sábado, janeiro 10, 2004

"O texto sobre a felicidade foi mero desabafo de alma num sábado à tarde."

Com a vénia exigida e a devida autorização da Maria** apresento a Felicidade:

"Quando era muito jovem, acreditava que a Felicidade estaria logo ali, que bastaria um pequeno piscar de olhos e … zás! Nessa época, ainda não sabia que a a Felicidade é uma deusa ciumenta, vingativa, também desconhecia que o seu passatempo favorito é pregar partidas aos mortais que perseguem a ideia de a alcançar. À medida que o tempo foi passando, que fui ‘crescendo’, aprendi que esta deusa caprichosa é tão etérea quanto fugaz e, implacável, jamais se apieda das humanas distracções.



Por instantes - segundos, minutos, horas - surge, mas logo, asinha, esvoaça ...



A Felicidade acerca-se de mansinho quando contemplo na imensidão do mar a onda murmurar docinho, quando fito a majestosa vaga procelosa com a sua voz maviosa, quando vejo uma ave saltitar, uma nuvem peregrinar, uma árvore florir, uma criança sorrir, um relâmpago refulgir, quando aspiro o olor de uma flor, quando ouço um verbo palpitante, uma música inebriante, o som da chuva a cair, quando no coração dos que amo há compaixão para estenderem a mão sem olharem à razão, quando uma ditadura é derrotada, uma guerra não é desencadeada, quando um novo medicamento minora o sofrimento, quando um texto me dá aprazimento, quando nos humanos há sentimento, quando um pouco de calor atenua a dor, quando satisfaço o desejo de um beijo, quando depois da tempestade surge a potestade e, num dia primoroso, o sol radioso…

Em síntese, é isto o que eu penso sobre a felicidade. No fundo tudo se reconduz ao carpe diem. Agarrar o momento, fruí-lo porque sei que não vai durar muito, não complicar o que não tem complicação, lutar para conseguir melhorar o que está mal mas não me encostar e chorar pelo muito que não posso solucionar."

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