domingo, janeiro 04, 2004

Mata-Mouros: O Culpado da Minha Adição!

Não fosse o Mata-Mouros distinguir-me com uma referência sobre os blogues do ano (aproveito para agradecer, ainda mais corado que o Aviz, pois não uso barba) e este bilhete já não existiria.

Era a segunda vez que me aproximava da recta final, da hora do encerramento, do último dia, do último bilhete.

Da primeira, redimi-me depois de ler algumas mensagens que me obrigaram a continuar.

Fiquei.

Mas é difícil continuar. Não tenho Internet no emprego (e se tivesse, não teria tempo!), cumpro escrupulosamente o horário de funcionário público, ou melhor, não tenho escrúpulos e ofereço muitas horas ao Serviço Nacional de Saúde, isto é, aos portugueses doentes.
Não estou em exclusividade, e portanto, quando termino o horário oficial, não vou discutir futebol, nem beber uns copos, nem relaxar, (mas também não vou estar com a família) e ainda me disponibilizo para os que preferem pagar uma consulta privada ou avençada. Também têm os seus direitos.

Assim neste mundo material, materializo alguns sonhos, mas retiro espaço para a blogosfera. Para cuscar e para prantar * posts, postas, postais, bilhetes, ou o nome que ainda não consensualizaram.

Quando há seis meses, por mera curiosidade, ou sendo mais sincero, num rápido e juvenil processo experimentativo devido à sua fácil acessibilidade construí este espaço público, ao qual dei o nome 'Médico Explica Medicina A Intelectuais', não imaginaria que dois dias depois tivesse uma centena de visitas e uma semana decorrida, uma referência positiva no Abrupto.

E construído num acesso de amor e ódio pelos intelectuais.

Amor, porque não me considerando um intelectual no sentido estrito da palavra substantiva ("pessoa cuja actividade principal está relacionada com o uso preponderante do intelecto; pessoa de cultura", do dicionário) reconheço nos intelectuais o motor do mundo, o motor da sociedade na sua vertente evolucionista para a qualidade. Amor, porque invejo quem tem o prazer de devorar livros e escalar estantes**. Amor, porque me lembro do valor do meu Pai que devorou livros e se auto-cultivou, nunca se diferenciando academicamente.

Ódio, porque assisto a alguns intelectuais de grande valor adoptarem posições e atitudes anti-ciência, empíricas, da moda. Ódio, porque os vejo cegamente arregimentados para orientações, movimentos, que de cultura nada têm e cujo objectivo é divulgar o misticismo, o curandeirismo, o obscurantismo, o esoterismo, etc. E aqui entra muita massa cinzenta jornalística...

Hoje jantei com um bloguer que sabe que o médico não é anónimo. Disse-me para continuar.

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* verbo transitivo 1. popular plantar; 2. popular
colocar;


** Parece que este bicho morreu.

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