sexta-feira, agosto 08, 2008

É Isto Que Se Passa Nas Urgências!

Hoje consultei uma doente que teve necessidade de recorrer a uma urgência nocturna de um nosso  hospital.


Se tivesse ligado para o 112 ou Saúde 24 talvez tivesse sido melhor atendida.

O interesse deste post não é criticar os meus colegas de outras nacionalidades, mas para alertar para outros casos possíveis.

Durante o dia transportou vários garrafões de água. O minimercado fica longe e a idade já não perdoa.

Durante a noite, as suas dores lombares obviamente exacerbaram-se a tal ponto que teve que recorrer a uma urgência hospitalar.

Foi atendida por um  médico de língua estrangeira (para além do país!) de dicção difícil.

Verdade seja dita que o colega bastante se preocupou em saber se a comunicação estava a ser profícua, pois, quase entre cada frase perguntava se "A senhora compreende-me?"

Mas o principal motivo que me leva a escrever relaciona-se com os erros graves a que estas condições podem levar:

1 - Foi prescrito etoricoxib 120 mg 2 x dia, alterando a medicação que a doente já fazia - etoricoxib 60 mg SOS.

2 - Foram-lhe entregues duas receitas emitidas para outros doentes ... (Uma até acontece com mais frquência do que deveria ser desejável, mas agora entregar-lhe duas prescrições de outros tantos doentes...)

(Disse-lhe outra companheira das urgências, após ter perguntado baixinho: É brasileiro? Não, respondeu a outra. É desses países de mais longe!)

8 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que o facto de ser estrangeiro não terá nada a ver com o erro na prescrição...

E já agora, gostava que comentasse as declarações do médico que atendeu o ferido do assalto ao BES. As suas declarações pareceram-me um pouco incorrectas porque parecia que estava quase a pedir desculpas por estar a tentar salvar-lhe a vida, (influenciado pela onda racista, xenófoba, e bárbara, que pedia... "matem-nos")

Anónimo disse...

a mim também me parece que o facto de o senhor ser estrangeiro é despiciendo e confesso que, pela primeira vez desde que tenho lido coisas neste blogue, não percebi qual o sentido deste poste.

Médico Explica disse...

Caro Anónimo, confesso que não ouvi essas afirmações. Por principio, não gosto de ver médicos a falar sobre doentes mediáticos, gosto, sim, que sejam emitidos boletins clínicos sobre a evolução das patologias. O médico tem que tratar todos as pessoas que necessitem da sua ajuda, independentemente de todo o circo.

Em relação à Esteva, pensei em dizer que não havia mensagem, apenas descrição de factos. Mas não, critico a doente portuguesa que deveria ligar para a Saúde 24 (ou 112 que triariam o episódio), critico o sistema que é muito mais exigente para com os médicos portugueses na sua entrada clínica do que para com os médicos estrangeiros, critico as empresas de médicos que colocam colegas em vários sítios, apenas com visão mercantilista, etc...

Anónimo disse...

Não é certamente um caso isolado. O erro humano em saúde é uma realidade e a estatística é demasiadamente benevolente perante os casos que a realidade transparece. Mas tal como o próprio nome aponta, o erro HUMANO alimenta-se da maior fragilidade da nossa espécie - da fraqueza no discernimento sem consciência do acto. Esta quebra não é social, cultural ou ...al, o erro humano é contemplado em qualquer parte deste mundo. Já tive imenso prazer em trabalhar com profissionais imigrantes, sejam enfermeiros ou médicos e muito têm para nos oferecer, não querendo contudo desculpar o facilitismo integrado. Quero contudo comentar que situações semelhantes ocorreram, de certeza, com profissionais da sua pátria.

Visão ENFernal

(http://visaoenfernaldacoisa.blogs.sapo.pt)

Médico Explica disse...

Sem dúvida!
Da minha pátria, da sua, da dos americanos, da dos ingleses, da dos da Ossétia do Sul, da dos tetchenos, etc.

Placebo disse...

Trabalhar nas Urgências deste país, repositório de todas as maleitas que não conseguem ser absorvidas pelos "Cuidados Primários" inexistentes e/ou insuficientes e/ou incompetentes, além das (relativamente poucas)patologias realmente Urgentes, favorece este e outros, porventura muito mais graves, erros.

A médicos nacionais e estrangeiros, tarefeiros indiferenciados e especialistas. Ou seja, a quem quer que lá trabalhe. Talvez por isso muitos optem por cruzar os braços.

Ou seja, um mau exemplo.
Que só existe porque os ditos serviços estão cada vez mais caóticos.

Anónimo disse...

Olá Placebo,

não concordo nada consigo, nessa análise que faz!

Para já as urgências, emergências não são um problema dos CSP, nem uma forma de avaliação dos mesmos, depois, o descernimento clínico aprende-se com os anos!

Aquilo que estamos a verificar é que as urgências estão cheias de pessoal "indiferenciado, novo, sem sentido clínico (e com a benção da OM), a fazerem horas sobre horas sem noção do mal que podem fazer aos utentes, assim como os "gestores" que os contratam.

Todos sabemos que ao fim de umas horas de serviço o erro é maior e há necessidade de haver descanso, mas por vezes estes "mercenários das urgências" fazem dois ou três turnos sem problemas nenhum quer para quem permite, quer para eles.

Erro médico? Quando existir já lá não estão!

É o que temos, mas não o que merecemos!

Anónimo disse...

O problema da saúde em Portugal é a incapacidade ou a fuga constantante dos políticos em discutir e resolver os problemas estruturais da saúde. O único que tentou fazer com frontalidade algo de construtivo (Correia de Campos) foi mastigado por uma impressa sensacionalista, e um cartel agressivo de médicos dispostos a defender os seus "bolos" a todo custo.
Essas discussões da receita na urgência não passam de verniz a estalar sobre um chão podre.
Lamentável...muito triste!
www.hospitalportugal.blog.com