quinta-feira, fevereiro 10, 2005

A Compressa, A Cadela E A Dona Dela


A dona da cadela, sorridente, depois de ter recebido a "sorte grande": uma compressa na barriga!

Uma compressa esquecida numa cirurgia ou até qualquer outro instrumento é uma situação recorrente em qualquer cirurgia. É uma complicação que obriga os cirurgiões e acompanhantes de uma qualquer intervenção cirurgica a contarem antes e depois todas as compressas utilizadas.
Se tal acontecer é importante esclarecer que outros factores concorreram para isso. Por exemplo, se o médico estava bêbado, drogado, drunfado, se agiu sem competência para tal, se não foram seguidos todos os procedimentos, etc, etc.
Trata-se de um erro, que deverá ser sempre bem ressarcido pela instituição, pois o doente não tem culpa do sucedido.

MAS NÃO É NOTÍCIA. SÓ EM PORTUGAL!!!

Para mim é muito mais grave que um médico se tenha aproveitado da situação e operado a utente particularmente, pois como se diz na notícia: "Teve de ser numa clínica privada", diz o marido.
Teve que ser o tanas. Isto é que se devia denunciar. O Serviço Nacional de Saúde dá resposta a todos os casos urgentes.

Portanto não foi por opção da doente. Opção foi apenas a foto com a cadelinha ao colo.

Mas do que mais gosto, é de ler a notícia e os seus adjectivos.

"Andou cinco anos com 190 gramas de gaze na barriga.
Surpresa.
Compressa, deixada durante uma intervenção cirúrgica, detectada em exame.
Lesada acusa Hospital de Famalicão de "irresponsabilidade" e pondera recurso a tribunal.

"Helena já sorri, aliviada, não conformada e ainda incrédula. Durante anos, Maria Helena Rocha andou a "arrastar-se". Fortes dores na barriga, devido a problemas uterinos, tiravam-lhe o descanso e não havia notícias sobre quando seria operada. O dia chegou. Em finais de Novembro de 1999. Na intervenção cirúrgica, feita no Hospital de João de Deus, em Famalicão, Maria Helena perdeu o útero. E ganhou anos de sofrimento, sem saber que a causa eram 190 gramas de gaze esquecidas na sua barriga.
"Foi Deus que me salvou", [Anda muito atrasado este Deus, cinco anos para a salvar!] hoje, aliviada mas não conformada. O marido, Joaquim, acrescenta "Foi Deus e o ginecologista que a assiste. Se não a tivesse operado, cinco anos depois, e retirado a gaze, ela morria, sem sabermos porquê".
A história de Maria Helena é semelhante a outras. São casos idênticos que têm em comum o sofrimento, a supresa perante a descoberta, a denúncia. Na casa daquela doente, localizada em Folgosa, Maia, o assunto é, volta e meia, tema de conversa.
Joaquim não cala a revolta. Pondera recorrer aos tribunais. Maria Helena, mais comedida, alega que a "Justiça é lenta", embora rotule de "irresponsabilidade" o esquecimento da gaze durante a primeira operação.
O estranho da situação é que, após a operação no Hospital de Famalicão, Maria Helena foi transferida para o de S. João, no Porto, alegadamente devido a perturbações urinárias. Lá esteve internada três semanas, no serviço de Nefrologia. "Fiz exames e mais exames. Não me detectaram nada", conta. Recambiada para Famalicão, recebeu alta hospitalar e andou em consultas alguns dias. "Tomei remédios para tudo. Até para combater uma depressão. Mas continuava sentir-me mal. Tinha picadas na barriga, que inchou muito", relata. Cinco anos depois da intervenção cirúrgica, o ginecologista de Maria Helena detecta, durante um exame vaginal, "algo estranho". Decide operá-la com urgência. ". No dia 2 de Dezembro passado, Helena voltou a uma sala de operações. E é dito, na altura, pelo médico, que, para além de lhe ter retirado um ovário, também havia recolhido "uma peça de gaze com 190 gramas de peso". Isso seria confirmado, quatro dias depois, com um relatório de exame anatomapatológico. No Hospital de Famalicão, não há, por ora, comentários. "Terá de haver uma reclamação para que se possa procurar o processo", disse, ao JN, Maria José, directora clínica."




Como sempre a deontologia destes jornalistas é directamente proporcional à inteligência do público a que se destina.


Eu diria que 90% das palavras utilizadas são da mente do jornalista e não da boca da dona da cadela.

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