Porra! Admite-se Isto No Mundo?
O meu comentário:
1) A justiça dos vencedores.
2) A pena de morte é uma ilusão.
3) A frase hipócrita de Bush, de que a democracia iraquiana se alicerça com a morte deste homem (e com a de milhares de outros, mais do que este já matou, ex-aliado do Pai Bush!)
4) Como médico, defendo a vida e não a morte.
No Expresso on-line de hoje:
Saddam: advogado Najib Al Nueimi em entrevista exclusiva ao Expresso
"O enforcamento é a humilhação"
Henrique Cymerman, correspondente em Telavive
Para o causídico que o defendeu, o ex-ditador estava condenado à partida. «Quando a filha dele me contratou, disse-lhe: pedes-me que participe na execução do teu pai».
Como avalia o processo judicial?
Uma tragédia. Sabe que 26 assessores norte-americanos, incluindo um canadiano, acompanharam o julgamento, manipularam a ordem dos trabalhos e chegaram a inventar provas? Trouxeram testemunhas do Ministério Público que em 1982 eram muito pequenos, razão pela qual a lei não os aceita como tal. Pedi ao juiz que invalidasse esses testemunhos, o que não aconteceu. Vimos o juiz Rauf Abd el-Rahman (de origem curda) a expulsar o meu colega norte-americano Ramsey Clarck só porque exigiu que a defesa participasse nas últimas audiências do julgamento. Recordo que nos apresentaram uma lista de pessoas cuja execução tinha sido alegadamente ordenada. Procurámos e encontrámos testemunhas que afirmavam que um deles era seu primo, que estava vivo, e que se encontrava em Dujail. Outra disse que aquele era seu vizinho e que ainda ontem o tinha visto. Casos destes repetiram-se. Exigiram que o demonstrássemos e que fossemos a Dujail. Quero esclarecer que se o tivéssemos feito, não teríamos regressado porque teríamos sido executados pela população de lá.
O facto de se ter dado a conhecer a sentença neste preciso momento tem algo a ver com as eleições nos Estados Unidos?
Sem dúvida, os republicanos continuam a enganar o povo americano e a afirmar que salvaram o Iraque, que levaram a calma e a tranquilidade ao povo iraquiano e que agora haverá justiça no país.
É obvio que não há calma nem tranquilidade no Iraque. São os seguidores de Saddam Hussein os responsáveis por isso?
É quase seguro que não. Os seguidores de Saddam constituem apenas 10% do total da oposição iraquiana, maioritariamente composta por membros de grupos radicais islâmicos.
No caso de ser condenado à pena capital, Saddam Hussein já expressou o desejo de ser fuzilado. Porque é que a sentença fala de enforcamento?
Não querem permitir-lhe a glória de morrer como um militar, apesar do promotor público ter expressado o seu consentimento no fuzilamento.
É claro que o enforcamento implica a humilhação do presidente.
Quando é que será apresentado o recurso?
Esse direito caduca ao fim de 25 dias, pelo que, na próxima semana, entraremos com o pedido em tribunal. Mas tudo isto é uma tragédia, um tipo de representação montada, com injustiça e mau gosto. Não me parece, de todo, provável que anulem a pena capital do presidente Saddam Hussein.
P Saddam foi um ditador que fez muitos inimigos durante o tempo que foi presidente. Você como seu advogado já sofreu perseguições e ameaças de morte. Isso não o dissuadiu?
O advogado é o escudo da justiça. Nada poderá dissuadir-me de continuar a ser o defensor do presidente. Na verdade, além das ameaças telefónicas contra a minha vida e a da minha família, ao sair de uma das audiências um guarda iraquiano sacou a sua arma, apontou-a à minha cabeça e ameaçou-me dizendo que o meu final estava próximo. Num outro momento, quatro membros das forças de segurança iraquiana bateram-me porque eu tinha protestado pelo seu comportamento em relação a uma testemunha da defesa, a quem tinham também espancado selvaticamente. Esta é a ocasião para recordar o nosso companheiro, o advogado iraquiano Jamis ao-Obeidi, cruelmente assassinado por ser membro da defesa.
Chamou-nos a atenção o facto de durante todo o processo judicial, Saddam Hussein ter na mão um exemplar do Corão. Mas ele nunca foi um muçulmano muito praticante. Porquê?
É verdade, esse livro tem uma história. Depois da sua detenção, o presidente Saddam pediu aos seus carcereiros, os soldados norte-americanos, que lhe permitissem sair a fim de se lavar e preparar para a oração. Eles acederam, e ao sair viu um exemplar do Corão no chão, rasgado, parcialmente queimado e atravessado por um tiro. Tomou-o nas mãos e os norte-americanos quiseram dar-lhe um livro novo, mas ele negou-se e disse-lhes: só podereis tirar-me este livro depois de morto. Tratava-se de um livro do seu palácio, que ele via como a sua salvação e amuleto.
Saddam escreveu as suas memórias? Quando serão publicadas?
Sim, escreveu as suas memórias e também escreveu poesia porque é um género que lhe agrada muito. Suponho que o que escreveu está em poder da sua família, e são eles que decidirão o que fazer.
Publicado na edição impressa em 11/11/2006
3 comentários:
Nunca me senti tão próximo do Vaticano (porra!)
Replica-se a barbárie de quem foi bárbaro!
É este o valor da vida humana...
Estamos no bom caminho...
Esta execução alivia os familiares, alivia Bush, alivia a hipocrisia e, vai ver, tudo ficará em paz no Iraque daqui por diante:)
Imagens da execução transmitidas para todo o mundo ver, gananciosamente(quais abutres)exigidas pelos "media".
Quando o "porquê" é perguntado por uma criança da dita civilização ocidental", o que lhe reponderá o adulto?
Nada!
Porque a "hipocrisia" é difícil de explicar a uma criança.
BOM ANO de 2007
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