quinta-feira, julho 31, 2003

O Menino Autista e o Preto Arranca-Corações

A SicNotícias transformada em TVI.
Com um intervalo de uma hora, o noticiário da SicNotícias, desenvolve duas notícias dignas das televisões mais generalistas para o nosso povão:
"um menino coitadinho que parece que era autista adoptado por um bombeiro do Algarve com a mãe a chorar e a ler uma carta que fez às autoridades por causa do menino adoptado que ninguém o queria e depois da primeira notícia da Sic um lar de Viseu prontificou-se a recebê-lo por três meses e a mãe e a Sic no mesmo carro foram a Viseu mas o lar quando viu a criança decidiu que afinal já não queria o menino autista adoptado por um bombeiro que não podia ter filhos e afinal fica tudo na mesma pois não há uma misericórdia ou um lar que acolha o menino adoptado filhio de um bombeiro e que parece que é um autista violento". (Sem pontuação para ser lida de um só fôlego).

Uma hora depois, a cassete do menino ficou em espera até que outro lar entretanto se ofereça e,

"eis que aparece um preto (bem preto) na Libéria a dizer ao reporter inglês que ia arrancar e comer o coração do inimigo que jazia a seu lado, para ficar mais forte". Enquanto se publicitava a reportagem (refeição?) completa para o pós noticiário.
Se a moda pega, teremos os quatro canais a comerem os corações uns dos outros, canibalescamente, enquanto o menino que parece que tem autismo não arranja um Lar.

E depois queixam-se que se consomem demasiadas benzodiazepinas em Portugal!

Queriam falar de autismo, muito bem, levavam os especialistas respectivos e ficavamos todos esclarecidos. Queriam falar da rede de apoio social, muito bem, levavam o dr Bagão Félix, o padre Vítor Melícias, a Nogueira Pinto, a Maria Barroso, a Marisa Cruz, o João Baião, todos teriam muito a dizer sobre o que não há.
Queriam falar da Libéria, muito bem, convidavam o Presidente Bush ou o Presidente Putin, para falar sobre a venda de armas e os seu lucros, todos ficaríamos muito esclarecidos.

Sem Espectáculos na TV, Só Com o E-112

Boas notícias, sérias e bem desenvolvidas e explicadas também se encontram nos nossos jornais, como esta publicada no JN de 30 de Julho: "Parece um luxo, mas é um direito, que dispensa peditórios a favor de viagens ao estrangeiro para doentes sem tratamento nos hospitais portugueses. Basta accionar o "modelo E-112", que vigora na União Europeia, com passaporte também para países terceiros. Foi o que fez o Hospital Central de S. Marcos, em Braga. Nada a que já não esteja habituado."

Segundo o JN, "Um procedimento a que não escapou o caso do Nuno, de quatro anos", só que deste ninguem vai falar (nem da mãe).
Ainda se lembram do folclore, das reportagens, das entrevistas, do caso do Dário. Mas o Dário tinha um tumor cerebral. Um tumor! Um tumor e ainda para mais no cérebro! Nada que se compare à doençasita do Nuno: só excesso de sangue na medula.
O caso do Dário era comum em Portugal e os nossos neurocirurgiões com experiência nestes casos.

Mas, "Hoje, às seis da madrugada, a expensas da unidade hospitalar bracarense, o pequeno Nuno, parte para Paris, onde o espera o único neuro-radiologista com experiência na técnica de estancar a irrigação sanguínea em excesso na medula.".
A notícia não refere se estavam câmaras de TV a acompanhar a sua partida e da mãe. Mas parece que não.

quarta-feira, julho 30, 2003

Estou Exausto II

Já devia estar a dormir!

Terça-feira é o meu dia fixo na semana, de "plantão, banco, urgências".
Hoje não fugiu à regra habitual.
Muitos "doentes" que se julgam doentes e não o são (somaticamente falando), mas que necessitam de especial atenção, e alguns utentes, que não se julgam doentes e estão doentes, sendo necessário convencê-los de que aquela hematúria franca, mas indolor, pode ser o sinal de que algo não está bem.

As "urgências" não são só aquelas correrias e atropelos de que os media tanto gostam. Também têm trabalho anónimo, de sapa*. Mas os papéis podem inverter-se no dia seguinte.
O dia foi estenuante.
Bloguei e postei até às 3,5 horas. Às 5.30 sou acordado telefonicamente por causa de um paciente que tinha falecido. A morte é sempre morte! Era uma morte quase anunciada, dois dias antes, após 84 anos de vida. Tentei elucidar os familiares sobre o que fazer, se ocorresse durante a noite. Mesmo assim telefonam-me a comunicar o acontecimento e a perguntar o que fazer. Morte é sempre morte. É uma ruptura na vida dos que ficam. Por isso compreendi o telefonema. Às 7 horas, telefona-me a agência funerária (este considerei um abuso!). Às nove já estava a tratar dos vivos.
Vou descansar.
P.S.: Meti-me onde não devia!
O meu tempo disponível, quase só chega para uns bilhetes diários. Para blogar não chega. Sei que têm feito referência ao meu blog, o que agradeço.
*sapa | s. f.
sapa
do Lat. *sappa, enxada
s. f.,
pá com que se ergue a terra escavada;
abertura de fossos, trincheiras e galerias subterrâneas.
de sapo
s. f.,
fêmea do sapo;
prov.,
mulher atarracada;
testo ou tampa de panela, etc..
trabalho de —: trabalho lento mas persistente e ardiloso para não transparecer.


terça-feira, julho 29, 2003

Assédios … (parte III/III)

… dos médicos, dos genéricos, dos laboratórios …

Termino o desafio da Sara (jornalista do desBlogueador de conversa) com os laboratórios e o consequente assédio, palavra mágica que faz aumentar a audiência de qualquer órgão da comunicação social, e transforma os próprios jornalistas, em notícia.

Alguém duvida que nesta esfera de blogues, o Abrupto, o Aviz, ou outros, não são assediados para colocarem lá uns linkesinhos (aproveito para agradecer ao Abrupto a referência e ao Aviz a minha colocação naquela sua coluna especial), ou alguém acredita que Marcelo Rebelo de Sousa nunca foi assediado para colocar uns livrinhos no seu link directo para as livrarias? E os jornalistas nunca foram assediados para pôr ou tirar linkesinhos para a sociedade em geral?
E se todos os exemplos que dei, colocarem esses linkesinhos, é sinal de alguma coisa? Acho que não. Serão opções.

Uma notícia do Público da semana passada, (com o título deste bilhete) transcreve o teor de uma conferência de imprensa dos sindicatos representativos dos delegados de informação médica denunciando os seus sindicalizados sobre o assédio aos médicos e a entrega de numerário e outras coisas.

Então se o sindicato sabe, porque motivo não vai directamente ao Procurador Geral da Republica?
E o Público se publicou a notícia, porque não investiga e descobre os prevaricadores de ambos os lados?
Mas nestes sindicatos há poucos dos actuais delegados, pois estes, são quase todos licenciados, ambiciosos, e considerando-se de passagem na profissão e não muito interessados em situações que lhes tolham o futuro.

Sobre este assédio, não resisto a contar uma história: quando eu era pequenino, acabado de nascer para a vida (por alturas da Filarmónica Fraude!) fui acompanhar minha mãe ao seu médico assistente e lembro-me de uma personagem ter entrado no consultório com um malote para oferecer à senhora doutora. Já lá vão quarenta anos! E pelos vistos, já havia assédio pelos laboratórios aos médicos.
O que se passará agora, com centenas de laboratórios, cotados na bolsa e que querem ver os seus produtos em constante movimento? É fácil de adivinhar... isto é, assédio, prendas, jantares, congressos, existem e sempre existirão, nesta (e em todas as profissões). Só têm que cumprir a Lei.

O que não pode existir e para isso a Inspeção Geral de Saúde tem que actuar (e tem actuado), é má prática clínica, é prescrição não adequada aos fins a que se destina.
Isso será grave e penalizador.
Se a notícia do Público for verdadeira (verdadeira foi a conferência de imprensa), os sindicatos deveriam denunciar de imediato à IGS para punição exemplar dos envolvidos, médicos incluídos.

Porquê Meu Deus, Porquê?

Uma notícia do JN de hoje titula com negligência a descrição de um erro médico (em Espanha).

Mas será que os jornalistas ainda não aprenderam a distinção entre erro e negligência? Ou serão os títulos da responsabilidade da redação e esta sabe que negligência vende mais que erro?

O título: "Negligência - Clínicos ignoraram tumor maligno"

O corpo: "...foi feita à paciente uma mamografia, no ambulatório Vicente Soldevilla (Madrid), cuja interpretação indicava não haver alterações relativamente a um exame de 1996."

A conclusão: "... (dojuiz) se a mamografia tivesse sido correctamente interpretada..."

Senhores jornalistas, será necessário mais explicações?
Vou-vos contar, como me ensinaram na cadeira de Medicina Legal, quando ainda era estudante, para ver se com um explicação simples, não voltam enganar-se:
- Doente com dores de barriga:
1) o médico palpa o abdómen e diz: é apendicite! (as análises confirmam, é operado e ao fim de dias está em casa) - boa prática médica.

2) o médico palpao abdómen e diz: é gastroenterite! (as análises confirmam apendicite, é operado tarde de mais e falece) - erro médico.

3) o médico não palpa o abdómen e diz: é gastroenterite! (as análises confirmam apendicite, é operado tarde de mais e falece) - negligência.

Quanto ao resto, estou de acordo. Todo o erro médico tem que ser reparado (e bem!) e todos os erros médicos têm que ser monitorizados para que se não repitam.
Vários artigos têm sido publicados e investigação se tem feito, tendo como objectivo a sua diminuição: uma das conclusões (entre outras) era a informatização da impressão do receituário médico, que como se sabe, em Portugal é uma prática correntíssima...

segunda-feira, julho 28, 2003

Exaustão Pelo Trabalho

Estou exausto!
Um turno de 12 horas, 35 fichas clínicas assinadas que correspondem a 35 observações clínicas executadas, 35 diagnósticos definitivos ou provisórios efectuados, 35 terapêuticas propostas.
Observei, diagnostiquei e mediquei, mas principalmente ouvi aquilo que muitos queriam que eu ouvisse e respondi a muitos, aquilo que eles queriam ouvir.
Ficamos todos satisfeitos.
Erros, não houve.
Negilgência, também não, mas, generalizando o dito de João Lobo Antunes em artigo assinado no Expresso de 19 de Julho de 2003, "... em cirurgia a visão retrógrada é sempre 20/20 ou seja 100% precisa, ..." à medicina em geral, confesso que, como a a visão retrógrada, pode sempre descobrir erros, não posso afirmar que não tenham existido.
Mas como revemos constantemente a nossa actuação e muitas vezes quase como um gesto reflexo à procura de uma qualquer correção que possa ser feita, presumo que não os cometi....

Hoje não fiz mais nada para além disto.

sábado, julho 26, 2003

… acabei de matar a minha mãe!

… dos médicos, dos genéricos e dos laboratórios … (parte II/III)

Sara (posso divulgar o seu nome que é público no seu blog):
Continuando o desafio proposto num comentário no seu blog a um bilhete meu, agora sobre os genéricos e a troca nas farmácias, conto-lhe uma história, fresquinha, que se passou comigo, há poucas horas. E fico por aqui!


Batem à porta com dureza. Alguém aflito, penso eu. (Como sempre penso quando me parece que batem com mais força).

“- Oh M Exp (sou eu), acabei de matar a minha mãe!"
Reconheci a voz de um meu grande amigo e ainda pelo intercomunicador digo:
"- Oh Zé tem calma e conta lá o que aconteceu.”

Já frente a frente, conta-me a história:
- “Fiz como me mandaste, levei a minha mãe ao banco do hospital com a carta que fizeste. Por sorte, foi a mesma médica que a seguiu no internamento. Fez uma radiografia ao tórax e um hemograma e disse-me que estava tudo a caminhar bem, a pneumonia já quase que não se notava e a febre que tinha ressurgido, poderia desaparecer. Mesmo assim disse-me que era melhor fazer mais uma embalagem do medicamento que tinha prescrito há oito dias. Fui à farmácia, aviei a receita e como não estava a tomar nenhuma caixa igual, comecei a dar-lhe. Hoje, de manhã é que comecei a ver melhor as caixas e vi que eram dois medicamentos iguais. Estive a duplicar a dose durante três dias e não sabia. Acho que lhe provoquei uma intoxicação fatal.”

O Zé sabe que a mãe tem uma insuficiência renal crónica por doença sistémica e que faz hemodiálise, é idosa e que qualquer alteração à terapêutica lhe poderá ser fatal.
Descansei o Zé. Poderia ser, mas neste caso não seria fatal, embora lhe pudesse ter causado algum incómodo gastrointestinal, como de facto aconteceu, com diarreia.

O Zé é intelectual, anónimo, professor e amante de teatro. Um homem bom. Adora a sua mãe, que esteve internada com uma pneumonia. Na alta foi-lhe prescrito CLAVAMOX DT. Foi a uma farmácia, onde o farmacêutico (ou o balconista) lhe trocou o medicamento CLAVAMOX DT pelo medicamento AMOXICILINA 875 + ÁCIDO CLAVULÂNICO 125 MG RATIOPHARMA e o Zé nem se lembra se assinou ou não a receita.
Na consulta de urgência, a médica foi a mesma, a prescrição foi a mesma, CLAVAMOX DT, o doente era o mesmo, mas o Zé foi a outra farmácia, onde lhe não fizeram a troca. Ficou em seu poder com duas caixas de cores diferentes, com nomes diferentes (um grande e um pequeno) e concluiu: são remédios diferentes, portanto vou dar um de cada, obedecendo às prescrições. E o Zé, é intelectual, professor e amante de teatro.
Que será dos outros Zés…

Em conclusão:
Genéricos sim (se se cumprirem todas as boas práticas farmacêuticas, da produção à disponibilização ao utente) e de preferência vendidos sem marcas, cores e em unidose;
trocas na farmácia não.
Para que não haja mais Zés ansiosos e depressivos com medo de terem morto a mãe, não concordo com a substituição!

dos médicos, dos genéricos e dos laboratórios … (parte I/III)

S. do desBlogueador de conversa solicita-me que fale dos médicos, dos genéricos e dos laboratórios.

Não me importo de falar. Eis-me a falar:

“…dos médicos, dos genéricos, dos laboratórios…” citado de mim próprio. Pronto. Já falei. Feita a vontade da S. que, segundo diz, é jornalista.

Mas, aquilo que a S. quer ouvir, não é para mim, notícia. E aquilo que a S. não quer ouvir, para mim é notícia.

Dos médicos: há-os bons, mas há os maus. Há-os prudentes e há os negligentes. Há-os interessados pelos doentes e há os que se interessam pelo dinheiro. Há-os trabalhadores e há os preguiçosos. Há-os simpáticos e há os sisudos. Há-os a procurar o anonimato e há os que buscam a fama. Há-os a sair dos consultórios depois do último doente e há os que nem sequer lá vão. Há-os honestos e há os casos de polícia.

E pergunto eu: a comunicação social, quando procura um, que critérios usa?

E respondo eu: o famoso, com todas as combinações que se possam fazer com os bold e os itálicos do parágrafo anterior, e o caso de polícia, com as mesmas combinações.

É do que o público gosta!

Não tenha dúvida, S.: o famoso, pode ser o menos honesto e o mais simpático. O sisudo, pode ser bom, anónimo e a sair do consultório depois do último doente. O bom pode ser desonesto.

Quem melhor conhece o nosso meio, somos nós, os médicos. E conhecemo-nos à distância de um olhar.

Mas, para seu descanso, transmito-lhe esta verdade: a grande maioria dos médicos são bons, prudentes, interessados pelos doentes, trabalhadores, simpáticos, anónimos, consultam todos os doentes e mais alguns e honestos.

Aliás, o mesmo se passa com todas as profissões, quer as que se passeiam pelos blogues: jornalistas, escritores, artistas, políticos, professores, etc, quer, as que nem sabem o que é um blog...

Dos genéricos, siga para a parte II.

Ler Jornais Confunde-nos .....

No mesmo jornal (o JN) de 25/07:

"No centro de saúde da cidade – do qual dependem as extensões de Afife, Carreço, Lanheses, Meadela e Santa Marta de Portuzelo – estão inscritos 43102 utentes. Destes, 4979 não têm médico de família. Em Darque, o número de utentes inscritos ronda os 28 mil, sendo que 374 (1,3% do total) também não possui médico de família. Dos três centros de saúde do concelho, o de Barroselas apresenta a taxa de incidência mais baixa, com 153 utentes (de um total de cerca de 10 mil) sem médico de família."(1,53% feitas as contas e portanto mais alta que em Darque!)
Depois acrescenta-se: "observando que o número de utentes sem médico de família reúne pessoas "sem médico por opção própria"."
Em que ficamos?
Sem médico porque não há médicos ou sem médico porque não há doentes?

Mais à fente: "Em Monção, o governante inaugura a extensão de saúde de Tangil."

Ainda mais à fente: "o fecho da extensão de saúde da Oliveira".

Fecho hoje, inauguro amanhã, depois protesto porque não há médico para a extensão que inaugurei, depois tenho médico, mas opto por não o ter.

GOLPE

"O encerramento da extensão de Oliveira (que servirá centenas, quiçá milhares de utentes, digo eu) é mais um golpe no Sistema Nacional de Saúde." Afirma um responsável da CDU, aproveitando os seus 15 minutos de fama.

Os milhões de utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que por sua vez integra o Sistema Nacional de Saúde, estremeceram ...

Pois digo: a única planificação que há para a construção de extensões de saúde é ... a vontade do prrrreeessidentte da juuunttta! Por isso, neste últimos 20-30 anos construiram-se muitas que já deveriam ter sido encerradas por falta de condições.

Pst! Pst! Pst!

Que credibilidade têm estas afirmações?
Fazem parte de uma notícia publicada no Jornal de Notícias de 25/07:
"A minha filha precisou de ir ao médico e esteve três meses à espera que a chamassem. Estávamos inscritos num médico de família que deixou de trabalhar aqui (no centro de saúde de Viana do Castelo). Eu também tive um problema e socorri-me de um médico privado. Ainda continuamos sem médico de família", lamentou Engrácia Exposto, residente em Meadela, Viana"

A D. Engrácia Exposto, teve um problema e socorreu-se de um médico privado. Não percebi se a D. Engrácia é a mãe da filha que aguardou três meses que o médico de família a chamasse. Se é verdade, Viana do Castelo está muito mal servida de mães, segundo o relato do JN. A mãe vai ao privado, a filha espera! Ou afinal a filha não estava doente e apenas precisava de uma declaraçãosinha para ser entregue numa qualquer instituição afirmando que se encontrava apta para uma qualquer acção ou actividade, ou que não padecia de uma qualquer doença.

Esta é mais uma faceta, a burocrática (desconhecida de muitos intelectuais!), dos nossos hospitais e centros de saúde, mas com uma agravante: quando os hospitais estão cheios, como não podem fazer listas de espera de declarações, transferem essa tarefa de escriturário, para o dia seguinte nos centros de saúde e para os seus médicos de família.
Só que os centros de saúde não têm para onde evacuar. No futuro talvez para as medicinas ditas alternativas agora regulamentadas... será uma actividade que não fará perigar a vida de ninguém!

Mas, francamente, será que esta notícia tem alguma relevância para a saúde em Portugal?

sexta-feira, julho 25, 2003

Explicar vs Ensinar

T diz-me:
"Achei graça ao nome do blogue....nada mais irónico do que se explicar coisas
a intelectuais. Então eles não sabem tudo? Risos.
Também estou a brincar, porque um intelectual, para mim ,é aquela pessoa que sabe que lhe falta muito coisa para saber e que por isso mesmo, gosta de aprender.
"

Não quero ensinar! Quero explicar!

Embora reconheça que vivemos num mundo onde o conhecimento evolui a uma velocidade impensável há meia dúzia de anos, não tenho pretensões a ensinar. Mas a explicar aquilo que já se aprendeu.
E só aprende quem quer.

E particularmente para nós, médicos, o que hoje é uma verdade mais que provada e documentada, amanhã poderá ser posta em causa e no dia seguinte já ser considerada má prática clínica. Por isso não tenho preconceitos em ser ensinado, mesmo nas matérias que vou dominando. Agora quanto aos intelectuais (mais ligados às Letras!) por vezes assumem certas verdades científicas ou enviesadas ou ultrapassadas, que, ao transmiti-las para várias atmosferas fomentam inconscientemente a ignorância.

O caso da SARS é um exemplo. Em pouco tempo, utilizando vários laboratórios a nível mundial e trabalhando em simultâneo e coordenados, obedecendo a um objectivo pré-definido e comum, conseguiu-se determinar a etiologia, a epidemiologia, as medidas preventivas, a terapêutica e por fim o seu controle e quase irradicação de uma nova doença infecciosa.

Junk E-Mail

Caro RR, faça como eu a esse tipo de mensagens:

DELETE

Citação com a Devida Vénia

Transcrevo do blog Abrupto, sem comentários:

"“And Now For Something Completely Different”, (grita o Hipatia, pela voz dos Monthy Python, metendo um susto aos desprevenidos) …

… a blogosfera está a começar a assentar depois das turbulências dos últimos dois meses. Está muito diferente, muito melhor, muito mais plural, com muitas vozes falando de coisas distintas, com blogues novos com temas novos. Está menos literária, sem deixar de estar literária, mais problemática, menos afirmativa e mais curiosa e, até, mais engraçada porque menos engraçadinha.

Blogues como a formiga de langton , o Sócio[B]logue, Companhia de Moçambique , o projecto do Metablogue, o Retórica e Persuasão, Reflexos de Azul Eléctrico, Avatares de Desejo, Médico Explica Medicina a Intelectuais e vários outros, fizeram a diferença. Para sermos justos vieram na sequência dos bons blogue políticos à volta da dupla Coluna Infame – Blog de Esquerda e dos excelentes blogues sobre jornalismo que foram pioneiros como o Ponto Media e o Jornalismo e Comunicação
"

45% - A Conclusão Apressada e Indevida dos Media

No 1º de Janeiro de 17/07, Paulo Mendo num artigo sobre um inquérito à prescrição de medicamentos genéricos, escreve uma frase semelhante à que faz o título deste bilhete.

Vários jornais titularam com grandes caxas: "Mais de metade dos médicos não autorizam a substituição por genéricos", ou outras ainda mais graves: "45% dos médicos não aceita os genéricos".

Nada de mais ridículo e falso.

Eu serei a prova que valida o que Paulo Mendo desmonta no seu artigo.

Isto é: o não autorizar a substituição na receita, não significa que não se tenha prescrito um genérico, assim como o autorizar não significa que se tenha prescrito um genérico.

Quando prescrevo, assinalo a cruz, mesmo quando prescrevo medicamentos genéricos o que acontece muito frequentemente.

O que não autorizo é que na Farmácia, alguém substitua o genérico que prescrevi por outro genérico de outra marca, que, por exemplo, dê mais lucro à Farmácia.

E sabiam que há empresas de genéricos que oferecem à farmácias 100 embalagens gratuítas, se estas lhes comprarem outras 100? Se por um lado a Farmácia vai vender uma embalagem que lhe foi oferecida, por outro, no fabrico do medicamento, não sei se lá foram colocadas todos os gramas necessários.........

quinta-feira, julho 24, 2003

Dúvidas do Cidadão Comum

Do blog Uns e Outros:

"Olá, boa tarde (boa noite!)

Estive a ler o seu blog e gostei. (Obrigado!) Principalmente gostei da iniciativa à qual se propõe já que não é muito habitual encontrar médicos que expliquem as dúvidas do cidadão comum."

Tem razão no que diz!

A comunicação (que não a relação médico-doente, que tem outro significado clínico) entre o médico e o seu paciente tem vindo a diminuir no tempo dispendido para a troca de informações.
Há cerca de um ano, os médicos de família espanhóis fizeram uma paralização nacional, cuja reivindicação era aumentar o tempo de consulta! É esta falha na comunicação (muitas vezes não por culpa do médico, mas pela pressão que outros doentes vão fazendo na sala de espera dos centros de saúde, dos hospitas e mesmo dos consultórios privados), que aumenta atritos desnecessários principalmente no Serviço Nacional de Saúde.
Por outro lado, a permanente evolução técnica (necessária!) cria uma fosso entre o médico e o doente. O doente, por um lado só quer exames, o médico, por outro é pressionado pela tutela a racioná-los.

Não está fácil, não senhor, a comunicação inter-activa entre o médico e o doente!

Um conselho para si, escolha um médico de família que tenha disponibilidade para os seus utentes, doentes ou não. Que seja um especialista na comunicação. Por definição o médico de família, público ou privado, faz a chamada medicina da proximidade, deverá ser um médico-amigo, pronto para as dúvidas reais ou existenciais! Quando necessário, envia-la-á a outros colegas, de outras especialidades.

Quanto à sua dúvida, segue em privado.

Serviço Público

CC numa mensagem dá a sua opinião:

"Caro Senhor "Médico Explica",

Os meus parabéns pela sua muito louvável atitude de verdadeira prestação de serviço público.

Já há muito tempo que partilho da sua preocupação pela falta de rigor tantas vezes observada no mundo da comunicação social. Aquilo que mais me sensibiliza situa-se no uso fácil, despreocupado e banalizante de muito do vocabulário e conceitos científicos, com o objectivo de construcção de "soundbytes" eficazes, sem a correspondente preocupação de contextualizar. Visto não pertencer à comunidade Médica, mas à comunidade Psi (como aprendiz...), é o uso das "psicoses" e "fobias" para tudo e para nada que me arrepia, mas entendo perfeitamente os seus comentários sobre o "dar entrada".

O objectivo principal deste mail é todavia outro. Infelizmente ainda existe no mundo Psi muito a ideia de guerra e de demarcação de território com a o mundo Médico. Tal guerra, qual conflito Israel-Palestina, não conduzirá nunca a lado nenhum na minha óptica. Sempre recusei esta abordagem e nunca aceitei o argumento de que a guerra partia dos Médicos. O Sr. Dr. faz o favor de (elegantemente!) demonstrar que tenho razão, na sua troca de palavras com o (a?) Shyz Nogud. Sem panfletos, sem polemizações estéreis, situa a questão numa complementaridade que devia ser sempre o nosso guião e nunca uma concessão.

Não esmoreça na sua vontade, posso imaginar que a par de cumprimentos como este, receberá, porventura em maior número, muita má-lingua, a sempre previsivel mediocridade a tentar apanhar de volta a ovelha tresmalhada."


Desde que pertinente, plublicitarei, quer a boa, quer a -língua. Mas tem sido mais a boa do que a má.

Comentários e Consultório On Line

Ginger Ale do blog água tónica e ginger ale pergunta numa mensagem, porque não há a possibilidade de se inserir comentários aos "bilhetes" aqui colocados. Depois dá os " parabéns pela ideia do blog "temático". Na diversidade é que está o ganho, tal como na alimentação. Isto de haver só blogs de jornalistas acaba por cansar."

Primeiro, porque foi opção e segundo porque também não o saberia fazer (obrigado pela ligação que me mandou!). Sou modesto.

Vários leitores deste blog, enviaram mensagens (pacientes impacientes, como um assinou) sobre questões médicas e pessoais. Acredito que são de facto pacientes e estão impacientes e como não gosto de ver ninguém sofrer, mesmo por antecipação, (sofrer por antecipação é mais uma distimia!) respondi-lhes. Mas não é o objectivo deste espaço.
É para explicar, sim, mas com o objectivo de combater a iliteracia científica que graça no nosso meio intelectual...

Pirogénicos e Homofílicos!

No Correio da Manhã on line, de 23/07, numa entrevista de Maria de Lurdes Fonseca, vice-presidente da Associação Portuguesa de Hemofílicos, podem ler-se estas hilariantes descobertas:

1) Existe em portugal uma vice-presidente da Associação Portuguesa de Homofílicos

2) "- Quando é souberam que os produtos derivados do sangue do laboratório Plasmapharma Sera não estavam em condições de ser utilizados?

- Foi em 1986, através de uma publicação da Associação Austríaca de Farmácias. Nessa publicação, o Ministério da Saúde Austríaco fez uma vistoria a esse laboratório e encontrou derivados do plasma infectados com o vírus da hepatite B e outros lotes com excesso de pirogénios. Alertámos imediatamente a, na altura, ministra da Saúde, Leonor Beleza.
"

Presumo que a gafe não foi da responsabilidade de Maria de Lurdes, mas ou o jornalista não sabe o que são pirogénicos, ou não sabe que existe a palavra piogénico, ou não fez a revisão do texto.
Pregiro pensar na última.
Mas que foi negligência, foi!

terça-feira, julho 22, 2003

Entregar-se à Doença

Com este título publicou o jornal Público, Sábado, dia 21 de Junho de 2003, um artigo assinado por Helena Matos. Excelente! Não sei qual a sua formação, mas se é jornalista, os meus parabéns.

Alguns excertos:

“"Pare de sofrer" – ordenavam as letras vermelhas do cartaz.”
"Desejo de suicídio. Dores de cabeça constantes. Medo. Ataques epilépticos. Desmaios constantes. Esses problemas não existirão mais na sua vida!" Note-se que não eram apenas estes problemas que os autores do cartaz se propunham exterminar. Também se afiançavam capazes de erradicar a: "Audição de vozes. Visão de vultos. Maldição hereditária. Caminhos fechados. Problema sentimentais."”

” …/… todos estes males desaparecerão a quem comparecer até amanhã, 22 de Junho, no antigo cinema Império, em Lisboa. Mas não é apenas na Alameda D. Afonso Henriques que alguém se propõe curar-nos dos males do corpo e da alma. Para hoje mesmo, na Rua Castilho, anuncia-se uma "Conferência fractal" com o dr. Haddad M.”

”Não deixa de ser curiosa esta espécie de fixação na doença que se encontra em muitas das mensagens deste tipo. Épocas houve em que se atraíam fiéis falando-lhes dos enigmas da Atlântida e da mensagem bíblica. Mas aos portugueses deste século XXI não há nada como falar-lhes de doenças. Outrora explorámos os oceanos. Agora desbravamos o "simposium" das doenças.”

“Nós queremos é estar aqui, debaixo deste sol, com as nossas análises, as nossas TAC e muitas consultas no especialista. A esta estranha forma de vida dá o povo português a designação de "entregar-se à doença".”

”Qualquer repórter português antes de partir para fazer a cobertura dum conflito já sabe que tem de nos brindar com a inevitável reportagem feita numa enfermaria hospitalar: muita gente deitada, de preferência coberta de ligaduras, acompanhada por umas mulheres de olhar desalentado e já está criado o "décor" ideal para uma reportagem de fazer chorar as pedras da calçada e subir as audiências.”

” …/… uma primeira página com a descoberta duma nova doença. Da mais moderna de todas, que é a fibromialgia, sem esquecer o cancro da próstata, a diabetes, a obesidade, a epilepsia, a artrite... e todas aquelas síndromas estranhíssimas que só afectam meia dúzia de pessoas em todo o mundo... “

“Quando não se sofre oficialmente de nada, vive-se no terror de se poder sofrer sem saber, porque todos os portugueses, num qualquer dia, já experimentaram os sintomas de todas as doenças conhecidas e por conhecer. Aos males físicos há ainda que juntar os psíquicos. Estes proliferam por ciclos: ora é o "stress", ora a depressão, ora a depressão gerada pelo "stress", ora a solidão a que se junta o "stress" e a depressão...”

”Note-se que os portugueses não esperam ficar curados. Longe disso. O que eles querem é manter-se "menos mal", irem "passando melhorzinho". Agora curados e saudáveis é que não. Aliás, não há nada que irrite mais estes portugueses do que dizer-lhes que são ou podem vir a ser saudáveis!”

”Tenho aliás a convicção de que, se os partidos se deixassem de abstracções ideológicas e propusessem coisas concretas como uma TAC anual obrigatória e gratuita para todos os portugueses, a abstenção diminuiria muitíssimo.”


Para ler e pensar.

Qual o papel da comunicação social no crescendo desta situação! Os nossos tele-jornais transformaram-se em várias TVs Medicina.

Perde-se meia-hora a falar de uma doença de que se conhece um caso em Portugal, e nessa meia-hora a hipertensão, o colesterol elevado, o abuso do tabaco, o sedentarismo levaram muitos deste mundo para o outro!
Doenças evitáveis.
Há quanto tempo não mede a sua pressão arterial, há quanto tempo não faz um análise ao colesterol.
Sabia que neste momento, sentado ao computador, pode estar com uma pressão arterial alta, p.ex. 200/120 mmHg e um colesterol total de 350 mg/dl, dois importantes factores de risco para as doenças cardiovasculares e sentir-se bem, felicíssimo da vida? Mas, amanhã pode ter um enfarte ...

O P@pel do Médico

Este sítio, onde se podem tirar dúvidas sobre siglas médicas (e outros assuntos) está com problemas no seu servidor. Presumo que por tempo limitado, razão pela qual mantenho a ligação.

segunda-feira, julho 21, 2003

Shyz Nogud: Volta à carga...

E diz Shyz Nogud:
Volto à carga...
"Acabei de espreitar o blog que mantém (e cuja pertinência aplaudo, tantos são os disparates que se vêem escritos por esses jornais fora... no que à Medicina diz respeito mas não só)" .../... "Não tenho formação na área da medicina (eu cá é "mais letras")" .../.. "Já assisti a inúmeras discussões sobre psicoterapia vs. prescições de medicamentos e a conclusão inevitável a que cheguei (se calhar fica-me mal dizer isto mas não me tenho por burra, manias...) é que não são ALTERNATIVAS..."

E eu volto a estar de acordo.

Quando apliquei a palavra alternativa, referia-me à situação real que se vive no país (no nosso e nos outros). Isto é: a alternativa ao facto de se prescrever muitos psicofârmacos (ansiolíticos e antidepressivos) só pode ser encontrada na psicoterapia.

Este blog não é para polemicar ou dissertar sobre aspectos científicos das questões afloradas. Serve apenas para, numa lingugem simples, mas científica, corrigir, explicar, esclarecer notícias a publicar ou publicadas na nossa comunicação social.

Mas também não fujo às questões, e vejo que Shyz Nogud deveria mudar o pseudónimo para Shyz Gud. Não estará deprimida para se intitular Nogud?

Na minha modesta opinião de 20 anos de clínica activa, nas doenças ditas distímicas, crónicas ou agudas, a psicoterapia tem sempre o papel principal desde que o objectivo seja tratar e o objectivo de tratar seja curar. Isto não quer dizer que se atinjam os objectivos propostos. A terapêutica medicamentosa surge, em termos científicos, como, ou um complemento importante, ou uma necessidade terapêutica para tratar uma crise aguda. Isto é o que cabe num blog. Mas na prática como as notícias mostram, os médicos na falta de estruturas de apoio ao doente distímico, medicalizam.
E ainda bem, pois um doente ansioso ou deprimido tem uma má (ou mesmo péssima!) qualidade de vida.

Prezunssozo!

O ????? escreveu-me e disse:
"Prezunssozo!
Iscrebeçe IPATIMUP, purizemplo.
-Do JN, coando iscrebem "veia aorta" tá tudo dito.
-"dar entrada" é faser a fixa: ficas-te phudido por çe ber que num tupaste e te isticaste?
- cunhesses o síndroma de JEC? Não?... Hihihihih... aixo que és matreco...
-num sabes faser um belogue? Aprende antes de botar lihques marados!"


E eu respondi-lhe:

- Explicar não é ensinar.
Não pretendo ensinar ninguém, apenas esclarecer ou ser esclarecido, quando errar.

- É IPATIMUP e não IPATIMUT, pois é do Porto e não de Tabuaço (o teclado prega-nos partidas...).

- Para o povo português, dar entrada num hospital sempre significou ficar internado, hospitalizado.

- Síndroma de JEC, na gíria médica significa Jesus Está Chamando (doente terminal).

- Não sei fazer um blog, confesso.

Que o médico seja um amigo! Cuidado com as urgências!

No DN de 21/07 diz-se que o amigo seja médico numa crónica assinada por Licínio Lima, jornalista. Descrevem-se três idas à urgência com uma dor no peito, no período de alguns dias. Pelo que escreve, posso concluir que o raciocínio médico foi semelhante nos três hospitais: despistaram o que era para excluir (ou confirmar) num doente com uma dor no peito e provavelmente com alguns factores de risco: enfarte agudo do miocárdio.

As questões que se devem esclarecer e por vezes são dificeis de compreender, por quem não pensa como os médicos:

1) as urgências dos hospitais servem para excluir patologias graves que coloquem a vida em perigo num curto período de tempo (e tratar, se se confirmarem!), do que para fazer outros diagnósticos necessários.

2) as queixas dos doentes não trazem etiquetas, é necessário seguir um raciocínio hipotetico-dedutivo perante cada queixa de cada doente, até se chegar a uma dedução com um alto grau de probabilidade de certeza. (As palavras sempre e nunca não são por nós utilizadas.)

3) três episódios de urgências hospitalares, três médicos (ou equipas de médicos) enolvidos e consequentemente três raciocínios médicos, que se iniciaram todos do mesmo ponto de partida e todos com as mesmas conclusões.

4) Conclusão seria outra, se o Zé, fosse as três vezes ao mesmo médico: na segunda e terceira consultas (talvez já não se realizasse a terceira consulta), a hipótese de EAM já estaria mais distante e iniciar-se-iam outras investigações, que conduziriam a um diagnóstico fácil - um simples hemograma e uma simples ecografia abdominal, efectuadas ao nível dos cuidados primários de saúde revelariam o diagnóstico e o Zé iria já referênciado para um hospital...

5) Finalmente: o Zé caiu três vezes numa urgência, repetiu três vezes os mesmos ECD e os médicos repetiram três vezes o mesmo raciocínio, porque o Zé não tem um médico de família (ou médico assistente) porque o Zé não tem um médico amigo, porque o Zé não tinha uma história clínica já documentada.

Psicoterapia

Shyz Nogud através de uma mensagem pergunta se eu quereria dizer mesmo o que disse, quando afirmei que "O que ninguém explicou é que uma alternativa ao tratamento das distimias (novo nome paras as antigas neuroses ansiosas e depressivas, reactivas) é a psicoterapia,..."
Sublinha a palavra alternativa e pergunta se eu "queria meeeeeesmo escrever alternativa?" sic.

Caro ou cara Shyz Nogud, é claro que o que eu queria dizer era (e não disse!): uma alternativa à prescrição é a psicoterapia, que é o tratamento (se é que se pode falar em tratamento!) ideal para essas patologias.

Benzodiazepinas

No jn.pt, edição de 20 de Julho:

Repetem os jornalistas várias vezes: benzodiazeponas, em vez de benzodiazepinas.

Já agora: Xanax e Valium, são das mais conhecidas e já ultrapassaram a própria marca. Como médico, prescrevo também inúmeras benzodiazepinas. A ansiedade e a depressão são uma realidade. O que ninguém explicou é que uma alternativa ao tratamento das distimias (novo nome paras as antigas neuroses ansiosas e depressivas, reactivas) é a psicoterapia, nas suas várias formas, incluindo a psicanálise.
Mas... a psicoterapia não existe na rede de cuidados oficiais de saúde. Psicólogos e assistentes sociais, teriam um importante papel a desempenhar na prevenção e no tratamento das ansiedades...

domingo, julho 20, 2003

Cancro do Estômago

Sicnotícias de ontem:

Diz o jornalista: "Mais de metade dos cancros do estômago podem ser prevenidos!"
Diz o cientista do IPATIMUP: "Só uma pequenina parte das pessoas ..."

Desde há muito tempo, talvez uma década, que se procura uma ligação entre o cancro do estômago e a infecção pelo H. pylory. Parece que se começa a desvendar uma ligação entre uma determinada predisposição genética, que, na presença de uma infecção pela bactéria, poderá evoluir para o cancro do estômago (mas haverá também outras ligações a confirmar).
A erradicação da bactéria também é muito simples, com apenas três medicamentos e durante, apenas, oito dias.

sábado, julho 19, 2003

Hospitalização

Segundo o Portugal Diário "A ex-mulher do presidente do FC do Porto, Pinto de Costa, deu entrada, esta quinta-feira à noite, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, com sinais evidentes de ter sido vítima de agressão." Mais à frente "Filomena Pinto da Costa esteve no Hospital apenas durante quinze minutos."
Neste caso trata-se, não de desconhecimento, mas talvez de manipulação. Dar entrada para o comum dos portugueses significa hospitalização, mas só se pode falar em hospitalização, quando se permanece mais de 24 horas num hospital....


Pronto a explicar!

De forma simples tentarei esclarecer, a quem me procurar, de forma anónima se quiserem e com um único objectivo: não enviar para a comunicação social afirmações erradas sobre o mundo da Medicina (acredito que muitas são de boa fé!). Antes de terminar as vossas peças, se dúvidas tiverem, comuniquem.
Publicitarei, de forma anónima, para outros se esclarecerem.