segunda-feira, julho 21, 2003

Que o médico seja um amigo! Cuidado com as urgências!

No DN de 21/07 diz-se que o amigo seja médico numa crónica assinada por Licínio Lima, jornalista. Descrevem-se três idas à urgência com uma dor no peito, no período de alguns dias. Pelo que escreve, posso concluir que o raciocínio médico foi semelhante nos três hospitais: despistaram o que era para excluir (ou confirmar) num doente com uma dor no peito e provavelmente com alguns factores de risco: enfarte agudo do miocárdio.

As questões que se devem esclarecer e por vezes são dificeis de compreender, por quem não pensa como os médicos:

1) as urgências dos hospitais servem para excluir patologias graves que coloquem a vida em perigo num curto período de tempo (e tratar, se se confirmarem!), do que para fazer outros diagnósticos necessários.

2) as queixas dos doentes não trazem etiquetas, é necessário seguir um raciocínio hipotetico-dedutivo perante cada queixa de cada doente, até se chegar a uma dedução com um alto grau de probabilidade de certeza. (As palavras sempre e nunca não são por nós utilizadas.)

3) três episódios de urgências hospitalares, três médicos (ou equipas de médicos) enolvidos e consequentemente três raciocínios médicos, que se iniciaram todos do mesmo ponto de partida e todos com as mesmas conclusões.

4) Conclusão seria outra, se o Zé, fosse as três vezes ao mesmo médico: na segunda e terceira consultas (talvez já não se realizasse a terceira consulta), a hipótese de EAM já estaria mais distante e iniciar-se-iam outras investigações, que conduziriam a um diagnóstico fácil - um simples hemograma e uma simples ecografia abdominal, efectuadas ao nível dos cuidados primários de saúde revelariam o diagnóstico e o Zé iria já referênciado para um hospital...

5) Finalmente: o Zé caiu três vezes numa urgência, repetiu três vezes os mesmos ECD e os médicos repetiram três vezes o mesmo raciocínio, porque o Zé não tem um médico de família (ou médico assistente) porque o Zé não tem um médico amigo, porque o Zé não tinha uma história clínica já documentada.

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