sábado, janeiro 24, 2004

"Mas a mim custou-me muito engolir aquele acordo" confesssa Miguel Sousa Tavares

MST crítica asperamente os médicos que passam falsos atestados.
Critica e com razão. E tem o meu apoio.
Eu também os critico, assim como critico jornalistas que passam notícias falsas, advogados que falseiam os processos dos seus clientes, escritores que plagiam, pedreiros que cortam no ferro, professores que falseiam os sumários, juízes que alteram sentenças, políticos que mentem, carpinteiros que trocam a madeira, comerciantes que vendem gato por lebre e um número infindável de aldrabices.

O que eu não compreendo é como pode o MST, no seu artigo criticar mais os médicos do que os magistrados, pois foram estes que pecaram ao não condenar os médicos. Quer dizer na óptica do MST, vamos criticar os médicos porque falsearam atestados e criticá-los ainda mais porque os juízes apenas os multaram...

Mas o mais interessante é que o MST fez um acordo consciente (como conta no seu artigo), sabendo que era um mau acordo para a seriedade da Nação, que não ia julgar quem prevaricou e que apenas defendeu os seus interesses profissionais egoístas.

Diz MST no seu artigo "Guimarães: o Retrato da Nação" no Público de Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2004: "Os médicos não fazem a mínima ideia dos danos que os seus falsos atestados causam à produtividade das empresas e à saúde das relações laborais. Por alguma razão somos o país europeu com mais baixas por doença anualmente."

Não sei de onde retirou os dados. Nós estamos habituados a referenciar as afirmações. Era só colocar um * e uma pequena nota em roda pé.

Os casos de baixas falsas não são tantos como apregoam. Entre falsas baixas e queixas inexistentes vai uma grande diferença. E muitas situações são por problemas sociais: acidentes de trabalho cujos patrões não têm seguro, acidentes de viação porque as companhias de seguro se desresponsabilizam, alcoolismo crónico, baixas para mães tomarem conta dos filhos ao primeiro pingo no nariz porque os jardins de infância se desresponsabilizam e as empresas não têm creches, não há ATLs abertos quando são necessários, listas de espera para cirurgias (hérnias discais, p.ex.), faltas por deficientes condições de trabalho, e ainda muitos conflitos laborais.

Ainda um ponto muito importante: como se mede a incapacidade de uma função (p.ex. fechar a mão, pois se foi amputado, é um dado objectivo)? E como se mede objectivamente a dor? O termómetro mede a temperatura, é um dado objectivo. E como se mede a ansiedade, o desespero, "os nervos" (Ai senhor doutor estou cheia de nervos!). E o sofrimento, a tristeza, a angústia, o desespero...?

Vamos dizer a todos os nossos doentes que nos estão a mentir! Temos que lhes dar o benefício da dúvida. Não podemos fazer acordos, como fez o MST no julgamento que descreve no seu artigo. Ou acreditamos ou não acreditamos, não há meio termo. E muitas vezes somos enganados, sem dúvida...

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