sexta-feira, novembro 04, 2005

"Erro médico inevitável na Medicina de hoje"

Afirma João Lobo Antunes num encontro organizado pela Associação Portuguesa de Seguradoras.

Alguns excertos de uma notícia publicada no jornal Tempo Medicina:

"... as exigências hoje impostas à Medicina tornam inevitável a ocorrência de erros. No entanto, os médicos têm muita dificuldade em lidar com as suas falhas."

"Segundo Lobo Antunes, a discussão do erro médico é essencial e inevitável."

"Em qualquer profissão, há dois segredos muito mal guardados, um é o erro e o outro é o conflito de interesses"

"Enquanto trabalhou nos Estados Unidos o neurocirurgião foi alvo de quatro processos, três dos quais sem mérito. No entanto, estas experiências serviram-lhe para perceber que os médicos não podem continuar a achar que conseguem resolver este tipo de problemas sozinhos"

"Vários estudos têm provado que este é «um problema real» e também que, ao contrário do que se pensa, a maior parte dos erros ocorrem em procedimentos simples, pelo que, muitas vezes, são evitáveis."

"..., que usa há vários anos modelos de segurança. Segundo o professor, a área médica que já o fez, a Anestesiologia, verificou melhorias significativas, como exemplificou – em 1980 havia uma morte por dez mil anestesias, hoje há uma morte por 300 mil anestesias. A adopção de guidelines, a estandardização dos procedimentos e a existência de uma liderança são factores de sucesso essenciais, que a Anestesiologia adoptou e que outras áreas devem também seguir, acredita o neurocirurgião".

"O fenómeno do erro é também o resultado da mudança dos tempos — dantes a Medicina era «simples, ineficaz e inócua», hoje é «complexa, eficaz e potencialmente perigosa».

"este é o preço do progresso que não se pode iludir".

"Ao contrário do que se chegou a pensar em determinada altura, a incerteza na prática médica não desapareceu e, aliás, nunca vai deixar de existir. Contudo, e embora saliente que erro é diferente de acidente, Lobo Antunes reconhece que a cultura portuguesa do «desenrasca» convida muitas vezes à ocorrência de erros que poderiam ser evitados."

"Há, de facto, da parte dos médicos, uma dificuldade em lidar com o erro. Nós somos educados para trabalhar sem erro e quando este acontece é muitas vezes considerado uma falta de carácter ou negligência"

"Além disso, o tratamento que os meios de comunicação social fazem do erro médico empola frequentemente o problema e tem, por vezes, consequências para a carreira profissional do médico."

"por isso, que os médicos não sabem tudo e é preciso que os doentes tenham consciência disso. Não é possível esperar uma omni-sabedoria do médico."

"... é preciso evitar as falhas que dão origem ao erro médico, como sejam as faltas de conhecimento, o estudo insuficiente da história clínica do doente e das hipóteses de diagnóstico ou o excesso de cansaço. Já a instituição deve ter atenção à distribuição da tarefas e responsabilidades e à saúde e estado psicológico dos médicos. Outras formas de controlar o risco são a informatização dos processos clínicos, a criação de checklists, o treino e a recertificação dos profissionais. E, para além disso, é preciso encontrar formas de aprender com os erros".

1 comentário:

SDF disse...

Irra! Já me sinto mais acompanhada no que ando a pregar em congressos e conferencias de há 2 anos para cá!!!

Já simpatizava bastante com algumas posições do Lobo Antunes relativamente a outras questões de ética clínica (respeito pela multiplicidade religiosa dos pacientes), mas gostei de saber desta posição dele face ao erro médico.

Obrigada por este post, MEMI. Já agora, se não for abusar da sua boa vontade, pode referenciar-me de forma mais completa a revista (nº, data)? Gostava de lhe deitar a mão para ler o artigo completo. Pode ser por aqui ou por email para felicianosandra@gmail.com. Obrigada.