terça-feira, outubro 12, 2004

Viva a Ponte !

Uma história de um leitor deste blog, (preservando o seu anonimato, com sua autorização e utilizando o título do seu e-mail), que reflecte a má organização da gestão dos hospitais, sem respeito pelos seus utentes. Quem paga, quem?

Os médicos, os enfermeiros, os administrativos...

Mas as chefias, essas nem sabemos quem são. Fazem as asneiras ... e raspam-se.


"Quero contar-lhe um episódio que se passou comigo no dia x deste mês, véspera do feriado. Tinha consulta marcada (como todos os meses) para as 00.00 horas no centro de centros, piso qualquer do Hospital de X. de Y., em Portugal.


Ao chegar à recepção e entendendo a situação de ponte por parte dos médicos, explicada por uma funcionária administrativa, pedi explicações sobre o não aviso da não consulta visto terem o meu número de telefone e ter-me deslocado do Lado Oposto de Portugal, a cerca de >100 kms do hospital. Como doente crónico, necessito de medicamentos semanais, todas as minhas consultas a este departamento de medicina tem essencialmente a ver com, além de mostrar resultados de análises ao sangue, levantar novo carregamento para um mês de tratamento.


A dita consulta é sempre efectuada às segundas-feiras e pratico o medicamento às terças, (sem hipótese de ter uma carga extra para eventuais contratempos porque a farmácia assim o dita, contrapondo exposições escritas da médica que me trata da saúde, assim como, as explicações orais da minha parte sobre o facto de morar longe e que por vezes, como já aconteceu, as canetas de injecção empanarem).


Após insistência a administrativa levou-me à presença da enfermeira chefe de serviço. Minha conhecida desde há ano e meio e atrevo-me a dizer que a considero uma das profissionais mais competentes que conheci até hoje: humana, bem humorada e com resposta tranquila a todo o tipo de utente sem nunca fugir a qualquer tipo de intimidação.


Estava um farrapo.

Não a vi com lágrimas, mas chorava . . .


Ouvi um monólogo angustiante: dezenas de utentes que a ofenderam moralmente, ameaças de porrada com empurrões à mistura, segurança que não apareceu em tempo útil, tudo lhe aconteceu naquela manhã do dia 4. Porquê? Porque, para além da funcionária do guichê, era a única destacada no dia, naquele serviço que serve "buéréré" de doentes por dia.

Só o soube no próprio dia no meio da confusão.

O meu problema clínico foi resolvido noutras esferas, -º piso, mas voltei ao -º piso para levantamento dos medicamentos, na farmácia do hospital.


Ao lado da porta da farmácia li, num rectângulo de cortiça próprio para anúncios, um fax, com ar de fax, a missiva que talvez explique tudo.
O dito tinha a data de 01 de Outubro e dizia que em conselho de ministros foi deliberado conceder ponte à função pública nomeadamente aos funcionários do HXY.


Portanto chegou por fax e em fax estava exposto, numa sexta feira, dizendo que podiam faltar na segunda-feira seguinte.


Visto do meu lado, interrogo-me se restou tempo para nomear responsáveis por avisar o pessoal (durante o fim-de-semana, imagine-se) que não havia consultas na segunda-feira. E sabendo-se que nenhum utente foi avisado da não consulta, pergunto-me porque não foram acauteladas as raivosas e legítimas queixas dos lesados utentes, poupando a possibilidade de uns bons profissionais se transformarem em meros funcionários públicos, por ódio ao "patrão"?.


São rosas ... meu senhor."


O que eu penso é que um serviço não pode encerrar a 100% como parece que este encerrou, por causa de uma ponte quer com a falta de médicos, quer com a falta de enfermeiros. Aqui é notória uma falta de ética de gestão de serviços de saúde...


Na resposta, perguntei se não descarregou um protesto no livro amarelo ou no gabinete de utente. Segundo o leitor, não se lembrou.


Aconselho todos os utentes dos serviços de saúde a utilizarem o Gabinete de Utente, para reclamar, para sugerir, para melhorar os serviços. Só assim é que as chefias se apercebem das dificuldades por que os utentes passam...

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