sábado, fevereiro 28, 2004

A Verdadeira História da Patrícia

A Patrícia é uma jovem que conheci numa urgência em Lisboa.

Simpática, agradável, respira independência por todos os poros, ambiciosa, inteligente e que presentemente é delegada de informação médica (de passagem, com refere).

Palavra puxa palavra (já o motivo da consulta ia longe) diz-me que tinha estado nos Estados Unidos a estudar uns anos antes e tinha feito um obrigatório seguro de saúde (coisa vulgar nos Estados Unidos da América do Norte) para estudantes estrangeiros.

Um dia adoeceu. Dores na coluna lombo-sagrada. Depois um abcesso. Foi levada por uns amigos americanos aos alternativos, "chiropractor" adianta, sem solução, ou melhor, com atraso na solução.
Mas...
Como tinha o tal seguro de saúde, decide ser tratada e operada num hospital local.

Fornece os dados necessários, as apólices, a identificação da seguradora, a sua identificação e é operada.

À data da alta, preparando-se para sair, eis senão quando lhe apresentam a bill:

- $71 Consulta
- $123 Chiropractor
- $931.70 Grupo Cirurgico
- $1572.34 Hospital (intervenção e internamento)
- $97 Medicamentos ($90 por Augmentin!!!!) (exclamação da Patrícia)
- $84 Clinica Pediatrica (interrogação da Patrícia, na altura com 18 anos)
- $450 Anestesistas.

PROTESTOU: então tinha um seguro de saúde e agora obrigavam-na a pagar 3 329 dólares (Novembro de 1997).

EXPLICARAM-LHE: o seu diagnóstico era "Pilodinal Cyst" e o facto de ser considerada uma situação congénita, o seu tratamento não é abrangido pelo prémio.

RELEU a apólice: lá estava naquelas letrinhas pequeninas, nas exclusões e que não elucidam quando se fazem os seguros.

CONCLUIU: bendito SNS português, que opera tudo gratuitamente (para já, logo não será!)

Sobre A Humanização dos Serviços de Saúde

Aconselho vivamente a leitura da mensagem "Até que enfim..." posta na segunda-feira, 23 Fevereiro, no blog cravo e canela (ouvir. ver. tocar. cheirar. degustar. cinco sentidos e mais um. equilibrar) com a qual concordo inteiramente.

P.S. A minha simples formação informática não me permite fazer a ligação directa para a referida mensagem.

Mais Uma Vez O Tabaco

Do blog Bisturi esta cirúrgica mensagem, com a deviida vénia:

"Tabaco
Metade dos fumadores poderá morrer vítima do tabaco. Cancro, enfarte do miocárdio, bronquite, acidente vascular cerebral. Além de ser a segunda causa de morte em todo o mundo, o tabaco, segundo a Organização Mundial de Saúde, está cada vez mais associado à pobreza, ao sub-desenvolvimento, porque são desviadas verbas familiares que se poderiam consagrar à alimentação, à educação e aos cuidados de saúde. O profissional de saúde só pode promover a cessação tabágica se der o exemplo. Na Albânia, 44% dos estudantes de medicina fumam, uma percentagem superior à da população em geral.

O tabaco é tão inofensivo que está associado a:
- Cancro do pulmão (responsável por 90% das mortes de cancro do pulmão);
- Cancro da cavidade oral, (lábios, boca, língua), laringe (97% das mortes) e faringe;
- Cancro do esófago;
- Cancro do pâncreas;
- Cancro da bexiga e rins;
- Cancro do colo do útero:
- Cardiopatia isquémica (25% das mortes);
- Doença vascular periférica (arteriosclerose);
- Doença cerebrovascular (AVC);
- Bronquite crónica, enfisema (25% das mortes) e asma;
- Doença de refluxo gastro-esofágico, úlcera péptica;
- Menopausa precoce e osteoporose;
- Atraso no desenvolvimento físico e intelectual da criança, se grávida fumadora.


São vinte situações assinaladas. Uma por cada cigarro de um maço de tabaco!
Quando fumarem, pensem para qual das situações esse cigarro se dirigirá e assim sucessivamente até ao último cigarro de cada maço. Um cigarro, um problema de saúde. Um maço de tabaco, uma carrada de problemas...

Interessante Notícia: Será Que O Título Corresponde Ao Conteúdo?

Do Público de 25 de Fevereiro de 2004, assinada por C.G (Casca-Grossa?)

"Problemas com Medicamentos Aumentaram

O número de trabalhadores com problemas associados a drogas de prescrição médica foi o que mais aumentou (em comparação com o álcool, a "cannabis", a cocaína e os opiáceos) nos últimos anos, estimam os representantes das empresas (43 por cento são desta opinião), dos sindicatos (39 por cento) e das organizações patronais (25 por cento). [Enfim todos juntos na concertação de classes] Uma das tendências detectadas é a mudança de atitude em relação ao abuso de medicamentos psicotrópicos (como os tranquilizantes e antidepressivos). No inquérito de há dez anos era ideia generalizada entre os inquiridos que este seria "um problema dos médicos", nota o coordenador da investigação, Orlindo Gouveia Pereira. Nos dados de 2003 começa a ser política empresarial "a percepção de que este é um problema" que afecta desempenhos e diminui tempos de reacção em funções como, por exemplo, a condução de uma máquina. "Já ninguém diz que é um problema dos médicos."


Notas:

- Pelo título retira-se a conclusão subliminar que é um problema dos médicos, pois são os únicos (ainda!) que prescrevem oficialmente medicamentos.

- Ainda do título se pode retirar que os medicamentos provocam problemas, portanto mais vale recorrer de imediato às massagens, agulhas e água engarrafada (homeopatia).

- Porque se encontram os trabalhadores mais ansiosos e deprimidos para tomarem medicamentos?

- Se não é um problema dos médicos, de quem será? Das farmácias que vendem ao balcão sem receita?

- Do mercado negro, que vende ansiolíticos e antidepressivos?

- Da internet que inunda as caixas do correio com anúncios da venda de medicamentos sem receita?

- Ou apenas porque há mais doentes com ansiedade e depressão?

- Eu trabalhador me confesso que, no início de cada período de banco, auto-medico-me com 0,5 mg de alprazolan (Xanax) para enfrentar o mundo real que se transformou em mundo cão.

"Bastonário da OM: Médicos receitam mais genéricos"

Do Diário Digital de 25/02/04, respigo

"O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Germano de Sousa, garante que os clínicos estão a receitar cada vez mais genéricos, pelo que o balanço do primeiro ano da nova política do medicamento só pode ser positivo. O responsável contraria, assim, dados revelados esta quarta-feira pela da Associação Nacional de Farmácias (ANF)."

.../... «é necessário perceber que não se modificam hábitos de prescrição, num período de tempo tão curto, como é um ano, num país que não tinha genéricos». Por isso, defende, no próximo ano «os resultados serão ainda melhor».
..."

De uma pessoa que me merece toda a confiança, relato duas pequenas histórias passadas na mesma farmácia (farmácia?)

1ª - O médico receitou-lhe isso? Isso não faz nada! Tenho aqui um muito melhor que é homeopático e serve para o mesmo. (o medicamento em questão era o Zovirax® e foi trocado por uma qualquer mistela de água com água, que dará um lucro muito superior ao Zovirax).

2ª - O médico receitou-lhe isso? Isso é muito forte! E trocou com o maior à vontade um medicamento genérico por um de marca que o doente pagou por inteiro.

E faço justiça a um farmacêutico que, apesar de eu autorizar quase permanentemente a troca de medicamentos por outros genéricos ou por genéricos, me telefona sempre a pedir autorização!

domingo, fevereiro 22, 2004

Valerá a Pena Denunciar Má-Práticas? Ou Só Valem As Denúncias do Povo Nas TVs?

Do Diário de Notícias de 22 de Fevereiro de 2004, assinada por pela jornalista Ana Mafalda Inácio.

"O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) vai recorrer para o Tribunal Europeu para exigir uma indemnização ao Estado português. Na base da queixa está uma sentença proferida recentemente por uma juíza do Tribunal Cível de Lisboa, que condena a estrutura sindical ao pagamento de cem mil euros aos quatro elementos do conselho de administração do Hospital Distritral de Évora (HDE), por declarações feitas em 1993, aquando da denúncia das mortes por intoxicação alumínica, devido a falhas no sistema de tratamento de águas.

O presidente do SMZS, Mário Jorge, classifica a sentença como «um escândalo» e vai recorrer ao Tribunal Europeu e ao Supremo Tribunal de Justiça. «O Estado português assumiu a culpa ao pagar uma indemnização aos familiares das vítimas e, agora, há uma juíza que omite tudo isto e decide condenar quem denunciou a situação».

Segundo apurou o DN, a juíza considerou que os membros da direcção do SMZS proferiram afirmações «ofensivas», «irresponsáveis» e «caluniosas» sobre os dirigentes do HDE. Manuel Anjinho, Luís Gulherme, Manuel Fialho e José Borges apresentaram quatro queixas em tribunal contra aquele sindicato, uma delas dirigida só ao presidente, a qual já foi arquivada.

Mário Jorge defende que todas as afirmações foram feitas com base nos cargos que aqueles elementos ocupavam, sem haver «quaisquer referências pessoais. Houve 22 mortes. Se não tivessemos denunciado o caso seriam mais, portanto não se tratou de nenhuma acção caluniosa».
"

A solidariedade do autor deste blog para com o presidente do SMZS e para com todos os médicos que denunciem colegas por más práticas, abusos de poder e negligências.

sábado, fevereiro 21, 2004

... só permitia exercer Medicina na Madeira e nas ex-colónias ...

Do jornal Público, de 21 de Fevereiro de 2004:

"Escola do Funchal Formou 240 Médicos Entre 1837 e 1910"

O Funchal já teve uma Escola Médico-Cirúrgica, que iniciou a sua actividade em 1837 e foi extinta em 1910, após atribulada existência marcada pelas polémicas entre médicos e representações. Foi instituída pelo decreto de 29 de Dezembro de 1836, que criou, em cada uma das capitais dos distritos ultramarinos, uma escola médico-cirúrgica que leccionava duas cadeiras. A primeira incluía o ensino de "anatomia, fisiologia, operações cirúrgicas e arte obstrectícia" e a segunda patalogia, matéria médica e terapêutica, regidas respectivamente pelo médico e cirurgião principais do hospital a que a mesma escola estava anexa. Ao longo dos seus 74 anos, formou apenas duas mulheres entre os 240 médicos que concluíram estes cursos, inicialmente de três e depois de quatro anos. O diploma da Escola Medico-Cirúrgica do Funchal só permitia exercer Medicina na Madeira e nas ex-colónias, devendo as cirurgias ser tuteladas por licenciados nas faculdades do continente
".

Com a proliferação de faculdades de medicina em Portugal, sem atenderem ao ratios faculdade/habitante, isto é, à qualidade do ensino e à prevalência das patologias, correremos o risco de, no futuro, o início de uma consulta começar por esta pergunta:

- Sr dr em que faculdade se licenciou?
- Ai foi nessa? Deixe-me consultar esta lista...
- Desculpe, mas nessa não confio. Vou procurar outro licenciado.

domingo, fevereiro 15, 2004

Doente, Utente e Cliente

Do blog A Cabra transcrevo com a devida vénia este bilhete intitulado O UTENTE:

"Quando um dia o doente foi chamado de utente,acabou a humanização na medicina.Assim denominado,o doente passou da condição de humana criatura,ao numerado usuário da massificação...Nas teias da falácia aprisionado,deixou de ter acesso à sagração da consulta,o diálogo vital.O utente é algarismo entre a gente e nó da burocracia infernal,é moeda que pinga reluzente,chapa,análise e receita final,só não tem estatuto de doente..."

... e para dizer que não concordo com a definição dada a utente. Hoje em dia, com a evolução da medicina e principalmente com o surgimento da medicina familiar, nem todos os indivíduos que frequentam os serviços de saúde são doentes. Nos hospitais, também já se fazem exames para rastrear ou diagnosticar precocemente determinadas doenças. Por isso há utentes que não são doentes. Serão ou não, no futuro. Mas no presente ainda são apenas utentes.

Um exemplo esclarecedor: um utente inscrito numa lista de um médico de família, é convocado para um exame periódico de saúde, onde se diagnostica um tumor do cólon, ainda assintomático. O médico de família referencia para uma consulta de gastrenterologia ou directamente para a cirurgia. Na história clínica, verifica-se que há uma incidência de cancros colo-rectais naquela família.
Será boa prática médica, os familiares descendentes (ou ascendentes) seres de imediato referenciados, ou pelo médico de família ou pelo gastrenterologista para colonoscopias seriadas de acordo com protocolos definidos, como por exemplo, os da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva.

Dos rastreados, uns serão doentes outros permanecerão eternamente utentes. Ainda bem!

Cliente, é outra terminologia que se usa muitas vezes, mas com a qual não concordo. Tem subjacente uma relação comercial, real ou não, essa conotação existe. Não gosto.

Segundo o Dicionário On-Line da Porto Editora, cliente "é pessoa que requer serviços mediante pagamento".

A Grande Loja do Queijo Limiano, As Radiografias e Os Oxímoros

Este bom blog, de qualidade superior, fez uma transcrição de um bilhete deste mediano blog, publicado há meses, mas sempre actualizado, o que agradeço.

Só não agradeço são as palavras pouco compreensíveis na sua introdução:
"Um deles, tenta explicar alguma coisa de medicina a quem não entende - os intelectuais! Às vezes atrapalha-se, mistura desabafos com diagnósticos e radiografias e a explicação prometida fica adiada. Outras vezes, abre as portas do conhecimento a ...".

- Sobre as explicações prometidas e adiadas, fica apenas esta comparação: a Grande Loja do Queijo Limiano, vende queijo limiano on-line? Disserta sobre as qualidades do queijo limiano? Ou do queijo em geral? Não. Todos compreendemos que se trata de uma alegoria ou metonímia. O meu título é um oxímoro (ou oximoro), daí não pretender explicar nada a alguém que já sabe tudo!

- Sobre misturar desabafos com diagnósticos será uma atrapalhação, como afirma o José, ou antes uma provocação? Um acto voluntário!

- Sobre as radiografias como generaliza a GLQL aos bilhetes a que dei o título genérico de "Literatura Médica" (e foram de I a X e do agrado de muitos leitores) e que eram transcrições de vários relatórios de exames complementares de diagnóstico, seriam o suporte a uma história dramática, rara, real e recente que se desenrolou enquanto os posts eram colocados. Entretanto decidi não a colocar na blogosfera, por razões éticas e para não quebrar, de forma alguma, o sigilo médico.

sábado, fevereiro 14, 2004

CEM ANOS!

Hoje em dia niguém terá dúvidas sobre o aumento da longevidade da população dos países desenvolvidos. E vai aumentando, aumentando, embore custe a muitos assumí-lo, à custa da medicina ocidental. Da química. Da química biológica.

Aquela que é a verdadeira alternativa para o combate aos factores que nos vão impedindo de alcançar o nosso desiderato genético, que segundo alguns autores se situará nos 150 anos.

Mas será que a sociedade actual está preparada para receber dentro em pouco, milhares (milhões!) de cidadãos centenários?

Parece-me que não!
Pelo que vi há dias, ainda estaremos longe de integrar os cidadão com mais de cem anos.

Ainda há uns anos era raro consultar nas urgências hospitalares doentes centenários. Há dias tive a agradável surpresa de no mesmo período de 12 horas consultar dois destes doentes. Do sexo feminino. Uma acompanhada pela família descendente onde o afecto não faltava (nem era exagerado, como por vezes se nota e é fruto de uma encenação momentânea). A outra, internada num lar da segurança social vinha acompanhada por um funcionário, que à minha exclamação de ser o segundo doente centenário, desabafou:
- "Ai é, não sabia que tinha 100 anos!"

E nós, ainda activos, para que grupo seremos seleccionados? Para o do esquecimento, o do depósito?

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Médicos, Farmacêuticos, Enfermeiros e Directores de Laboratórios Finalmente de Acordo e Juntos!

Segundo a TSF de hoje alguns (notem senhores jornalistas: eu aplico esta palavra ALGUNS antes da notícia) médicos, farmacêuticos, enfermeiros e directores de laboratórios finalmente de acordo e juntos na prisão. Presumo que estarão na Judiciária.

Este grupo onde se incluem alguns dos meus pares parece que chegou a acordo sobre a melhor forma de ludibriar, isto é, roubar o Estado Português e prejudicar a saúde dos portugueses.

Segundo a notícia depois de algumas reuniões preparatórias acordaram ALGUNS médicos, ALGUNS farmacêuticos, ALGUNS enfermeiros e ALGUNS directores de laboratórios de análises, unir esforços para resolver vários problemas do Serviço Nacional da Saúde.

Só espero que os nomes sejam revelados e que não fiquem impunes.
Especialmente os médicos prevaricadores.
Não sou corporativista e defendo a eliminação de todas estas ervas daninhas!

Quem Ousar Dizer Mal do Euro 2004, Que Arda No Inferno!

Muitos pensariam que isto já era uma realidade. E será que vai ser uma realidade?

Bendito Euro!

Viajaremos do Inferno para o Céu, sem paragem no Purgatório.


"O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) vai passar a cobrir todo o país a 100% no próximo Verão.

Ontem, no Porto, Luís Cunha Ribeiro, pesidente do INEM, disse que os serviços de urgência hospitalares irão conhecer, em breve, uma reforma profunda, devendo passar a integrar os serviços de emergência médica.
"As equipas de urgência médica não são uma espécie de taxistas sofisticados, que pegam nos doentes, despejam-nos nas urgências e vão-se embora", realçou aquele responsável.
Ao falar no encerramento da 27.ª Reunião Internacional de Cirurgia Digestiva, que decorreu, ontem, no Porto, Luís Cunha Ribeiro informou que o trabalho em parceria das equipas médicas com as urgências será complementado com uma série de inovações, que visam
um melhor e mais profissional atendimento aos doentes. Assim, as equipas que trabalham nos veículos de intervenção pré-hospitalar passarão a dispor de informação via GPS sobre o local exacto onde os doentes se encontram. Isto, como realçou, irá tornar o atendimento mais rápido, evitando que as equipas tenham de parar para pedir informações sobre os locais.
Por outro lado, as equipas passarão a fornecer, "on-line", às urgências todas as informações sobre os doentes durante a viagem.
Outra novidade anunciada é o aluguer de espaço de satélite à Agência Espacial Europeia. Isto permitirá, em caso de quebra nas comunicações, que estas continuem viáveis.
Cunha Ribeiro sublinhou, ainda, que todo o investimento feito com vista ao Euro 2004 terá aproveitamento futuro garantido.
"

in Jornal de Notícias de 01 de Fevereiro de 2004

terça-feira, fevereiro 10, 2004

"TODA A VERDADE - AFIRMAÇÕES DO DR. JOÃO CORDEIRO, PRESIDENTE DA ANF, MOTIVAM POSIÇÃO DO SIM"

Do jornal virtual do Sindicato Independente dos Médicos:

"Refª AM/CA/02/04
Lisboa, 09/02/04
Exmo. Senhor Presidente
da Associação Nacional de Farmácias
Dr. João Cordeiro

Tendo presente a entrevista de V. Exª. ao Diário de Notícias, de 7 de Fevereiro de 2004, página 22, onde se afirma "se os médicos seguissem as instruções quer dos sindicatos quer da ordem, não era prescrito um único medicamento genérico", tomo a liberdade de remeter a V. Exª. cópia de ofício enviado a Sua Excelência o Ministro da Saúde, em 5 de Agosto de 2003, cujo conteúdo, por inequívoco, não carece de mais comentários.

Dado o plural utilizado que, inevitavelmente, envolve o Sindicato Independente dos Médicos e a sua posição oficial sobre a política do medicamento, a afirmação de V.Exª. é falsa e injuriosa.

Lamentamos que V. Exª. só se disponibilize para os elementos da O.M. na explicação do "caminho que devem seguir". Certamente que se tivesse revelado igual disposição para com este Sindicato, e os seus Dirigentes, saberíamos aproveitar humildemente os ensinamentos de V. Exª., desde que tudo fosse revelado, para conhecermos os "caminhos" que conduziram ao actual tratamento de favor e privilégio para com a ANF, por parte de Sua Excelência o Ministro da Saúde, o Ministério da Saúde e o Governo de Portugal.

Saudações Sindicais,

O SECRETÁRIO GERAL
CARLOS ARROZ
"

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

A Visão Bio-Psico-Social do Sintoma

21:30, a hipoglicemia já dá sinal.

Entra mais uma doente. Levanto a cabeça e vejo uma jovem aparentando 16 anos. Caracteres sexuais secundários já bem desenvolvidos. Baixo os olhos e leio: 13 anos.

Primeira pergunta imediata:

- Vens sozinha? Venho. Responde.

- De que te queixas, para vires aqui à urgência?
- Dores de cabeça, muito fortes e aqui (colocando a mão aberta em cima da cabeça). Tou farta de aqui vir, só me passam medicamentos, não me fazem exames. Da última vez que aqui vim, o médico disse-me para trazer todos os medicamentos e depois me mandaria fazer um TAC.
- Então mostra lá os medicamentos. Abre o saco e vai tirando: ibuprofeno ratiofarma, aspegic 1000, benuron 500, naprozyn 500, nolotil, adalgur n e dafalgan.
(Penso: se a cada marca corresponder uma vinda à urgência, teremos 7 consultas em tão pouco tempo!)

Como me fazia um pouco de confusão, uma jovem de apenas 13 anos sozinha na urgência de uma cidade, voltei a perguntar:
- Onde está a tua mãe?
Responde de imediato: está lá fora a meter-se com os bombeiros. (Abri os olhos de espanto!)
- E o teu pai?
- Está bêbado no carro. Deve estar a dormir. (De espanto migro para a tristeza!)
- Tens irmãos?
- Tenho 8.
- E não te ajudam?
- Ajudar? Ainda são piores que os meus pais!
- Estudas?
- Não. Deixei de estudar o ano passado. O meu pai fartava-se de me bater.Por tudo e por nada. Fartei-me da escola.
- Olha, tenho muita pena de ti. Sei que és esperta. Para o ano tens que voltar à escola! Prometes?
- Sim. Já tinha pensado nisso. Mal por mal, prefiro a escola. Ainda aprendo alguma coisa.
- Ainda te dói a cabeça?
- Não. Já passou.
- Então vais fazer o que te vou dizer: não vais tomar mais esses comprimidos, vou-te receitar estes e tomas três por dia e se ainda te doer, aumentas para seis, 2 a cada refeição [Valdispert] e o mais importante, tens que ir falar com o teu médico de família. Ele é um especialista, conhece-te melhor e verá se é necessário ou não pedir um TAC, tá bem?
- Tá.
E despediu-se com um sorriso. (Fez-me lembar o do Fehér segundos antes de morrer).

Porque me teria lembrado do sorriso do Fehér?
Nem eu sei, mas imagino o percurso desta adolescente depois da minha conversa: carimbar a receita, procurar a mãe no meio dos bombeiros, acordar o pai bêbado no carro, aturar um ou outro irmão, ir à farmácia, ir, ir, fazer, acontecer ....... e tudo isto só com treze anos.

Aos treze anos do que mais gostei foi do apoio, do afecto, da compreensão, da orientação dos meus pais.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

"Maus exemplos"

Do blog Bisturi transcrevo:

"Os últimos dias foram tragicamente marcados pela capacidade de alguns protagonistas do mundo do desporto ultrapassarem os limites - e de o fazerem poucas horas, ou dias, depois de terem fingido que estavam comovidos com a morte de um jovem futebolista. Num dia verteram lágrimas de crocodilo e trocaram abraços encanados para as câmaras de televisão. No dia seguinte empenharam-se em reacender a fogueira das paixões, deitando gasolina sobre a fúria dos extremismos clubísticos.
José Manuel Fernandes, Público, 3/2/2004
"

E interrogo:

Não foi a comunicação social que há oito dias apelidou a massa associativa vimaranense de santa e que agora, oito dias depois a diaboliza?

Mas que andam a fazer os nossos queridos jornalistas?
Será que os jornalistas também não serão os protagonistas dos extremismos clubísticos?
Será que os jornais se venderiam se não houvesse casos, sejam eles quais forem ou de que forem?

Ora Aqui Está Uma Bela Notícia!

Só é pena ter saído apenas no Correio da Manhã de 2 de Fevereiro de 2004.

E se a TVI, a SIC e a RTP1 emitissem um simultâneo de alguns minutos sobre este problema?

E posso afirmar que a pressão dos pais é independente do estrato social: desde pais operários a pais intelectuais, todos pressionam para que o médico lhes dê o antibioticosinho, particularmente se a febre não baixa ao segundo dia.
Mas eu explico: a febre, para além de genericamente ter alguns benefícios, só desaparece ao 4/5º dia das infecções respiratórias banais.

E há outra infeliz realidade: na notícia, há afirmações de um pediatra e de um médico de família. O que acontece na prática, é que, muitos pais depois de irem ao Centro de Saúde ou à urgência hospitalar, ao segundo dia telefonam "ao meu pediatra" e o próprio pelo telefone receita o mal-amado antibiótico. Ou o inverso, o pápá depois de ir ao pediatra, vai ao SAP, ao médico de família ou à urgência hospitalar e depois de muito ragatear, lá leva o antibioticosinho. A primeira hipótese (Centro de Saúde --> Pediatria) é a mais frequente, assim o pediatra mostra a sua falsa superioridade nesta questão.

E neste caso quem se lixa não é o mexilhão, somos todos nós, humanos, que lentamente vamos perdendo a batalha entre um organismo superior e elaborado e os vírus e bactérias, seres unicelulares e desprovidos de inteligência (ao que se supõe...)

Diz a notícia da jornalista Cristina Serra:

"Hoje em dia as crianças tomam antibióticos em demasia
“É muito frequente os pais levarem o seu filho ao centro de saúde ou à urgência hospitalar porque tem febre, constipação, gripe ou uma amigdalite e a criança acaba por tomar antibióticos que não fazem nada. Só fazem efeito nos casos de infecção bacteriana e não nestes casos de infecção viral”, afirma ao CM Libério Ribeiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria e pediatra no Hospital de Santa Maria.

Este especialista admite, contudo, que os “clínicos gerais prescrevem os antibióticos porque os pais fazem pressão e há uma cultura enraizada no uso indiscriminado deste medicamento. Confrontado com esta situação, Luís Pisco, presidente da Associação dos Clínicos Gerais, reconhece que este problema não é recente.

“Temos alertado contra a utilização excessiva e sem necessidade dos antibióticos, um problema que temos vindo a lutar desde há muito mas muitos pais estão convencidos que os filhos só são bem tratados se tomarem antibióticos. Às vezes vão a um segundo ou terceiro médico ou compram-nos na Internet”, diz.

"TER FEBRE É NATURAL"

“A febre é um mecanismo de defesa do organismo, a elevação da temperatura do corpo é uma reacção natural contra os vírus, o que é perfeitamente natural pois assim os inactiva. Só em situações muito raras é que pode provocar convulsões e os pais não devem ir a correr para o médico sempre que o filho tem uma temperatura mais elevada”, explica ao CM Luís Pisco, presidente da Associação dos Médicos de Clínica Geral.

Este especialista sublinha a necessidade que os pais devem ter no conhecimento de questões da saúde. “As nossas avós sabiam como resolver este ou aquele problema de saúde súbita, mas hoje isso não acontece, os pais correm logo para uma urgência hospitalar. Os pais devem estar mais informados, ter conhecimento sobre as doenças e como as prevenir”, critica.

Os efeitos secundários dos antibióticos são a destruição da flora intestinal e as resistências que o organismo vai ganhando a este medicamento, sendo necessário dosagens cada vez mais fortes para tratar determinada doença infecciosa
."

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

País Deprimido?

Mourinho estará com certeza.

As suas recentes declarações podem revelar o iníco de um quadro depressivo.

A minha solidariedade ao melhor treinador português de sempre.

Não ser reconhecido no seu próprio país, provoca uma intensa angústia, aperto no peito, ansiedade, descontrole emocional.

Mas uma vez a comunicação social faz passar, segundo uma estratégia planeada e continuada, para a população, a sua personalidade, esquecendo as suas qualidades.

Quem não gosta de ser apaparicado?

Jonh Q

Já que se fala de hospitais sa, privatizações, seguros de saúde, duplicidade de critérios no atendimento, urgências, serviço nacional de saúde, etc.

Aconselho Jonh Q.

Com: Denzel Washington, Robert Duvall, Ann Heche, James Woods, Eddie Griffin.

domingo, fevereiro 01, 2004

O Público Censurou, O Blog Publicou

De um reputado especialista da área dos cuidados de saúde primários, professor na Faculdade de Medicina de Lisboa, transcrevo um texto recusado pelo Público.

Leiam e reflictam na última frase do penúltimo parágrafo.
Comparem com a recente morte de Miklós Fehér.
Ambos morreram no seu posto de trabalho.

Como foi o tratamento mediático?
Do Fehér, jogador suplente, em vésperas de dispensa, transformado em ídolo.
Da médica, nem o seu exemplo serviu para a comunicação social deixar de instigar a população contra os médicos.


"Em artigo de opinião no “Público” de 23 de Janeiro último (“Guimarães: o retrato na nação”), Miguel Sousa Tavares (MST) tem, a dada altura, a seguinte frase: “Os médicos não fazem a mínima ideia dos danos que os seus falsos atestados causam à produtividade das empresas e à saúde das relações laborais. Por alguma razão somos o país europeu com mais baixas por doença anualmente”. Presumo que MST sabe português suficiente para distinguir entre uma afirmação referente a um grupo restrito e uma generalização a um grupo inteiro. Do mesmo modo, não o considero inexperiente ao ponto de deixar escapar frases por engano. Concluo por isso que MST engloba todos os médicos nesta afirmação, estando eu mesmo, médico de família em Lisboa, incluído no conjunto. Declaro, para que conste, que o atestado de ignorância que MST me passa sem que lho tenha solicitado é tão falso como os atestados de Guimarães referidos no artigo.

MST descreve episódios e generaliza a partir deles. Porque há médicos que passam atestados falsos, todos os médicos são ignorantes sobre o impacto negativo desses atestados. Não dito, mas obviamente subentendido, todos os médicos passam atestados falsos. MST, naturalmente, não arrisca directamente tal afirmação e, seguramente, baterá no peito refutando tamanha monstruosidade, mas a insinuação está lá.

MST não se fica por aqui. A tentativa de associar o elevado número de baixas por doença em Portugal a um eventual laxismo ou corrupção dos médicos portugueses é extraordinária. Pelos vistos não lhe ocorreu o óbvio: perguntar-se sobre quais os motivos subjacentes aos pedidos de baixa. MST ignora, ou não quer saber, que condições laborais deficientes e nível socio-económico baixo acarretam maior incidência de problemas de saúde e, consequentemente, de baixas. Mas há mais. Cito um colega que comentava o mesmo texto de MST: “Por princípio, o médico confia na pessoa que o procura (é essencial para a relação médico-paciente) e muitas das queixas que justificam as "baixas"/incapacidade temporária para o trabalho são fundamentalmente subjectivas, o que aumenta as dificuldades de avaliação e de decisão – conhecerá MST melhor do que nós métodos de diagnóstico ou escalas para a incapacidade funcional, para a dor, o sofrimento, a tristeza, a angústia, o desespero...?”

Porque não está interessado ou porque ignora (o que duvido, confesso) MST não refere nunca a pressão por vezes subtil, por vezes brutal, a que os médicos são submetidos no dia a dia para atestar incapacidades para o trabalho por motivos que não são estritamente de saúde. Porque a sociedade civil e laboral não tem a flexibilidade suficiente para encontrar soluções para os seus conflitos e dificuldades resolve-se o problema “adoecendo”, e venha agora o médico recusar-se a passar a baixa ou o atestado, se for capaz. A pessoa fica muito nervosa ou não lhe dá jeito ir prestar declarações a tribunal? Não há problema, é aconselhada a faltar à audiência e a pedir ao médico o atestado respectivo. Naturalmente, nunca existe nada escrito a sugerir tal procedimento. O mau da fita, de qualquer modo, está sempre identificado: é o médico, tome ele a atitude que tomar. Não há rigorosamente nada que defenda o médico de uma situação destas. Estão documentados múltiplos relatos de agressões verbais e físicas a médicos que se recusaram a ceder à pressão. Uma médica de família foi, há alguns anos, abatida a tiro por se negar a passar uma baixa.

Evidentemente que nada do que acabo de descrever desculpa ou justifica a produção de um atestado falso, ou atenua milimetricamente as situações concretas descritas por MST. Não admito é que MST venha agredir um grupo profissional inteiro por causa de um problema cuja origem se encontra, gritantemente, noutros locais e contextos que não no conjunto da prática médica.

Armando Brito de Sá
Médico
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