domingo, janeiro 18, 2004

"Empinar no Natal"

Vivo e trabalho numa grande cidade há mais de 20 anos.

Já fiz provavelmente milhares de bancos e realizei milhões de consultas em diversas unidades de saúde de pequena, média e grande dimensão.
Já trabalhei em SAPs para aumentar o orçamento familiar.
Já ouvi milhares de frases simples com imaginação.
No início da carreira clínica coleccionei alguns ditos e frases imaginativas. (Ideia comum a muitos médicos no início da sua carreira).

No início de Janeiro em mais um atarefado banco de um hospital urbano, quando perguntei a uma doente qual o motivo da consulta, obtive a seguinte resposta:

- Sr dr, o meu marido quis empinar-me no Natal.
- Quis o quê? Perguntei admirado.
A doente, surda, aumentou o volume da sua prótese auditiva e no meio de enormes apitos que estas originam, repetiu:
- Quis empinar-me no Natal. Eu assustei-me, caí e dei cabo deste joelho. Deve estar desmanchado e desconfio que deve ter líquido. Quando o quis tirar de cima de mim, dei cabo deste pulso.
- Pronto. Já compreendi. Vai fazer umas chapas e volta aqui.
- Antes de partir para o anonimato, ainda lhe perguntei: E o seu marido, que idade tem?
- Tem 80, senhor doutor.
- Pois é. A senhora tem 79. Bom ano e felicidades para si e para o seu marido!

Sem dúvida que esta história se torna simpática e se dúvidas houvesse sobre se o Natal é ou não a festa da família, a resposta é dada por esta pulsão sentida no Natal.

Enfim, Natal é mesmo a festa dos afectos ....

Mas...

Se tivessem menos 30 anos, seria caso de violência doméstica;
Se tivessem menos 50 anos, seria caso de violação, consumada ou não;
Se tivessem menos 60 anos, seria caso de amor intenso;
Se tivessem menos 70 anos, seria um caso de brincadeira de crianças influênciadas pelas telenovelas;
Se tivessem menos de 13 anos, e pelo menos 5 anos de diferença, seria pedofilia.

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