sexta-feira, agosto 29, 2003

Até A TSF Diz Dislates...

Se não fosse médico, diria, ao ouvir a notícia da TSF no noticiário da uma: "Tou salvo! Já não vou morrer de enfarte, AVC ou morte súbita."

Disse uma voz feminina na TSF: "A partir de agora, através de um simples programa de computador, em qualquer consulta de clínica geral, poderemos saber em minutos, se vamos ter ou não um enfarte do miocárdio ou um acidente vascular cerebral." (Citado de cor).

Fiquei apreensivo, pois, a ser verdade, essa informação importantíssima para mim e para a humanidade em geral e intelectuais em particular (já várias vezes referi que os intelectuais correm muitos riscos cardiovasculares!), ter-me-ia passado completamente ao lado e isso seria muito mau sinal sobre a minha constante actualização.

Corri para casa, fui ao Google e escrevi: "enfarte miocárdio descoberta futuro computador". Foi à Medline e também não descobri qualquer artigo recente sobre esse diagnóstico predictivo de um futuro enfarte do miocárdio. Com mais calma, comecei a raciocinar. Será que a TSF quereria dizer "avaliação do risco cardiovascular"? Será que a TSF se quereria referir à famosa e já com largos anos Tabela de Sheffield? (nesta ligação podem consultar um artigo científico de uma revista americana de Setembro de 2000).

A notícia mais correcta seria: foi anunciado que uma qualquer instituição decidiu fazer um programa informático baseado na Tabela de Sheffield sobre Risco Cardiovascular na Prática Clínica, outro nome porque é conhecida. Aliás o que mais há por aí são tabelas dessas impressas por todas as sociedades científicas, por laboratórios, etc.

É uma tabela muito prática, mas que apenas nos diz qual o risco de se sofrer um evento cardiovascular nos próximos 10 anos, de acordo com algumas variáveis. Por exemplo, determinado indivíduo, tem um risco de 50% de poder desenvolver um enfarte nos próximos anos. Mas nada impede que não morra e nada impede que um outro indivíduo, com um risco de baíxíssimo possa falecer primeiro.

Fico triste, pois, afinal, ainda apenas nos restam as cartas da Maya ou a vidência e a bruxaria desses astrólogos que pululam nas nossas infames e (fedorentas) televisões. (Uma homenagem a dois blogs).

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