Tempo de espera para cirurgia das cataratas é de 54 dias em Évora
Hospital de Évora garante que pacientes do distrito não precisam de ir a Cuba
20.05.2008, Maria Antónia Zacarias
Publico
Unidade hospitalar alentejana tem lista de espera para cirurgias de Oftalmologia com prazos inferiores a dois meses e responsável clínico não percebe o recurso a operações tão longe
O director do Serviço de Oftalmologia do Hospital do Espírito Santo, em Évora, Augusto Candeias, garante que não existem razões para os doentes do distrito não serem operados nesta unidade, tendo em conta que o tempo de espera para cirurgia "é de 54 dias, não chegando a dois meses, estando, assim, bem abaixo do prazo clínico aceitável, que são seis meses".
Perante este facto, o responsável não entende por que é que os utentes estão a recorrer a Cuba, através das autarquias, recordando que o cenário das listas de espera para cirurgia se alterou muito desde há cerca de quatro anos. "Nessa altura, as listas de espera eram verdadeiramente grandes, mas agora a situação está completamente ultrapassada". "A não ser que haja algum segredo envolvido, não me parece que haja alguma vantagem especial", afirma o médico, do ponto de vista clínico, chamando a atenção para o tipo de acompanhamento que esses doentes têm até lhes ser dada alta, bem como para a qualidade e o tipo de lentes que lhes são aplicadas, no caso das cataratas, a cirurgia mais procurada.
O responsável gostaria de ver explicado "o critério que é utilizado na selecção dos doentes", isto é, "quem é que faz a escolha e quem é que passa a informação a quem para contactar doentes para os convidar a ir a Cuba". Isto porque a informação clínica não pode ser dada a terceiros, por fazer parte do sigilo médico. "Há pouco tempo, uma doente minha contou-me que recebeu um telefonema em casa a perguntar-lhe se queria ir a Cuba tratar-se", conta, considerando "inadmissível" que os doentes estejam a ser convidados para "uma solução mais ou menos milagrosa em pouco tempo".
Mais duas mil consultas
Embora o director do Serviço de Oftalmologia de Évora admita que as despesas de saúde, em Cuba, sejam provavelmente menos dispendiosas do que em Portugal, "no conjunto, e tendo em conta as despesas da viagem e da estadia, não parece que com o mesmo valor não fosse possível contratualizar esses serviços em Portugal ou em Espanha, nomeadamente em Badajoz, que está apenas a 80 quilómetros e que faz uns preços concorrenciais muito fortes".
De acordo com o oftalmologista, o distrito de Évora tem uma população que sofre de uma série de carências, "nomeadamente de carácter cultural": "Há muito analfabetismo e as pessoas estão muito mal informadas. Daí que procurem, normalmente, os cuidados de saúde em fases muito adiantadas das doenças. Sobretudo os idosos chegam-nos aqui ao hospital quando já vêem muito pouco ou quando estão praticamente cegos". Augusto Candeias acrescenta estar convicto de que nos grandes centros urbanos do país este tipo de situações já não existe, enquanto na região alentejana os oftalmologistas são confrontados com pacientes com "determinadas patologias, nomeadamente a catarata, que não se encontra em mais nenhum país da Europa".
Questionado sobre se as conhecidas dificuldades de acesso às consultas também contribuem para as pessoas procurarem soluções alternativas, o mesmo responsável reconhece "que pode ter algum peso". Por isso, segundo adianta o responsável hospitalar, encontra-se em negociação um acordo entre a Administração do Hospital do Espírito Santo e a Sub-Região de Saúde de Évora, "para que os médicos existentes façam horas extralaborais para observar um maior número de doentes", o que poderia fazer com que se realizassem "mais duas mil consultas por ano".
Ou seja: apesar de tudo o que tem sido dito e da lastimável falta de resposta às necessidades das populações, há partes da história que estão mal contadas e mal explicadas
Espera-se que a denúncia publica da situação pelos media e com o anúncio do correcto Plano de Choque para Oftalmologia, as autarquias alentejanas (e mesmo as suas vizinhas algarvias) recorram aos serviços por exº do Hospital de Évora e, porque não, à disponibilidade ( que sempre existiu) de Badajoz, em vez de mandarem os seus municipes para as Caraíbas
5 comentários:
Aprendi muito com esta notícia acerca do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Évora.
Gostava de saber é quanto tempo demora, desde o pedido do médico de família até o utente ser atendido por um oftalmologista deste serviço.
ESta notícia não me merece credibilidade!
Não posso acreditar em alguém que entra em negociações com uma estrutura que está extinta, neste caso, a Sub-Região de Saúde de Évora e muito menos em quem faz a notícia, o jornalista que devia saber isso.
E o director do serviço de Oftalmologia de Évora é capaz de dizer, preto no branco, quanto tempo se fica em lista de espera para consulta, antes de se entrar em lista de espera para cirurgia? E qual a forma de referenciação a partir do médico de família? Os MF de Évora foram informados da evolução favorável da anterior situação? Os MF podem, realmente, referenciar os seus doentes oftalmológicos sem nenhuma espécie de filtro? Há MF na área de influência deste serviço que referenciem os doentes?
Sem isso, toda esta conversa vale muito pouco.
Ainda sobre isto aconselho a seguinte reflexão sobre as visitas a Cuba:
"Os olhos alheios"
http://odiario.info/articulo.php?p=742&more=1&c=1
Cito:
"O director do Serviço de Oftalmologia do Hospital do Espírito Santo, em Évora, Augusto Candeias, garante que não existem razões para os doentes do distrito não serem operados nesta unidade, tendo em conta que o tempo de espera para cirurgia "é de 54 dias, não chegando a dois meses, estando, assim, bem abaixo do prazo clínico aceitável, que são seis meses".
Não sei como alguém pode vir dizer isto para a opinião pública. A minha mãe esteve quase 18 mese à espera de conseguir vaga numa consulta de oftalmologia e mais alguns meses para ser operada o ano passado. Bem sei que há gente capaz de furar o esquema (consultas no privado) mas a realidade nada tem a haver com a notícia.
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