quinta-feira, setembro 09, 2004

Manipular

Falam os proprietários de diversas farmácias nos seus robots, em não sei quantos mais aviamentos por hora, em aumento de lucros (obviamente que quanto mais se aviar, mais se ganha), e aumento de empregado (?!), tudo explicado aos jornais pelos próprios.
Para que servirá então uma farmácia?
Se até para facultar os medicamentos já não são necessários farmacêuticos...
Estou a ser exagerado propositadamente, mas é uma pergunta que se colocará.
E quando estes robots forem instruidos a receber dinheiro ou utilizar os terminais POS, a farmácia despovoa-se.
Totalmente não, porque continuará a ser necessário vender perfumes, brinquedos e outros produtos éticos.
Um robot nunca dispensaria um produto médico a uma estrangeira sem receita médica.
Isso posso garantir.

É dentro deste contexto que transcrevo um artigo de Mário Nicolau em As Beiras de 25/08/04, sobre a tradição da manipulação.

"A farmácia de oficina continua a resistir. A maioria dos medicamentos manipulados é para a área da dermatologia. Mas o progresso não perdoa."
"A farmacêutica Inês Cardoso da Costa, da Farmácia Figueiredo, disse ... que “a maioria das farmácias ainda faz manipulados”. Na conversa com o jornalista a jovem farmacêutica revela–se uma defensora dos produtos da farmácia de oficina, que a “Farmácia Figueiredo já fez e vai continuar a fazer depois das obras de remodelação”. “Foi ai que tudo começou, é dai que viemos”, afirma."
"... a ligação ao doente por parte do farmacêutico era muito diferente, sendo marcada pela proximidade - e, nalguns casos, por amizades de muitos anos. Inês Cardoso da Costa lembra que a farmácia de oficina resolve o problema dos manipulados que “não existem no mercado” e que nalguns casos, com a colaboração da faculdade e o acompanhamento “dos antigos professores”, é possível produzir, excepcionalmente, nos laboratórios destas entidades, segundo receita médica , “várias soluções orais”.
"... a suspensão de Trimetropin , da área da Pediatria, que “se faz imenso” e as vaselinas saliciladas que colocam ponto final nos calos de muito boa gente."
"A farmacêutica Joana Andrade, ao serviço na Farmácia Universal, aponta os cremes e as pomadas como os manipulados “mais frequentes”. “As tinturas eram outro dos manipulados que as pessoas solicitavam. Agora, já vêm embalados”, conta. Aliás, a actividade das farmácias a este nível “depende em grande parte do mercado”, existindo “uma certa nostalgia” quando se pensa no futuro."
"... Paulo Matos, da Farmácia Taveiro, .../... “São cada vez mais raros”, garante."
"... “gosto de os fazer” sempre que há receitas. Recentemente, o ajudante de farmácia viveu mais um desafio na carreira, com um manipulado que “deu enorme prazer produzir”. Depois de embalado o medicamento manipulado, além de resolver os males do corpo de quem o usa, faz bem ao espírito de quem o produz. O reconhecimento, pelo trabalho do farmacêutico, vem depois, sendo o bálsamo da amizade."

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