Tive um pai. Melhor, um Pai.Também foi um doente terminal...
Tive um pai. Melhor, um Pai.
Também foi um doente terminal, consciente até à hora da morte.
Foi há muito, talvez uma década. Mas para mim foi ontem!
Foi doente terminal de uma doença maligna, já tinha sobrevivido a uma. À segunda ainda sobreviveu alguns anos.
Quando falo em demissão dos IPOs e das oncologias dos hospitais distritais e centrais, sei do que falo.
Dez anos depois, está tudo na mesma? Não. Há uma lei...
Era um dia qualquer.
A minha Mãe percorre os 300 quilómetros que nos separavam com um telefonema: “O Pai foi à consulta, eu fui com ele e o médico disse que ele estava muito mal, que não valia a pena lá voltar. Para o levar para casa e esperar.”
Foram estes os cuidados paliativos que o Estado ofereceu ao meu Pai, que faleceu oito longos dias depois.
Mas o meu Pai tinha filhos que o adoravam e cada um parou uma semana do seu valioso trabalho, este que vos escreve também, e “paleamos” conjuntamente com a nossa mãe, excluindo os netos, de tão cruel despedida.
O seu médico de família trouxe o conforto e as prescrições necessárias para tão doloroso momento.
Nessa semana não fui médico, fui filho que se despediu do pai e não esqueço os sucessivos apelos por ele lançados nos últimos dias: “Quero um médico, chamem um médico!”.
Mas o médico não estava lá, estava o filho.
E o médico de família, incansável lá aparecia para palear. O médico de família deve ser assim.
Não como infelizmente acontece nos nossos centros de saúde, onde são médicos de família das 8 às 13 ou das 14 às 18. A maior parte demite-se tanto da sua função, como os nossos hospitais se demitem da paleação.
Mas tenho inteligência suficiente para não os criticar. Não são eles que se demitem. Foi o sistema português que quis que eles se demitissem e passados tantos anos, que podem eles fazer, senão cumprir horários? Foi para isso que foram educados. Com os médicos hospitalares passa-se o mesmo, cumprem horários.
Faleceu ao oitavo dia depois do oncologista assistente o mandar para casa: “Evita de cá voltar!”, disse à sua esposa de uma vida.
Eu chorei e choro.
Não há cuidados paliativos em Portugal! Não há a cultura de palear em Portugal, não por culpa dos médicos, mas por culpa do sistema.
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