A "Obrigação" Do Estado
À minha frente um casal de idosos, esmorecidos, segundo dizem.
Ele está a ser tratado a dois cancros em locais do corpo distintos e distantes e com a consequente depressão reactiva.
Ela esmorece-se por ele. Acredito.
É uma família portuguesa bonita por fora e bonita por dentro.
São Povo. Sempre trabalharam. Acredito em tudo o que me dizem.
São daquelas pessoas cujo fácies transparece verdade.
Falamos de medicamentos. A confusão habitual.
A mulher tinha uma caixa na mão.
Pergunto:
- Quanto tempo tomou o seu marido esse medicamento?
- Não sei. Não sei quantos tinha a caixa!
- Leia por fora. Vem lá o número de comprimidos.
Gargalhada.
- Então não sabe que eu não sei ler!
- Então o seu marido que leia!
Nova gargalhada dos dois.
- Então não sabe que ele também não sabe ler!
Pois, de facto não sabia.
Nós os letrados esquecemo-nos que há muitos que não sabem ler neste Portugal do século XXI.
Remata a idosa, por momentos menos esmorecida:
- Ninguém nos mandou à Escola! Ninguém nos obrigou!
Pois é.
E ainda é assim.
O Estado actual demite-se de “obrigar” os nossos alunos a estudar e a cumprir a escolaridade obrigatória.
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