Seara Ou A Epidemia do Ódio Disseminada Pelos Jornais
Os jornalistas são licenciados. Têm um nível académico e cultural superior à média da população.
Os jornalistas têm escolas superiores de jornalismo, de comunicação, públicas e privadas.
Há óptimos jornalistas, sérios, competentes, honestos. De cor cito dois que representam (para mim, CLARO!) o que de melhor há na seriedade do jornalismo português: Adelino Gomes e Joaquim Furtado. Outros haverá, mas este bilhete não é para falar de nomes.
É para falar da epidemia de ódio que os jornalistas veiculam nos jornais que os contrataram (talvez seja este o problema: nas licenciaturas ensina-se uma vertente do jornalismo, nas empresas de comunicação exige-se o lucro, o despudor, a iliteracia, o "quanto pior, melhor"!)
Estavam os médicos de família da zona, os médicos de saúde pública locais, regionais e nacionais, os epidemiologistas, os médicos infecciologistas hospitalares, os veterinários, os patologistas, os bacteriologistas e virulogistas, os farmacêuticos, os analistas, os técnicos de laboratório, e todo o pessoal de apoio e manutenção desses locais em conjunção de esforços a tentar descobrir um agente infeccioso letal para duas pessoas e correndo também os riscos inerentes ao contacto com um agente patogénico ainda desconhecido.
Da conjugação do saber de todos estes técnicos, particularmente usando as teorias básicas de epidemiologia, uma certeza se ia impondo: tratar-se-ia de um agente infeccioso restrito a um local e de pouca contagiosidade e infecciosidade.
Mas a comunicação social tratou de o transformar em mais uma epidemia, a da incompetência e da negligência.
Ouvi com as minhas membranas timpânicas, que transmitiram pelo martelo, pela bigorna e pelo estribo aos meus massacrados neurónios (para os senhores jornalistas ficarem com um melhor conhecimento da fisiologia da audição, e perceberem que martelo, bigorna e estribo não são instrumentos de ferreiro, mas sim uns minúsculos ossículos que permitem que enormes calinadas e impropérios - não os permitindo censurar - invadam o nosso cérebro , aconselho esta leitura ligeira), um jornalista de uma tv de referência afirmar que já havia mais casos espalhados pelo país e com os de Seara relacionados!
Li com os meus globos oculares em vários jornais a afirmação: "Como é que podem dizer que não existem novos casos se o agente infeccioso não foi ainda identificado?" - Era um facto que depois do dia 14 não deram entrada NOVOS casos.
Mas nada impedia que após o dia 14 outras doenças pudessem ter aparecido: sífilis com o seu complexo primário, proctites, balanites, onfalites, vaginites, vulvites, vulvo-vaginites, cervicites, endometrites, ooforites, dip, etc, outras doenças infecciosas das partes menos simpáticas do nosso corpo, e mesmo diarreias, pústulas, abcessos, antrazes, panarícios, tudo doenças infecciosas, estas, geralmente exalando mau cheiro!
Alguns dias depois, começam as habituais perseguições e inquéritos à ciência e ao saber, transformando afirmações de rua em importantes declarações de princípio, bombásticas, acusatórias, exigindo inquéritos, punições, perseguições, insultos, e, repare-se, enquanto nos laboratórios afincadamente se procurava descobrir o agente causador da doença. Parece que foi uma carraça.
Ficamos a saber que Seara tinha carraças rurais espalhadas pelo seu espaço geográfico, com as quais a junta de freguesia nunca se preocupou. Naqueles dias a aldeia foi também invadida por outras carraças, estas urbanas.
Também ficamos a saber que a junta de freguesia comprou 1.000 garrafões de água, por sua iniciativa. Sabemos que os bombeiros têm camiões cisternas próprios para abastecer água a populações carenciadas!
Só não soubemos a quem foram comprados e a quem foram distribuídos esses 1.000 garrafões. Que foram comprados com o dinheiro dos contribuintes, foram de certeza.
Mas isto não interessa aos jornais, só se o presidente da junta fosse médico, farmacêutico ou veterinário é que era notícia!
- "... um inquérito à actuação das entidades hospitalares e da DGS." - Luís Henrique Oliveira - Jornal de Notícias.
- "Revolta: população de Seara exige responsabilidades. Queixa em tribunal contra a Direcção-Geral de Saúde." - Rui Filipe Moreira, Correio da Manhã.
Os jornalistas têm escolas superiores de jornalismo, de comunicação, públicas e privadas.
Há óptimos jornalistas, sérios, competentes, honestos. De cor cito dois que representam (para mim, CLARO!) o que de melhor há na seriedade do jornalismo português: Adelino Gomes e Joaquim Furtado. Outros haverá, mas este bilhete não é para falar de nomes.
É para falar da epidemia de ódio que os jornalistas veiculam nos jornais que os contrataram (talvez seja este o problema: nas licenciaturas ensina-se uma vertente do jornalismo, nas empresas de comunicação exige-se o lucro, o despudor, a iliteracia, o "quanto pior, melhor"!)
Estavam os médicos de família da zona, os médicos de saúde pública locais, regionais e nacionais, os epidemiologistas, os médicos infecciologistas hospitalares, os veterinários, os patologistas, os bacteriologistas e virulogistas, os farmacêuticos, os analistas, os técnicos de laboratório, e todo o pessoal de apoio e manutenção desses locais em conjunção de esforços a tentar descobrir um agente infeccioso letal para duas pessoas e correndo também os riscos inerentes ao contacto com um agente patogénico ainda desconhecido.
Da conjugação do saber de todos estes técnicos, particularmente usando as teorias básicas de epidemiologia, uma certeza se ia impondo: tratar-se-ia de um agente infeccioso restrito a um local e de pouca contagiosidade e infecciosidade.
Mas a comunicação social tratou de o transformar em mais uma epidemia, a da incompetência e da negligência.
Ouvi com as minhas membranas timpânicas, que transmitiram pelo martelo, pela bigorna e pelo estribo aos meus massacrados neurónios (para os senhores jornalistas ficarem com um melhor conhecimento da fisiologia da audição, e perceberem que martelo, bigorna e estribo não são instrumentos de ferreiro, mas sim uns minúsculos ossículos que permitem que enormes calinadas e impropérios - não os permitindo censurar - invadam o nosso cérebro , aconselho esta leitura ligeira), um jornalista de uma tv de referência afirmar que já havia mais casos espalhados pelo país e com os de Seara relacionados!
Li com os meus globos oculares em vários jornais a afirmação: "Como é que podem dizer que não existem novos casos se o agente infeccioso não foi ainda identificado?" - Era um facto que depois do dia 14 não deram entrada NOVOS casos.
Mas nada impedia que após o dia 14 outras doenças pudessem ter aparecido: sífilis com o seu complexo primário, proctites, balanites, onfalites, vaginites, vulvites, vulvo-vaginites, cervicites, endometrites, ooforites, dip, etc, outras doenças infecciosas das partes menos simpáticas do nosso corpo, e mesmo diarreias, pústulas, abcessos, antrazes, panarícios, tudo doenças infecciosas, estas, geralmente exalando mau cheiro!
Alguns dias depois, começam as habituais perseguições e inquéritos à ciência e ao saber, transformando afirmações de rua em importantes declarações de princípio, bombásticas, acusatórias, exigindo inquéritos, punições, perseguições, insultos, e, repare-se, enquanto nos laboratórios afincadamente se procurava descobrir o agente causador da doença. Parece que foi uma carraça.
Ficamos a saber que Seara tinha carraças rurais espalhadas pelo seu espaço geográfico, com as quais a junta de freguesia nunca se preocupou. Naqueles dias a aldeia foi também invadida por outras carraças, estas urbanas.
Também ficamos a saber que a junta de freguesia comprou 1.000 garrafões de água, por sua iniciativa. Sabemos que os bombeiros têm camiões cisternas próprios para abastecer água a populações carenciadas!
Só não soubemos a quem foram comprados e a quem foram distribuídos esses 1.000 garrafões. Que foram comprados com o dinheiro dos contribuintes, foram de certeza.
Mas isto não interessa aos jornais, só se o presidente da junta fosse médico, farmacêutico ou veterinário é que era notícia!
- "... um inquérito à actuação das entidades hospitalares e da DGS." - Luís Henrique Oliveira - Jornal de Notícias.
- "Revolta: população de Seara exige responsabilidades. Queixa em tribunal contra a Direcção-Geral de Saúde." - Rui Filipe Moreira, Correio da Manhã.
-"Um grupo de moradores de Seara, em Ponte de Lima, vai pedir ao Ministério Público que abra um inquérito à actuação da Direcção-Geral de Saúde (DGS) perante o surto que provocou duas mortes e o internamento de sete pessoas." - Rui Filipe Moreira, Correio da Manhã.
- "... mas condena a actuação dos responsáveis da DGS"
- "Isto é brincar com as pessoas. Se não sabem o que causou as mortes, como é que podem afirmar que não há motivo para alarme?",
- "... mas as declarações, ontem, de Francisco George, subdirector-geral de saúde, à RTP, tiveram o efeito da gasolina na fogueira."
- "Populares estudam a possibilidade de avançarem com uma queixa contra os hospitais e a DGS."
- "Um morador de Seara, que preferiu manter o anonimato, diz que a intenção de alguns populares é "avançar com um processo de inquérito à actuação" daquelas instituições, "em relação à forma como foi conduzido o processo".
- "a Direcção-Geral de Saúde (DGS) continua sem encontrar uma resposta para o caso e os populares de Seara vão exigir um inquérito à sua actuação."
- "Dois novos casos suspeitos do surto infeccioso em Seara, Ponte de Lima, deram ontem entrada no serviço de urgências do Centro Hospitalar do Alto Minho (CHAM), em Viana do Castelo" - Público com uma mentira descarada.
Mas também houve boas notícias, como uma publicada no Comércio do Porto em 24/09/04 e assinada por IVONE MARQUES e DORA MOTA.
Diz a Catarina Azevedo num bonito e-mail que me enviou, que os médicos entristecem, porque são pessoas.
E os jornalistas, Catarina?
Serão também pessoas?
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