quarta-feira, abril 01, 2009

Lisboa: 15 farmacêuticos não vão substituir receitas por genéricos


01.04.2009 - 18h03 Lusa
Quinze directores técnicos de farmácias disseram hoje que não vão substituir as receitas médicas por genéricos mais baratos, uma medida promovida pela Associação Nacional de Farmácias (ANF).

Segundo Maria Paulo Noivo, farmacêutica e directora técnica, "não faz sentido nenhum alterar aquilo que o médico prescreve, embora se deva ter em atenção o que o utente pede". "Cada caso é um caso, mas devemos dar sempre ao doente aquilo que consta na receita médica que nos é apresentada", contrapõe.

O director técnico Vítor Calado partilha da mesma opinião e defende que "jamais uma receita médica pode ser alterada, por muito que o utente peça um genérico mais barato".

Num conjunto de 18 farmacêuticos da área de Lisboa ouvidos hoje, 15 defendem que no caso da receita médica vir "trancada", isto é, em que há uma vontade expressa do médico para proibir a substituição do medicamento por um genérico, essa vontade deve ser cumprida e não alterada.

Contudo, quando o médico não se pronuncia nesse aspecto, os farmacêuticos costumam informar os doentes acerca de alternativas mais baratas, neste caso, genéricos.

Apesar disso, há quem defenda, como a ANF, que pode sempre ser dado como alternativa um genérico, "porque não se está a alterar a receita médica, mas sim o tipo de medicamento administrado". Falta de dinheiro"Há cada vez mais pessoas que cortam nos medicamentos por falta de dinheiro, por isso, não faz sentido que nós, farmacêuticos, não tenhamos sempre um genérico alternativo, mais barato, para sugerir", defende Pedro Mendes Martins, director técnico.

Esta medida constava do programa eleitoral de João Cordeiro, que hoje tomou posse como presidente da ANF, em Lisboa, e que garantiu no seu discurso que se trata de uma iniciativa para responder à crise, com a possibilidade dos doentes escolherem o medicamento mais barato. Na prática, o doente chega à farmácia com uma receita passada pelo médico e é esclarecido de todos os outros medicamentos que existem à venda com a mesma substância activa e que são mais baratos.
Se o utente optar por essa via, independentemente da vontade do médico, leva o medicamento genérico, mas terá de assinar o receituário.
A Ordem dos Médicos (OM) considera um "crime" a medida promovida pela ANF e promete denunciá-la ao Ministério Público (MP).

Também a Associação de Farmácias de Portugal (AFP) já demonstrou que está contra esta medida, destacando que "vai contra a legislação e que o farmacêutico não deve, em momento algum, substituir o médico no acto de recomendar ou prescrever um medicamento".

"A AFP demarca-se veementemente da proposta apresentada pela ANF e não há razão para lançar uma campanha deste género sobre uma questão que está legislada", avança a AFP em comunicado.

33 comentários:

rmp disse...

Para mim, é simples.

Se isto for aceite pela tutela o que eu enquanto médico farei é informar o doente de que deverá, quando a receita está "trancada", comprar aquele e só aquele medicamento.

Se optar por não o fazer, a responsabilidade terapêutica deixa de estar na esfera do Médico e passa para a do Farmacêutico que altera a prescrição, com as consequências legais que daí decorrem.

Farmacêutico disse...

Como ja tinha comentado numa entrada anterior:

Como farmacêutico, só posso ser contra. Alterar prescrições sem ter os detalhes clínicos? Uma coisa é ajustar uma dose letal (como já tive de fazer), ou corrigir interacções medicamentosas como acontece todos os dias. E quando detectadas contacta-se o médico para tentar obter mais detalhes. Outra é alterar uma prescrição sem conhecimento de causa. querem Farmacêuticos a prescrever medicamentos? Tudo bem. Fiz muitas em Farmácia hospitalar, onde os colegas médicos me apresentavam um caso e pediam a minha opinião quanto à terapêutica farmacologia a adoptar, e possíveis resultados, ou simplesmente me apresentavam uma patologia, e pediam-me que lhes formula-se uma farmacoterapia. Mas o ambiente que se vive na farmácia hospitalar nada tem a ver com o ambiente que se vive na farmácia comunitária. Portanto se querem farmacêuticos a alterar prescrições, forneçam-lhe todos os dados clínicos, e enquadrem essa pratica na lei! Até lá, este farmacêutico continuará a respeitar os demais colegas médicos, tal como estes o respeitam quando, os alerta para enganos ou lapsos nas suas prescrições.

P.S.- é impressão minha ou anda tudo doido? ora vejamos, farmacêuticos a alterar prescrições, enfermeiros que acham que so servem para administrar vacinas e com medo que os farmacêuticos lhes roubem o trabalho, Veterinários a quererem ser farmacêuticos veterinários, cursos de medicina de 4 anos... bem isto só falta padres a querem falar de sexo... oops mau exemplo!

Saudações

NA disse...

Já sei que vou ser criticado, enxovalhado, menorizado, bloqueado(?), argumentadamente contrariado, etc. Seja. Mas vou dizer algumas coisas que me vão na mente. Tenho visto neste blog criticar-se - os autores, bem entendido - muita gente, muita coisa. Algumas delas com as quais concordo plenamente, algumas com as quais discordo frontalmente. Mas tenho-me apercebido de uma coisa. Parece-me que este espaço se está a tornar demasiado faccioso. E mostra, por vezes, a pior face dos médicos. A corporativista. Sim, porque defeitos e feitios, todos temos. Mas o corporativismo parece ser mal que grassa na classe. E não se resume aos médicos mais velhos. Parece que há toda uma formatação, inclusivamente durante o curso; pelo que isto se estende igualmente tanto a professores catedráticos como a internos do ano comum. Creio que esta situação leve a que hoje, infelizmente, o estatuto dos médicos na sociedade não seja com base no respeito que deveria existir mas sim com base no “é melhor não dizer nada, porque um dia posso vir a precisar dele”. Chama-se medo. E, por isto, creio ser urgente o aparecimento de mais faculdades de medicina: públicas, privadas. Só assim, quando houvesse um excedente de médicos, haveria uma melhoria dos cuidados; por vários motivos: menor proporção médico:doente, “Darwinismo profissional”, maior especialização. Melhor saúde. Mas o tal corporativismo corta, imediatamente, as pernas a isto. Assim, permitam-me que aprofunde a opinião. Relativamente a esta circular da ANF – e eu, sem ser contra, também não sou propriamente pró-ANF – parece-me que vem a más horas. Por uma simples razão: vem tarde. Muito tarde. Os medicamentos deveriam ser prescritos por DCI. Em 99% (estimativa minha sem dados que a suportem minimamente, para além de alguns meses de experiência como farmacêutico comunitário) das vezes não o são. Creio não estar em erro, mas um dos argumentos dos médicos para “trancar as receitas”, é que conhecem o medicamento e sabem que este surte efeito. Parece-me argumento que não cola. O que são os genéricos? São medicamentos com a mesma substância activa, dosagem, forma farmacêutica e são bioequivalentes. E, quem garante que isto é assim é precisamente quem garante os medicamentos ditos “de marca”. É o Infarmed, através dos seus peritos, especialistas idóneos: médicos, farmacêuticos, toxicologistas, etc. Medicamentos que (sejam de marca ou genéricos), para além disso, necessitam de aprovação por parte da Comissão de Avaliação de Medicamentos, constituída por altas individualidades das respectivas áreas, médica e farmacêutica. Rejeitar os genéricos é, portanto, numas situações pôr em causa instituições e pessoas e noutras aceitar o que essas mesmas instituições e pessoas emitem. Mas não me parece que seja isto que se passa. Ninguém é parvo e os médicos muito menos. Mas alguém tem dúvidas que a esmagadora maioria dos médicos tem a perfeita noção de que os genéricos funcionam tão bem quanto qualquer medicamento de marca (são os utilizados nos hospitais, por exemplo)? Obviamente que o sabem. Tal como também é sabido que as relações entre médicos e laboratórios são de uma promiscuidade extrema e a verdadeira razão da esmagadora maioria de que falei se prende não com benefícios para o doente (porque os efeitos dos genéricos e dos de marca são sobreponíveis), mas com benefícios para os próprios. Só não sabe dos “congressos” e afins de N dias em locais paradisíacos quem não quer. Sem contar com tudo o resto. Vejamos, a ANF não obriga ninguém a levar os medicamentos mais baratos. Simplesmente dá a oportunidade a que quem não possa pagar medicamentos, tenha acesso a medicamentos em que a marca não se paga. Talvez os médicos, do isolamento dos seus gabinetes, não o saibam, mas existem pessoas que, na farmácia, com as suas reformas baixíssimas, pedem, imploram, choram, para lhes serem fornecidos medicamentos, mais baratos; contam moedas de cêntimo para ver se chega; perguntam qual faz menos falta porque não podem levar todos; e ficam a dever à farmácia para poder levar uma embalagem que seja do que é receitado. Infelizmente esta é a realidade do nosso país. E infelizmente muita gente ainda fecha os olhos a isso. Quanto aos médicos quererem aproveitar esta situação para lavarem as mãos de quando algo corre mal, acho imoral. E, isso sim, acho criminoso. Até porque, e como já disse, o corporativismo corrói a classe e quer haja erro flagrante do médico ou não, nunca nenhum é condenado, porque nunca nenhum colega é capaz de contradizer outro em tribunal. Infelizmente para umas coisas a medicina é uma ciência muito precisa e muito técnica e para outras é sujeita a variáveis infinitas, pelo que nunca é possível avaliar o comportamento de ninguém. E agora, comece o achincalhamento. Cumprimentos, NA.

Catsone disse...

Ai a bioequivalência.
Lembro-me quando a patente do Losartan foi à vida. O INFARMED recebeu mais de 50 pedidos de licença para a substância. Quantas destas foram sujeitas a estudos de bioequivalência? Pois, incógnita.
Os genéricos são de confiar, mas só em alguns.
Já nem vou falar mais da furosemida...

NA disse...

ERRATA: onde se lê "menor proporção" deve ler-se, obviamente, "maior proporção". NA

rmp disse...

NA, o que lhe tenho a dizer é que é raríssimo trancar uma receita.

Concordo plenamente com a prescrição por DCI, aliás pratico-a.

Independentemente disto, se "tranco" uma receita é por critérios clínicos e não outros. A discussão em relação aos excipiente e a biodisponibilidade é isso mesmo, uma discussão por isso eu não seria tão taxativo assim - a percepção sobre a furosemida é paradigmática mas ha muitos outros exemplos.

Publiquem-se os estudos de bioequivalência para não restar qualquer dúvida que os genéricos são exactamente iguais ao medicamento de marca e, aí, não há "desculpas" para os médicos.

Por outro lado, uma associação corporativa a ANF vem entrar num terreno que a ser alterado deve-o ser pela tutela e não desta forma.

Os médicos, na generalidade, não quererão aproveitar esta situação para coisíssima nenhuma. É, tão só, uma questão de cumprir normas -se a receita está trancada não pode ser fornecido outro medicamento, está lá bem explícito.
Não concordam que se tranque, muito bem mude-se a lei e veremos os efeitos.

rmp disse...

Gostava só de dizer mais uma coisa:

Se querem mesmo fazer levar isto em diante, Senhores. Farmacêuticos, aprovem uma adenda - Se o utente solicitar a troca a farmácia é obrigada a fornecer o genérico mais barato do mercado naquele momento.
Pode ser?

Farmacêutico disse...

Sou contra e por respeito aos demais colegas não o irei fazer, a não ser que a tutela decida dar validade legal, aos farmacêuticos para prescrever medicamentos. E fornecer-nos também com os meios de tal tarefa, como o acesso aos diagnósticos e historiais clínicos, e o contacto imediato com o médico, para analise e fornecimento do medicamento mais adequado à situação em causa.
Saudações

Médico Explica disse...

Oh Camarada NA, 1) haverá alguma profissão mais corporativista que a dos farmacêuticos? Claro que não. Todas as profissões são corporativas, mas a vossa, credo, com a ANF a orientar e todos a defenderem-se. 2) haverá alguma profissão que viaje, para congressos e mesmo para fisn-de-semana que a dos farmacêuticos? dos técnicos de farmácia? Eu fico impressionado com a actividade dos laboratórios nas farmácias de Lisboa. E olhe que falo com cinhecimento de causa. É quase diário grandes jantaradas com todos os funcionários das farmácias, farmacêuicos incluidos. E não é só dermocosmética, são também medicamentos. Portanto os médicos ainda tapam as suas viagens com congressos, mas os donos das farmácias é só pedir - um fds, uma semana, etc 3) aceito a prescrição por DCI, com duas condições: a farmácia tb encomenda por DCI em grandes quantidades (e não às caixas e a marcas de genéricos e segundo, o doente só deve ir à farmácia se no local de prescrição (hospital, lar ou centro de saúde) não existirem. Para quando a compra directa dos Centros de Saúde e Lares aos fornecedores. Porque deverá um ACES que sabe que vái gastar milhares de sinvastatinas, não as comprar directamente aos fornecedores, contratar um farmacêutico para o seu armazém, e o mesmo nos lares de idosos, ASSIM, SIM, SE A ANF DEFENDESSE ISSO, É QUE OS MEDICAMENTOS FICARIAM MAIS BARATOS PARA TODOS... FORÇA, NA, DEFENDA ISTO E NÃO SEJA CORPORATIVISTA.

Farmacêutico disse...

Caro médico, sendo eu corporativista de família, ou não sou filho de uma cirurgião e uma anestesista (romance de bloco operatório), sendo ainda farmacêutico que segui por paixão e não por dinheiro, caso contrario trabalharia nalgum laboratório e não numa farmácia hospitalar a fazer horas não pagas. Acho que não acabei assim tão corporativista... Como eu conheci imensa gente.

Quanto à prescrição por DCI, só posso ser a favor. Alem de sair mais barato à farmácia, sai mais barato ao paciente (que e quem realmente interessa no meio disto tudo), sai igualmente mais barato ao SNS, que sempre que precisei dele nunca falhou, dá mais trabalho ao farmacêutico (que infelizmente não queremos, mas para molengar o dia inteiro já chegam os médicos...), e desenvolve a industria farmacêutica portuguesa, o que ira favorecer o crescimento da economia local e aumento do emprego e por conseguinte, um aumento da riqueza (ou deverei dizer redução de pobreza), logo, mais impostos cobrados, e mais dinheiro a entrar no SNS, e nos bolsos... dos médicos... Mas não se preocupem, com a bayer e pfizer fora de cena, tenho a certeza que a arrowblue e afins podem pagar umas viagens a castelo de bode e coisa do género...
Agora mais seriamente, irrita-me pessoal que associa farmacêuticos com mercenários da saúde... acho que é muito mais mercenário, alguém que cobra 100€, para em 15 minutos passar uma receita e nem sequer fazer qualquer exame, ou auscultação...etc, depois vão à farmácia fazer por 1€... Mas isto tb é uma discussão como entre advogados e seguradores, sobre quem é vai primeiro para o inferno...

Médico Explica disse...

Vc é hospitalar, mas como vê a sua corporação é tão grande que até defende os seus colegas empresários, só porque são tb farmacêuticos. Obviamente que os doentes não percebem que nesses 15 minutos estiveram muitoa anos de estudo. O mesmo se passa com vocês: para ser vendedor ao balcão será necessário estudos? Claro que sim, eu entendo. Pode demorar 5 minutos a aviar uma receita, a farmácia ganhar mais de 100€ e o farmacêutico não fez mais do que faz o tecnico. Só não me respondeu: e farmácias nos Centros de Saúde e lARES? mAS OLHE, ACHA MESMO que estas discussão levam a algum lado? Todos sabemos quais são os objectivos do João Cordeiro. Médicos, enfermeiros, farmacêuticos e agora outros técnicos superiores estamos condenados a trabalhar juntos e a beber café nos intervalos. Deixemos a guerra do Joãso Cordeiro para ele e debrucemo-nos no que de facto nos interessa.

Anónimo disse...

João Lobo, disfarçado de Cordeiro no seu melhor!
E os "totós" da Ordem a verem o balão!
A ANF, consegue criar um monopólio à custa dos médicos e ainda passa por santinha.

Ontem postei este comentário no 1º post desta série.

Mais, as balizas deste jogo estão marcadas e as linhas do campo também estão assinaladas, o Lucilio Baptista e a sua equipa, também está em campo.

O problema é esta coincidência de factos assim como a sua "razão aparente", que justifica a interferência dos farmaceuticos na dispensa dos medicamentos prescritos pelos médicos.

Lembrem-se de Hitler, que sempre quis invadir o espaço da Polónia, só que precisava de uma desculpa.

Deixem-se de discussões de corporativismo e comecem a pensar neste problema de forma a chegarem à razão, que faz com que João Cordeiro, tenha esta estratégia!

Alguém disse...

É tão giro ver os médicos todos abespinhados com a ANF. E o sr. Pedro Nunes, ou um seu mandatário, ainda tem o desplante, ou a pouca vergonha, de vir a público sugerir a redução da margem de comercialização dos medicamentos para 10%? Então eu sugiro que o sr. Pedro Nunes dê o exemplo e obrigue os seus colegas a não cobrar - quais mercenários (ou, utilizando expressão do sr. Pedro Nunes, "comerciantes" de saúde e bem estar - 100€ por 5 minutos de consulta no privado.

Quanto às insinuações sobre a eficácia dos medicamentos genéricos, não é competência do sr. Pedro Nunes, nem dos seus colegas de profissão, ajuizarem sobre tal, pois aquilo que sabem, normalmente, é tão somente aquilo que lhes é tão bem "ensinado" pelo delegado da propaganda (desculpe lá ó médico-que-não-explica, mas é verdade). A avaliação destes parâmetros é da competência do INFARMED e já está na hora da referida autoridade pôr cobro a estes devaneios, em nome do bom nome da instituição e dos seus funcionários e em nome da informação (e não da desinformação) à sociedade civil.

Cumprimentos ao sr. Pedro Nunes.

Em suma, o sr. Pedro Nunes precisa de se retratar.

Peliteiro disse...

Ena!
Tanta comichão!

NA disse...

Caro MEMAI, deixe-me retorquir, também por pontos.
1)Discordo, obviamente. Não conheço as restantes profissões, mas dizer que os farmacêuticos são mais corporativistas que os médicos parece-me ser uma enormidade. É que, apesar do corporativismo que possa haver, e dou de barato que há, no seio da ANF, não se compara ao da OM. Até porque a ANF não representa os farmacêuticos. Representa os proprietários de farmácias. Convém não confundir. É que, ao contrário da crença generalizada, os farmacêuticos têm outras competências para além de estar atrás de um balcão, pelo que o corporativismo da ANF não se pode reflectir nos farmacêuticos em geral. Pelo contrário, a OM – que de Ordem, como defensora da ética, boas práticas, etc, nada tem, sendo que é mais um sindicato e uma força de pressão que outra coisa – representa todos os médicos. E parece-me inegável o corporativismo que aí existe.
2) Quanto aos farmacêuticos viajarem à custa de terceiros… É quase anedótico. Não conheço farmácia alguma onde isso se passe (mas admito que os proprietários tenham viagens oferecidas). A diferença é que se calhar aos farmacêuticos oferecem uns fins-de-semana no Norte ou no Algarve enquanto que aos médicos, se for no continente europeu, já cheira a pouco. Mas admitamos como verdadeiro que há viagens luxuosíssimas para donos de farmácias (o que não me parece). Como é que “meia dúzia” de farmacêuticos a viajar se compara com os milhares de médicos que o fazem? É que os farmacêuticos serão só alguns. Os médicos, são todos (os que prescrevem). Quanto aos médicos “taparem” as viagens com congressos não me parece motivo de qualquer orgulho.
3)Não percebo porquê essas condições para a prescrição por DCI. Então mas o que é que o médico tem a ver com o local onde o doente adquire o medicamento? O que é que o médico tem a ver com a distribuição de medicamentos? Caramba… Era como eu agora começar a mandar bitaites sobre técnicas cirúrgicas. Se o caríssimo MEMAI gosta dessa área, pode sempre ir tirar Ciências Farmacêuticas (vai ver que, pelo menos, às Anatomias tem equivalência), suspender a inscrição na OM, inscrever-se na OF e aí já poderá inserir-se no ciclo de distribuição de medicamentos… Vai é viajar menos.

Cumprimentos, NA

NA disse...

Só uma nota à parte, não sei se me escapou ali alguma ironia, mas dizer que o farmacêutico faz tanto como o técnico é o mesmo que dizer que o médico faz tanto como o auxiliar. NA

LProlog disse...

Não sendo farmacêutico nem médico, questiono porque não prescreve o médico o principio activo e deixa o utente escolher a marca que pretende comprar de acordo com o dinheiro que quer gastar. Porque prescreve o médico a marca? Estudou os fármacos pela sua marca? Nos livros de medicina referem marcas ou principios activos? Alguém esclareça isto. Em que se baseiam os médicos para a prescrição das marcas? Nos estudos que os delegados de informação médica lhes apresentam? A relação entre médicos e estes delegados é outro mistério (mas só para os burros). Por fim, questiono só porque é que nos hospitais (pelo menos) nos que eu conheço os médicos não escolhem as marcas dos medicamentos para os doentes mas só o principio activo. Os genéricos por vezes têm qualidade duvidosa e chegam a ser retirados do mercado, mas o mesmo não acontece aos de marca?
Continuem a atirar areia aos olhos do povo enquanto vão aos congressos em cruzeiros ás caraíbas, tudo pago pelos laboratórios (oe melhor, pelo povo).

Placebo disse...

Caro colega MEMAI.

Já sabe que discordo de si nesse particular, em alguns pontos.
Mas comentei no meu blog.

Um abraço!

Anónimo disse...

DCI-realmente a forma mais correcta de prescrever, concordo.Também é verdade que em meio hospitalar o médico, para os doentes internados prescreve DCI.Pessoalmente e tendo em conta a minha especialidade(anestesiologia) só muito raramente prescrevo, no entanto a grande maioria dos medicamentos que uso diáriamente são genéricos.Posso no entanto dizer que esta história dos genéricos não é bem como se "pinta" e já foi até falado aqui o problema da bioequivalência e do furosemide e na minha especialidade esse problema é evidente: quando aparece um genérico temos de gastar o dobro,os relaxantes necessitam de repicagens frequentes, os agentes inalatórios tem de se usar com % mais elevadas, os analgésicos parecem "água"... enfim! Então e os respectivos estudos??
Quanto às viagens e laboratórios, e para responder a NA gostaria de dizer que conheço muitos farmacêuticos que passeiam muito mais ou tanto como alguns médicos, às custas dos laboratórios, com a família e para locais tão distantes como a Austrália, argentina, etc.... Mas quanto a isto só lhe posso dizer: cada um faz o que lhe vai na consciência e o que bem entender, só posso responder por mim e pelos meus actos.

Peliteiro disse...

Quando se fala de farmacêuticos e medicamentos a caixa de comentários do MEMaI sobe de temperatura. Ainda não percebi bem porquê, mas enfim, aqui vai mais um contributo para ajudar a animar a malta, decalcado do www.peliteiro.com:

Este tema talvez devesse ser tratado com uma prosa um pouco mais cuidada, mas realmente a paciência para temas requentados e planos de pormenor já não abunda. De modo que sobre a medida preconizada pela ANF para a substituição dos genéricos queria apenas deixar duas palavrinhas:

1. A lei é para se cumprir. Pode ser absurda, mas é para cumprir. Não acredito que a ANF ou nenhuma das Farmácias aderentes a este, digamos, programa seja algum dia condenada em Tribunal.
2. O conceito de genérico de marca é um absurdo e julgo que uma originalidade portuguesa. Ou é marca ou é genérico. Em Portugal há ainda a cópia; uma chafurdice. Nenhum médico, nenhum farmacêutico tem competência, tem elementos, tem nenhuma evidência, intuição ou cheiro que lhe permita distinguir um genérico da marca xpto de um outro genérico da marca otpx. Estamos a falar de ciência e tecnologia e não de fé.
3. A prescrição por DCI consta do programa deste Governo e do compromisso para a saúde. Cordeiro só está a recomendar o que o Governo prometeu mas não cumpriu. A actual Ministra não cumpre as promessas do Governo e anda pelos congressos médicos a suplicar-lhes que receitem genéricos. Por amor de Deus!... O Sócrates, esse mariquinhas, tem medo de quê?
4. Os médicos escusam de fazer de virgens envergonhadas porque toda a gente sabe que estão metidos até ao pescoço (não todos evidentemente, há muita gente séria, felizmente) nas negociatas do medicamento, que chapinham que nem javardos, que mamam que nem vitelos na teta do desvario dos dinheiros públicos. O número de delegados de informação médica atesta bem isso. Os farmacêuticos também não são nenhuns anjinhos, diga-se, mas pelo menos é suposto que estes ganhem dinheiro a vender medicamentos - é mais natural e não fazem de virgens púdicas. Agora, os médicos, muitos médicos, deviam ter vergonha de se pronunciarem sobre isto, inchados que nem sanguessugas empanturradas do sangue alheio.

Médico Explica disse...

Oh Caro Mário: imaginemos que um determinado médico prescreve determinado medicamento e o laboratório decide patrocinar-lhe uma congresso. Isso pode ser poucoo ético, mas e chafurdice porquê? é apenas um negócio, como o vosso. Aliás não vejo porque é que os médicos não podem vender medicamentos. Se os farmacêuticos os vender e querem também prescrver, não vejo mal. Assim como os alternativos, todos gostam deles e eles próprios vendem as suas mezinhas. Alguém se queixa?

Placebo disse...

Valha-me Deus, MEMAI....

LProlog disse...

Qualquer dia entramos numa loja para comprar umas calças e somos obrigados a comprar de determinada marca; não poderemos escolher A MARCA de tudo o que vompramos com o nosso dinheiro. Podem-nos aconselhar de qual acham ser melhor, mas obrigar-nos??

NA disse...

MEMAI... Médicos a vender medicamentos? Não vê nada de errado por aí?! Copiando o Placebo: Valha-me Deus!

Anónimo disse...

02 Abril 2009 - 17h16

Guerra entre Farmacêuticos e Médicos
Ministra da Saúde atenta a conflito
A ministra da Saúde, Ana Jorge, disse esta tarde que tem estado a acompanhar o conflito entre a Associação Nacional de Farmácias (ANF) e a Ordem dos Médicos (OM).


A polémica estalou esta semana quando a ANF anunciou que iria dar aos utentes a possibilidade de optar entre o medicamento prescrito pelo médico e um genérico que alegadamente é mais barato: “Estamos a acompanhar a situação. Temos vindo a aumentar a comparticipação de medicamentos, isto é, os pensionistas pagam menos em cerca de 3900 remédios e vamos continuar a baixar preços”, disse Ana Jorge no âmbito da tomada de posse dos directores executivos dos 22 agrupamentos dos centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo. “Temos também incentivado os médicos a escolher os medicamentos nos casos de doentes crónicos que necessitam dos mesmos durante um largo período de tempo para que estes doentes não interrompam os tratamentos por falta de dinheiro para adquirir os tratamentos”, acrescentou a ministra.

Ana Jorge realçou que não foi contactada pela ANF nem pela Ordem dos Médicos que ameaçou avançar com uma queixa junto do Ministério Público. Se essa queixa se verificar, o ministério da Saúde não sabe que instrumentos legais dispõe para perceber se existe ou não uma ilegalidade nesta sugestão da ANF ou para agir junto da mesma: “Este assunto tem que ser estudado do ponto de vista legal pelo Ministério da Saúde”, assumiu a ministra.

Alguém disse...

"MEMAI... Médicos a vender medicamentos? Não vê nada de errado por aí?! Copiando o Placebo: Valha-me Deus!"

Ó NA, mas não vê que é isso que eles mais queriam na sua vidinha? Pôr mão na venda de medicamentos? Ou porque é que acha que a ANF e as farmácias lhes provocam tanta urticária? Tenho pena...

Anónimo disse...

Os médicos não estudam pelas marcas dos medicamentos mas todos os dias se vêem confrontados com listas intermináveis de marcas de entre as quais têm de escolher uma, ajustar o numero de comprimidos, comparar preços, etc, etc, para poder prescrever ao doente o mais ajustado à sua patologia e à sua condição económica. Com isto têm já uma boa noção comparativa entre marcas e sobretudo entre marcas e genéricos. Todos os médicos têm a sua lista negra de genéricos, medicamentos que são como "água", qual placebo... ora, quando o medicamento não funciona os doentes não se vão queixar ao farmaceutico, mas ao médico!! Como médica, seria para mim muito mais fácil prescrever por princípio activo e depois o doente e o farmaceutico que se desenvencilhassem de entre as 20, 30 ou 40 marcas, as caixas, os comprimidos, o preço, etc! Mas depois mandaria os dentes irem queixar-se à farmácia!

NA disse...

Mas talvez devesse ser assim... É que pelo menos os farmacêuticos dão-se ao trabalho de notificar o Infarmed, coisa que os médicos não fazem. NA

Médico Explica disse...

Medidas para poupar em medicamentos:
1) comparticipar apenas a lista de medicamnetos essenciais da OMS.
2) proibir a comercialização de genéricos de marca
3) todos os genéricos aferidos pelo mesmo preço,
4) verdadeira linha branca
5) descomparticipar os medicamentos que possuam equivalentes genéricos
6) permitir a distribuição nos Centros de Saúde dos medicamentos comparticipados
7) liberalizar a instalação de farmácias
8) liberalizar a venda de medicamentos em todas as grandes superficies, clínicas, misericóridas, etc.
9) permitir a compra directa pelas IPSS aos laboratórios

NA disse...

Gostava de ver se eu agora fizesse aqui uma lista que se intitulasse "Critérios diagnósticos de X:"... Seria ridículo, certo? Pois... NA

Peliteiro disse...

É curioso MEMaI que das suas propostas para a redução da despesa com medicamentos nem uma, nem uma!, envolva, directa ou indirectamente, a acção do prescritor.
Abraço

Anónimo disse...

Companheiro Mário de Sá Peliteiro,

ninguem me passou procuração, mas o MEMAI, na sua lista de intenções, da 1 à 6 condiciona o prescritor.

Vamos lá a ver!

Na abordagem deste problema estamos a tomar posições extremadas quando o problema é outro.

Numa intervenção anterior disse que a estratégia do João Cordeiro traz outras intenções.

A propósito, alguem sabe de quem é o Laboratório Almos, lançado a nível ibérico há 15 dias em Barcelona?

Abraço.

Anónimo disse...

os médicos que assumem que um farmacêutico é só alguém que vende medicamentos deviam era ter de estagiar 1 mês numa farmácia para verem as perguntas que os doentes nos fazem por vergonha ou respeito extremo à suprema classe médica. E o farmacêutico, com muito menor prestígio na sociedade que o médico, é que tem que se ir desenrrascando mesmo sem conhecer a história clínica.