domingo, junho 11, 2006

"Médicos defendem notificação de erros em saúde."

No Público de 02/06/06, por Catarina Gomes.

"Receber tratamentos em hospitais ou outras unidades é mais perigoso do que andar de avião, defendeu clínico."

Em Portugal, deveria ser criada uma lei para fazer com que a notificação de incidentes médicos às autoridades seja uma rotina, defenderam ontem três responsáveis médicos no II Congresso da seguradora Médis, que decorreu em Lisboa.

Receber cuidados numa unidade de saúde põe tanto em risco a vida como escalar montanhas e é mais perigoso do que andar de avião, afirmou Nicolás Garcia, médico da Clínica Universitária de Navarra, em Espanha, com base num estudo científico.

* Tratamentos médicos desadequados,
* infecções hospitalares ou
* erros

são alguns dos possíveis perigos que um doente enfrenta numa unidade de saúde, juntou.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, afirmou que a cultura de culpabilização de profissionais de saúde esconde, muitas vezes, as causas dos "acidentes médicos", designação que diz ser mais fiel à realidade do que "erro médico".

E a designação "nada tem de corporativo", reiterou. Ao usar o termo "acidente médico", está-se a incluir casos de negligência médica, de "erro involuntário", de problemas de equipamentos ou até de problemas de rotulagem de fármacos que podem induzir em erro e levar à administração errada, referiu.

"Tudo o que corre mal devia ser reportado", disse o bastonário. Mas são muito poucos os hospitais portugueses que dão conta de "acidentes" ocorridos com os seus doentes, defendeu o responsável. Cinquenta por cento dos erros são evitáveis.

Na cultura ocidental, "o erro está associado à culpa", mas falta haver "aprendizagem com o erro", defendeu, por seu turno, José Fragata, cirurgião do Hospital de Santa Marta e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa.

"Setenta por cento dos erros não têm consequências, cinco por cento são muito graves e podem implicar a morte. Cinquenta por cento dos erros são evitáveis", conclui, baseando-se em estatísticas internacionais.

De 20 ocorrências, só uma não é ocultada, nota.
O médico afirma que a procura da culpa faz esquecer a origem do problema, que tem, na maiorias das vezes, razões no sistema.

Fragata descreveu o erro médico muitas vezes como "erro honesto", algo diferente da "negligência". "Falhas organizacionais são a maior causa de acidente." O relato destas situações, voluntário ou compulsivo, é uma das hipóteses que se deviam colocar, notou.

O presidente da Associação dos Médicos Gestores de Unidades de Saúde, João Gamelas, disse que deveria haver "uma política nacional do erro". "O relatório de ocorrências de erro ou de situações anómalas devia ser obrigatório por lei."

4 comentários:

naoseiquenome usar disse...

Já neste espaço disse estar com "Fragara". Grande conhecedor do meio, das coisas, das pessoas, dos interesses e que, ao que sei, esteve muito bem recentemente na apresentação de mais um trabalho, no S. João, no Porto. Voltamos pois, ao "sitema"!!!!

A propósito, estatísticamente, sabe-se que andar de avião representa um risco ínfimo em relação à maioria das actividades do quotidiano. Como diria alguém que não recordo e, adaptando, "Perigoso é viver"!

Agora no meio Hospitalar, ou de forma mais lata nos cuidados de saúde, ouvimos com frequência dizer: "foi um acidente iatrogénico"; "uma infecção nosocomial".... e pronto. aceita-se. fica-se por aí. FOI!

Mas afinal que ilações tirar daí????

Vamos chanmar economistas ou sociólogos para fazer as estatísticas e perceber o fenómeno?

Para quando uma cultura não de culpa (já agora: há responsabilidade sem culpa!), mas de reflexão e aperfeiçoamento de métodos, técnicas e relações comunicacionais?

Tanto caminho por fazer....e todo a ser percorrido por quem faz parte do "sistema"!

Anónimo disse...

Sim, já que 50% dos erros são evitáveis, porque não criar os meios pelos quais possam aprender a evitá-los?

Eu sou piloto desportivo e todos os acidentes e incidentes aeronáuticos têm obrigatoriamente que ser reportados à autoridade aeronáutica, não para atribuição de culpas, mas para fins de investigação.

Assim aprendemos todos com os erros dos outros.

naoseiquenome usar disse...

Sérgio, tem toda a razão. Desde o porteiro ou segurança ao legislador...
Só que este é o lado masi visível da questão.

CarLoS disse...

Não é o lado mais visível, é o lado mais fácil. Ao culpabilizar o médico, evita-se a investigação ao "sistema" e os custos da mudança de procedimentos (que mexeriam com todos os outros actores da saúde, que são muitos...).
É puro cinismo político-administrativo : a "negligência" médica é pedra debaixo da qual se escondem os lacraus da saúde :-(