Bragança vs Póvoa de Varzim: As Duas Faces Da Mesma Moeda
O "aneurisma dissecante da aorta intrapericárdica com tamponamento" que originou a morte de uma mulher jovem em Bragança (na foto um aneurisma dissecante extra-pericárdico) e a amiba da Póvoa (em baixo) que se introduziu numa criança provocando uma meningite e posteriormente a morte.
A moeda é a condição raríssima destas duas situações.
Em relação à primeira, se um aneurisma já é pouco frequente, a sua dissecção ainda mais rara é, e se associarmos a situação aguda, intrapericárdica e numa jovem mulher, tornam-na presumo, talvêz tão rara como a da amiba (cerca de 100 casos descritos) . Segundo esta revista canadiana (aqui) a incidência desta patologia "in North America is about 5 to 10 cases per million people annually".
A moeda é a condição raríssima destas duas situações.
Em relação à primeira, se um aneurisma já é pouco frequente, a sua dissecção ainda mais rara é, e se associarmos a situação aguda, intrapericárdica e numa jovem mulher, tornam-na presumo, talvêz tão rara como a da amiba (cerca de 100 casos descritos) . Segundo esta revista canadiana (aqui) a incidência desta patologia "in North America is about 5 to 10 cases per million people annually".
E o mais importante: "Incidence figures are generally based on autopsy studies. Unfortunately, TAD [thoracic aneurysm dissection] continues to be underdiagnosed before death."
Lá como cá.
Lá como cá.
Mas então que razões encontrou a Inspecção-Geral de Saúde para pronuncionar dois médicos em Bragança por negligência médica? Isto a notícia não esclarece e portanto também não me pronuncio sobre a eventual negligência. Aos jornalistas pespegantes (que pespegam, que não investigam porque não interessa.) também não interessa esclarecer. Só pespegar o que ouvem ou o que se vende. São pagos para isso. Coitados.
Mas interrogo-me: queixar-se-ia a paciente de uma dor lancinante, excruciante, "worst pain ever". Pelo que a jornalista do Público descreve não. Mas refere que a doente esteve internada três dias. É sinal de que os médicos queriam esclarecer a situação.
As doenças não trazem uma etiqueta com o seu nome pespegado. É preciso suspeitar delas. E a suspeita é em função de muitos factores e da prevalência dessas mesmas doenças.
Segundo o artigo científico referenciado, "typical TAD patients are 60 to 65 years old, have a history of hypertension, and are twice as likely to be men as women.", que como se pode ver eram sobreponíveis com as situações apresentadas em Bragança aos médicos.
Tenho mesmo uma curiosidade enorme em saber o que descortinou a IGS de negligente na actuação dos médicos ...
Queria louvar a atitude do delegado do Ministério Público ao ter arquivado o processo. Mas o facto de ter cedido às pressões dos media, dos advogados, da Inspecção-Geral de Saúde entristece-me.
A indepêndencia judicial falhou ...
E a amiba?
A amiba, talvez porque tenha um nome simpático foi mediática, apesar de ser assassina. Os médicos foram entrevistados na TV, deram entrevistas para os jornais, mas o paciente acabou por falecer.
Tenho a certeza que o diagnóstico não foi feito no primeiro dia da ida à urgência.
Se para a doença rara de Bragança há negligência, para a doença rara da Póvoa tem que haver uma medalha por serviços relevantes à causa da Ciência em Portugal. Talvez no próximo 10 de Junho sejam condecorados os médicos da Póvoa que descobriram a amiba e os juristas da IGS que descobriram o vírus da negligência médica num caso de "aneurisma dissecante da aorta intrapericárdica com tamponamento".
Para terminar: afirma o marido da infausta jovem de 23 anos ao Público, (obviamente que já apareceu nas televisões e jornais): "Eu tenho um filho que na altura tinha apenas três anos. Mais tarde, quando começar a fazer mais perguntas, quero ter respostas para lhe dar e quero que saiba que o pai fez tudo para esclarecer as circunstâncias da morte da mãe".
Ainda não sabe?
Então eu volto a dizer: a sua esposa faleceu de um aneurisma dissecante da aorta intrapericárdica com tamponamento cardíaco.
Espero que este filho goste sempre do pai e que mais tarde reveja os minutos de fama que a morte da mãe deu ao seu pai, guardados com muito carinho numa fita VHS ou em DVD.
E um recado à jornalista Ana Fragoso: não sei o que quer dizer "intrapericatória".
Presumo que quereria dizer intrapericárdica.
A palavra pericatória, com ou sem intra não encontrei em lado nenhum.
A palavra pericatória, com ou sem intra não encontrei em lado nenhum.
E é o Público um jornal de referência...
Sem comentários:
Enviar um comentário