sábado, julho 26, 2003

… acabei de matar a minha mãe!

… dos médicos, dos genéricos e dos laboratórios … (parte II/III)

Sara (posso divulgar o seu nome que é público no seu blog):
Continuando o desafio proposto num comentário no seu blog a um bilhete meu, agora sobre os genéricos e a troca nas farmácias, conto-lhe uma história, fresquinha, que se passou comigo, há poucas horas. E fico por aqui!


Batem à porta com dureza. Alguém aflito, penso eu. (Como sempre penso quando me parece que batem com mais força).

“- Oh M Exp (sou eu), acabei de matar a minha mãe!"
Reconheci a voz de um meu grande amigo e ainda pelo intercomunicador digo:
"- Oh Zé tem calma e conta lá o que aconteceu.”

Já frente a frente, conta-me a história:
- “Fiz como me mandaste, levei a minha mãe ao banco do hospital com a carta que fizeste. Por sorte, foi a mesma médica que a seguiu no internamento. Fez uma radiografia ao tórax e um hemograma e disse-me que estava tudo a caminhar bem, a pneumonia já quase que não se notava e a febre que tinha ressurgido, poderia desaparecer. Mesmo assim disse-me que era melhor fazer mais uma embalagem do medicamento que tinha prescrito há oito dias. Fui à farmácia, aviei a receita e como não estava a tomar nenhuma caixa igual, comecei a dar-lhe. Hoje, de manhã é que comecei a ver melhor as caixas e vi que eram dois medicamentos iguais. Estive a duplicar a dose durante três dias e não sabia. Acho que lhe provoquei uma intoxicação fatal.”

O Zé sabe que a mãe tem uma insuficiência renal crónica por doença sistémica e que faz hemodiálise, é idosa e que qualquer alteração à terapêutica lhe poderá ser fatal.
Descansei o Zé. Poderia ser, mas neste caso não seria fatal, embora lhe pudesse ter causado algum incómodo gastrointestinal, como de facto aconteceu, com diarreia.

O Zé é intelectual, anónimo, professor e amante de teatro. Um homem bom. Adora a sua mãe, que esteve internada com uma pneumonia. Na alta foi-lhe prescrito CLAVAMOX DT. Foi a uma farmácia, onde o farmacêutico (ou o balconista) lhe trocou o medicamento CLAVAMOX DT pelo medicamento AMOXICILINA 875 + ÁCIDO CLAVULÂNICO 125 MG RATIOPHARMA e o Zé nem se lembra se assinou ou não a receita.
Na consulta de urgência, a médica foi a mesma, a prescrição foi a mesma, CLAVAMOX DT, o doente era o mesmo, mas o Zé foi a outra farmácia, onde lhe não fizeram a troca. Ficou em seu poder com duas caixas de cores diferentes, com nomes diferentes (um grande e um pequeno) e concluiu: são remédios diferentes, portanto vou dar um de cada, obedecendo às prescrições. E o Zé, é intelectual, professor e amante de teatro.
Que será dos outros Zés…

Em conclusão:
Genéricos sim (se se cumprirem todas as boas práticas farmacêuticas, da produção à disponibilização ao utente) e de preferência vendidos sem marcas, cores e em unidose;
trocas na farmácia não.
Para que não haja mais Zés ansiosos e depressivos com medo de terem morto a mãe, não concordo com a substituição!

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