Outros Explicadores Para Intelectuais (II) (Outras Opiniões!)
"Caro Sr. Doutor,
Desde que me tornei leitora de blogs, descobri o seu e leio-o de quando em vez. Fiquei satisfeita por ver que tinha decidido continuá-lo, e tinha mesmo pensado em lhe enviar um mail a felicitá-lo por tal decisão quando li o seu post de hoje, sobre a jovem grávida que pela segunda vez atendeu. Acabo por lhe escrever acerca desse assunto.
Devo esclarecer desde já que acredito que a vida humana existe desde o momento da concepção, e que deve ser protegida desde esse primeiro instante. Não o digo por ser católica - que o sou, mas bastante crítica e reservando-me o direito de pensar pela minha cabeça e não me limitar a seguir o que diz a doutrina oficial. Por esse motivo, por exemplo, sou a favor do divórcio (e acredito firmemente que se os padres casassem ele seria autorizado de imediato), dos contraceptivos, etc, etc, etc (poderia multiplicar os exemplos, mas não vale a pena). Aquilo em que creio sobre o início da vida humana prende-se essencialmente por ninguém me ter conseguido demonstrar que eu fui alguma vez outra coisa que eu própria, a partir do momento em que duas células se juntaram e deram origem a um novo ser (que era eu, um eu diferente do que veio a nascer, claro, mas eu). Aí começou a minha vida; aí começou a da minha filha - e esta vida gerada no meu seio não era um pedaço de mim, mas um ser autónomo que eu tinha por obrigação proteger, antes do nascimento como depois. Para mim, isto é tão claro como água - mas claro como água é também que deve ser terrível uma gravidez indesejada, ou levada a cabo em circunstâncias difíceis como as que descreve relativamente à situação dramática desta rapariga.
Pelo que conta, trata-se de uma jovem que cresceu desapoiada, julgou ter encontrado a felicidade ao lado de alguém com quem quis ter um filho, se viu abandonada e não sabe o que fazer à vida, nem tem, pelo que me apercebi, grande vontade de a viver. Ela falava de abortar; o senhor falou-lhe em Espanha. Se eu defendo a vida que ela tem no ventre, também, repito, compreendo a situação desesperada em que ela se deve encontrar. Mas, sinceramente, será que fazer desaparecer o filho é a solução para os problemas que tem? ´Não o ter dar-lhe-á o emprego, o sustento, o carinho e o apoio que lhe faltam? E não foi o filho o que ela mais quis, mais desejou na vida? Não poderá ele ser a sua âncora, o seu norte?
Não, o meu discurso não é moralista nem ingénuo, acredite; sei o que a minha filha é para mim, a força que ela me dá, o TUDO que olhá-la nos olhos e rir com ela significa. Sei como sem ela ao meu lado eu teria deixado invadir-me por uma valente depressão, como teria desistido de ir em frente, por uma série de razões que agora não importam. Sei como não me posso arrepender de um dia ter casado, apesar desse casamento ter chegado amargamente ao fim, porque foi ele que me deu a minha filha. Essa mulher de quem fala não poderia sentir isso ambém? Se fosse encaminhada para uma das organizações/instituições que ajudam mulheres em idênticas circunstâncias (já que não tem mais ninguém), não poderia ela vencer as dificuldades e vir a ser feliz com o filho ao lado? Não vale a pena fazer passar essa mensagem à jovem que se apresentou desesperada diante de si?
Eu sei que é fácil falar. Mais difícil é agir e saber agir. Como eu gostava de poder encontrar uma solução, qual mágico tirando um coelho da cartola... Mas, cá bem do fundo de mim, tenho a certeza que não é terminando a gravidez que a vida dessa rapariga melhora. Pelo contrário: a um rol de desgraças acrescentar-se-ia uma nova e bem profunda dor, mais um sonho (e que sonho!) por realizar.
Não quero terminar sem fazer um reparo. Diz no final do seu post: "uma simples interrupção voluntária da gravidez". Quero acreditar que não seja, nunca, "simples". Partilhe-se da minha convicção sobre o começo da vida humana, ou não.
Avisa no seu blog que o correio recebido poderá ser publicitado. Peço-lhe o favor, caso por algum motivo o queira fazer, de não indicar o meu nome.
Os melhores cumprimentos, e continue a escrever, que eu continuarei a lê-lo.
RM"
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