Plumas Caprichosas
A última PLUMA da Clara Ferreira Alves que caprichosamente pousa semanalmente no Expresso, embora se refira ao filme de Michael Moore sobre St Bush (coroado santo na Convenção Republicana) justifica muito do que aqui vou postando...
Com a devida vénia, transcrevo algumas suas afirmações:
"E se a ingénua opinião pública pensa que aquilo que lhe servem numa bandeja como jornalismo «imparcial» e «objectivo» não sofre manipulações, sugiro-lhe que pense outra vez. Vivemos na era da manipulação genial de imagens, uma indústria que centuplicou os seus créditos e lucros nas últimas duas décadas. Tudo o que nos servem está, mais ou menos rigorosamente, calibrado e calculado, sobretudo o que nos servem na televisão. Editar faz parte do ofício de informar e do de entreter."
"Nisto, Moore tem a companhia de muitos de nós, os que assistimos com preocupação e terror a um mundo com tontos à solta a fingir que o ordenam."
"Moore confronta-nos com aquilo com que nunca somos confrontados, o sacrifício de adolescentes americanos numa guerra sem fim e numa guerrilha que não podem ganhar, nem física nem moralmente."
"..., por mais manipulação que exista, ..., as imagens estão lá e documentam cenas e vozes que não vemos nas notícias. Se os americanos foram impedidos de ver certas cenas de guerra, e sobretudo o regresso dos caixões a casa, ou o hospital de estropiados e amputados, um impedimento de ordem censória, nós, na Europa, somos impedidos de ver a televisão americana, a do quotidiano, e o seu interminável desfile de deliquescências e delinquências."
"A Europa raramente entra nos ecrãs americanos como notícia, e quando entra, tem de ser terrível ou relacionada com a América. A América que recebemos nas nossas casas e nas nossas cabeças e corações é a América do American Dream, a inventada pela maior fábrica de sonhos do planeta, Hollywood. É um país em estado de jubilação e autocelebração permanente, o mais avançado e o mais criminoso. É o maior laboratório de liberdade humana, sem isto Michael Moore não existiria, e ao mesmo tempo o maior opressor de países na sua órbita de intervenção, e a sua órbita de intervenção não é da generosidade e do desinteresse do Estado."
"... e se a América conseguiu convencer o mundo de que invade países e mata inocentes para exportar a democracia e a liberdade, então fez um bom trabalho de manipulação, e os autores desta manipulação começam por estar, muitas vezes, na Casa Branca."
"... como a manipulação sentimental é a especialidade americana. Essa é a escola de Moore. A manipulação que utiliza a nossa fantasia idealista sobre uma nação que nós, europeus, amamos como nossa. Só quem não foi à América pode, verdadeiramente, não gostar da América. E da América, só quem não foi a Nova Iorque, o grande porto de embarque e de entrada das ficções americanas."
"A «nação idiota» coexiste com a admirável nação americana. Mas o mais interessante do filme não é isto, nem a conhecida relação da família Bush com o clã Bin Laden. O mais interessante é o relampejar dessa América apática e desconhecida, brutal e ignorante, que nunca vemos nos filmes nem na televisão, a não ser como «reality show», ou seja, como entretenimento."
"São os filhos dos pobres e remediados que morrem pela América fora da América, nas guerras de Washington, são eles que se alistam quando não têm emprego, universidade, dinheiro, futuro. A classe baixa americana, um grupo de «feios, porcos e maus» em que Hollywood nunca tocou nem tocará."
"De todos os membros do Congresso, várias centenas, só um tem um filho a combater no Iraque. Só um."
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