professores de todos os graus de ensino na minha família. Compreendo-os. Não os persigo...

Falta a criança assassinada dentro do útero materno por um obstetra e os seus forceps - é assim que se diz?
- Assassinada? Isso não é forte de mais? Sabe, a minha filha quando nasceu também teve uma fractura do crâneo. Fui ler a literatura e isso é frequente. Um parto não é inóquo, embora se pense que sim. Se houve ou não negligência? Espero que os tribunais decidam. Mas uma coisa lhe garanto: quando o obstetra utilizou os forceps, não foi com intenção de matar... E sabe, não leu bem, refiro-me a três obstetras: dois do Amadora-Sintra e um de Mirandela.


Tal como lhe disse, o tempo em que o pessoal se calava já lá vai...
- Estou de acordo consigo: esse tempo foi com o 24 de Abril.

A partir de agora é preciso muito cuidado... muito mesmo, porque até a agressões a médicos, e não sei se pior, iremos assistir.
- Já assistimos. Ainda você andava de cueiros e já uma médica era assassinada em Abrantes por se recusar a passar uma baixa. E outros casos já houve. A nossa profissão é uma profissão de risco. Já o sabemos desde que há doentes psiquiátricos. Com as provocações da campanha dos media, a tendência agravar-se-á. Não tenho dúvidas.

É que não se pode brincar com a vida das pessoas, está a ver?
- Exactamente. Não se pode brincar. Com excepção da fome, como em África, das guerras como a do Iraque, da pobreza, como em Darfour, da pedofilia, como na Casa Pia, da exploração de homens, mulheres e crianças, como faz o capitalismo selvagem, os bancos e as seguradoras que nos exploram até ao tutano...

Bom fim de semana.
Também para si. O meu será a trabalhar 24 horas em 48 horas. Trabalhar? Talvez não. Os médicos não trabalham ... porra! Assassinam, matam, estropiam, gozam com as pessoas, usam-nas, negligenciam, erram! Todos. Mudemos todos para os alternativos...

sábado, novembro 20, 2004

SPOG

Na mesma semana em que o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia (SPOG) afirmava do alto da sua cátedra que as grávidas não eram convenientemente assistidas a nível dos cuidados de saúde primários (venham ao meu consultório, venham, deveria estar ele a pensar...) a Inspecção-Geral da Saúde e o Ministério Público deduziam acusação contra três colegas obstetras do sr presidente, por negligência médica grave, da qual resultou a morte de dois lactentes.


Acusar os médicos que trabalham nos mais de trezentos centros de saúde espalhados por Portugal é uma acusação injusta e infundada.


A opção da grávida é lei, e se uma grávida optar por ser assistida no Hospital CUF-Descobertas, em Lisboa, outra optará por ser seguida pelo seu médico de família em Unhais da Serra, para onde nenhum obstetra se decidiu mudar de armas e bagagens.


O sr presidente da SPOG que se preocupe em melhorar a qualidade da assistência hospitalar às grávidas, porque numa semana três obstetras condenados num país tão pequenino, é obra e deixe os médicos de família em paz, estes sim, distribuídos pelo Portugal profundo.


Estou plenamente de acordo com o encerramento de maternidades que apenas servem os interesses pessoais de quem lá trabalha - são as famosas quintas.




Peço Desculpa Aos Leitores...

Mas eu também fui enganado pela desplicência dos nossos jornalistas. (Alguns. Não quero generalizar como a comunicação social, em relação aos médicos).

Desplicência? Não. Negligência, má-prática jornalística, ultrapassagenm da legis artis, desprezo para com o público consumidor de notícias.

A TSF on-line em 19/11/04 feriu-nos os tímpanos e encandeou-nos a íris com a "dealdrina".

E eu acreditando na boa fé da rádio de referência e na competência dos seus jornalistas, confiei que seria dealdrina, o pesticida da moda, o mediático.

Mas não. O nome está incorrecto. Diz-se DIELDRINA.

Mas como não espero que a TSF peça desculpa a um seu ouvinte, peço eu desculpa aos leitores deste modesto blogue: dieldrina e não dealdrina.
Para os interessados:
Propriedades Físicas - A substância pura (também designada pela sigla HEOD) apresenta-se sob a forma de cristais brancos....
Propriedades Químicas - é um composto estável ao calor e à luz...
Aplicações - intervém como matéria activa na preparação de insecticidas...
Vias de Penetração - inalação, cutânea, ingestão...
Riscos - não é uma substância inflamável. .../... Devido à toxicidade dos fumos emitidos aquando da combustão as pessoas encarregadas da luta contra incêndio serão equipadas de aparelhos de protecção respiratória, autónomos e isolantes. Após um período latente de 20 minutos a 24 horas as intoxicações agudas manifestam-se por contracções musculares que podem dar lugar a um coma convulsivo, por vezes precedido de cefaleias, vertigens, náuseas vómitos e diarreia (sobretudo depois de ingestão). .../... provoca ligeira irritação da pele e das mucosas que é muitas vezes reforçada pela presença dos solventes; estes últimos, bem como os óleos vegetais, favorecendo a absorção da dieldrina, aumentam a sua toxicidade. A exposição prolongada à dieldrina, entre outros sintomas, pode dar origem a irritações brônquicas, a dermatoses, e lesões hepáticas e a perturbações do foro neurológico.
Medidas de Prevenção - Devido à toxicidade impõem-se severas medidas de prevenção...
Cuidados Médicos - Aquando da admissão, evitar expôr ao produto as pessoas portadoras de afecções neurológicas, hepáticas e renais ou de dermatoses crónicas. Em caso de projecções cutâneas ou oculares, de grande inalação ou de ingestão, alertar imediatamente o médico do trabalho.
(Mais em http://www.eq.uc.pt/~mena3/dieldrina.html)

sexta-feira, novembro 19, 2004

Dealdrina - Guerra de Tabaqueiras?

Segundo os jornais de hoje, a Direcção-Geral da Saúde "por uma questão de precaução, vão ser retirados do mercado os lotes de SG Ventil e SG Filtro, as duas marcas onde foi detectada a dealdrina, um pesticida cancerígeno".

Mas...

Não tem o tabaco mais de 4 500 substâncias químicas, das quais mais de 50 são cancerígenas?

Mais de 50 são reconhecidamente cancerígenas. Repito!

Ou será que o tabaco sem a dealdrina já não provoca cancro?

Mas, se é tão grave assim, a Inspecção-Geral de Saúde já abriu algum inquérito e o Mnistério Público já encontrou culpados por essa negligência? Ou não apareceram queixosos?

quarta-feira, novembro 17, 2004

17 de Novembro de 2004 - O Meu Dia Desde 1981

Dia Nacional do Não Fumador

terça-feira, novembro 16, 2004

Apagão Em Hospitais: Erro Médico, Erro Em Medicina, Erro de Quem?

O blogue Causa Nossa publicou um bilhete transcrito de um e-mail assinado por T A Fernandes com o título ""Apagão" em hospitais" e inserido em 8 de Outubro por VM, mais conhecido por Vital Moreira, e mais conhecido ainda entre os médicos pelo ódio que nutre pelos mesmos (segundo alguns dos seus inflamados artigos ... há uns anos foi um intransigente defensor do Pequito, que agora demonstrou o que na realidade é!) .

O TA Fernandes (que é engenheiro electrotécnico) teve a gentileza de me enviar recentemente um e-mail também sobre o assunto. Nele dizia que estava indignado, e que se tratava de uma negligência criminosa. Concordo com tudo.

Dizia-me ele que enviou também um e-mail de protesto para o Ministro da Saúde, para a Ordem dos Enfermeiros e para a Ordem dos Médicos.

Na resposta disse-lhe que também deveria enviar para a Ordem dos Engenheiros. Agora acrescento que deveria enviar também para o Sindicato dos Electricistas.

Na volta do correio, muito elegantemente TA Fernandes diz-me que não está contra os médicos, mas contra os gestores dos hospitais. Mas... os engenheiros electrotécnicos, Senhor?
Quem será o responsável por todos os circuitos de alta, média e baixa tensão num hospital?

Acredito na boa fé do TA Fernandes (já não da do VM, pois nem uma análise crítica fez ao e-mail!)

Mas o que me fez trazer aqui esta troca de e-mails é a cultura anti-médico que se vai instalando na sociedade: tudo o que corre mal nos hospitais ou nos centros de saúde é culpa dos médicos e dos enfermeiros.

Mas atenção: os médicos ainda são só médicos, embora cada vez mais dependentes dos engenheiros. De tensões altas e baixas, só as relacionadas com a pressão arterial. De circuitos, só as sinapses e os neurónios e outros circuitos semelhantes...

E é necessário cada um assumir as sua culpas.

Eu de electricidade só sei o que quer dizer on/off. E o que fazer quando está on ou off. E o que esperar que aconteça quando faço on ou off.
Maiii nada!

A Válvula Aórtica do Jornalista Fernando Oliveira Que Não Virou Juiz

A sua notícia no Jornal de Notícias de hoje é sobre a morte de uma doente ocorrida em 1999 em Vila do Conde e titula-a assim:

Médico julgado por homicídio – Ministério Público sustenta que houve negligência no atendimento a doente que veio a falecer

Sem dúvida uma notícia muito mais esclarecedora do que a do Comércio sobre o mesmo caso.

”O caso ocorreu às 22 horas do dia 3 de Novembro de 1999, quando Joaquina Maia deu entrada no serviço de urgência do Hospital de Vila do Conde, com dores de cabeça e vómitos. Era doente do coração, fez-se acompanhar de todos os medicamentos que tomava, mas apenas lhe foi diagnosticada uma enxaqueca.”

Teve alta três horas mais tarde, "porque já se encontrava consciente e colaborante". Menos de 48 horas depois, foi internada de urgência no serviço de neurocirurgia do Hospital de S. João do Porto, onde acabaria por morrer. "A doente apresentava o mesmo quadro clínico, cefaleia na nuca e vómitos, mas já sem consciência, porque a assistência médica prestada no Hospital de Vila do Conde não foi a adequada e só agravou o seu estado de saúde", lê-se na acusação do MP.

A afirmação do Ministério Público é muito polémica.

E mais polémica é quando diz:

“uma "simples auscultação" à paciente e verificar que tinha uma cicatriz de esternotomia mediana”

O Ministério Público demonstra que não sabe como se diagnostica uma hemorragia cerebral.

Já diagnostiquei muitas apenas pela clínica, incluindo a pesquisa de alguns sinais.

Um TAC hoje em dia certifica o diagnóstico.

Uma coisa posso dizer em 25 anos de exercício de medicina: nunca diagnostiquei uma hemorragia cerebral por auscultação cardíaca e visualização de esternotomia mediana.

Não passo cheque em branco a ninguém, nem tão pouco ao "médico José Gonçalves Extremina, residente na Póvoa de Varzim, com 41 anos, e aguarda julgamento com termo de identidade", segundo o Jornal de Notícias informa.

segunda-feira, novembro 15, 2004

A Válvula Aórtida da Jornalista Márcia Vara Que Virou Juiz

A sua notícia no Comércio do Porto de hoje é sobre a morte de uma doente ocorrida em 1999 em Vila do Conde e titula-a assim:


Homicídio involuntário por negligência médica é julgado dia 25 em Vila do Conde


Depois de ler a notícia cheguei à conclusão de que quem vai ser julgado é o médico e o Tribunal com o seu Juiz é que vai considerar se houve ou não homicídio involuntário por negligência médica, mas a Márcia diz-nos que já foi julgado, só falta ler a sentença, embora só no dia 25 é que o julgamento se irá realizar.

Hoje são 15 de Novembro, faltam 10 dias.

Mas que confusão, será que a Márcia anda metida com o Juiz? E o julgamento já está feito? Será algum furo jornalístico?

Confusão…

Da notícia:

“Vómitos e tonturas” – quem não as teve pelo menos uma vez na vida!

"tratamento negligente que deu à mulher” – como se pode afirmar se a consulta não tem assistência.

“Manuel Maia quer "que se faça justiça, porque o médico não deu a devida atenção" à mulher. - idem idem, aspas aspas.

“violou os deveres gerais de zelo e lealdade” – afirma peremptoriamente o Ministério Público.

“a uma hemorragia cerebral” – doença geralmente aguda, geralmente fatal, também conhecida por AVC ou “genericamente trombose”.

"Manuel Maia diz-se "revoltado" – compreendo. Eu também ficaria com a morte de alguém próximo.

“um sentimento que, garantiu ao COMÉRCIO, "só vai passar quando o tribunal condenar o médico" – desejo de vingança.

“"Se ele a tivesse examinada em condições, hoje, a minha mulher ainda estaria viva", conclui.” – quem garante? As hemorragias são fatais muitas vezes.

“A audiência está então marcada para o dia 25 de Novembro, a partir das 9h30, no Tribunal de Vila do Conde” – apareçam, o espectáculo vai começar com a artista Márcia Vara e cobertura mediática do Comércio do Porto.

Conversas de doentes

(Este post estava em draft no Blogger desde 13 de Outubro. Chegou a hora de ver a luz do dia!)

Os doentes são os primeiros a criticar os médicos pelos seus erros. E ainda bem,
mostram espírito crítico, excluindo o aproveitamento dos media e os minutos de glória que proporcionam, a verborreia que debitam e o ódio que destilam.

Mas não aceito as críticas de associações de doentes quando são feitas de forma superficial e leviana e muitas vezes com objectivos ocultos, pois muitas associações de doentes estão enfeudadas à indústria farmacêutica (sim, não são só alguns médicos. Também há doentes a receber da indústria. Era mais uma boa investigação jornalística...) ou a lobies médicos (que também os há!).

Regra geral as críticas são dirigidas ao elo mais fraco da cadeia assistencial: os médicos que labutam nos cuidados primários e que tanto geram ódio, como amor.
Tanto se lê nos jornais que "não percebem nada do assunto", como se lê que se fazem manifestações para impedir a sua retirada de um determinado local.

Isto vem a propósito de umas críticas já antigas de uma associação de doentes diabéticos (Não a APDP!) que se insurgia contra o tratamento dos diabéticos nos centros de saúde ou qualquer idiotice semelhante.

Estas conversas ouvi na sala de espera, hoje:

Uma: Ah! Esqueci-me da levar a insulina.

Outra: Hoje tenho 400, ainda bem, quanto mais alto melhor!

Outro: Remédios, quantos menos melhor! Quero é para o cérebro!

Ainda outra: Andar? Que andem eles!

Isto reflecte a iliteracia dos doentes portugueses.
Essas associações poderiam investir no ensino directo com os seus doentes, poderiam investir em reuniões no Portugal profundo, em vez de se reunirem em hotéis, em vez de organizar grandes campanhas de publicidade que muitas vezes têm como objectivo apenas o consumo de medicamentos...
______________________________________________________

Ontem foi um dia qualquer ligado à diabetes. Pela notícia da SIC deveria ser o dia dos Adolescentes Diabéticos Que Praticam Equitação.

Após 12 horas dominicais de trabalho, nada melhor que ligar a TV e ouvir as notícias fresquinhas: e ouvi, mais doenças, doenças, doenças, doentes, queixas.
Preferi ver os golos do Sporting, não sem antes ter ouvido a SIC a falar dos tais doentes diabéticos tipo 1, que são pouquíssimos quando se fala de epidemia da diabetes, pois é uma referência à diabetes tipo 2.

Mas dizia a jornalista do alto do seu saber: vejam lá como os médicos são uns incompetentes, atém proibiram esta jovem diabética de fazer hipismo, (palavras minhas). Jovem da classe alta, com uma mãe toda loiroca, com as mãos calejadas pelo trabalho de agarrrar as rédeas de um lindo cavalo, com o hipódromo ao fundo.

Mais um golo do Sporting...

sexta-feira, novembro 12, 2004

Quem Morrerá Amanhã? Eu? Tu?

Ontem, um familiar meu, numa estrada de Portugal em mais um estúpido acidente de viação: amputação dos dois membros inferiores...


Sabe Catarina ...

A estrada mata, mas não as vamos fechar. (No reverso da medalha, dão lucro ao País!)

Os automóveis matam, mas não os vamos deixar de vender, nem deixar de viajar. (No reverso da medalha, dão lucro à industria!)

O tabaco mata, mas não se proíbe a sua venda. (No reverso da medalha, dão lucro às tabaqueiras!)

Os aviões matam, mas não deixamos de voar. (No reverso da medalha, dão lucro, lazer e negócios!)

Os erros médicos podem matar, mas não vamos fechar os hospitais, nem despedir os médicos. O que até nem era mau, uma reforma antecipada e no reverso da medalha salvam também muitas vidas.

Como sempre tenho dito, os mais preocupados com o erro médico, são os médicos. Nem sequer os gestores dos hospitais, nem sequer a Mello Saúde

quinta-feira, novembro 11, 2004

"Não percebi completamente este seu post:"

Ok Tiago.
Eu estou cá para explicar. Embora não seja um especialista na orgânica interna da Ordem do Médicos, se alguem me puder corrigir, agradeço.

"De: T A F
Data: Quinta-Feira, 11 de Novembro de 2004, 2:00
Para: medicoexplicamedicina@iol.pt
Assunto: Atraso da Ordem dos Médicos

Boa noite!

Não percebi completamente este seu post:
http://medicoexplicamedicinaaintelectuais.blogspot.com/2004/11/estarei-com-mania-da-perseguio.html

Eu não conheço o caso, mas afinal há ou não há atraso da Ordem dos Médicos? [Claro que não!]

Houve algum atraso ou falta de iniciativa do bastonário? [Claro que não!]

Houve algum atraso ou falta de iniciativa do Conselho Disciplinar? [Claro que não!]

Era obrigatório que os pais apresentassem queixa [Claro que sim!]
ou a iniciativa poderia ter partido da própria OM? [Claro que só se houvesse alguma denúncia concreta e factual!]

Era preciso esperar pelo relatório da IGS? [Claro que sim, se não houvesse outra qualquer denúncia!] [Claro que sim!]

Estas não são perguntas de retórica, são dúvidas sinceras. Não tenho qualquer opinião formada sobre o caso.

Os meus cumprimentos.
--
taf@etc.pt
http://taf.net/ - http://taf.net/opiniao/
http://porto.taf.net/ - http://7arte.net/
"
O Conselho Disciplinar só se pronuncia após os orgãos dirigentes lhes enviarem os processos.
Os processos só são abertos em caso de denúncias, quer por particulares individuais, quer por instituições, quer pelo poder da IGS ou Tribunais.
Presumo que num caso de proporções nacionais e mediáticas a Ordem do Médicos pode abrir um inquérito. Se fosse abrir inquéritos a todas as notícias da TVI...

O Blog do João Tilly Ensandeceu?

Espero que não! Mas aquela dos 45% das mortes hospitalares se deverem a erros médicos, preciso de confirmar. Mas também é verdade que ninguém fala dos milhões que saiem dos hospitais curados...

Mas como vou a caminho de uma negligência hospitalar e provavelmente vou matar mais um por erro médico, logo, depois de um turno de urgência, após um bom jantar com um bom vinho, numa bela Pousada (a minhas expensas!) vou ter calma e discernimento para ler os últimos bilhetes do amigo João Tilly, ainda magoado pela morte de um familiar.

Se o João Tilly fizesse uma ligeira pesquisa veria que somos a única classe que se dedica a estudar e investigar os seus próprios erros, porque sabemos que deles depende a vida ou a morte. Nos Estados Unidos da América do Norte há dezenas de anos que se estuda para diminuir e prevenir o erro médico. E apesar disso há erros, e ainda muitos.

Os erros de um professor? Quais são? Um aluno que não aprende e que chumba. Será um erro? Claro que não. Mesmo que o professor passe a aula ao telemovel.... e o ano de atestado médico em atestado médico, para justificar aquilo que nenhum médico pode atestar: um enxaqueca levada da breca, uma depressão do caraças, uma cólica renal ontem e onteontem e amanhã, uma lombalgia ou "dor de rinses", ou muitos outros sintomas subjectivos não visualizados e como tal não quantificados. Mas os médicos dão o benefício da dúvida e atestam. Tem bom coração. Não duvidam nunca dos outros, ao passo que os OUTROS estão sempre a duvidar dos médicos...

Os erros de um jornalista? Quais são? Umas noticias erradas. Ou até inventadas? Mas que interessa, esconde-se atrás das fontes.

Mas nós não. Temos uma poderosa Inspecção Geral da Saúde sem médicos, só com juristas, temos uma Ordem dos Médicos forte e responsável e temos toda a comunidade de olho bem aberto...

Arafat? Arafat morreu por negligência médica. E até sem um diagnóstico, já viram. Que maus médicos, os franceses...

quarta-feira, novembro 10, 2004

Estarei Com A Mania Da Perseguição?

Sobre o mesmo assunto o governametal e ex-jornal de referência Diário de Notícias, informa: a Ordem dos Médicos só agora vai instaurar o processo, mesmo depois do jornalista colher informações na origem.

Mas a notícia que querem passar é, de facto, o "atraso da Ordem dos Médicos".


"O Conselho Disciplinar da Ordem dos Médicos, por seu lado, só agora vai instaurar um processo de inquérito para apurar responsabilidades. Segundo explicou ao DN, o presidente do conselho, Freire Andrade, esta decisão tardia tem a ver com o facto de o relatório da IGS «só nos ter sido enviado ontem pelo sr. bastonário e também porque os pais nunca nos apresentaram qualquer queixa directamente»".

Ordem Processa Médicos!

Para aqueles que nos consideram corporativos ou a Ordem dos Médicos (com todos os defeitos que tem...) como uma corporação onde tudo se esconde leiam a notícia do Expresso on-line
"Ordem processa médicos
Morte de criança no Hospital Amadora-Sintra
As conclusões da Inspecção-Geral de Saúde sobre a morte de uma menina no Hospital Amadora-Sintra em Janeiro, «indiciam má prática médica». O relatório chegou agora ao conhecimento da Ordem dos Médicos, que garante abrir um processo disciplinar aos clínicos responsáveis.
Os médicos envolvidos na assistência à criança vão ainda ser processados disciplinarmente pelo próprio hospital, como recomendaram os inspectores da Saúde. O relatório foi também enviado para o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, que já abriu o respectivo inquérito.
A menina de dez anos entrou no hospital no dia 9 de Janeiro para ser submetida a uma cirurgia do foro otorriolaringológico (extracção das amígdalas), mas não acordou no final da intervenção. Entrou em coma profundo, acabando por falecer
."
Também é uma alerta para todas aquelas mãezinhas e papásinhos que não descansam enquanto não mutilam seu filhos por espirrarem de mais ou pingarem sempre do nariz quando entram e permanecem nas creches ... geralmente na privada, porque nos hospitais públicos faz-se apenas o necessário.

domingo, novembro 07, 2004

Particularmente sensibilisado

Poderia listar as dezenas de e-mails e dos seus correspondendes emissores que me sensibilizaram com a sua preocupação quanto ao estado de saúde de quem não conhecem.

É engraçado. Desejarem melhoras a uma figura anónima desta interessante atmosfera, difícil de definir.

Eu sou anónimo. E quero continuar a sê-lo.
Isto é, não sou ninguém para quem me lê. Mas eu sei quem sou.

Como sei quem sou, é interessante receber e-mails do João, do Armando, da Catarina, da Isabel, do Joaquim, do Al, do Manuel, do Mário, do Alexandre, do Marco, da Carla, do Francisco e de muitos outros, anónimos e não anónimos.

Mas posso confirmar que não estive doente, mas senti-me doente. E quando um médico se sente doente tem muitas doenças por onde escolher. O catálogo é inesgotável.

Deve ser o doente mais chato para os outros médicos.

Lá tive que me sujeitar a acareações, intervenções, manipulações e outras investigações e o raio dos médicos não me encontraram nada.

Fica aqui escrito: se daqui a 5 anos tiver um cancro qualquer, solicitarei uma indmenização por má prática clínica.

Com tantas queixas que eu tinha, com tantos tubos que me introduziram, com tantos exames que me obrigaram a fazer, não encontraram nada. Nada que eu pudesse vender à TVI.

Mas senti-me na obrigação de convalescer!
Ninguém acreditou em mim: eu estava doente!
Como me augurava uma leitora: "deram-me uma palmadinha nas costas e disseram que não era nada."

Até acredito.
A mente por vezes não acompanha o corpo.
E a minha mente, depois de tanta desgraça observar, depois de tanta injustiça acompanhar, depois de tanto cadáver espiar e de tanta vida socorrer, depois de tanta vida ver desaparecer, depois de tanta morte tentar impedir, faliu. A minha mente faliu, fraquejou, ressentiu-se. Foi-se...

Só espero depois de tanto procurar uma doença sentida, não venha a morrer na estrada, como ainda hoje um cadáver me passou pelas mãos... Paz na Estrada! Bolas. Vou adoecer outra vez!

sábado, novembro 06, 2004

Vendedores de Esperança

A frase não é minha, mas poderia sê-lo.
Pertence a Nuno Lobo Antunes que na revista Lux escreve "Quando a doença atinge as crianças, a televisão e os jornais fazem notícia do desespero, e aliviam a sua má consciência publicitando intervenções de eficácia mais do que duvidosa, ou promovendo tratamentos 'no estrangeiro'".


Isto a propósito da golfinhoterapia, cartilagemdetubarãoterapia, cavaloterapia ou azinoterapia e outras alternativoterapias ou mesmo "os milagres realizados por fisioterapeutas em Cuba".

A Convalescença Continua, A Manipulação Para A Rua!

Se continuar a ler o Expresso terei certa recaída.
Será a minha altura de ser indemnizado pelo mal que me fez ler notícias manipuladas.
Refere esse pasquim que:
"A PFIZER, empresa farmacêutica que comercializa o Viagra, lançou uma campanha pública de sensibilização para o tratamento da disfunção eréctil, que em Portugal afecta cerca de 500 mil homens, dos quais apenas 31 mil são medicados. A campanha «Estou de Volta» tem um público-alvo transversal. Apesar de a disfunção eréctil afectar sobretudo homens com mais de 45 anos de idade, o problema não é apenas consequência do envelhecimento, podendo ter outras origens. O Viagra foi o primeiro medicamento inovador contra a impotência a ser lançado no mercado internacional ..."
Quanto valerá uma notícia na primeira página do Expresso?
Será que a inclusão desta "importante" notícia foi inocente?
Notícia que, segundo o mesmo pasquim, interessará a menos de 2% dos portugueses, notícia de transcendente interesse mundial, relacionada com o futuro da humanidade, com as mais importantes decisões para o equilíbrio geo-estratégico do mundo...
Será que esta notícia não fará parte da própria campanha do laboratório para provover o Viagra? E se for verdade, quanto renderá o negócio?
Mais uma vez fomos manipulados pelos interesses económicos da indústria farmacêutica e dos media.

Ressuscitado Pela Desonestidade Jornalística do Expresso

A "convalescença" foi abreviada pela desonestidade intelectual do pasquim que dá pelo nome de Expresso.

O Expresso já foi o EXPRESSO. Hoje é apenas mais um jornal que manipula a seu belo prazer os seus leitores.

Na sua primeira página de hoje, fala-se de ERRO MÉDICO.

Já várias vezes referi que o erro médico é uma preocupação frulcal da classe médica e de cada médico em particular. Assim como serão para as outras profissões (assim o espero!) os seus erros. A grande responsabilidade de se trabalhar com a vida e a morte, individualmente, "face to face" e diariamente, transforma o problema do erro humano num grande problema. Não se pode comparar a morte à privação da liberdade por 10 ou 20 anos, por um mero erro judiciário.

O livro que o expresso divulga foi escrito por médicos e baseado numa extrapolação de outros estudos europeus para a nossa realidade. Assim se chega ao número de 3 000 mortes por ano. Mas como decidiu o desonesto expresso intitular a notícia na sua primeira página? Assim:
"3 000 mortes por incúria"
Todo o desenvolvimento da notícia desmente o título. A merda do Expresso propositadamente manipulou-me e a todos os que o leram.
Fui ao dicionário para comparar os significados:
Incúria - Descuido, desídia, desleixo, desleixamento, desmazelo, desazo, relaxação, relaxamento.
Erro - engano, incorrecção, desacerto, equivocação, equívoco.
Mais palavras para quê?