sexta-feira, abril 25, 2008

Estes Casos São Sempre De Crianças!

Será uma futura notícia mediática. Tem todos os ingredientes para tal!

Já li algumas notícias sobre esta situação.

Todas as pessoas com cancro merecem a minha atenção.

Profissionalmente cruzo-me com muitas pessoas com cancro. A muitos tenho que dar a notícia, quase do dia para a noite, e a muitos tenho que dizer para se prepararem.

Ainda há muito pouco tempo aconteceu isso.

Em cerca de 2 meses, a sintomatologia aparece e os exames complementares de diagnóstico revelam um tumor, já metastizado. Situação altamente grave com degradação rápida do estado geral.

 

Neste caso, leio sobre um jovem, com nome, idade, morada e com um cancro no intestino, grave sem dúvida.

Toda a identidade da pessoa que sofre é plasmada nos media. Os familiares, esses conseguem os seus minutos de glória, já habituados ao sofrimento do petiz e já vacinados contra a sua própria angústia.

Depois fala-se de tratamentos milagrosos, que não são descritos, feitos em clínicas que não são publicitadas, desconhecendo-se a sua credibilidade.

Depois apela-se à solidariedade popular com contribuição monetária.

Depois aparecem os beneméritos. Desses em geral não tenho pena, porque até poderiam oferecer muito mais.

Mas depois vem o povo anónimo.

Desse tenho pena, porque por vezes retiram das suas parcas economias de uma vida, "obrigados" pelo apelo directo "ao coração" que não pode deixar ninguém indiferente. O nosso ego funciona, ficamos tristes pelo que observamos e mais tristes se não ajudarmos um sofredor.

Assim, constrangidos pelas notícias, pelos pormenores, pela idade (ESTES CASOS SÃO SEMPRE DE CRIANÇAS!) lá nos vamos desfazendo das nossas economias, depois de os bancos já nos terem retirado as outras para as "n" prestações.

Assim vai a solidariedade no nosso país...

 

"PONTO DE VISTA

Para enegrecer o coração

Rafael Gomes, de Esmojães (Espinho), tem 8 anos e sofre, há quatro, de cancro no intestino delgado. Tem três irmãos: um de 4 anos, um de 13 e um de 17. O pai está desempregado desde que a doença de Rafael foi diagnosticada; a mãe é o único sustento da família, trabalha numa fábrica de rolhas.
A doença de Rafael está em fase terminal; o rapaz já fez mais de 175 sessões de quimioterapia e foi operado nove vezes. A última há um mês, quando os rins deixaram de funcionar. Uma clínica em Chicago, nos EUA, dispõe de um tratamento inovador, a última esperança de Rafael. Mas é tudo muito caro.
O presidente do Automóvel Clube de Portugal ofereceu três bilhetes de avião; uma amiga da família, Rosa Oliveira, abriu uma conta bancária com 100 euros para recolha de donativos; Felipe La Féria ofereceu a bilheteira do próximo domingo do espectáculo Jesus Cristo Superstar; nos dias 2 e 4 do mês que vem artistas nacionais oferecem a receita de dois espectáculos em Esmojães.
O Rafael poderá, assim, embarcar brevemente para os EUA, em busca desesperada da vida que tanto o castiga de dores enquanto tão absurdamente lhe foge. Por caridade. Trinta e quatro anos depois de Abril, o de todas as esperanças e desilusões.
joao.oliveira@tempomedicina.com
TEMPO MEDICINA 1.º CADERNO de 2008.04.28
0812891C28208JPO17G
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