terça-feira, janeiro 16, 2007

Vidas Desperdiçadas Em Potência (I) : A Masturbação.

Este blogue vai iniciar a publicação de algumas situações a ilegalizar, pois representam perdas em potência de vidas humanas: uma bandeira dos defensores do NÃO.

1. A Masturbação:

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Peter Johann Nepomuk Geiger, Erotic Aquarell about 1840 (Austrian, 1805-1880)

4 comentários:

naoseiquenome usar disse...

Aproveito aqui para responder a este postal e ao meu caro apoiante do postal anterior, a quem desde já agradeço com sinceridade, mas sempre acrescento que posso bem com qualquer adjectivação.

Ainda em relação a este simpático comentador, quero reiterar que os meus argumentos, a favor da posição que tenho vindo a tomar sobre a questão, se encontram no sítio que indiquei, caso queira ler, ou se leu, talvez valha a pena ler de novo.

Assim:
- a propaganda da humilhação da prisão das mulheres, não passa de um logro, pois até hoje não temos notícias de mulheres presas que não as que tivessem cometido o aborto numa fase avançadíssima da gravidez, 6 ou mais meses, o que se mantém na íntegra, pois que, ainda que vença o sim e aborto livre passe a ser despenalizado até às 10 semanas, continuará a ser criminalizado a partir das dez semanas.

O período de 10 semanas, não passará de retórica, pois não fica definido como se procede à datação, se a partir do momento em que falta da menstruação, se da data da concepção, pelo que a margem de erro, para cima, será de, sensivelmente duas semanas, logo serão 12 e não 10.

Atendendo à urgência da intervenção (num não doente, já que uma grávida não é um doente e olhem que o ridículo mata), que terá de se submeter a ECDT (pelo menos uma Ecografia, não?), para datar (?) a gravidez, as que passarã a ser feitas em estabelecimentos do SNS serão poucas ou nenhumas, pois que lá estão as longas listas de espera de DOENTES. Ou seja, passar-se-ão a fazer em Clínicas Privadas que florescerão com o nosso financiamento.

Como parentesis, e porque tantas vezes se fala na nossa vizinha espanha, deixo aqui este trecho do Jano-On line de 15/01/2007 08:06

"Las tasas de interrupciones voluntarias del embarazo (IVE) de las mujeres españolas se han modificado escasamente desde la despenalización del aborto en el año 1985 y con los datos disponibles en el registro de IVE, y en otras fuentes, no se puede afirmar que estén aumentando, según las conclusiones de un informe del Ministerio de Sanidad, del que se deduce que las españolas recurren más a la anticoncepción de emergencia"

Passado o parêntesis e voltando à questão de fundo, há uma realidade científicamente indesmentível: a formação do ser humano começa por ocasião da fecundação, com a junção do óvulo e do espermatozóide.
E, somos um ser humano desde esse início, até ao fim da vida.
Bem pode o autor do blog ironizar com a masturbação. Bem pode. Tal acto, a bem da Nação, se clahar devia ser praticado mais vezes, para que não houvesse tantas fecundações irresponsáveis.

A PERGUNTA QUE VAI AGORA A REFERENDO, JÁ FOI REFERENDADA, OS PORTUGUESES DISSERAM NÃO E, DESDE ENTÃO NENHUMA CONDIÇÃO ESSENCIAL EM TERMOS DE MÉTODOS REPRODUTIVOS E DE CONCEPÇÃO, SE ALTEROU, POR FORMA A JUSTIFICAR MAIS ESTE DESPERDÍCIO DE DINHEIROS PÚBLICOS.
ESTE REFERENDO NÃO PASSA DE UM INSTRUMENTO POLÍTICO, PARA FAZER DESVIAR A ATENÇÃO DOS PORTUGUESES DE QUESTÕES VERDADEIRAMENTE PREMENTES, QUERENDO ILUDIR-NOS QUE ESTÁ A CUMPRIR PROMESSAS ELEITORAIS.

Voltando às 10 semanas, tempo que se considera, pelos defensores, razoável, sem explicarem como nem porquê, o que muda das 9 semanas e 6 dias para as 10 semanas e 1 dia, temo, com a evulução dos sistemas "abertos" que tal evolua, rapidamente, para as 14,18,24, 28 ou...

Já agora e para terminar, queria lembrar aos que defendem que o assunto é uma questão de evolução, um marco civilizacional, que:
Na China o aborto a pedido é totalmente livre até às 28 semanas!
Na Rússia, até às 22 semanas.

E para que o meu simpático comentador se não arrepie comigo, transcrevo uma afirmação do Movimento "Médicos pela Escolha":Voto Sim à lei porque acho que, mesmo com a máxima informação sobre métodos anti-conceptivos, haverá sempre gravidezes indesejadas e indesejáveis que podem ser evitadas na fase em que um pequeno agrupamento de células vivas ainda não é um verdadeiro ser vivo (...).

Por isso, não se arrepie.
Sempre haverá mulheres que podem ter os seus filhos, mas não os querendo, optam pelo aborto, não raramente de forma reiterada, como método contraceptivo.

naoseiquenome usar disse...

Não esquecer que a aplicabilidade de uma sanção penal pressupõe uma actuação punível, ilícita, culposa e típica.
Isto é apreciado com a lei actual, já que o pressuposto e limite é a CULPA:
E continuará a sê-lo, pois às 10 semanas e 1 dia, continua a ser crime.

Anónimo disse...

..e finalmente começamos a tocar em algumas feridas!

Devo esclarecer, em primeiro lugar, estar do lado da descriminalização da ivg e ser o meu objectivo, com este post, não extremizar uma posição (porque mais cedo ou mais tarde cairia no ridiculo), mas participar numa discussão que é do interesse de todos e fazê-lo da forma que caracteriza os 'votantes sim': com consciência, com objetividade, em liberdade e sem demagogia nem hipocrisia.
Acrescento também ser estudante da área de saúde, com algum conhecimento de causa, mas sobretudo com muito interesse pelos factos e pelos argumentos esgrimidos, por ambas as partes.

Caro(a) NSQNU

- A questão do limite de 10 semanas será certamente convencional, uma vez que existem na UE países em que o limite está nas 12 semanas, mas não é, de todo, retórica. Porquê? Pela mesma razão que um parto será pré ou pós-termo 1 minuto antes ou depois dos períodos convencionados. Neste caso há inúmeros estudos, sobretudo epidemiológicos que em muito são responsáveis para que assim seja. Para quê na IVG? para evitar uma condição de anarquia, para responsabilização individual, para enquadramento da liberdade individual, p.e.

- Quanto àquilo a que se refere, que julgo ser a Idade Gestacional, esta é contabilizada (também por convenção) em obstetrícia a partir do primeiro dia da última menstruação (PDUM), e (apenas) em embriologia a partir da fusão dos gâmetas. Porquê? porque na esmagadora maioria dos casos é impossível saber em que dia exactamente ocorreu a fecundação (nem sempre a ovulação ocorre 14 dias após o PDUM); ora, não sabendo esta data, iremos influenciar a idade gestacional, que por sua vez influencia em muito o seguimento obstétrico, o que, obviamente, tem importância médica. Por falar em ridiculo, permita-me que lhe confesse que quase o roçou, quando diz que a grávida (doente ou não) TEM que submeter a ECD, nomeadamente a Eco, e depois o questiona.. Pelo que sei, na prática clínica do SNS entra-se em linha de conta com o PDUM e confirma-se com a primeira de três ecografias (de rotina ao longo da grvidez), sob a forma de estimativa com alguns critérios para ajuste; acrescento que mais tarde na gestação poderá haver (e há) grandes dificuldades na determinação ecográfica da idade gestacional.

- Preocupa-me também a forma aligeirada como apresenta "realidades científicas indesmentíveis". Como sabe, sumariamente, o paradigma científico, segundo K.Popper, existe até ser 'desmentido' por um novo paradigma. Então, ou a vida não é uma realidade científica e a doutrina de Popper não lhe é aplicável ou se o é, o seu discurso errou (porque não há realidades científicas indesmentíveis), a menos que tenha obra para substituir o filósofo citado nos seus domínios. Ora, na minha opinião (e julgo que na sua também), a vida humana em toda a sua dimensão é muito mais que uma qualquer realidade científica. É, porventura, a maior questão filosófica; desta forma, inúmeras questões (não indesmentíveis, simplesmente sem resposta dada a sua complexidade) se põem no que concerne à vida. Existe vida sem liberdade? É a vida o mais importante valor? O ser humano é apenas um ser biologicamente viável? Não conheço paradigmas para estas respostas. Considero errado (e, portanto, altamente demagógico) afirmar categoricamente que existe vida SEMPRE, desde a fecundação à morte. O que não belisca em nada a dignidade do ovo, embrião ou feto. Apenas eleva a discussão a um nível que aqueles que afirmam que votar não é votar vida e votar sim é votar viva o aborto, não estão habituados (e quiçá não estarão preparados).

- A ivg já foi de facto, referendada. Recorda-se dos resultados ou terei que apresentá-los? Apenas um referendo desta importância (pelo assunto em questão e pela instituição do referendo em Portugal) será um 'instrumento político' para desviar atenções se nós, TODOS nós, 'cidadãos-comuns', o permitirmos. Aprende-se no início ao estudo de lógica o que é uma falácia, e alguns tipos de falácia. A falácia 'contra-o-homem' consiste em atacar 'pessoalmente' um argumentador para ganhar a atenção da multidão e vencer a discussão, sem nada acrescentar ao debate. Que (má) estratégia a sua...


Não consigo perceber a argumentação 'Não' em vários pontos..
- Seremos nós, 'votantes sim', moralmente inferiores, más pessoas que querem promover a morte de fetos indiscriminadamente? Seremos nós contra a vida e os votantes 'não' pela vida? É isso?

- Qual é a moral da Igreja Católica, cuja história é tão rica nestes pseudo-moralismos, tão demonstrativa do (des)respeito da vida humana, dos valores de vanguarda como sempre será a liberdade, para agora vir tomar posição? E o que pensar daqueles que cegamente a seguem? Voto livre em consciência como? Quantas pessoas mais precisam de arder numa qualquer fogueira ou contrair DST avulsas porque o preservativo é pecado para 'abrirmos os olhos'?

- O que fizeram (em termos concretos) e quais foram os resultados práticos, os defensores do não? E, já agora, se a existência de um ovo embrião ou feto humano é para eles de tanta importância, porque não se mobilizaram nunca para tentar igualar a pena de quem faz um aborto igual à de quem comete um homicídio?


Espero que esta exposição tenha sido um contributo para que, no final, saiamos de todo este processo mais informados e, se possível, melhores pessoas.
Espero ainda não ter ofendido ninguém, não foi de todo minha intenção; se o fiz, apresento já as minhas desculpas e a minha total abertura (de acordo c a disponibilidade)para posteriores esclarecimentos...

naoseiquenome usar disse...

Bem-vindo caro "curandeiro", estudante da área da saúde, meu colega, que serei eterna estudante, mas tentando cruzar vários saberes, já que o saber exige cada vez mais transdisciplinaridade.

Ainda bem que quer contribuir para a discussão esclarecida.
Assim, se quer "falar" da gravidez, num contexto de gravidez dirigida à maternidade, remeto-o para a minha resposta (comentário) dada no post acima.

Se quer discutir a gravidez dirigida para o aborto, corre o risco de entrar numa tão profunda contradição, numa verdadeira petição de princípio, que quase a inviabilizará, sem necessidade de outros argumentos e sem que Popper lhe valha, já que estar grávida é um estatuto de per se, é um estado de gestação de uma vida e nunca se está muito ou pouco grávida. Está-se grávida. Numa fase inicial ou mais adiantada da dita gravidez.

Antes de mais esclareço-o que não pode ser a favor da descriminalização do aborto, mas tão-somente da despenalização da IGV até às 10 semanas, por opção da mulher, que é a pergunta que vai a referendo.

Se ainda não entendeu, eu explico melhor
aborto é um crime e será um crime, mesmo que o sim vença.
Acontecerá apenas que passará a ser um crime sem pena, quando efectuado até às 10 semanas, em estabelecimento legalmente autorizado, por opção da mulher.

Tratando-se de uma questão científica, filosófica, ética e legal entre várias outras dimensões, como a socio-demográfica, a minha posição quanto à necessidade deste referendo mantém-se irredutível, pesem embora os seus prestimosos contributos.

Finalmente, faço apenas uma observação:
- Acaso leu-me, algures, a argumentar com os referidos argumentos da Igreja ou sequer a falar de "Igreja"?