quinta-feira, setembro 16, 2004

Sr Dr Juíz Conselheiro, Conhece Os Seus Tribunais?

O Sr Dr Juíz Conselheiro, Artur Costa, também decidiu escrever uma breve crónica sobre as nossas Urgências.

Nossas porque são do Povo.

Só o povo é que recorre às urgências e por tudo e por nada, porque nas grandes cidades não tem outra alternativa.

Tanto vai por causa das varizes ou do hemorroidal, ou porque lhe dói a cabeça ou as costas, porque decidiu empurrar o guarda-fatos ou se chateou com a mulher. Tudo isto cai nas Urgências.
Será que um enfarte, uma apendicite, um AVC, um acidente ou até mesmo um corte com a faca da cozinha ou a lixívia que se ingeriu, porque a própria vítima se lembrou de encher a garrafa de água do luso, não terão prioridade?

Mas o que me alarma é que é a segunda vez em quinze dias que há borburinho porque alguém não concorda com o internamento de um familiar.
Para a próxima terei de dizer solenemente: "V. Ex concorda com a decisão médica de internar este seu familiar ou tem que reunir a família toda para uma decisão colectiva. Quanto tempo prevê V. Exª que a vossa família tome uma decisão?"

Mas o que me revolta é que o sr juíz conselheiro não deve conhecer os seus tribunais!

Conhecem por acaso os leitores deste blogue as salas de espera de muitos tribunais? E quando não há sala de espera, onde esperam as testemunhas? Em sofás? Bem instaladas, com afectividade dos oficiais de diligências? E quando nem cadeiras há? E se quiserem beber uma aguita passadas que foram 8 horas de um julgamento e nem sequer se foi ouvido? E quando se marca nova data e nova data e nova data e não nos perguntam nada? E nova espera, nova penitência, novo jejum? Ou será que os tribunais agora servem um lanchito às testemunhas? Pelo menos nas urgências há diversas máquinas de vending ...

Eu próprio já passei pelo vexame de ter que ir fazer xixi e cocó ao café da esquina, porque naquele tribunal só havia casas de banho para os senhores juízes, advogados, oficiais de diligências e outras personagens da casa. As pobres testemunhas, tal qual os doentes nas grandes urgências, não têm direitos. NENHUNS.

Como a crónica do sr dr juíz conselheiro é pequenina, vou fazer um exercício e substituir a problemática hospitalar e clínica pela problemática da justiça, dos tribunais, etc

Audiências (Urgências)

por Médico Explica MEDICINA A INTELECTUAIS (Artur Costa JUIZ CONSELHEIRO)

Agora que a questão da justiça (saúde) está na ordem do dia, por via dos advogados oficiosos (das taxas moderadoras diferenciadas), talvez fosse de bom aviso fazer uma excursão pelas audiências dos tribunais (urgências dos hospitais).
Talvez ficássemos aterrados com algumas cenas frankensteinianas.
Contaram-me peripécias de uma longa jornada de espera numa dessas audiências dos tribunais (urgências hospitalares), que me tiraram o sono. Coisas que fazem lembrar os velhos tempos que em teoria foram sacudidos pelo 25 de Abril. Pessoas que aguardam horas e horas, de pé, encostadas às paredes, jejuando, penitenciando, até serem ouvidas (atendidas) ou até verem os seus problemas atendidos (resolvidos).
Pessoas, isto é, testemunhas ou queixosos (doentes) que são obrigados a prestar declarações (se socorrem da urgência), que de sala de espera (urgência) só tem o nome, visto que esses locais parecem concebidos para desafiar a capacidade de resistência de quem, por má sina ou por desdita, lá vai parar. Testemunhas (Doentes), ou seja, pacientes, na verdadeira acepção da palavra.
Pacientes que aturam tudo com uma santa paciência - a arrogância, quando não mesmo a brutalidade de quem ali tem o poder, porque é de um poder que se trata; a humilhação e o desdém -, porque, infelizmente, a maior parte dos que lá estão à espera não tem cultura, não tem posses, não tem relevância social e desconhece, por isso mesmo, os seus direitos. Pode-se tratá-los com indignidade e sem consequências. Até (porque se trata de um poder com a sua coerção) chamar um polícia de serviço, como me asseveraram que aconteceu nessa tal audiência (urgência), para pôr em ordem uma jovem mulher que acompanhava uma parente (talvez a sua mãe) e que entrou em pânico, por ver que essa sua parente tinha de ficar presa ( internada), e vir o polícia, de urgência, e malhar-lhe desapiedadamente, ante a passividade dos circunstantes.

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