terça-feira, janeiro 06, 2004

A Moça do Post de 16.12.03

Hoje fui procurado no banco de urgência semanal pela grávida da história do post referido no título.

O motivo da consulta não é relevante para este bilhete.

Relevante é o pouco diálogo que tive com ela.

- Então, sempre foi a Espanha?
- Não. Não tive dinheiro.
- Então decidiu continuar com a gravidez?
- Que remédio! Mas já decidi também, quando nascer afogo-o. Eu e a criança!
- Oh, xyz, não faça isso. Imagino que está a brincar comigo.
- Não estou. Eu não posso ter esta criança! Eu não devo ter esta criança! Como a vou governar?... Se nem a mim me posso governar?... Como posso vir a gostar dela, se nem de mim gosto?... (Iniciando um choro convulsivo).
- O senhorio já me disse que, como o contrato não está em meu nome, no fim do mês tenho que sair.
- Mas tem os seus pais, tem os seus irmãos e tem ainda os futuros avós, pais do seu ex-marido.
- Os meus pais não me querem lá, dos meus irmãos, só um é que gosta de mim, mas como a mulher dele não gosta de mim, nem o posso visitar. Os pais do zyx nem querem ouvir falar do filho quanto mais do neto e de mim.
- Então que vai fazer?
- Para já vou para X (nome de uma cidade de província). Como a barriga ainda não se nota, pode ser que arranje lá trabalho.
- E as consultas? A sua gravidez assim será uma gravidez de risco.
- Ainda não fiz nenhum exame e nenhuma análise que o meu médico de família me pediu. Ela já me falou que deveria ser consultada no hospital, por ser uma gravidez de risco, mas eu não quero. Não sei o que vou fazer à minha vida.
- Olhe, leve esta amostra e tome. Está com uma infecção urinária.
- Diga-me, se não tomar, posso abortar?
- Oh, xyz, não pense sempre nisso. Agora já é muito difícil! Tente encontrar alguém que a ajude. sei que a sua vida vai ser muito difícil. Se precisar de ajuda, diga.

Quando fechou a porta do gabinete, pensei: mas que ajuda lhe poderei dar? A ajuda que ela de facto quer, não pode ser dada. Só espero que não sinta o que de facto me disse.
Seria uma tragédia muito maior que uma simples interrupção voluntária da gravidez.

O próximo.
Pode entrar o próximo.
(Novas queixas, novos sintomas, novas histórias deste povo que eu amo!)

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