O Ministro Da Saúde E Os Stents Revestidos
O próximo (Que pode ser quem me lê, o colesterol, pois então. O tabaquinho, pois então) que precisar de um stent para desobstruir a sua coronária, talvez já não tenha direito a um "revestido" e ... perguntem ao Ministro o que vai acontecer, alguns anos depois.
"FACTO DA SEMANA
Os stents e a «vergonha»
Na entrevista à RTP (programa «Grande Entrevista», de Judite de Sousa) o ministro da Saúde oscilou, mais uma vez, entre o mérito, a teimosia e o desbragamento verbal. Correia de Campos é um impulsivo e ninguém, alguma vez, o há-de transformar. Nada de muito grave, dirão os incondicionais, entre os quais não nos incluímos, mas o feitio cria-lhe dificuldades acrescidas.
Tomemos como exemplo o seu gosto por usar termos fortes, no momento em que disse (quase a terminar a entrevista) que o uso significativo de stents revestidos, em Portugal, é «uma vergonha».
Ora, a nosso ver, um ministro pode dizer, eventualmente, que não há dinheiro, no SNS, para pagar stents revestidos em mais casos do que os que são estabelecidos pelas guidelines; um ministro da Saúde poderia até dizer que Portugal não tem dinheiro que chegue para pagar stents revestidos a ninguém, aceitando implicitamente pagar o custo político disso. Seriam ambas as afirmações politicamente legítimas. Mas o que Correia de Campos não poderia ter dito (e disse) é que tratar muito bem os doentes, em vez de tratar de acordo com as orientações mínimas, é «uma vergonha». O ministro disse, com isso, foi que os médicos envolvidos (cardiologia de intervenção) se devem envergonhar quando tratam um doente com os melhores cuidados de acordo com a melhor tecnologia de que dispõem… Ou seja de tratar os doentes «demasiadamente bem».
E, repare-se, pode dizer-se tudo isto, criticando parte da intervenção do ministro (e sustentando a crítica) sem ser necessário considerá-la «uma vergonha».
J.M.A."
Tempo Medicina
1.º CADERNO de 2006.10.16
19 comentários:
é uma vergonha sim, que um país perto da bancarrota queira viver, seja na Medicina, seja na Cultura, seja no que for, como se fosse um país rico. e nem os mais ricos países deixam de fazer opções com base na relação custo-benefício. é uma vergonha termos vergonha de contar os nossos tostões contados.
Pedido:
Gosto bastante do seu blog, contudo peço-lhe para que elimine muitos dos comentários indecorosos e pouco construtivos que por aqui se vão lendo.
Elimine simplesmente, já que me parcem ser de alguém que sofre de personalidade multipla... qual heteronimo de Fernado Pessoa Zeus?.
Obrigado Memi.
Continue com o seu Blog.
Ana
Quando os governantes dizem o que o povo quer ouvir, não se preocupando sequer com a forma e muito menos com o conteúdo só apetece emigrar. Fazem das pessoas parvas para elas ficarem felizes. Fantástico! O problema deste ministro não é aquilo que ele faz mas é generalizar a mediocridade, até à Judite tentou fazer de burra. Se a verdade é que não há dinheiro acho que deve ser dita, não é a comparar gastos de internamentos com tabaco e cinema e mais patetices do género que se obtém credibilidade. Acho que pedir sinceridade não devia ser pedir muito mas pelos vistos é. De resto, nem sequer sei a diferença de preços dos stents com rapamicina dos outros para me pronunciar sobre aspectos monetários. Quem o saiba que me dê luzes. Embora, continue a dizer, não é isso que está em causa.
A propósito dos stents, da relação custo-benefício e da sua utilização/eficácia em Portugal e nos restantes países, nomeadamente da Europa, deixo um excerto de um artigo de Ernesto Pereira (Avaliação Económica em Cardiologia de Intervenção, que pode ser lido em: http://es2005.fe.uc.pt/files/resumos/pestudante/pe_co29.pdf)
" (...)Numa apresentação realizada o XXV Congresso Português de Cardiologia, Anselm Gitt (2004) comparou a utilização de SLCF em Portugal com alguns países europeus, nomeadamente,França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Israel, e concluiu que enquanto Portugal apresentava França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Israel, e concluiu que enquanto Portugal apresentava França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Israel, e concluiu que enquanto Portugal apresentava taxa de utilização que rondava os 55%, desde a sua entrada no mercado europeu (Abril de 2002) até final de 2002, os restantes países apresentavam taxas na ordem dos 15%. Dados idênticos haviam já sido constatados por Regar que observou que Portugal apresentava uma penetração de cerca de 40% de SS enquanto a média europeia se fixava nos 6% (Regar,Muzaffer, Kengo, & al., 2003). Impacto Económico dos Stents Um dos principais problemas com que os prestadores de saúde se debatem constantemente é conseguir prestar cuidados de qualidade e gerir os seus custos. Este facto torna-se ainda mais evidente quando se introduzem novas tecnologias ou avanços nas que já existem. Alguns destes avanços reduzirão a procura de prestação de serviços convencionais através da erradicação da doença, introdução de tecnologias substitutivas, ou combinação de ambos. Gráfico 1. Evolução da intervenção coronária em Portugal (Pereira et al., 2003)Gráfico 2. Taxa de implante de stents (Pereira et al., 2003)Gráfico 3. Utilização de stent com fármaco (Pereira et al., 2003)Na maioria das circunstâncias, a introdução de uma nova tecnologia com vantagens clínicas demonstradas e sem efeitos secundários aparentes, ainda que testada num número restrito de doentes, espera-se que venha a substituir rapidamente a tecnologia até então tida como
prática corrente. No entanto, os stents com libertação controlada de fármacos, trazem consigo, não só a promessa de uma estrondosa melhoria nos resultados do tratamento de doentes com cardiopatia isquémica, mas também impactos económicos desastrosos para quem adopte esta tecnologia de maneira desregulada (Kong et al., 2004). Múltiplos factores poderão determinar o impacto económico desta tecnologia: custo inicial do procedimento, realização de procedimentos adjuvantes, tendência para realizar intervenções em doentes com patologia mais complexa e redução de custos de seguimento devido à redução de intervenções. De facto, espera-se que ocusto inicial da ICP com SLCF seja superior devido, essencialmente, ao preço do próprio stent. No entanto, com um stent que melhora os resultados há, também, a tendência por parte dos médicos em realizar intervenções mais complexas, com um maior número de stents implantados e recurso à utilização de outras tecnologias adjuvantes que garantem uma maior segurança na realização destes procedimentos. Muitos destes doentes tinham anteriormente indicação para cirurgia de revascularização coronária (CRC) ou tratamento médico, a sua transferência para os SLCF irá aumentar os custos iniciais do procedimento. A diferença de custos entre um procedimento efectuado com SLFC e outro realizado com SC está praticamente relacionada com o custo incremental dos próprios stents. De facto, a utilização dos SLFC não implica aumento do custo das outras variáveis da ICP: testes de diagnóstico, taxas de complicações, duração do internamento, custos com pessoal etc. Devido à maior complexidade dos casos tratados poderá existir um ligeiro aumento no tempo de realização do procedimento e na utilização de alguns materiais necessários à sua execução (cateteres guia, fios guia, balões e terapêutica adjuvante). Vários estudos com SLCF, envolvendo diferentes plataformas e coberturas de fármaco, demonstraram recentemente reduções dramáticas nas taxas de reestenose comparadas com stents convencionais (Grube et al., 2003; Moses et al., 2003; Park et al., 2003; Stone et al., 2004). Apesar dos benefícios clínicos dos SLCF serem cada vez mais evidentes, importantes preocupações sobre os seus custos foram levantadas (Kong et al., 2004; O'Neill & Leon, 2003). A maioria dos dados sobre o impacto da reestenose, nos custos a longo prazo após ICP advêm de estudos clínicos, ou de séries de um único centro (Cohen et al., 2003; Cohen et al., 2001; van Hout et al., 2002). Apesar destes estudos não serem aplicáveis a toda a população de doentes submetidos a ICP, eles fornecem importantes conclusões que podem ser retiradas da análise dos resultados económicos. Os vários estudos demonstram que tal como não existe um número fixo para a taxa de reestenose aplicável a todos os doentes, não existe também um custo único ou carga económica da reestenose, estes valores variam substancialmente de acordo com a população específica em investigação. Um denominador comum nestes estudos é que a
reestenose é cara e portanto um alvo apropriado para o desenvolvimento de novas tecnologias para reduzir a sua frequência (Greenberg, Bakhai, & Cohen, 2004). A reestenose é o fenómeno associado à ICP que maior impacto económico apresenta no seguimento dos doentes submetidos a este procedimento, em particular devido à necessidade de reintervenção. Segundo Greenberg et al. (2004) os dados relativos ao impacto da reestenose baseiam-se essencialmente em estudos aleatorizados como tal têm uma fraca generalização. Noentanto, fornecem-nos algumas informações importantes, por exemplo, no estudo ESPRIT (Cohen, O'Shea, Pacchiana, & al., 2002) a reestenose aumentou em 1675 dólares por doente/anoo custo relacionado com a intervenção. Alguns estudos observaram valores mais elevados, principalmente quando alguns sub grupos, reestenose intra-setnt e intervenção multivaso, foram avaliados (Greenberg et al., 2004). Lemos, Serruys, & Sousa (2003) referem que custos de desenvolvimento e pesquisa, de aquisição de licenças a companhias farmacêuticas, criação de novas instalações, antes da produção e uma baixa produção nos estádios iniciais, são uma condicionante para o preço elevado dos SLCF. No entanto o valor real dos SS permanece pouco claro. A primeira análise custo-efectividade prospectiva com SLCF foi realizada no estudo RAVEL (van Hout et al., 2002). A análise económica foi baseada na utilização de recursos do estudo, e assumiu um custo unitário de 2000€ para os stents com sirolimus. No RAVEL os custos iniciais foram 1284€ superiores para os doentes tratados com SLCF, mas as reduções de gastos verificadas no seguimento cobriram os custos iniciais quase na totalidade. Como resultado, ao ano de seguimento o SS estava associado a custo adicional de apenas 166€ por doente. No entanto, os dados do RAVEL não podem ser extrapolados para outras situações uma vez que apenas foram tratadas lesões simples com colocação de um stent único e a revascularização da lesão alvo foi zero. Outros estudos na Europa examinaram o impacto económico dos SLCF utilizando modelos de decisão e análises de impacto orçamental (Greenberg et al., 2004). Lamotte, Annemas & De Jong (2002) usaram um modelo analítico de decisão para avaliar o custo-efectividade do stent com sirolimus (custo unitário do stent 2300€) para o tratamento de doença de um vaso, na perspectiva do sistema de saúde Belga. Estes autores verificaram que o rácio incremental custo-efectividade (RICE) do SS comparado com o stent convencional ao ano de seguimento variava entre 1119€ e 2947€ por revascularização evitada e dependiam primariamente do tamanho do vaso e comprimento da lesão. Um segundo modelo de decisão usou custos médios para o sistema de saúde italiano para estimar o impacto orçamental dos SLCF no tratamento de doentes com doença de um vaso ou multivaso (Marchetti, Tarricone,Lamotte, Annemas, & De Jong, 2002). No primeiro ano após revascularização, o uso de SLCF
foi projectado para prevenir 123-183 revascularizações por 1000 doentes, comparado com os stents convencionais e resultou em poupanças totais de 1036 a 1800€ por doente tratado. A poupança total anual para o sistema italiano foi estimada em cerca de 39 milhões de euros. Baseado no conhecimento actual, os SLCF podem ser considerados custo-efectivos se o custo adicional for substancialmente reduzido, os benefícios melhoraram bastante em particularem doentes com elevado risco de necessidade de reintervenção. Estudos mais longos são necessários para avaliação de resultados significantes como a mortalidade. Outras pesquisas devem ser consideradas, nomeadamente, as diferenças entre stents, comparações de SLCF entre si, CRC comparada com SLCF. Greenberg et al. (2004) num artigo de revisão analisam as evidências actuais sobre o impacto económico da reestenose e referem os potenciais benefícios e resultados económicosdos SLCF. Através da combinação das taxas de reestenose previstas com um modelo de custo efectividade desenvolvido pelos autores, estimaram o custo-efectividade para uma variedade de doentes e lesões específicas. Esta análise demonstrou que, quando comparados com os stents convencionais, os SLCF seriam apenas vantajosos do ponto de vista económico apenas para uma pequena parte da população submetida a ICP. As assunções chave do modelo foram baseadas em dados empíricos e incluíam uma taxa média de RVA de 14% nos SC (Cutlip et al., 2002; Holmes et al., 2002), uma redução de 80% na taxa de RVA com os SLCF (Moses et al., 2003), um custo incremental de $2000 dólares por SLCF e uma utilização média de 1,3 stents por doente. Após um período de seguimento de 2 anos este modelo projecta que os custos totais com os SLCF serão $900 mais elevados por doente do que os custos com os SC, com um RICE de aproximadamente $7000 dólares por revascularização evitada. A análise de sensibilidade demonstrou que o tratamento com SLCF será vantajoso (i.e. grande eficácia a custos baixos)para doentes em que a taxa de revascularização do vaso alvo em doentes com stents convencionais> 20% e custo efectiva (RICE<10000/revascularização evitada) se a taxa RVA >12%. Por outro lado, estes modelos também indicam que os SLCF podem ser economicamente atractivos para os doentes diabéticos e não diabéticos com vasos pequenos (diâmetro de referência < 2,5mm) e lesões extensas (comprimento da lesão > 15mm). Kong et al. (2004) utilizaram um modelo informático de transição de estado doença para simular as consequências clínicas e económicas da utilização dos SLCF para os hospitais, para um período de 5 anos. Os parâmetros do modelo combinavam informação longitudinal de umabase de dados clínica, um sistema de contabilidade hospitalar e um inquérito. Com umatransferência de 85% dos casos de stents para os SLCF durante o primeiro ano de disponibilidade, o número médio de revascularizações repetidas caiu cerca de 60,4% ao 5º ano
comparativamente com o modelo basal. De acordo com estes cálculos sem alterações na política de financiamento, um hospital com um laboratório de hemodinâmica cujo volume fosse de 3112 doentes ano passaria de um lucro de 2.01 milhões de dólares para uma perda 8.10 milhões de dólares no primeiro ano e 8.7 milhões nos últimos anos, o que representaria uma perda total de 55,7 milhões de dólares, para o hospital, após 5 anos. O financiamento proposto pelo departamento da saúde dos EUA reduz estas perdas para 4,75 milhões de dólares no primeiro ano e 5,6 milhões de dólares nos anos subsequentes. Na análise de sensibilidade a conversão de doentes de CRC para SLCF foi a principal causa para esta alteração económica. Os autores concluíram que apesar da Medicare ter proposto um aumento nos pagamentos para atenuar o impacto dos SLCF nos hospitais, este aumento não cobre os custos na sua totalidade. (...)"
Factos são factos. Sem carga subjectiva.
AS
Isto não desenvolve.
Onde estão as pessoas que sabem do assunto?
Quis com isto demonstrar a naturalidade da sua arrogância porque até o Sr. Ministro, é assim, como você impulsivo e iconsequente?
Quanto aos esclarecimentos sobre a matéria, o anónimo não deve ter reparado no 4.º comentário.
É, pelo menos satisfatório, verificar que a arrogância e soberba corporativista do costume, de quem troca CEJ por SEJ, por exemplo, sofreu uma acalmia. Parabéns pela sensatez demonstrada desta vez.
Este Ministro é uma verdadeira vergonha, receio bem... O problema fica empolgado quando o sujeito conjuga a sua psicopatia com uma optima eloquência.
RM
Psicopatia?
De CC?
Do António Fernando?
Sois Vª Ex.ª psiquiatra?
E conseguiu passar do internato?
De que falais senhor?
A Gestão Hospitalar n.º 21, publica uma entrevista do professor António Vaz Carneiro (...)
GH – Não acha que actualmente essas decisões são muito mais economicistas que outra coisa?
AVC – Acho que deve ser o medicamento mais barato desde que não baixe a qualidade. E muito daquilo que a gente faz não necessita de medicamentos novos. Para certos subgrupos de doentes sim, mas para a grande quantidade de doentes de muitas patologias não é preciso o último medicamento.
Entrevista de Marina Caldas, GH n.º 21, Out 06
Porque não aparece o meu comentário?
Estranho...
Agora apareceu.
Peço desculpa pelo incómodo, mas o facto de não aprecer durante horas, esse sim, parecia-me censura.
intressado:
obrigada.
Trata-se de uma entrevista a alguém que não é político nem gestor! ...
Cuidado com os "links" do Prof. VC.
Para o outro, a "acalmia" não é desejada...
O homem, CC, falou e o comentário típico de lusitana inspiração é sentenciar - VERGONHA!
À força de a escrverem, de a repetirem, a palavra VERGONHA perde sentido. É uma palavra pobre, que não exprime o deserto de ideias e apenas é um desabafo perante a dureza e firmeza das decisões de CC. Mas vergonha!!?? Dêem uma volta ao dicionário, revejam e reflictam sobre o sentido da palavra e chamem-lhe outra coisa. Há mais e melhores palavras que sintetizam o que ele disse.
Caro "Xerife", faça-me um favor: como sou confessadamente "infonaba" e não sei sei ao escrever "aqui" ou "este" ou seja lá o que fôr e redireccionar para o que quero, explique-me em comentário aqui ou no meu sítio, como se faz.
Ficava-lhe imensamente grata.
Mas já agora deixe-me dizer-lhe que o comentário que remete para o artigo em causa não é nem de longe nem de perto a sua transcrição. O artigo tem 45 fls, veja lá.
Obrigada.
45 fls?
F..-se!
Enviar um comentário