sábado, junho 21, 2008

Coisas De Que Os Media Não Falam...

No jornal Tempo Medicina, 1.º Caderno de 2008.06.23 (só acessível a médicos):

Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) contra pedidos de transcrição de meios complementares de diagnóstico (MCD) aos centros de saúde

«É responsabilidade dos hospitais»

Para Pedro Lopes, ao pedir aos centros de saúde para requisitarem MCD, os hospitais estão a utilizar «armas que não são correctas» para conter custos. A ideia corrobora a posição da Fnam, que adjectiva esta situação de «malabarismo contabilístico».
Segundo Pedro Lopes, quando os cuidados de saúde primários enviam um doente para o hospital «é porque esse utente precisa de cuidados médicos da rede hospitalar» e, a partir do momento em que entra na rede, «é responsabilidade dos hospitais» esclarecer a sua situação clínica.


Assim se resume a posição do presidente da APAH, perante a carta enviada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam) à ministra da Saúde, dando conta da «transferência da requisição de exames complementares de diagnóstico necessários para as consultas externas, para os médicos dos centros de saúde».
Na missiva lê-se que esta é uma prática da qual resultam «pesados prejuízos para a eficiência global do sistema» e «subversões na responsabilidade da prescrição» que procuram «unicamente "sacudir" as despesas» dos meios complementares de diagnóstico dos hospitais para os cuidados de saúde primários, que os requisitam ao sector convencionado.


Em declarações ao «Tempo Medicina», Pedro Lopes reconheceu que há «muitos hospitais» a reenviar os doentes para os centros de saúde com o pedido de realização de MCD. Por trás desta atitude «está a pressão [de contenção] dos custos» nos hospitais, admitiu o presidente da APAH, embora advirta: «Não podemos fazer cortes nos custos utilizando armas que não são correctas.» Em causa está o princípio do «prestador/pagador», que dita que «se o hospital prescreve tem de assumir a responsabilidade financeira» do acto, frisou.


Contudo, para o administrador o reenvio de doentes com pedidos de exames também se prende com a má referenciação. «Quando os clínicos gerais enviam doentes para a rede diferenciada, estes têm de ir devidamente estudados, o que por vezes não acontece», afirmou.

[Uma no cravo, outra na ferradura! Pois a investigação de um doente, a partir de certo ponto, geralmente a partir do diagnóstico provisório, compete aos hospitais ou médicos da especialidade respectiva. Acontece, geralmente, que os hospitais repetem exames já feitos, até posso concordar, porque se trata de uma questão de confiança do médico, por outro lado há muitos exames que os centros de saúde não podem pedir e outros exames que os médicos dos cuidados de saúde primários não dominam, nem lhes compete dominar: cateterismos, ressonâncias magnéticas, PET SC, muitas análises imunológicas, e muitos outras técnicas que têm evoluído. O que não se compreende é que os hospitais peçam ao doente hemogramas, rx de tórax, bioqímicas, ecg, ecocardiogramas, etc, muitas vezes para avaliar a evolução dos doentes aos centros de saúde. E o doente é que sofre, pois tem que andar de um lado para o outro apenas por motivos burocráticos....]

Um argumento categoricamente negado por Mário Jorge Neves, dirigente da Fnam. «Não é isso que se passa», disse ao «TM». O sindicalista contou «que a maioria desses pedidos não deriva do défice de informação clínica», pois as denúncias recebidas pela Fnam relatam que «aos doentes acompanhados nas consultas externas hospitalares é feita uma prescrição oficiosa para serem os médicos de família a fazer as prescrições oficiais».
Estas solicitações, que registaram «um aumento» nas últimas semanas», não passam, para o médico, de «malabarismo contabilístico dos hospitais EPE» para «sacudir» custos e apresentar melhores resultados, o que comprova «a falência rotunda deste modelo de gestão».
Além de que dificulta a vida aos médicos de família, «afogados em actividades burocráticas e administrativas» que limitam «a capacidade de resposta» à lista de utentes.
SIM reage a ministra
A ministra da Saúde, na visita ao Hospital de Santa Marta (ver pág. 10), reagiu à carta da Fnam, garantindo aos jornalistas que «a responsabilidade do serviço prescritor/pagador ainda existe» e que a observação do doente, o pedido de exames complementares e a prescrição terapêutica «é da responsabilidade da instituição que o faz».

[Como anda nas nuvéns. Gostava de saber, como médica pediatra quantas requisições enjeitou para os CS.]

Todavia, admitiu: «Em algumas situações, como os doentes que moram muito longe da instituição, pode ser pedido o favor ao centro de saúde para fazer o pedido de exames.»

[Porque não recorrem aos derviços convencionados da sua área de residência!]

Quanto ao facto de se tratar de uma medida para os hospitais conterem os custos e passarem a factura dos MCD para os centros de saúde, Ana Jorge foi peremptória: «Estamos a falar de dinheiro do SNS, não faz sentido.»
As palavras da governante motivaram uma nota do Sindicado Independente dos Médicos (SIM) na sua página da internet. Nela lê-se que «ninguém contesta a necessidade de, por comodidade, os doentes fazerem exames fora do hospital», mas também diz que Ana Jorge esquece «de forma imperdoável» que os conselhos de administração «da maioria dos hospitais do SNS impedem os médicos» de «solicitar exames necessários em credenciais passíveis de utilização convencionada».

[Uma grande verdade, de que ninguém fala!]

O SIM considera esta situação «absurda, abusiva e eticamente insustentável», e pede que a ministra «determine a obrigatoriedade» dos médicos das unidades hospitalares solicitarem, em credencial própria do SNS, os exames que considerem necessários.

Rita Vassal

5 comentários:

Anónimo disse...

O problema dos custos não é o prioritario, antes o da rapidez... pelo hospital os doentes demoram meses a fazer endoscopias ou um simples ecocardiograma enquanto que pelo centro de saude vão a sistemas convencionados e na semana seguinte têm o exame efectuado. Os medicos de familia muitas vezes enviam os doentes sem qualquer tipo de exame, é depois o medico do hospital que tem de iniciar todo o estudo. para além dos meses à espera da consulta, qdo é atendido, o doente demora outros tantos meses a realizar os exames pelo hospital, situação que ficaria resolvida se os medicos de familia fizessem o seu trabalho e não despachassem tudo para o hospital. Justifica-se que um medico de familia envie um doente para uma consulta hospitalar com uma anemia ferropenica, sem ter feito um estudo analitico sumario e as endoscopias? ou um doente para estudo de uma dispneia sem ter pedido um ECG ou ecocardiograma??

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo. Aliás uma anemia ferropénica nem terá necessidade de ser tratada no hospital. Só não compreendo a razão de os médicos de família enviarem os doentes para o hospital sem exames. Então porque mandam? Só porque o doente pede? Só porque lhe dá na gana? Não têm que fazer exames para o diagnóstico de envio?

Anónimo disse...

Claro...e esses pedidos de consulta e quem os faz deveriam ser devidamente referenciados e comunicados ao director do Centro de Saúde, ainda que este não tenha qq hierarquia tecnica...é uma má prática mas QUE NADA TEM A VER COM A QUESTÃO DA TRANSCRIÇÂO! aqui não são exames de seguimento que estáo em causa mas exames iniciais...
Não divaguemos quanto à questão essencial, pf!

Quanto à questão da anemia ferropenica aqui referida: as endoscopias não são feitas para o diagnóstico de anemia mas sim para determinar a causa dessa anemia...e não são apenas as endoscopias ( alta e baixa, já agora) mas tb outros ECD. Na minha opinião, apenas numa anemia ferropénica sem causa identificavel é que deveria ser pedida a colaboração do especialista hospitalar de Hematologia...

Anónimo disse...

Não vale a pena começarem a acusar estes e aqueles por trabalho mal efectuado. Profissionais destes existem em ambas as carreiras. O que interessa é que são uma minoria.
No entanto pergunto ao primeiro anónimo, não havendo problemas económicos, o problema da rapidez faz com que se peça a transcrição para o médico de família? Isto tem jeito? Porque não se passa logo em impresso próprio no hospital? Outro assunto que ponho à discussão já que até agora ainda ninguém o referiu, as credenciais de transporte também são da responsabilidade dos hospitais nas consultas de seguimento, assim como para irem fazer exames a esses mesmos hospitais, por acaso não se estão a esquecer.

Anónimo disse...

Quantas vezes desejei ter credenciais P1 para eu própria requisitar os exames necessários pelo hospital a doentes que o médico de familia me enviou... mas a verdade é que isso não é possivel infelizmente.. apesar de revoltada, sempre que considero de facto relevante, lá escrevo eu a cartinha a pedir a compreensão e a ajuda do colega do c. saúde para dar a volta à questão e acelerar o processo. Por vezes considero até telefonar porque reconheço, de facto, que é um abuso pedir para transcrever exames. Mas a culpa não é nossa (medicos hospitalares) e não é contra nós que devem estar... no meu hospital demora mais de 6 meses a realizar um ecocardiograma. No internamento acontece o mesmo... a forma de pressionarmos qdo os exames demoram é fazermos o pedido para o exterior.. claro que não é autorizado e o doente fica 1 semana a aguardar TAC, 15 dias ecodopller MI, etc, etc...
Acho que estamos todos do mesmo lado e devemos por isso lutar no mesmo sentido e não uns contra os outros.
Anonimo 1