domingo, abril 30, 2006

A História De Rui Frade Ou A Maledicência Dos Jornalistas (A Maioria)

Em 30 de Outubro de 2003, escrevi este post, desafiado por alguém que me "impunha" que criticasse um médico.

Acreditei na nossa comunicação social vs jornalistas e lá disse mal do Homem, acreditando que os jornalistas teriam feito a sua investigação séria e honesta e baseado naquilo que a comunicação social transmitiu, também o insultei e apelidei-o de desonesto. Embora afirmasse que achava estranho que o prof. Daniel Sampaio com ele tivesse trabalhado.

913 dias depois, o Tribunal absolve-o das acusações e sabe-se a verdade: Rui Frade é licenciado em Medicina e frequentou até ao último dia o internato da especialidade de psiquiatria num hospital do Porto. Não fez o exame de saída pelos motivos que ele saberá.

Mas o que disseram os nosso imaculados jornalistas? Pediram desculpa pela destruição da imagem de um homem? Não, os santos jornalistas nas peças que eu vi, limitaram-se a dar a notícia e a passar peças de há 3 anos em que era entrevistada a mãe de uma doente em que "achincalhava" mais o médico e o homem.

Destruiram a vida de uma pessoa, que agora segundo disseram, faz urgências gerais num hospital de provínica,para sobreviver

Se os jornalistas vivem com os médicos que temos, Portugal inteiro vive com a "merda" da comunicação social que tem, onde se contam pelos dedos os jornalistas com J.

E ressalvo novamente: não foi a estória errada que me chocou. Foram as peças destes dias, onde depois do Tribunal o ter absolvido, alguns jornalistas ainda o continuaram a julgar.

P.S. Agradeço ao leitor José M. Bruno Gonçalo Padrão a lembrança para limpar o nome de Rui Frade neste blog, mas já o pensava fazer, apenas razões de logística o impediram.

segunda-feira, abril 24, 2006

A insustentável gravidade das cirurgias do lado errrado

Por Jorge Varanda, in Público.


As cirurgias erradas não são uma fatalidade. A sua probabilidade de ocorrência pode ser reduzida a quase a zero. Aprender com os erros e não escondê-los, é o caminho que os países mais evoluídos estão a trilhar

Alguém tem de dizer o que deve ser dito a partir do caso de cirurgia do lado errado que terá ocorrido a 12 de Abril no Hospital de Vila Real: uma mulher de 25 anos operada ao pé esquerdo, em vez do direito. Perder esta oportunidade é contribuir para que casos de tal natureza ocorram, apesar, felizmente, da sua extrema raridade. É imprescindível que se diga que estes erros não são hoje uma inevitabilidade.
Para carregar mais o cenário, lembre-se que os casos de cirurgias do lado errado são potencialmente devastadores.

Os casos mais graves arrepiam só de pensar neles, como o da amputação da perna errada ou a ablação do seio errado. Tais situações ocorreram no passado e podem acontecer no presente, se nada for feito para mudar os procedimentos preparatórios dos actos cirúrgicos. Nos EUA, a Joint Commission on Accreditation of Health Care Organizations analisou as causas 126 casos reportados de cirurgias erradas.
Há que afastar a ideia estabelecida que o erro se deve pura e simplesmente à negligência do cirurgião, o qual, nessa lógica, sendo o culpado deve sofrer as consequências do acto.

A moral assumida pelo direito e pela opinião pública leva a que alguém deva sempre expiar "o pecado". É o nosso fundo moral judaico e cristão a impor-se. Acontece, porém, que o desenho dos processos de trabalho está na origem da maior parte dos erros. Se o médico operador chega à sala com o doente já anestesiado e o campo operatório lhe apresenta a parte errada do corpo, o risco de errar pode consumar-se. Acrescente-se que nenhum dos elementos que prepara o doente é o cirurgião. Por isso, é o próprio desenho do processo de trabalho que contem em si o germe do problema.
A Saúde tem vindo a aprender com as metodologias da qualidade aplicadas noutros sectores de actividade, onde a experiência diz que mais de 80 por cento dos problemas são gerados nos processos de trabalho, ou seja na forma como se encadeiam os procedimentos que conduzem ao resultado pretendido.

Contudo o desenho dos processos de trabalho é da responsabilidade dos níveis de gestão das organizações e não obrigatoriamente do profissional individual apanhado no turbilhão do problema.

O objectivo principal deste texto é o de transmitir a mensagem de que as cirurgias erradas não são mais uma fatalidade. A probabilidade de ocorrência de tais casos pode ser hoje reduzida praticamente a zero. Este assunto foi tratado no contexto da acreditação de um grupo dos antigos Hospitais SA pela Joint Commission International, tendo sido traduzido e divulgado entre eles para aplicação "o protocolo universal para prevenir a cirurgia do local errado, do procedimento errado e da pessoa errada".

Esse protocolo propõe basicamente os seguintes procedimentos:
- Processo de verificação pré-operatório.
- Marcação, em geral com tinta indelével, do local do corpo a operar, com a colaboração do doente.
- Verificação final mesmo antes da operação começar, na presença dos membros da equipa operatória.

O meu apelo vai no sentido de, com a liderança apropriada do Ministério da Saúde, no que se refere ao SNS, das Ordens e dos gestores e lideres médicos e de enfermagem dos hospitais públicos e privados se promova a difusão deste protocolo para que em Portugal ninguém mais tenha que sofrer as consequências desastrosas de erros tão devastadores como as cirurgias do lado errado.

A Saúde é uma actividade de risco elevado. Problemas de segurança de vária natureza (erros com medicamentos, erros na administração de sangue, infecções adquiridas em ambiente hospitalar, queimaduras, úlceras de pressão, quedas, erros de diagnóstico) podem acontecer na prestação de cuidados. As áreas de maior complexidade e de maior densidade tecnológica aumentam o risco, designadamente unidades de cuidados intensivos, blocos operatórios e emergência.

O modo tradicional de tratar esta realidade não serve o interesse público da segurança do doente: a abordagem judicial dos casos de erro em Saúde leva a que o sistema se feche sobre si mesmo, não analise as causas-raiz dos problemas e não actue preventivamente sobre as fontes dos erros.

Aprender com os erros e não escondê-los, é o caminho actual que os países mais evoluídos do mundo estão a trilhar. Como em tudo, só a verdade e a transparência nos ajudam a avançar. Responsável do programa de acreditação pela Joint Commission International dos antigos Hospitais SA

quarta-feira, abril 19, 2006

Resposta ao Sr. Madrid: Médico Explica disse...

Desculpe, Sr Madrid, mas defender os direitos de um doente não é incompatível com a caricatura do mesmo, neste caso, da jovem em questão e se for caso disso.

Porque está ela na cama? E não numa cadeira? Porque está de fato-de-treino (o pijama/robe do nosso povo!)? E não vestidinha como toda a gente? Porque é preciso falar com a mãe, a tia, o pai, o piriquito, o cão, o merceeiro, o amante, etc.? Não chega ouvi-la?

Esta era uma cirurgia simples.

E se a indemnização for rápida, até haverá mais erros a ser descobertos, mas menos circo mediático. Ou então faz-se um desconto na indmnização por cada minuto de TV.

Se o prejudicado tiver uma actividade comercial, isto também lhe dará lucro!

segunda-feira, abril 17, 2006

A História Dos Pés.

Num século que se quer de excelência para tudo, há erros indesculpáveis.

Continuam a ser erros, mas erros grosseiros, independentemente das causas que os originaram ou de efectiva negligência, se se apurar.

Aparte "os 15 minutos de fama" da jovem esparrachada com o seu fato de treino no sofá da sala, concordo que sofreu desnecessariamente e que deve ser indemnizada convenientemente pelo Estado, por danos físicos e morais.

Este erros não podem acontecer!

domingo, abril 16, 2006

Indústria Farmacêutica Acusada De Fabricar Doenças Para Vender Mais

No Diário de Notícias de 12/04/06:

"O receio instintivo da morte e da doença está a ser aproveitado pela indústria farmacêutica para aumentar as suas vendas, denuncia um relatório divulgado ontem.

Segundo o estudo de David Henry e Ray Moynilhan, apresentado numa conferência médica que decorre até quarta-feira na Austrália, as grandes empresas são responsáveis por muitas prescrições desnecessárias de medicamentos. Mas, mais grave do que isso, chegam ao ponto de promover tratamentos para doenças cuja existência nem sequer está comprovada.

As consequências destas práticas vão desde o desperdício de recursos financeiros, que poderiam ser utilizados no combate a doenças verdadeiramente graves, a problemas de saúde motivados pelo uso indevido de medicamentos.

Os autores deste trabalho, um médico e um jornalista especializado, denunciam a existência de uma verdadeira teia de influências não oficial, montada entre a indústria farmacêutica e grupos de media e publicidade. A estratégia consiste em criar a necessidade e depois apresentar a solução milagrosa.

"Esta prática é demonstrada muito explicitamente nas campanhas de sensibilização sobre as doenças financiadas pela indústria", indica o relatório publicado na School of Medical Practice and Public Health. "É mais frequente estas serem destinadas a vender medicamentos do que a iluminar, informar ou educar sobre a prevenção de doenças ou a manutenção da saúde".
Entre os exemplos de situações alegadamente empoladas pela indústria conta-se a "síndrome das pernas irrequietas" (RLS). Desde 2003, a multinacional GlaxonSmithKline tem promovido a ideia de que o que muita gente encara como um simples tique nervoso, habitual em situações de tensão, é afinal "uma síndrome comum mas ainda não reconhecida" para a qual, naturalmente, já existe um medicamento: o Ropinorole.

Outra doença dos tempos modernos é a disfunção sexual feminina (FSD). Alguns especialistas descrevem-na como a versão feminina da disfunção eréctil, e garantem que afecta 44% das mulheres, Outros, garantem que as descrições desta condição são, no mínimo, vagas. No entanto, já há empresas a trabalhar na solução.

Mais frequentes, segundo os autores deste estudo, são os diagnósticos errados de doenças verdadeiras , devido às campanhas que convidam os médicos e os consumidores a estarem "atentos" a sinais. Nesta lista incluem-se desde comportamentos normais das crianças, que são confundidos com hiperactividade e perda de atenção, aos problemas erécteis de homens com mais de 40 anos."

quinta-feira, abril 13, 2006

Não Podia Estar Mais de Acordo Com Este Senhor Sobre A “Propaganda enganosa de medicamentos”

In o "Primeiro de Janeiro" (13 de Abril)

"O bastonário da ordem dos Farmacêuticos, Aranda da Silva, criticou a ‘propaganda enganosa’ de medicamentos, que aumenta os custos com a saúde e gera desperdício. Segundo Aranda da Silva “são as autoridades que devem intervir de forma sistemática para evitar esse tipo de propaganda enganosa, que é lamentável”."

quinta-feira, abril 06, 2006

Hemorróidas: O Jornal de Notícias Descobriu Uma Nova Técnica Com Uma Década De Vida

In Jornal de Notícias de 03/04/06

"Nova técnica para operar hemorróidas


Margarida Luzio

O Hospital de Chaves vai passar a utilizar uma nova técnica para operar hemorróidas, uma doença que afecta cerca de 10 por cento da população servida por esta unidade de saúde.

Numa espécie de experiência-piloto, a hemorroidopexia por grampeamento (técnica de Longo), que vem substituir a cirurgia tradicional, foi aplicada, anteontem de manhã, a três pacientes pelo especialista António Araújo Teixeira que, passo a passo, foi explicando aos cirurgiões do hospital flaviense os "truques" para um trabalho mais "eficiente".

"Perde-se o tempo que for preciso na hemóstase (estancar o sangramento). É muito desagradável ter que vir novamente com o doente ao bloco", recomendava Araújo Teixeira.

Menos dor no período pós- -operatório e uma recuperação mais rápida são algumas das vantagens da nova técnica, que, em vez da simples incisão cutânea, faz a reposição do tecido hemorroidário para o seu estado fisiológico natural.

A dois passos do bloco operatório, na sala de conferências, as intervenções foram acompanhadas por médicos, enfermeiros e estudantes, através de um sistema de videoconferência."

segunda-feira, abril 03, 2006

"As Boas Maneiras De Dar Más Notícias"

Título e artigo do jornal "Tempo Medicina".

Quando as notícias são más, ainda podem piorar se a forma como são anunciadas não for a melhor. A pensar na relação entre médico e doente, Walter Baile, especialista mundial no treino de aptidões de comunicação em Oncologia, esteve em Lisboa para dar a conhecer o que pode fazer toda a diferença. No âmbito do projecto «Organização e desenvolvimento de um programa de cuidados paliativos no Hospital de S. José», e para alargar a formação nesta área, realizou-se no passado dia 23 a conferência/workshop sobre «A importância das aptidões de comunicação em Oncologia – Apresentação do protocolo de más notícias», em que foi orador Walter Baile, do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas (EUA). A ideia partiu de Luzia Travado, psico-oncologista no Hospital de S. José e coordenadora da Unidade de Psicologia Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa, que considera o tema da máxima importância. Isto porque, na sua opinião, a qualidade da comunicação entre o profissional de saúde e o doente é um factor crítico para a adaptação deste à sua doença, adesão aos tratamentos e satisfação.

Como referiu, «as aptidões de comunicação podem ser treinadas e melhoradas, bem como as “más notícias” – diagnóstico, prognóstico, recidiva, etc. – podem ser comunicadas de modo sensível e adequado às necessidades de cada doente e suas famílias, diminuindo o stress desta difícil tarefa». Desta forma, acrescentou, «a moderna Oncologia clínica e os cuidados paliativos não dispensam o conhecimento destas técnicas e o seu treino, que constituem uma importante ferramenta para os médicos».

Walter Baile mostrou um pequeno vídeo com um diálogo doente/médico, que considerou um exemplo claro de má comunicação. O médico não olhava directamente para a sua interlocutora, sendo notório que não lhe estava a prestar grande atenção, escrevia enquanto esta falava e interrompeu-a várias vezes. «Se um doente quando vai ter connosco já está nervoso à partida, uma atitude destas só piora», salientou o especialista.

E porque é importante, para os cuidados clínicos, ter boas competências na forma de comunicar? Segundo Walter Baile, estas fazem com que o doente esteja mais satisfeito, reduz-se a má prática, promovem-se objectivos clínicos cruciais e uma excelente relação com o médico. E «mesmo que este não o cure, o doente vê nele competência», sendo que «um bom diálogo faz com que o doente seja um parceiro nas opções de tratamento, o que é sempre benéfico para ambas as partes», lembrou o orador, sublinhando: «Hoje em dia cada vez mais as pessoas querem fazer parte do seu tratamento, gostam de saber as escolhas que existem e de ter um papel activo nas mesmas».

Mas se existe um protocolo de más notícias, há que conhecer os passos a dar.
Walter Baile definiu o protocolo SPIKES (Setting up the interview, Perception, Invitation, Knowledge, Emotions, Strategy), em que o primeiro passo é o da preparação para a entrevista com o doente, devendo o médico fazer antecipadamente com que não haja interrupções e, por estranho que possa parecer, levar sempre lenços de papel.

De seguida, vem a percepção, e aí há que tentar perceber quais as informações que o doente possa ter sobre a doença, para que, eventualmente, caso não sejam correctas, poder corrigi-las. O próximo passo é saber se o doente quer ter informação, pois há indivíduos que não desejam ser informados. E caso o doente não queira falar da patologia, o médico pode sempre perguntar-lhe se não quer saber quais os planos de tratamento e, portanto, ajudar de outra forma.

O quarto passo é passar a informação e o conhecimento, e uma boa maneira de dar a má notícia é dizer, de forma calma, «infelizmente tenho más notícias» ou «o que se passa é sério, tenho muita pena de lho dizer». É essencial dar a conhecer os factos aos poucos e usar sempre uma linguagem ao nível do doente, nunca utilizar termos técnicos, «porque muitas vezes as pessoas têm vergonha de dizer que não estão a perceber» e há que explicar tudo da melhor forma para que o esclarecimento seja total.

No quinto passo, o das emoções com respostas empáticas, o médico tem que ter um papel reconfortante, «porque corresponder às emoções de um doente nestas circunstâncias é, sem dúvida, um dos maiores desafios, pois perante a má noticia a pessoa entra em choque, dor e solidão».

Ao informar da doença por etapas, devem aproveitar-se metáforas que o doente use para a patologia e dar explicações por esquemas ou gráficos no papel. Aqui há que mostrar apoio e solidariedade e dar respostas empáticas, mas dizer sempre a verdade.

Durante a conversa, o médico deve fazer pausas, escutar com atenção e mostrar proximidade. Por fim, vem a estratégia em que se visa fazer o plano para o futuro, sendo crucial que se discutam todas as opções de tratamento, o que dá sempre ao doente a sensação de que os seus desejos são ouvidos.

Baseado nesta informação Joaquim Reis, doutorado em Psicologia e professor de Psicologia da Saúde, desenvolveu, com a colaboração técnica de Luzia Travado, um DVD para os especialistas portugueses, designado «Aptidões de comunicação e de relação para profissionais de saúde».

E Depois Pensem: Este Juiz Foi Negligente?

In "Público", por Francisco Teixeira da Mota.

Direito de retrocesso.

"O João era um médico de clínica geral que exercia a sua profissão na Região Autónoma dos Açores desde 1982 tendo sido nomeado presidente do conselho de administração do centro de saúde local, em 1998.

A sua vida decorria com toda normalidade, quando, no início de 1998, foi apresentada uma queixa-crime contra si, por alegadamente ter ofendido a saúde e causado a morte de um seu doente.

Ouvido pelo Ministério Público, negou a sua responsabilidade no ocorrido, tendo prestado ojá famoso, TIR (termo de identidade e residência) e continuou a sua vida mas... Em 2 de Junho de 1999, o juiz de instrução considerou que "havia indícios da prática, pelo menos, de um homicídio negligente, praticado com violação grosseira das legis artis, e de um crime de ofensas à integridade física por negligência", e embora "considerasse que a matéria revestia grande complexidade científica", o juiz de instrução impôs ao dr. João. as seguintes medidas de coacção:
- "prestação de caução de 2.000.000$00 e
- suspensão imediata do exercício da sua profissão de médico,
- tanto a nível da função pública
- como em exercício da actividade laboral,
- com proibição expressa de prática de qualquer acto médico
- ou de outros de que deste tipo de acto dependam em qualquer lugar, designadamente, estabelecimento público ou particular de saúde".

Considerava o juiz de instrução ser "manifesto o perigo de continuação da actividade criminosa e perturbação do inquérito e, ainda, que havia o perigo de fuga".

O João recorreu e, ao mesmo tempo, requereu ao juiz que alterasse as medidas de coacção que lhe tinham impostas. Mas o juiz manteve as medidas de coacção decretadas.

Entretanto o Ministério Público, no dia 25 de Junho de 1999, determinou o arquivamento do processo, por considerar inexistirem indícios da prática de qualquer crime pelo João, mas os familiares do paciente falecido requereram a continuação do processo pelo que o mesmo não foi arquivado.

Só em 9 de Dezembro de 1999, veio o Tribunal de Relação de Lisboa revogar as medidas de coacção a que estava sujeito o João, substituindo-as, novamente, pelo mencionado TIR.

O Tribunal da Relação esclareceu que "a natureza dos factos a investigar era de grande complexidade não se compadecendo com confirmações apenas com base em testemunhas, exigindo sim pareceres técnicos prestados por entidades científicas com competência para tanto", sendo certo que o juiz de instrução "nada esclarecera sobre a personalidade do João nem sobre o risco de perturbação do andamento do inquérito" e, quanto ao perigo de o João continuar a praticar crimes, o Tribunal da Relação lembrou o facto de o João exercer clínica na região "desde 3 de Fevereiro de 1982 sem que nunca tivesse sido posta em causa a sua competência profissional".

O processo foi posteriormente arquivado e o João nunca chegou a ser julgado.

Veio, então, o João pedir uma indemnização ao Estado pelos prejuízos que lhe tinham sido causados pelas medidas de coacção que lhe tinham sido impostas pelo juiz de instrução, inadequadas e desproporcionadas, nomeadamente a proibição de exercício da sua profissão.

Na 1.ª instância, o João conseguiu que lhe fosse atribuída uma indemnização de 65.911,86 euros pelos danos patrimoniais e de 20.000,00 euros pelos danos não patrimoniais ou morais.

O Estado recorreu e o Tribunal da Relação revogou a decisão, absolvendo o Estado.
Mas o Supremo Tribunal de Justiça, na sua decisão do passado dia 7 de Março, subscrita pelos juízes conselheiros Fernandes Magalhães, Azevedo Ramos e Silva Salazar, revogou a decisão do Tribunal da Relação e confirmou a decisão da 1.ª instância.

O Estado procurou assim, como é seu dever, reparar o mal que fizera a um seu cidadão...

A história do João, com um "fim feliz", não é uma história muito habitual, já que a responsabilização do Estado pelos seus "desmandos", nomeadamente no âmbito da actividade judicial, não tem muitos casos de sucesso para as vítimas.

Se gosta da blogosfera e desta matéria, sugere-se a visita ao Dizpositivo."