domingo, agosto 01, 2004

É Feio Transcrever E Esquecer O Contexto

Não é ético no meio bloguístico fazer transcrições fora do contexto total do bilhete que se publicou.

E a lolita, do blog blogame mucho, um blog de referência, no seu post "O princípio da escassez." deturpa o conteúdo de um bilhete de resposta a uma leitora:

1) transforma uma interrogação académica, filosófica, organizativa, científica e médica em afirmação programática deste blog. Isso não se faz!

2) direcciona para este blog frases como "a densidade própria dos pensamentos lineares, do humanismo caótico, do altruísmo inato e involuntário" atribuídas a outros factos, mas que levam indirectamente o leitor a atribuí-las ao autor deste blog.

3) deturpa o pensamento do autor com adjectivos e frases como "Quando se confundem princípios com contingências o essencial torna-se, fatalmente, acessório; e com o que é acessório, de facto, não se perde tempo. É tão lógico concluir que, quando alguém está doente, tanto quer ser curado como não quer sofrer - as duas vertentes, repare-se, não totalmente sobrepostas desse estado - como é assustadoramente fácil distorcer esta lógica, de forma aparentemente didáctica e em nome da escassez de recursos.".

4) Omite as conclusões finais e altera em completo a ideia-resposta à leitora que tem linhas base bem definidas:

  • os IPOs demitem-se dos cuidados paliativos;
  • em Portugal não há cuidados paliativos organizados, vivendo-se muito da carolice.
  • os cuidados paliativos são necessários, não só para diminuir o sofrimento da doença e do tratamento (dores insuportáveis, vómitos incoercíveis, tonturas e vertigens, edemas, amputações, dificuldades na alimentação, depressões, problemas sociais e familiares, etc) mas também para preparar o doente para a despedida da vida.
  • os cuidados paliativos tanto podem necessitar apenas de apoio psicológico e administração de morfina, como intervenções cirúrgicas e colocação de próteses.
  • o autor deste blog tem casos clínicos seus, de familiares e não só, que demonstram o que atrás disse.

5) E uma interrogação bem específica: quem deve prestar os cuidados paliativos em Portugal? Atribuí-los a instituições lucrativas como se prevê na Lei? Ou integrá-los nos Cuidados Primários de Saúde, na comunidade e na família a que o doente pertence? Mas estarão os nossos Centros de Saúde preparados para isso? Quantos Centros de Saúde têm internamento? Quantos têm os seus internamentos desactivados? E os médicos de família estarão preparados (e motivados!) para os cuidados paliativos? Os cuidados paliativos implicam uma resposta de 24 sobre 24 horas, as complicações da doença e as interrogações dos doentes e familiares sugem a qualquer hora. A disponibilidade tem que ser permanente. Asistir passivamente à morte de alguém é uma tragédia e provoca uma revolta dentro de nós.

6) Talvez falte essa experiência à lolita.

7) E portanto não esperava isto do referido blog que muito prezo: é feio transcrever e esquecer o contexto!


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