sexta-feira, agosto 22, 2003

Onda de Calor E Uma História

Ao ouvir a SicNotícias, posso confirmar que, também, na minha unidade de saúde, na primeira quinzena de Agosto, as consultas urgentes diminuiram de 2002 para 2003.

Já no final da onda de calor, fui abordado por uma filha de um pai que estava doente para o consultar no seu domicílio. Respondi que era impossível pois estava de serviço na urgência, mas mesmo assim, fiz algumas perguntas necessárias e conclui empiricamente que, o pai da filha que estava à minha frente, tinha 82 anos, uma história de AVC prévio há 3 anos e que provavelmente, estaria a fazer novo AVC ou com desidratação. Propus de imediato à filha de um pai que estava doente que enviaria uma ambulância ao domicílio para o transportar ao serviço de urgência, onde seria melhor tratado e devidamente hidratado. A resposta foi de "que não, porque não, e a mãe não queria, porque não, e tinha que ser tratado em casa e ponto final, se não podia lá ir, prontosssss". Depois de tantos nãos ainda imaginei que, sozinha, mudasse de opinião. Negativo!
Três dias depois, procurou-me novamente, com o mesmo pedido. Acedi e desloquei-me ao seu domicílio, durante a hora do almoço, para a consulta. O seu pai estava inconsciente, com taquipneia e sinais evidentes de desidratação. Propus mais uma vez o seu internamento que foi recusado pela filha de um pai que estava doente. Mesmo assim, três dias depois iniciou a hidratação endovenosa aplicada por uma enfermeira e assistida por "um cunhado que trabalha nos bombeiros", não que antes a enfermeira bem avisasse: "olhe que só o autrizo a mudar os soros".

Este, que saiba, ainda não entrou na percentagem hoje anunciada das vítimas da onda de calor.

Mas a filha, de certeza que será uma das imbecis que chora com as imbecilidades da TVI (como hoje com a história da cegueira e propaganda da telenovela) e com as histórias mal contadas do que se passa nos hospitais!

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